A Comédia Divina: uma sátira com quem se atreve a falar sobre o que não conhece
Com certo desgosto tenho acompanhado alguns debates e escritos da Internet que ousam falar de Doutrina Católica sem nunca ter tido contato com essa. Como se não bastasse a fábula de que as Indulgências são a “venda de um lotezinho no céu”, agora pude notar também, com toda decepção, que as pessoas não sabem nem por onde passaram as definições da Igreja Católica no que diz respeito ao Paraíso, ao Inferno e ao Purgatório. É claro, a noção que os “céticos” têm desses lugares é a noção fabulosa que eles ouviram de seus pais, que receberam de seus avós, que receberam dos bisavós que também não sabiam do que se tratava o assunto. Na melhor das hipóteses, essas pessoas ouviram definições da mídia ou de pseudo-cientistas que se metem a explicar o que eles nunca souberam o que é e nem nunca se preocuparam com isso, mas mesmo assim querem falar sobre. É tão ridículo como criticar um livro sem nunca tê-lo aberto.
Esse vício se tornou uma quase burrice virtual. Falo isso com rispidez e com hostilidade no sentido de correção, porque as definições dadas por essas pessoas são definições do espírito de má fé em todos os casos, sem exceção. Não existe mais desculpa para divulgar essas mentiras, afinal, informação de boa qualidade sobre o tema: “vida após a morte segundo a Igreja Católica” não falta na internet em sítios como o www.vatican.va. As pessoas que divulgam essas mentiras divulgam sim por puro mau gosto, pois não se dão nem ao trabalho de procurar na fonte (tão acessível) o assunto que buscam para (aí sim) fazer uma crítica baseada na realidade e não em suas imaginações doentias provenientes de quem cavalga em um pégaso imaginando os santos católicos como semelhantes aos ídolos pagãos. Deve mesmo ser muito fácil caricaturar a Igreja Católica posto que as pessoas estão sendo treinadas para odiá-la desde pequenas e os pretensos católicos não se incomodam em aprender mais sobre a fé que professam. E depois ainda querem alguns culpar mudanças sociais ou o Concílio Vaticano II pelas crises de fé enquanto que a culpa é dos católicos relapsos que não se esforçam nem um mínimo para entender o que prega a Santa Igreja.
É por culpa dos católicos que os hereges continuam “fazendo a festa”. Assustei-me, por exemplo, um dia desses enquanto eu navegava pela internet quando vi um antropóide militando em favor do neo-ateísmo. Esse indivíduo numa tentativa de criticar a Bíblia disse uma coisa tão óbvia sobre que até os medievais como Santo Anselmo de Cantuária já sabiam: o mundo não surgiu em 7 dias e nem tem apenas 6.000 anos! E pior, o sujeito estava se achando o Prêmio Nobel por estar abrindo os olhos das pessoas contra um livro “tenebroso e perigoso”. Como dizia G. K. Chesterton, a Bíblia é um livro muito maior do que as pequenas coisas que pretendemos fazer com ela. Esses perfeitos antropóides verborrágicos devem ignorar o fato de que foi Georges Lemaître, um padre Jesuíta, quem deu os primeiros passos para a Teoria do Big Bang.
Voltando ao assunto da vida após a morte, também o clero não está cumprindo sua parte. Temos sacerdotes piedosos e de boa formação, mas existe uma massa adepta de pseudo-teologias que querem que essas caricaturas feitas pelos inimigos de Deus se sobressaiam à verdade. Eles precisam que o Inferno não exista, pois se existir esse local, todos os fiéis desertores de suas Igrejas estarão condenados. Eles precisam que o Inferno não exista para que eles continuem pregando seu deus fraco. Na melhor das hipóteses, eles precisam que o Inferno seja um local terrível onde Deus joga as almas para poderem demonstrar o quanto o Deus do ensino tradicional da Igreja é mau e assim justifica-se Sua substituição por um “deus light”.
Os espíritas, os céticos, os católicos de esquerda... Todos eles crêem que suas fábulas são reais e eis as estórias da carochinha que contam sobre a doutrina católica do céu, do inferno e do purgatório:
Céu: é um lugar de festinhas e banquetes. Quem gosta de funk ouve funk, quem gosta de jogar cartas, joga cartas. Todos os católicos vão para esse lugar. Há também as variações: todos os bons vão para esse lugar, independentemente de ter ou não religião ou todos, sem exceção, vão para esse lugar, mas alguns devem passar pelo Purgatório.
Purgatório: A Igreja Católica ensina que há um lugar para onde vão as almas impuras. De lá elas podem cair no Inferno (se esse existir) ou ir para o Céu. A Igreja já vendeu lugares no Céu para as almas que estão no Purgatório.
Inferno: É um lago de fogo onde Deus atira as almas dos réprobos ou dos não católicos para sempre. É a maior prova de que o Deus dos católicos é um Deus mau e vingativo. Alguns dizem que o Inferno não existe, pois não cabe a Deus cometer tamanha injustiça.
Assustador? Claro! Mas é justamente essa definição que você encontrará por aí, mesmo entre alguns sítios católicos. Quanta burrice! Ou seria má fé? Sou levado a acreditar na segunda opção, porque uma pessoa que tenha um mínimo de lucidez mental não pode imaginar algo tão doentio quanto isso. Se alguém pensar um pouquinho verá quanta besteira está escrita naquelas definições. Dessa vida após a morte até eu, católico convicto, sou um perfeito cético. Não acredito em fábulas desse cacife nem por um minuto e francamente não sei como tem gente que acredita mesmo que a Igreja Católica pensa assim. E acredite, tem gente que pensa e divulga isso!
Não é nem um pouco surpreendente para mim. Pessoas vazias de doutrina precisam desmerecer a doutrina dos outros, mas eles não vão usar a verdade. Verdade pra que? É bem mais fácil inventar mentira, afinal, todo mundo vai acreditar. Quem não esperaria que a Igreja das Cruzadas, da Inquisição e do “cala boca dogmático” não faria isso? Eles precisam dessa imagem caricaturada da Igreja e é essa imagem que eles têm condição de criticar. É assim que eles crescem, sempre foi. Foram lendas como o Caso Galileu, Cristovão Colombo dizendo a “novidade” de que a Terra era redonda (algo conhecido e explicado por Santo Isidoro de Sevilha já no século VII) e outras que deram tanto sucesso aos “iluminados”.
A visão católica, todavia, é bem diferente das caricaturas (para deleite do intelecto, da sanidade mental, da humanidade, da índole e do universo!). Ironia? Claro, não tem como levar uma piada dessas à sério. O jeito que tem é rir e debochar, não por fraude intelectual, mas por puro gosto de humilhar a mentira. A Igreja é responsável pelo que faz/fala, não pelo que as pessoas [mentalmente insanas] pensam que ela fez/falou. É pensando nisso que exponho abaixo o esplendor da verdade da doutrina católica, de forma bem resumida, para que nossos leitores aprendam e desmascarem esses falsários.
Paraíso: é um lugar onde a maior recompensa é a presença e o amor de Deus. Somos filhos de Deus pelo Batismo, através do qual passamos a fazer parte do Corpo Místico de Cristo. Por esse Batismo fazemos, pois, parte do próprio Deus e esse Deus se manifesta em nós, através do Espírito Santo que une o Pai e o Filho, em plenitude na outra vida. A alma que jaz no céu não pensa em outra coisa a não ser no amor de Deus e não há nada de material nesse lugar. Os gostos da terra são esquecidos e se não são esquecidos, as almas não se importam com eles, pois em nada se comparam à felicidade de estar junto de Deus em plenitude.
Purgatório: não se trata de um lugar tal como o Paraíso e o Inferno, mas de um estado. As almas do Purgatório não têm pecados graves (se tivesse estariam no Inferno). Uma vez no Purgatório, a alma não pode ir para o Inferno, pois o Purgatório é apenas uma etapa de purificação para o Paraíso, como se fosse um anexo desse. As almas que lá estão já são santas, mas estão impedidas de ver à Deus por causa, não do pecado que é perdoado pelo Sacrifício de Cristo, mas pela má inclinação que o pecado gera na alma. Essa má inclinação existe como uma escória que impede a alma de ver Deus plenamente. Quanto mais a alma padece pelo fogo purificador do Purgatório, de sofrimento comparável ao do Inferno, mais a alma se purifica e mais ela pode sentir o amor de Deus, tendo, pois, mais vontade de se purificar. Entretanto, as almas do Purgatório prefeririam se jogar no Inferno a se apresentar impuras à Deus, diz Santa Catarina de Gênova no seu tratado do Purgatório. Essas almas amam à Deus, mas foram deveras tíbias na Terra. Santa Catarina diz que se caísse uma gota do amor de Deus presente no Purgatório nessa Terra, tudo mudaria. A estória de que as Indulgências “vendidas” podem tirar almas do céu não passa de uma fábula. A Igreja nunca falou isso. O que foi feito em determinadas épocas foi a exercitação da bondade através de esmolas que eram usadas para sufrágio dos pobres e para a construção de Igrejas que, contempladas, aproximavam as almas de Deus. O desleixo de alguns membros do clero na pregação das Indulgências é que criou essa imagem suja e indigna sobre o assunto. As Indulgências, por sua vez, só existem quando há um coração contrito que manifeste algum ato externo e isso sim pode ser oferecido em intenção das almas do Purgatório.
Inferno: Tanto os que acreditam como os que não acreditam no Inferno pensam que só psicopatas como Hitler e Stalin estão nesse lugar. Entretanto, por muito menos somos merecedores das penas eternas do Inferno. Essas penas são de duas naturezas: de sentido e de dano. A pena de sentido é causada pelo lagar de fogo que é o Inferno e pelos demônios que lá jazem. A pena de dano é a pena da ausência de Deus, muito mais dolorosa que a pena anterior, pois sendo Deus o sumo bem, sua ausência não pode ser outra coisa senão o sumo mal. Todavia, nada é tão mau que o seja em absoluto. Os demônios, por exemplo, são bons enquanto criaturas, mas são moralmente maus por escolha. Se as almas do paraíso são como os anjos de Deus, as almas do Inferno são exatamente o contrário, isto é, são como os demônios. Não é Deus quem atira as almas no Inferno, são elas mesmas que se lançam nesse lugar. Uma pessoa que não amou à Deus sobre todas as coisas nessa vida não amará na próxima e então ao se deparar com Deus e com os atos que ela teve em vida, por ocasião do juízo ela se atira no lugar mais distante possível de Deus, que é o Inferno. A própria alma foge de Deus e isso ocorre por uma razão muito simples. Na verdade, a alma não suporta ficar perto de Deus e o Inferno existe exatamente por isso, posto que o sofrimento das almas que odeiam à Deus é menor no Inferno do que na presença d’Ele. Assim, o Inferno não é fruto da maldade, mas da misericórdia de Deus. As almas do Inferno blasfemam contra o Criador e O odeiam mais que tudo, exatamente como faziam em vida. Mais sobre esse lugar tão temido pode ser encontrado no Manuscrito do Inferno, um documento deixado pela Irmã Clara no Convento onde ela faleceu.
Pelo exposto acima fica claro que uma alma que opta pelo Inferno não pode sair dele. Na verdade, o julgamento de cada um não é nada mais que um “filme” de toda a vida. Perante esse “filme” o próprio indivíduo sabe qual é sua sentença. Por isso o Juiz é tão terrível, porque d’Ele não escapa nada, nenhum pensamento, nenhuma palavra e nenhum ato e tudo é revelado no julgamento. Será a nossa medida que nos medirá (Mt 7, 1-2). Portanto, nada de um Deus velhinho sentado numa nuvem jogando raios nos pecadores e anotando tudo o que fazemos. A verdade é bem outra.
Ensina a Igreja que uma vez descarnada, a alma perde obviamente todas as limitações físicas posto que a alma não está mais imersa na matéria. Nesses termos não existe tempo e nem espaço, o que dá à alma a total lucidez acerca de seus feitos e assim a alma pode ver não só como agiu, mas também os efeitos de suas atitudes. É exatamente por isso que não existe volta, afinal, se a alma possui plena ciência ela sabe de todas as conseqüências de suas escolhas.
Enquanto a Igreja Católica desenvolve uma bela teologia, é conveniente aos imbecis ficarem caricaturando a verdade. Chega ser um ato invejoso, afinal, quem não consegue formular a beleza não pode fazer outra coisa senão odiá-la. Eis a única arma da incompetência: a inveja. Vemos que hoje as pessoas não se preocupam com a fidelidade de suas informações e nem precisam, pois num mundo cada vez secularizado e que odeia cada vez mais a Igreja, não é preciso que algo seja verdadeiro para merecer crédito. Este é o nosso brilhante século iluminado, o século da desonestidade e da mentira.
Ad majorem Dei gloriam!
Eduardo Moreira
Fonte: Apostolado São Francisco Xavier
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