Por Pe. Jean Grou, S. J.
Jesus Cristo instituiu o sacramento da
eucaristia pouco antes da sua paixão, para que conhecêssemos a relação
existente entre este Sacramento e a Cruz. Instituindo-o, mudou
separadamente, e por duas ações distintas, o pão em seu Corpo e o vinho
em seu Sangue, para exprimir a efusão que, na cruz, faria de seu Sangue
até a última gota. Apresentando o seu corpo aos discípulos disse-lhes: Isto é o meu Corpo, que vai ser entregue por vós (Lc 22, 19); apresentando o seu sangue: Este é o Cálice do meu Sangue, que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados
(Mt 26,28). Quis que o seu corpo conservasse na eucaristia o caráter de
vítima e o seu Sangue o de um sangue derramado e aplicado às almas em
expiação dos respectivos pecados. Dando, enfim, aos discípulos o poder
de consagrarem-lhe o Corpo e o Sangue, recomendou-lhes que o fizessem em
sua memória, isto é, advertiu-lhes que se lembrassem de ser esse
sacramento o memorial da sua morte cruenta.
Quis, por outro lado, que a Eucaristia
constituísse alimento necessário, indispensável das almas, como o único
meio de poderem ter em si a vida da graça, e de a conservarem e
aumentarem.
O que queria Jesus?
1.º) que os fiéis guardassem profundamente gravada no coração a lembrança da sua cruz;
2.º) que a renovassem em si mesmos cada vez que recebessem o seu corpo;
3º) que, alimentando-se da sua carne,
também se alimentassem da sua cruz, se incorporassem por assim dizer a
esta, ardessem de amor pela sua glória e manifestassem progresso
espiritual com a recepção da eucaristia, tornando-se sempre mais
ardorosos pela cruz. Assim compreenderam os mártires dos primeiros
séculos, pois mediante a recepção da santa eucaristia preparavam-se para
os mais atrozes suplícios e, saciados com esse manjar sagrado,
afrontavam os tiranos e algozes.
Queremos comungar utilmente e
corresponder às intenções de Jesus Cristo? Comunguemos desejosos de que
seu corpo adorável faça nascer em nós o amor à cruz, isto é, às
humilhações e sofrimentos, o desejo de morrermos para nós mesmos e
sermos imolados com Jesus Cristo segundo a vontade de Deus. Por ai
devemos alcançar os frutos das nossas comunhões. Não as julguemos boas
quando gozamos de consolações e sim quando nos enchem de nova coragem
para vencermos todas as penas enviadas por Deus e até desejarmos outras
maiores; quando aprendermos a não mais procurar Deus em nosso proveito,
mas buscá-lo e amá-lo unicamente por ele mesmo, a não atender à maneira
por que nos trata, a ficar igualmente contentes quer nos trate com rigor
quer com doçura, ou até preferir aquele a essa. Se as nossas comunhões
produzirem esses efeitos, serão excelentes; realizarão as intenções de
Jesus Cristo; serão igualmente gloriosas para Deus e profícuas para nós.
Alarmamo-nos quando comungamos sem gosto
e sem devoção, ou quando Deus não nos dá consolações? Se não tivermos
contribuído para isso com alguma falta ou infidelidade voluntária,
consolemo-nos; é sinal de que a eucaristia não é para nós o pão dos
fracos e começa a tornar-se o pão dos fortes.
Enquanto precisamos encontrar na
eucaristia o gosto sensível, somos fracos; mas se comungarmos sem
prestar atenção a nós mesmos, sem nos preocupar com os efeitos
sensíveis, sem os desejar e sem nos entristecer com a sua privação,
tornamo-nos fortes; começamos a viver da vida do espírito, o nosso amor a
Deus purifica-se, não é mais eivado do amor a nós mesmos.
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