Discurso de Bento XVI ao Conselho do Comitê Central dos Católicos Alemães
Viagem Apostólica à Alemanha (22-25 de setembro de 2011)
24 de setembro de 2011
Amados irmãos e irmãs,
Agradeço a possibilidade de me encontrar convosco, os membros do Conselho do Comitê Central dos Católicos Alemães, aqui em Friburgo. Quero manifestar-vos o meu apreço pelo empenho com que sustentais, em público, os interesses dos católicos e dais impulso à obra apostólica da Igreja e dos católicos na sociedade. Ao mesmo tempo, agradeço ao senhor Alois Glück, Presidente do Comité Central dos Católicos Alemães, ZdK, pelo amável convite feito.
Queridos amigos, há vários anos que existem os chamados programas exposure no âmbito da ajuda aos países em vias de desenvolvimento. Pessoas responsáveis pela política, pela economia, pela Igreja vão viver, durante um certo tempo, com os pobres na África, Ásia ou América Latina, compartilhando a sua existência concreta de todos os dias. Colocam-se na situação de vida destas pessoas para verem o mundo com os seus olhos e, desta experiência, tirarem lições para o próprio agir solidário.
Imaginemos que um tal programa exposure tivesse lugar aqui na Alemanha. Peritos originários dum país distante viriam viver, durante uma semana, com uma família alemã média. Certamente admirariam aqui muitas coisas, como por exemplo o bem-estar, a ordem e a eficiência. Mas, com um olhar imparcial, constatariam também tanta pobreza: pobreza nas relações humanas e pobreza no âmbito religioso.
Vivemos num tempo caracterizado em grande parte por um relativismo subliminar que penetra todos os âmbitos da vida. Às vezes, este relativismo torna-se combativo, lançando-se contra pessoas que afirmam saber onde se encontra a verdade ou o sentido da vida.
E notamos como este relativismo exerce uma influência cada vez maior sobre as relações humanas e a sociedade. Isto exprime-se também na inconstância e descontinuidade de vida de muitas pessoas e num individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem capazes de renunciar de modo algum a determinada coisa ou de fazer um sacrifício pelos outros.
Também o compromisso altruísta pelo bem comum nos campos sociais e culturais ou então pelo necessitados está a diminuir. Outros já não são capazes de se unir de forma incondicional a um consorte. Quase já não se encontra a coragem de prometer ser fiel a vida toda; a coragem de decidir-se e dizer: agora pertenço totalmente a ti, ou então, de comprometer-se resolutamente com a fidelidade e a veracidade, e de procurar sinceramente as soluções dos problemas.
Queridos amigos, no programa exposure, depois da análise vem a reflexão comum. Nesta elaboração, deve-se olhar a pessoa humana na sua totalidade; e desta faz parte explicitamente, e não só de modo implícito, a sua relação com o Criador.
Vemos que, no nosso mundo rico ocidental, há carências. Muitas pessoas carecem da experiência da bondade de Deus. Não encontram qualquer ponto de contacto com as Igrejas institucionais e suas estruturas tradicionais. Mas porquê? Penso que esta seja uma pergunta sobre a qual devemos reflectir muito a sério. Ocupar-se desta questão é a tarefa principal do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Mas, obviamente, a mesma diz respeito a todos nós. Permiti-me tratar aqui um ponto da situação específica alemã. Na Alemanha, a Igreja está otimamente organizada. Mas, por detrás das estruturas, porventura existe também a correlativa força espiritual, a força da fé num Deus vivo? Sinceramente devemos afirmar que se verifica um excedente das estruturas em relação ao Espírito. Digo mais: a verdadeira crise da Igreja no mundo ocidental é uma crise de fé. Se não chegarmos a uma verdadeira renovação da fé, qualquer reforma estrutural permanecerá ineficaz.
Voltemos às pessoas a quem falta a experiência da bondade de Deus. Precisam de lugares, onde possam expor a sua nostalgia interior. Aqui somos chamados a procurar novos caminhos da evangelização. Um destes caminhos poderiam ser as pequenas comunidades, onde sobrevivem as amizades, que são aprofundadas na frequente adoração comunitária de Deus.
Aqui há pessoas que contam as suas pequenas experiências de fé no emprego e no âmbito da família e dos conhecidos, testemunhando assim uma nova proximidade da Igreja à sociedade. Depois, a seus olhos, aparece de modo cada vez mais claro que todos necessitam deste alimento do amor, da amizade concreta de um pelo outro e pelo Senhor. Permanece importante a ligação com a seiva vital da Eucaristia, porque sem Cristo nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5).
Amados irmãos e irmãs, que o Senhor nos indique sempre o caminho para, juntos, sermos luzes no mundo e mostrarmos ao nosso próximo o caminho para a fonte, onde possam saciar o seu profundo anseio de vida.
Fonte: Canção Nova
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