Eterna é a misericórdia do Senhor
Durante o Ano Jubilar, o Santo Padre o Papa João Paulo II dedicou o segundo domingo da páscoa à Misericórdia Divina, na ocasião, celebrou também a canonização de Irmã Faustina. Este ano, a festa aconteceu no dia 22 de abril e aqui transcrevemos a homilia proferida na Celebração Eucarística.
"Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último e o Vivente. Eu estava morto, mas agora vivo para sempre" (Ap 1,17-18). Estas consoladoras palavras do livro do Apocalipse nos convidam a voltar o olhar para Cristo, para experimentar a sua segura presença. A cada um, em qualquer condição em que se encontre, talvez mesmo na mais complexa e dramática, o Ressuscitado repete: "Não temas!"; morri na cruz, mas agora "vivo para sempre"; "Eu sou o Primeiro e o Último e o Vivente".
"O Primeiro", a nascente, isto é, de cada ser é a primícia da nova criação; "O Último", o termo definitivo da história; "O Vivente", a fonte inexaurível da Vida que venceu a morte para sempre. No Messias crucificado e ressuscitado reconhecemos os traços do Cordeiro imolado no Gólgota, que implora o perdão para os seus algozes e abre para os pecadores arrependidos as portas do céu; descobrimos o rosto do Rei imortal que tem "poder sobre a morte e sobre os infernos" (Ap 1,18).
"Celebrai ao Senhor porque é bom, porque eterna é a sua misericórdia" (Sl 117,1). Façamos nossa a exclamação do salmista: eterna é a misericórdia do Senhor! Para compreender profundamente a verdade destas palavras, deixemo-nos conduzir pela liturgia ao coração do evento da salvação, que une a morte e a ressurreição de Cristo à nossa existência e à história do mundo. Este prodígio de misericórdia mudou radicalmente a sorte da humanidade. É um prodígio no qual se explica em plenitude o amor do Pai que, para a nossa redenção, não volta atrás nem mesmo diante do sacrifício do seu Filho unigênito.
No Cristo humilhado e sofredor, crentes e não crentes podem contemplar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana muito além de nossa imagináveis medidas. A Cruz, também depois da ressurreição do Filho de Deus, "fala e não cessa jamais de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem... Crer em tal amor significa crer na misericórdia" (Dives in Misericordia, 7).
Queremos render graças ao Senhor por seu amor, que é mais forte que a morte e o pecado. Esse amor se revela e se atua como misericórdia na nossa cotidiana existência e solicita cada homem a ter à sua volta "misericórdia" para com o Crucificado. Não é, portanto, amar a Deus e ao próximo, até os "inimigos", segundo o exemplo de Jesus, o programa de vida de todo batizado e da Igreja inteira?
Com estes sentimentos, celebramos o segundo domingo de Páscoa, que desde o ano passado, ano do Grande Jubileu, é chamado também de "Domingo da Misericórdia Divina". Para mim, é uma grande alegria poder unir-me a todos vocês, queridos peregrinos e devotos vindos de várias nações para comemorar o primeiro ano da canonização de Irmã Faustina Kowalska, testemunha e mensageira do amor misericordioso do Senhor. A elevação às honras dos altares desta humilde religiosa, filha de minha terra, não representa um dom apenas para a Polônia, mas para toda a humanidade.
A mensagem, de fato, da qual foi portadora constitui a resposta adequada e incisiva que Deus desejou oferecer às perguntas e procuras dos homens deste nosso tempo, marcado por tantas tragédias. A Irmã Faustina de Jesus disse um dia: "A humanidade não encontrará paz enquanto não se voltar com confiança à misericórdia divina" (Diário, p. 132). A Divina Misericórdia! Eis o dom pascal que a Igreja recebe do Cristo ressuscitado e que oferece à humanidade, no alvorecer do terceiro milênio...
O Evangelho de João nos mostra o Mestre que transmite aos discípulos temerosos e estupefatos a missão de ser ministros da divina Misericórdia. Ele mostra as mãos e o lado com os sinais da paixão e comunica-lhes: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20,21). Imediatamente depois "soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo; a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados e a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20,22-23). Jesus confia a eles o dom de "perdoar os pecados", dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado traspassado. De lá uma onda de misericórdia é lançada sobre a humanidade inteira.
Revivemos esse momento com grande intensidade espiritual. Também a nós hoje o Senhor mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte incessante de luz e de verdade, de amor e de perdão.
O Coração de Cristo! O seu "Sagrado Coração" deu tudo aos homens: a redenção, a salvação, a santificação. Deste Coração superabundante de ternura Santa Faustina Kowalska viu desprender-se dois fachos de luz que iluminavam o mundo. "Os dois raios - conforme Jesus a confidenciou - representam o sangue e a água" (Diário, p. 132). O sangue relembra o sacrifício do Gólgota e o mistério da Eucaristia; a água, segundo a rica simbologia do evangelista João, faz pensar no batismo e no dom do Espírito Santo (cf. Jo 3,5; 4,14).
Através do mistério deste coração ferido, não cessa de expandir-se também sobre os homens e as mulheres da nossa época o fluxo restaurador do amor misericordioso de Deus. Quem deseja a felicidade autêntica e duradoura, somente aqui pode encontrar o segredo.
"Jesus, confio em ti". Esta oração, querida a tantos devotos, bem exprime o modo como queremos abandonar-nos confiantes nas tuas mãos, ó Senhor, nosso único salvador.
Tu ardes de desejo de seres amado, e quem se sintoniza com os sentimentos do teu coração aprende a ser construtor da nova civilização do amor. Um simples ato de abandono é suficiente para fazer ruir as barreiras do escuro e da tristeza, da dúvida e do desespero. Os raios da tua divina misericórdia transmitem esperança, de modo especial a quem se sente esmagado pelo peso do pecado.
Maria, Mãe de Misericórdia, faça com que mantenhamos sempre viva esta confiança no teu Filho, nosso Redentor. Ajude-nos também tu, Santa Faustina, que hoje recordamos com particular afeto. Junto a ti queremos repetir, fixando o nosso fraco olhar sobre o rosto do divino Salvador: "Jesus, confio em ti". Hoje e sempre. Amém.
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por
Comunidade Shalom
Fonte: Comunidade Shalom
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