Como começou a Religião?
Apostolado Spiritus Paraclitus
Como começou a Religião? Fatos e mitos
O homem e a religião começaram juntos. O primeiro homem estava dotado de poder de raciocínio – pois, como vimos, é esta capacidade que distingue o homem de todos os outros animais. Ainda que possa descender de um antropóide, os antropóides que teriam precedido o primeiro homem não foram seres humanos, por mais que parecessem fisicamente com os homens. Pois o homem não passou a ser homem enquanto Deus não lhe infundiu uma alma espiritual e, com ela, a capacidade de pensar.
É por isso que dizemos que o homem e a religião começaram juntos. A religião passou a existir no mesmo instante em que essa maravilhosa criatura, o homem, passou a exercer a sua capacidade de raciocínio. Partindo de tudo aquilo que podia ver a observar ao seu redor, soube com certeza que existia um Ser infinitamente perfeito ao qual devia obedecer a render homenagem. Assim começou a religião.
Mas, na verdade, o primeiro homem não teve de depender unicamente da razão para poder conhecer a Deus. Se tomarmos a Bíblia como simples documento histórico, prescindindo do ser caráter de livro inspirado, veremos que Deus se revelou pessoalmente ao primeiro homem e à primeira mulher, dando-lhes um conhecimento direto da sua existência e manifestando-lhes quais os deveres que tinham para com Ele.
O testemunho da Bíblia encontra-se, neste ponto, respaldado pelo testemunho da História. A história da raça humana, pacientemente investigada por gerações de historiadores, arqueólogos e etnólogos, mostra que os povos mais antigos criam num Deus único. Foi somente mais tarde que essa crença degenerou em politeísmo. Pode-se comprovar este fato no caso dos povos mais antigos da Grécia, da Itália, do Egito, da Mesopotâmia, para mencionar somente algumas das mais conhecidas civilizações antigas. O que sobrou dos seus escritos e inscrições demonstrara que, no princípio, adoravam um único Ser supremo, e que só depois as suas mentes, obscurecidas pelo pecado original, derivaram para a crença em diversos deuses.
No entanto, o pagão moderno, no seu empenho por fugir de Deus e das responsabilidades morais que a fé traz consigo, inverte resolutamente esse quadro.
Pouco importa o esforço que tenha de fazer para deformar as evidências, pouco importa o esforço que tenha de fazer para prostituir a sua razão: o materialista nega-se a aceitar a Deus, custe o que custar. E assim inventa as mais fantásticas teorias para explicar as origens da religião: dirá que o homem começou por adorar as forças da natureza (fetichismo), a seguir passou a prestar culto a divindades antropomórficas (politeísmo) e, por fim, chegou à adoração de um único Deus (monoteísmo). Esta é, pelo menos, a teoria sobre a origem da religião que se ensina em numerosos cursos de ciências humanas, e até, às vezes , no segundo grau. Deus ajude as pobres vítimas de semelhante ensino.
Seja-me permitido apenas citar um único desses historiadores populares, René Sedillt, autor de uma “História do Mundo”. Limitar-me-ei a sublinhar uma única sentença, na qual contradiz frontalmente tudo o que ele próprio afirma. Ficará claro assim que esse autor adotou a sua teoria contra toda a evidência disponível; e veremos até que ponto as explicações materialistas sobre a origem da religião não passam de produtos da auto-ilusão do ateu. A citação, em que omito algumas passagens não pertinentes, é a seguinte:
“As primeiras conquistas do homem na noite escura do seu remoto passado foram aquelas que, mais que todas as outras, começaram a diferencia-lo dos animais.[...] Foram essencialmente três: a linguagem, o fogo e a religião. Não há dúvida de que a humanidade, nas suas origens, desconhecia as palavras, a provisão artificial de calor e a existência de deuses. No entanto, parece ter descoberto muito rapidamente esses três coisas, porque nunca se descobriu nenhuma cultura pré-histórica em que não houvesse evidencias claras de que os seis membros possuíam esses três elementos”
Tendo puxado assim o tapete debaixo dos seus próprios pés, o professor continua:
“A religião escravizou muito cedo o coração humano, e desde então o homem nunca mais conseguiu libertar-se desse estado de servidão [...] Os primeiros homens nunca foram capazes de enfrentar o pânico que sentiam diante das forças da natureza e da ameaça dos animais selvagens [..]. O terror converte-se facilmente em adoração [...] Os ritos religiosos surgiram da adoração dos animais, das coisas que cresciam, do incompreensível [...]. Transcorrido algum tempo, passaram a invocar os antepassados mortos, chamando-os em sua ajuda na luta contra os inimigos [...] Com o decorrer dos séculos, o fetichismo gerou o politeísmo que, por sua vez, cedeu o lugar ao monoteísmo, até que finalmente o monoteísmo acabou por ruir diante do avanço do ateísmo. Mas o homem, consciente da sua impotência perante o desconhecido, nunca chegou a renunciar por completo às suas superstições”
Simples, não é verdade? Uma vez que se descobriu a arte da mistificação, como é fácil pratica-la com ar de autoridade!…
Razão e Revelação
Ninguém gosta de ser perturbado nos seus momentos de tranquilidade. Com uma constância verdadeiramente exemplar, dedicamo-nos a fazer tudo o que podemos para escapar das tarefas difíceis ou ingratas. Confortavelmente instalado na sua poltrona, depois de um duro dia de trabalho, o marido dirá à mulher: “Será que temos mesmo de ir a essa festa? Não haverá alguma boa desculpa que possamos dar?” Ou a mulher dirá, depois de ter passado a tarde inteira a lavar a roupa: “É, eu deveria ir ao supermercado fazer as compras, mas estou cansada demais; a gente se ajeita com as sobras do almoço”
Estes exemplos tão caseiros bastam para mostrar-nos por que o homem precisava de algo mais do que a simples religião natural. É muito bonito dizer que a nossa razão basta para nos conduzir ao conhecimento de Deus, da sua natureza e dos nossos deveres básicos para com Ele, porque é absolutamente verdade; mas é igualmente verdade que o trabalho intelectual é o tipo mais árduo de trabalho.
Não é difícil reconhecer a existência de Deus. A não ser que nos tenhamos cegado deliberadamente, o Universo inteiro grita-nos continuadamente: “Alguém me fez! Alguém me fez!” Uma vez estabelecido este ponto, é perfeitamente possível avançarmos passo a passo, pesando as evidências e resolvendo aparentes contradições, até chegarmos a uma compreensão bastante aprofundada da natureza divina. Mas isto custa trabalho, e exige uma inteligência aguda, uma razão reta e um intenso amor pela verdade.
Mesmo que prescindamos da obscuridade do nosso intelecto, consequência do pecado original, teremos de reconhecer que há poucas pessoas dispostas a levar a cabo semelhante esforço. Além disso, entre as que as dispõem a empreender esses estudo, são muitas as que abandonam a tarefa no momento em que começam a vislumbrar para onde o seu raciocínio as conduz, isto é, quando percebem que as suas conclusões interferem com o seu comodismo, os seus divertimentos, o seu amor próprio.
São Paulo resume tudo isto numas poucas palavras da Epístola aos Romanos: “Com efeito, o invisível de Deus – o seu poder eterno a e sua divindade -, desde a criação do mundo, tornou-se visível à inteligência por meio das suas obras, de forma que [os pagãos] são inexcusáveis. Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, ofuscaram-se nos seus vãos pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato” (Rom 1, 20-210)
Assim vemos por que foi necessário que Deus voltasse a entrar em cena e nos estendesse a mão. Era necessário para que pudéssemos alcançar o destino a que nos havia destinado: a sua glória e, concomitantemente, a nossa felicidade. Noutras palavras, precisávamos que Deus ensinasse, de maneira clara e taxativa, aquelas coisas que temos de saber e aquelas outras que nos convém saber para cumprirmos a sua Vontade e atingirmos a união eterna com Ele.
Não há nenhuma razão pela qual pela qual Deus não devesse falar-nos, se assim lhe convinha. Um grande sábio que se inclina sobre uma criança ignorante para instruí-la, não se está com isso rebaixando de maneira alguma. Da mesma forma, não constitui nenhum ataque à dignidade de Deus, pensar que o Criador possa inclinar-se sobre nós, que somos criaturas suas, para instruir-nos.
Pois foi exatamente o que Ele fez: “afastou o véu“que nos separava d Ele. Isto é o que significa o verbo latino revelare: “afastar o véu“. Daí deriva a palavra “ Revelação“, que designa todas as verdades que Deus nos deu a conhecer a seu respeito.
Quando um amigo nos conta algo de pessoal que não conhecíamos, dizemos que nos fez uma “revelação”, mas uma revelação humana. Quando é Deus quem nos conta alguma coisa, falamos de “Revelação divina“. E quando se trata de alguma verdade que a razão humana jamais teria sido capaz de descobrir pelas suas próprias forças, de algo situado muito acima e muito além das capacidades da natureza humana, falamos de revelação sobrenatural. Um exemplo deste último tipo de verdades é o mistério da Santíssima Trindade, de Deus ter uma única natureza em três Pessoas.
Na realidade, porém, Deus não se limitou a revelar-nos apenas aquelas verdades que a mente humana nunca teria sido capaz de descobrir. Tendo em conta a fraqueza da nossa razão, quis proteger-nos das consequências da nossa debilidade revelando-nos também muitas verdades que deveríamos poder descobrir pela nossa própria capacidade, como por exemplo a sua existência, a sua natureza espiritual, a sua infinita Perfeição, Eternidade e Onipotência.
Evidentemente, apesar de Deus nos ter falado realmente, não é razoável que esperemos compreende-lo plenamente, tal como é em si mesmo. Seria o mesmo que pretender enfiar o sol numa xícara de chá. A mente humana é criada e não consegue ultrapassar determinados limites, ao passo que Deus é infinito. Portanto, o conhecimento que temos d Ele será necessariamente imperfeito, o que não significa que seja incorreto. O pouco que somos capazes de compreender é verdadeiro, mas está muito longe de ser toda a verdade. Da mesma forma, por mais fiel que seja a fotografia de uma bela paisagem publicado no suplemento de turismo do jornal, sempre será muito inferior à paisagem real. Por isso, quantas gratas surpresas não nos esperam o Céu!
Fonte: A sabedoria do Cristão e Spiritus Paraclitus
Autor:Padre Leo Trese
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