O Monge domador dos animais
Por Thiamer Toth
Muitos jovens estariam prontos para matar o dragão nos bosques, como Siegfied; mas, quando se trata do dragão de suas más tendências, não tem coragem e paciência para lhe dar combate. Preferem renunciar a tão santo trabalho.
Uma tarde, o Abade de um mosteiro perguntou a um dos seus monges: ”O que é que fizestes hoje!” – Eu – respondeu o monge – como todos os outros dias, tenho estado tão ocupado que as minhas poucas forças não bastariam para o meu trabalho sem o auxílio da graça divina. Todos os dias eu devo guardar dois falcões, amarrar dois veados, obrigar dois gaviões a fazerem a minha vontade, vencer um verme, domar um urso e tratar um doente.
— Que dizes tu?—— interrogou o Abade, rindo às gargalhadas. — No mosteiro não se faz semelhantes trabalhos!
—No entanto, é isso que eu faço - replicou o monge. — Os dois falcões são os meus olhos, que eu devo vigiar continuamente para que não se detenham sobre os objectos proibidos. Os dois veados são os meus pés, cuja marcha devo ordenar, se não quero que me conduzam pelo caminho do mal. Os dois gaviões são as minhas mãos, que devo obrigar ao trabalho e a fazer o bem. O verme é a minha língua, que tem necessidade de ser reprimida mil vezes por dia para não dizer palavras vis e superficiais. O urso é o meu coração ,cujo egoísmo e vaidade tenho de dominar. E o doente é o meu corp0, com o qual tenho de ter incessantes precauções, para que não se apodere dele a sensualidade.
Este monge tinha muita razão. A luta contra os nossos instintos desordenados assemelha-se ao trabalho do domador; e todos aqueles que querem formar bem o seu caráter tem de entregar-se diariamente a este trabalho... E tu também, meu filho.
Não se podem realizar grandes coisas, vir a ser um grande homem, um grande santo, senão com uma grande paixão. Uma paixão em si mesma, não é um mal: mas, se a não dominas a tempo, pode vir a sê-lo. Na formação do teu caráter, não se te pedirá que arranques as paixões, mas que tires delas habilmente partido, que as faças tuas aliadas, tuas companheiras de armas. Não escutes os conselhos que elas te deram, serve-te, porém, de suas forças. Se as paixões são más conselheiras, são também inapreciáveis auxiliares.
É precisamente a paixão bem dominada que torna a vontade firme. Não poderão vencer-se todos os obstáculos senão prosseguindo apaixonadamente um nobre objetivo. À paixão assemelha-se ao fogo, pode ser uma benção ou uma maldição, como bem disse Schiller no seu canto do sino: “Se o homem o domina, o sustém, o fogo é poderoso para o bem“
Lembre-se sempre disso: “ Facienti quod est in se, Deus non degegat gratiam”: àquele que faz tudo quanto dele depende, nunca Deus recusa sua graça.
Fonte: O Jovem de Caráter e É Razoável Crer?
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