terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O sofrimento não é criação divina

O sofrimento não é criação divina


Deus, que é Amor, fonte e origem de toda a bondade, beleza e perfeição, criou-nos à Sua imagem
e semelhança. Fomos criados por amor e para a felicidade. Como pois compreender a origem do sofrimento, a que Jó se refere tão dramaticamente na primeira Leitura da Missa de hoje, e que a todos atinge?
Deus, na Sua bondade, quis criar-nos livres e como tais, conscientes.
Os nossos primeiros pais envaidecidos com os dotes maravilhosos que possuíam, não souberam usar a liberdade que Deus, tão generosamente lhes tinha concedido. Obcecados pelo orgulho, duvidaram da Bondade e do Amor do Criador. Por momentos acreditaram mais no demônio, pai da mentira. Esta opção voluntária, afastou-os de Deus e, consequentemente, da verdadeira felicidade. Longe dessa fonte bendita, quantas lágrimas se derramaram, quanto sangue fratricida se verteu, quantas guerras, quanto sofrimento, quanto atraso social aconteceu, ao longo dos séculos!
Não há dúvida. O sofrimento foi e continua a ser causado, pelos passos errados, percorridos voluntária, orgulhosa e cegamente pelos homens. Só o homem é verdadeiramente causador de tanta desgraça.
O pecado é uma ofensa a Deus, revelando pouca ou nenhuma confiança no Senhor. E como a gravidade de qualquer ofensa se mede pela pessoa ofendida e aqui o atingido é o próprio Deus, o onipotente, o infinito, logo a sua gravidade se reveste de algo com dimensões infinitas também.
O mais dramático ainda é que a reparação de tanta maldade, não estava dentro das possibilidades humanas, pois, por maiores que tais pudessem ser, porque humanas, eram sempre limitadas, ficavam muito aquém do que a justiça divina, como tal, exige. Só um Deus pode reparar o mesmo Deus. Por isso, Deus-Pai, envia à Terra, o Seu Filho, o Verbo eterno, permitindo a Sua encarnação no Ventre Puríssimo de Nossa Senhora, para se fazer Homem também. Jesus, filho da Virgem Maria é assim Deus e Homem verdadeiro, e como tal, em nosso nome, satisfez com a Sua paixão e morte na cruz, pelos pecados de toda a humanidade.
Vemos assim que a gravidade do pecado, não se mede só pelo sofrimento causado nos homens, ao longo dos séculos, mas mais ainda pela impensável humilhação da encarnação, paixão e morte do próprio Filho de Deus.
Conhecedores de tão trágicas consequências do pecado, resta-nos estar vigilantes, como Jesus insistentemente nos pediu, para fugir dos caminhos errados da vida. Tais caminhos nefastos, são todos aqueles que estão contra a vontade do Senhor, expressa nos Seus mandamentos e impressa na consciência retamente formada, de cada um.
Como S. Paulo, não podemos ficar indiferentes, diante de tais dramas, vividos e provocados pelos pecados dos homens. «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» «Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta». «Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível». Assim se expressa o Apóstolo.
As injustiças sociais, os caminhos errados que levam tantos jovens e adultos, percorrendo vidas dissolutas, as uniões de fato, as infidelidades conjugais, a não aceitação dos filhos, o recurso a meios anticonceptivos artificiais, o crime hediondo do aborto, os filmes, revistas e jornais indecorosos, são outros tantos caminhos errados causadores de lágrimas, sofrimento e retrocesso social.
Quando os homens se afastam dos caminhos do Evangelho e do Magistério autêntico da Igreja fundada por Jesus, perdem facilmente a luz da fé, e, sem essa luz bendita, enveredam pela noite do egoísmo, da autodestruição. Pobre mundo, se não acorda para Deus, que o pode e quer salvar!
No Evangelho, vemos Jesus a curar e a apontar caminhos que importa saibamos também percorrer para sermos instrumentos válidos de curas também. Jesus aproxima-se da sogra de Pedro e cura-a. Como Ele, também nos devemos saber aproximar de quem sofre e de quem anda longe dos caminhos da verdadeira felicidade. Muitas conversões passam por uma conversa pessoal, amiga, compreensiva, fraterna, com quem de tal atenção, carinho e ajuda, está a precisar.
Depois de tantas curas operadas, Jesus, naquela tarde, afasta-se para orar. É à oração que todos podemos e devemos constantemente recorrer. Na oração, que nos leva a um contato mais íntimo com o Senhor, compreenderemos melhor o porquê do sofrimento, o seu valor corredentor, e os caminhos que devemos seguir para a conversão dos pecadores, nossos irmãos.
Perante tanto sofrimento e tanto pecado, não podemos ficar indiferentes. Que o Senhor nos dê a graça de sermos instrumentos válidos de conversão, para que todos, sem exceção, definitivamente possam «louvar o Senhor que salva os corações atribulados.»
Fonte: Encontro com o Bispo

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