"Os filhos não são para os pai: os pais é que são para os filhos."
2º Domingo do Tempo Comum - B
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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"Que toda a terra se prostre diante de vós, ó Deus, e cante louvores ao vosso nome, Deus Altíssimo!". (Sl 65,4)
Iniciamos, uma vez mais, o Tempo Comum, tempo das coisas cotidianas, em que a Liturgia Sagrada nos convida à reflexão sobre os mistérios da Redenção, permeando a vida dos homens e das mulheres.
Os primeiros domingos do Tempo Comum são marcados por um clima de manifestação do Senhor, da sua missão no mundo e do chamado dos discípulos. A atitude desses domingos é sugerida pela voz do Espírito que desceu sobre Jesus nas águas do Jordão: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.
Refletimos hoje o Evangelho de João(Jo 1,35-42). Este evangelista, chamado de “Evangelista existencial”, procura peneirar os problemas básicos da existência humana para iluminá-los com a luz de Jesus Cristo, essa luz que pode iluminar todo homem que vem a este mundo, tendo em vista que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Mestre Definitivo.
Somos chamados a refletir sobre a dialética do crer e do não crer, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre o sim e o não, entre a graça e a desgraça e, por fim, entre a bênção e a maldição. Temos que optar pelo lado correto, o lado do Salvador, como nos adverte Jo 3,36.
Jesus, como renovador do mundo, tem neste domingo uma apresentação de sua trajetória, que mais do que de um profeta, é a trajetória do Messias, o Cristo Senhor.
João Batista é o precursor, aquele que abre os caminhos para Jesus. João manda dois de seus discípulos em busca de Jesus, porque era o Cordeiro de Deus, o Salvador. Não há concorrência entre João e Jesus. João vivia cheio de alegria ao ver a atuação de Jesus, tendo consciência de que preparava os caminhos para o Cristo. Por isso, os discípulos de João deverão tornar-se discípulos de Jesus, aquele que tem o poder de “batizar no Espírito Santo, por ser Filho de Deus”. Contemplando-se o tempo e somente, Ele pode ser o Mestre. O ideal da vida do cristão é ter Jesus como Mestre e Senhor, por isso todos nós somos convidados a refletir sobre o seguir e o procurar a Deus, por meio de Cristo.
Cristo se serve de João Batista no Evangelho de hoje. Para seguir e procurar a Jesus nós devemos ser bons discípulos. Para seguir temos que crer e dar testemunho daquele que Seguimos. Por isso, necessitamos de uma fé constante e sólida no Salvador do gênero humano.
Ser discípulo não nasce de repente. É preciso ter uma experiência de Deus, uma receptividade para a sua palavra e, assim sendo, uma evolução pelos seus caminhos, uma procura diuturna de conhecer o rosto de Deus.
Quem é chamado tem que ir ao encontro e permanecer com o Senhor. O discípulo sai sempre para viver este encontro em comunidade e dar testemunho da permanência de Deus em sua vida: por isso, neste vale de lágrimas, somos convidados a estar com Deus. Para estar com Deus é preciso abandonar o pecado e viver a graça de Deus, pela conversão e santidade de vida.
Devemos ter isso muito bem discernido em nossas vidas, o por que e para que procuramos a Deus. O que buscamos? Para que buscamos?
O discípulo de Jesus está sempre vindo e indo. Indo a procura dos povos que ainda não crêem e dando testemunho para aqueles que crêem. Somos enamorados pelo seguimento e pela procura do Cristo Senhor. Podemos seguir Jesus e não procurá-Lo, não sermos bons discípulos. Podemos procurá-Lo e não segui-Lo, e nunca seremos discípulos.
O discipulado não nasce de repente. Exige perseverança atenta e atenciosa, bem como receptividade. Neste encontro contínuo com o Cristo devemos ter presente de que Ele é o caminho e quem anda com Ele permanece nele.
Queremos todos ver o rosto de Deus. O que buscais? Esta é a mesma pergunta. O que buscamos hoje? Não poderia ser outro, senão Cristo, o caminho que nos leva ao Pai. O discípulo vai e vem sempre.
Na prática o discípulo nunca sabe ao certo se está indo ou vindo, porque a procura contínua de Cristo coincide com a procura contínua dos irmãos, especialmente dos mais pobres.
Caros irmãos,
A procura de Jesus é contínua. A liturgia combinou o Evangelho (Jo 1,35-42) com a vocação de Samuel, da primeira leitura (1Sam 3,3-10.19). Este também mostra que o encontro com Deus não é uma coisa evidente. Samuel ouve três vezes sua voz e só pela orientação do sacerdote Heli é capaz de reconhecer seu sentido. Mas, uma vez entendendo a voz, acolhe-a com plena disponibilidade, deixando-se ensinar para ser o porta-voz de Javé. Samuel, desde o seu nascimento, em agradecimento pelo favor de Deus a sua mãe estéril, foi dedicado ao serviço de Deus, no templo de Siló. Mas este serviço não esgotou a sua missão. Antes que ele fosse capaz de o entender, Deus o chamou para a missão de profeta. “Fala, teu servo escuta”, responde Samuel. Escutar é a primeira tarefa do porta-voz de Deus, do discípulo-missionário.
A segunda leitura (1Cor 6,13-15.17-20) é uma das questões particulares, abordadas em 1Cor 5-12: a fornicação. A oposição paulina à libertinagem sexual não se deve ao desprezo do corpo, mas à sua alta estima por ele, pois reconhece que o corpo não é alheio às alturas do espírito, mas, antes, as sustenta e delas participa. Por isso, qualquer ligação vulgar avilta do homem todo. Porque o corpo é tabernáculo do Espírito Santo, devendo ser governado para este fim do homem integral, membro de Cristo e não o homem subordinado às finalidades particulares do corpo. São Paulo concorda com o senso de liberdade dos coríntios, mas não com a libertinagem. Eles dizem: “Tudo é permitido”. São Paulo responde: “Mas nem tudo faz bem”. Quando alguém se torna escravo de uma criatura, comete idolatria. Assim, também, o que se vicia nos prazeres do corpo, colocando-os acima de tudo. O homem não é feito para o corpo, mas o corpo para o homem e este para Deus, de modo que seu corpo é habitação, templo de Deus, e serve para glorificá-lo.
Irmãos e irmãs,
O apelo de Deus nos convida a “ser”através dos valores, desenrola-se num diálogo contínuo do homem com Deus. Neste confronto, toda pessoa descobre progressivamente o seu plano, aquilo que deve tornar-se. Deus não se cansa de chamar a colaborar: homens e mulheres, pobres e fracos; convida-os a deixar a família, nação, a própria vida, para se tornarem instrumentos do amor de Deus pelo homem.
A vocação se funda em dotes pessoais e na tensão que a pessoa descobre entre as necessidades da comunidade humana e o plano que a sociedade deve realizar. Nesta tensão a pessoa encontra a sua vocação. Que possamos exprimir o nosso testemunho na busca da comunhão maior que é a Santíssima Trindade.
Que possamos, pois, todos procurar a Cristo, não perguntando onde Ele Mora, mas exigindo de nós um movimento: ir e ver onde está Deus, vivificando com o creio, a experiência de fé na busca contínua do Deus da Vida, o nosso Salvador Jesus Cristo, para que o tenhamos sempre ao nosso lado. Amém!
Fonte: Catequisar
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