Texto
do Professor José Luiz Delgado publicado no Jornal do Commercio
(Recife, 11 de março de 2014 – foram feitas pequenas modificações
estilísticas):
A vida pode ser uma sucessão de alegrias,
de realizações, de vitórias. Mas será também uma sucessão de
sofrimentos e agonias, umas maiores e outras menores, nuns mais e
noutros menos. Por que alguns homens sofrem tanto? Por que sobre
determinados membros da da família humana, e não sobre outros, e não
sobre todos, se abatem certas moléstias ou certas privações que lhes
prejudicam terrivelmente a qualidade de vida? Não há regra nessas
fatalidades: não são sempre os piores que sofrem, nem os melhores. Nem
aqueles, com tais sofrimentos, são castigados; nem estes são purificados
e exaltados como que para dar exemplo. A vida é desigual também nisso:
no fato de recair sobre uns uma carga excessiva de sofrimentos, enquanto
outros são olimpicamente poupados.
O sofrimento é um mal, evidentemente.
Desde os primeiros albores da consciência até o último estertor, o homem
é perturbado, impressionado, obcecado, com a presença do mal. Não só o
mal moral, a escolha voluntária do mal, a opção pelo crime e pelo
pecado. Mas, antes de tudo, o mal físico, a dor, o sofrimento, o mal que
atinge os inocentes (ao menos, inocentes do mal que os toca).
O mistério do mal seria ainda mais
incompreensível se bens muito maiores não pudessem ser tirados dele. Nem
sempre se tira, é fato. Mas, quando alguém, a quem foi dada carga muito
pesada de sofrimentos, em vez de se revoltar contra o destino, aceita,
resignado, a humilhação de sua carne e consegue tirar das dores que o
acometem, um bem ainda maior, não somente fica pessoalmente pacificado,
sobretudo dá admiráveis lições diárias, edificantes exemplos,
reanimadoras motivações, e será exaltado entre as melhores referências
da fortaleza humana. Se, ao invés, do próprio sofrimento não conseguir
extrair as consolações e as grandezas que poderia tirar, contará com uma
compreensão que não terão aqueles que foram poupados de sofrimentos
semelhantes.
Não sei se pode imaginar algum consolo
para esses sofredores, que dizem ser os preferidos de Deus, e que, tendo
já padecido demais aqui, hão de chegar mais rápido à felicidade da
outra vida. Sei é que são exemplares e são queridos exatamente pela
imensidão de sua dor. E ainda nos mostram como somos todos humanos, tão
frágeis, tão vulneráveis, tão dependentes de um milhão de coincidências
para continuarmos nesta existência.
Retirado de Apologética Católica.
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