“São José considera como confiada a Ele próprio a multidão dos cristãos que formam a Igreja”.
Trânsito de São José.
Para fazer com que Deus seja mais favorável às nossas orações, e para que – entre tantos intercessores que podem ser invocados – derrame mais pronta e copiosamente auxílio à sua Igreja, cremos muito útil que o povo cristão habitue-se a rogar com devoção e confiança, juntamente com a Virgem Mãe de Deus, também o seu castíssimo esposo São José. E temos bons motivos para crer que isto será particularmente agradável à Virgem Santa.
[...]
Sabemos que a dignidade da Mãe de Deus é altíssima e que não pode haver uma maior. Mas dado que entre a beatíssima Mãe de Deus e São José existe um verdadeiro vínculo matrimonial, é também certo que São José, mais que qualquer outro, se aproximou daquela altíssima dignidade que faz da Mãe de Deus a criatura mais excelsa. De fato, o matrimônio constitui por si mesmo a forma mais nobre de sociedade e de amizade, e traz consigo a comunhão dos bens. Portanto, se Deus deu José como esposo a Maria, deu-o não só como companheiro de sua vida, testemunha de sua virgindade e tutor da sua pureza, mas também como participante – por força do vínculo conjugal – da excelsa dignidade da qual ela foi adornada. Além disso, ele eleva-se entre todos em dignidade também porque, por vontade de Deus, foi guarda e, na opinião de todos, pai do Filho de Deus. Em conseqüência, o Verbo de Deus foi humildemente submisso a José, obedeceu-lhe e prestou-lhe a honra e o respeito que o filho deve ao seu pai.
[...]
Pois bem: a Sagrada Família, que José governou com autoridade de pai, era o berço da Igreja nascente. A Virgem Santíssima, de fato, enquanto Mãe de Jesus, é também mãe de todos os cristãos, por Ela gerados em meio às dores do Redentor no Calvário. E Jesus é, de alguma maneira, como o primogênito dos cristãos, que por adoção e pela redenção lhe são irmãos.
Disto deriva que São José considera como confiada a Ele próprio a multidão dos cristãos que formam a Igreja, ou seja, a inumerável família dispersa pelo mundo, sobre a qual Ele, como esposo de Maria e pai putativo de Jesus, tem uma autoridade semelhante a de um pai. É, portanto, justo e digno de São José, que assim como ele guardou no seu tempo a família de Nazaré, também agora guarde e defenda com seu patrocínio a Igreja de Deus.
[...]
Todos os cristãos, por isso, de quaisquer condições e estado, têm bons motivos para se confiarem e se abandonarem à amorosa proteção de São José.
Nele, os pais de família encontram o mais alto exemplo de paterna vigilância e providência; os cônjuges, o exemplo mais perfeito de amor, concórdia e fidelidade conjugal; os consagrados a Deus, o modelo e protetor da castidade virginal.
Volvendo o olhar à imagem de José, aprendam os nobres a conservar a sua dignidade também na desventura; os ricos descubram quais são os bens que na verdade é necessário buscar e guardar zelosamente. E enfim, os pobres, os operários e todos aqueles que pouco tiveram da sorte, têm um motivo a mais – e todo especial – de recorrer a José e de tomá-lo como exemplo: Ele, embora sendo de descendência régia, desposado com a mais excelsa entre as mulheres, e ter sido considerado como o pai do Filho de Deus, passou todavia sua vida no trabalho, provendo o necessário para si e para os seus, com a fadiga e a habilidade de suas mãos.
Carta Encíclica Quamquam Pluries, do Papa Leão XIII, sobre a necessidade de se recorrer ao Patrocínio de São José, junto ao da Virgem Mãe de Deus, nas dificuldades dos tempos atuais
Fonte: Frates in Unum
Mostrando postagens com marcador Documentos da Igreja. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Documentos da Igreja. Mostrar todas as postagens
segunda-feira, 19 de março de 2012
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
NOTIFICAÇÃO SOBRE O LIVRO «IGREJA: CARISMA E PODER. ENSAIOS DE ECLESIOLOGIA MILITANTE» DE FREI LEONARDO BOFF, O.F.M.
NOTIFICAÇÃO SOBRE O LIVRO «IGREJA: CARISMA E PODER. ENSAIOS DE ECLESIOLOGIA MILITANTE» DE FREI LEONARDO BOFF, O.F.M.
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
NOTIFICAÇÃO SOBRE O LIVRO
«IGREJA: CARISMA E PODER.
ENSAIOS DE ECLESIOLOGIA MILITANTE»
DE FREI LEONARDO BOFF, O.F.M.
INTRODUÇÃO
No dia 12 de fevereiro de 1982, Frei Leonardo Boff, OFM, tomou a iniciativa de enviar à Congregação para a Doutrina da Fé a resposta que deu à Comissão arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de Janeiro, que criticara o seu livro « Igreja: Carisma e Poder » (Editora Vozes - Petrópolis, RJ, Brasil, 1981). Declarava que aquela crítica continha graves erros de leitura e de interpretação.
A Congregação, após ter estudado o livro nos seus aspectos doutrinais e pastorais, expôs ao Autor, numa carta de 15 de maio de 1984, algumas reservas, convidando-o a aceitá-las e oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, a possibilidade de um diálogo de esclarecimento. Tendo porém em vista a repercussão que o livro estava tendo entre os fiéis, a Congregação informou L. Boff de que, em qualquer hipótese, a carta seria publicada, levando eventualmente em consideração a posição que ele viesse a tomar por occasião do diálogo.
No dia 7 de setembro de 1984, L. Boff foi recebido pelo Cardeal Prefeito da Congregação, acompanhado pelo Mons. Jorge Mejía, na qualidade de Secretário. Foram objeto do colóquio alguns problemas eclesiológicos surgidos da leitura do livro « Igreja: Carisma e Poder » e assinalados na carta de 15 de maio de 1984. A conversa, que se desenvolveu num clima fraterno, proporcionou ao Autor ocasião de expor seus esclarecimentos pessoais, que ele quis também entregar por escrito. Tudo isto foi explicado num comunicado final publicado e redigido de comum acordo com L. Boff. Concluído o diálogo, foram recebidos pelo Cardeal Prefeito, em outra sala, os Eminentíssimos Cardeais Aloísio Lorscheider e Paulo Evaristo Arns, que se encontravam em Roma para esta oportunidade.
A Congregação examinou, seguindo a praxe que lhe é própria, os esclarecimentos orais e escritos fornecidos por L. Boff e, embora tomando nota das boas intenções e das repetidas declarações de fidelidade à Igreja e ao Magistério por ele expressas, sentiu-se contudo no dever de salientar que as reservas levantadas acerca do conteúdo do livro e assinaladas na carta, não poderiam, na sua substância, considerar-se superadas. Julga pois necessário, assim como estava previsto, agora publicar, nas suas partes essenciais, o conteúdo doutrinal da mencionada carta.
PREMISSA DOUTRINAL
A eclesiologia do livro « Igreja: Carisma e Poder » propõe-se ir ao encontro dos problemas da América Latina e, em particular do Brasil, com uma coletânea de estudos e perspectivas (cf. p. 13). Tal intenção exige, de um lado, uma atenção séria e aprofundada às situações concretas, às quais o livro se refere e, por outro lado, — para realmente corresponder ao seu objetivo — a preocupação de inserir-se na grande tarefa da Igreja universal, no sentido de interpretar, desenvolver e aplicar, sob a inspiração do Espírito Santo, a herança comum do único Evangelho, entregue, uma vez para sempre, pelo Senhor à nossa fidelidade. Deste modo a única fé do Evangelho cria e edifica, ao longo dos séculos, a Igreja católica, que permanece una na diversidade dos tempos e na diferença das situações próprias às múltiplas Igrejas particulares. A Igreja universal realiza-se e vive nas Igrejas particulares e estas são Igreja exatamente enquanto continuam a ser, num determinado tempo e lugar, expressão e atualização da Igreja universal. Deste modo, com o crescimento e o progresso das Igrejas particulares cresce e progride a Igreja universal; ao passo que, debilitando-se a unidade, diminuiria e decairia também a Igreja particular. Por isso o verdadeiro discurso teológico não pode jamais contentar-se em apenas interpretar e animar a realidade de uma Igreja particular, mas deve, ao contrário, procurar aprofundar os conteúdos do depósito sagrado da palavra de Deus, depósito confiado à Igreja e autenticamente interpretado pelo Magistério. A praxis e as experiências que sempre têm origem numa determinada e limitada situação histórica, ajudam o teólogo e o obrigam a tornar o Evangelho acessível ao seu tempo. A praxis, contudo, não substitui, nem produz a verdade, mas está a serviço da verdade, que nos foi entregue pelo Senhor. O teólogo é, pois, chamado a decifrar a linguagem das diversas situações — os sinais dos tempos — e a abrir esta linguagem à inteligência da fé (cf. Enc. Redemptor hominis, n. 19). Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico — aqui apenas brevemente assinalados — certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis. Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo.
A ESTRUTURA DA IGREJA
L. Boff coloca-se, segundo as suas próprias palavras, dentro de uma orientação, na qual se afirma « que a igreja como instituição não estava nas cogitações do Jesus histórico, mas que ela surgiu como evolução posterior à ressurreição, particularmente com o processo progressivo de desescatologização » (p. 123). Consequentemente, a hierarquia é para ele « um resultado » da « férrea necessidade de se institucionalizar », « uma mundanização », no « estilo romano e feudal » (p. 71). Daí deriva a necessidade de uma « mutação permanente da Igreja » (p. 109); hoje deve emergir uma « Igreja nova » (p. 107, passim), que será « uma nova encarnação das instituições eclesiais na sociedade, cujo poder será pura função de serviço » (p. 108).
Na lógica destas afirmações explica-se também a sua interpretação acerca das relações entre catolicismo e protestantismo: « Parece-nos que o cristianismo romano (catolicismo) se distingue por afirmar corajosamente a identidade sacramental e o cristianismo protestante por uma afirmação destemida da não-identidade » (p. 132; cf. pp, 126 ss., 140).
Dentro desta visão, ambas as confissões constituiriam mediações incompletas, pertencentes a um processo dialético de afirmação e de negação. Nesta dialética « se mostra o que seja o cristianismo. Que é o cristianismo? Não sabemos. Somente sabemos aquilo que se mostrar no processo histórico » (p. 131).
Para justificar esta concepção relativizante da Igreja — que se encontra na base das críticas radicais dirigidas contra a estrutura hierárquica da Igreja católica — L. Boff apela para a Constituição Lumen gentium (n. 8) do Concílio Vaticano II. Da famosa expressão do Concílio « Haec Ecclesia (se. única Christi Ecclesia) ... subsistit in Ecclesia catholica », ele extrai uma tese exatamente contrária à significação autêntica do texto conciliar, quando afirma: de fato, « esta (isto é, a única Igreja de Cristo) pode subsistir também em outras Igrejas cristãs » (p. 125). O Concílio tinha, porém, escolhido a palavra « subsistit » exatamente para esclarecer que há uma única « subsistência » da verdadeira Igreja, enquanto fora de sua estrutura visível existem somente « elementa Ecclesiae », que — por serem elementos da mesma Igreja — tendem e conduzem em direção à Igreja católica (LG 8). O Decreto sobre o ecumenismo exprime a mesma doutrina (UR 3-4), que foi novamente reafirmada pela Declaração Mysterium Ecclesiae, n. 1 (AAS LXV [1973], pp. 396-398).
A subversão do significado do texto conciliar sobre a subsistência da Igreja está na base do relativismo eclesilógico de L. Boff, supra delineado, no qual se desenvolve e se explicita um profundo desentendimento daquilo que a fé católica professa a respeito da Igreja de Deus no mundo.
DOGMA E REVELAÇÃO
A mesma lógica relativizante encontra-se na concepção da doutrina e do dogma expressa por L. Boff. O Autor critica, de modo muito severo, « a compreensão doutrinária da revelação » (p. 73). É verdade que L. Boff distingue entre dogmatismo e dogma (cf. p. 139), admitindo o segundo e rejeitando o primeiro. Todavia, segundo ele, o dogma, na sua formulação, é válido somente « para um determinado tempo e circunstâncias » (pp. 127-128). « Num segundo momento do mesmo processo dialético o texto deve poder ser ultrapassado para dar lugar a outro texto do hoje da fé » (p. 128). O relativismo que resulta de semelhantes afirmações torna-se explícito quando L. Boff fala de posições doutrinárias contraditórias entre si, contidas no Novo Testamento (cf. p. 128). Consequentemente « a atitude verdadeiramente católica » seria de « estar fundamentalmente aberto a todas as direções » (p. 128). Na perspectiva de L. Boff a autêntica concepção católica do dogma cai sob o veredito do « dogmatismo »: « Enquanto perdurar este tipo de compreensão dogmática e doutrinária da revelação e da salvação de Jesus Cristo dever-se-á contar irretorquivelmente com a repressão da liberdade de pensamento divergente dentro da Igreja » (pp. 74-75).
A este propósito convém ressaltar que o contrário do relativismo não é o verbalismo ou o imobilismo. O conteúdo último da revelação é o próprio Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, que nos convida à comunhão com Ele; todas as palavras referem-se à Palavra, ou — como diz São João da Cruz: « ... a su Hijo ... todo nos habló junto y de una vez en esta sola Palabra y no tiene más que hablar » (Subida del Monte Carmelo, II, 22, 3). Mas nas palavras, sempre analógicas e limitadas, da Escritura e da fé autêntica da Igreja, baseada na Escritura, exprime-se, de modo digno de fé, a verdade acerca de Deus e acerca do homem. A constante necessidade de interpretar a linguagem do passado, longe de sacrificar esta verdade, torna-a, antes, acessível e desenvolve a riqueza dos textos autênticos. Avançando, guiada pelo Senhor, que é o caminho e a verdade (Jo 14, 16), a Igreja, que ensina e que crê, está convencida de que a verdade expressa pelas palavras de fé não só não oprime o homem, mas o liberta (Jo 8, 32) e é o único instrumento de verdadeira comunhão entre os homens de diversas classes e opiniões, enquanto uma concepção dialética e relativizante o expõe a um decisionismo arbitrário.
No passado, esta Congregação teve ocasião de mostrar que o sentido das fórmulas dogmáticas permanece sempre verdadeiro e coerente, determinado e irreformável, embora possa ser ulteriormente esclarecido e melhor compreendido (cf. Mysterium Ecclesiae, n. 5: AAS LXV [1973], pp. 403-404).
Para continuar na sua função de sal da terra, que nunca perde o seu sabor, o « depositum fidei » deve ser fielmente conservado na sua pureza, sem deslizar no sentido de um processo dialético da história e em direção ao primado da praxis.
O EXERCÍCIO DO PODER SAGRADO
Uma «grave patologia » de que, segundo L. Boff, a Igreja romana deveria livrar-se, é provocada pelo exercício hegemónico do poder sagrado que, além de torná-la uma sociedade assimétrica, teria também sido deformado em si mesmo.
Dando por certo que o eixo organizador de uma sociedade coincide com o modo específico de produção que lhe é próprio, e aplicando este princípio à Igreja, L. Boff afirma que houve um processo histórico de expropriação dos meios de produção religiosa por parte do clero em prejuízo do povo cristão que, em consequência, teria sido privado de sua capacidade de decidir, de ensinar etc. (cf. pp. 75, 215 ss., 238-239). Além disso, após ter sofrido esta expropriação, o poder sagrado teria também sido gravemente deformado, vindo a cair deste modo nos mesmos defeitos do poder profano em termos de dominação, centralização, triunfalismo (cf. pp. 98, 85, 91 ss.). Para remediar estes inconvenientes, propõe-se um novo modelo de Igreja, no qual o poder seria concebido sem privilégios teológicos, como puro serviço articulado de acordo com as necessidades da comunidade (cf. pp. 207, 108).
Não se pode empobrecer a realidade dos sacramentos e da palavra de Deus enquadrando-a no esquema da « produção e consumo », reduzindo deste modo a comunhão da fé a um mero fenómeno sociológico. Os sacramentos não são «material simbólico », a sua administração não é produção, a sua recepção não é consumo. Os sacramento são dom de Deus. Ninguém os « produz ». Todos recebemos por eles a graça de Deus, os sinais do eterno amor. Tudo isto está além de toda produção, além de todo fazer e fabricar humano. A única medida que corresponde à grandeza do dom é a máxima fidelidade à vontade do Senhor, de acordo com a qual todos seremos julgados — sacerdotes e leigos — sendo todos « servos inúteis » (Lc 17, 10). Existe sempre, decerto, o perigo de abusos; põe-se sempre o problema de como garantir o acesso de todos os fiéis à plena participação na vida da Igreja e na sua fonte, isto é, na vida da Senhor. Mas interpretar a realidade dos sacramentos, da hierarquia, da palavra e de toda a vida da Igreja em termos de produção e de consumo, de monopólio, expropriação, conflito com o bloco hegemónico, ruptura e ocasião para um modo assimétrico de produção, equivale a subverter a realidade religiosa. Ao contrário de ajudar na solução dos verdadeiros problemas, este procedimento leva, antes, à destruição do sentido autêntico dos sacramentos e da palavra da fé.
O PROFETISMO NA IGREJA
O livro « Igreja: Carisma e Poder » denuncia a hierarquia e as instituições da Igreja (cf. pp. 65-66, 88, 239-240). Como explicação e justificação para semelhante atitude reivindica o papel dos carismas e, em particular, do profetismo (cf. pp. 237-240, 246, 247). A hierarquia teria a simples função de « coordenar », de « propiciar a unidade, a harmonia entre os vários serviços », de « manter a circularidade e impedir as divisões e sobreposições », descartando pois desta função « a subordinação imediata de todos aos hierarcas » (cf. p. 248).
Não há dúvida de que todo o povo de Deus participa do múnus profético de Cristo (cf. LG 12); Cristo cumpre o seu múnus profético não só por meio da hierarquia, mas também por meio dos leigos (cf. ib. 35). Mas é igualmente claro que a denúncia profética na Igreja, para ser legítima, deve permanecer sempre a serviço, para a edificação da própria Igreja. Esta não só deve aceitar a hierarquia e as instituições, mas deve também colaborar positivamente para a consolidação da sua comunhão interna; além disso, pertence à hierarquia o critério supremo para julgar não só o exercício bem orientado da denúncia profética, como também a sua autenticidade (cf. LG 12).
CONCLUSÃO
Ao tornar público o que acima ficou exposto, a Congregação sente-se na obrigação de declarar, outrossim, que as opções aqui analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar.
O Sumo Pontífice João Paulo II, no decorrer de uma Audiência concedida ao Cardeal Prefeito que subscreve este documento, aprovou a presente Notificação, deliberada em reunião ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, e ordenou que a mesma fosse publicada.
Roma, Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de Março de 1985.
Joseph Card. Ratzinger
Prefeito
+ Alberto Bovone
Arcebispo tit. de Cesarea de Numidia
Secretário
Fonte: Vaticano
Retirado de Eurico Zine
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
NOTIFICAÇÃO SOBRE O LIVRO
«IGREJA: CARISMA E PODER.
ENSAIOS DE ECLESIOLOGIA MILITANTE»
DE FREI LEONARDO BOFF, O.F.M.
INTRODUÇÃO
No dia 12 de fevereiro de 1982, Frei Leonardo Boff, OFM, tomou a iniciativa de enviar à Congregação para a Doutrina da Fé a resposta que deu à Comissão arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de Janeiro, que criticara o seu livro « Igreja: Carisma e Poder » (Editora Vozes - Petrópolis, RJ, Brasil, 1981). Declarava que aquela crítica continha graves erros de leitura e de interpretação.
A Congregação, após ter estudado o livro nos seus aspectos doutrinais e pastorais, expôs ao Autor, numa carta de 15 de maio de 1984, algumas reservas, convidando-o a aceitá-las e oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, a possibilidade de um diálogo de esclarecimento. Tendo porém em vista a repercussão que o livro estava tendo entre os fiéis, a Congregação informou L. Boff de que, em qualquer hipótese, a carta seria publicada, levando eventualmente em consideração a posição que ele viesse a tomar por occasião do diálogo.
No dia 7 de setembro de 1984, L. Boff foi recebido pelo Cardeal Prefeito da Congregação, acompanhado pelo Mons. Jorge Mejía, na qualidade de Secretário. Foram objeto do colóquio alguns problemas eclesiológicos surgidos da leitura do livro « Igreja: Carisma e Poder » e assinalados na carta de 15 de maio de 1984. A conversa, que se desenvolveu num clima fraterno, proporcionou ao Autor ocasião de expor seus esclarecimentos pessoais, que ele quis também entregar por escrito. Tudo isto foi explicado num comunicado final publicado e redigido de comum acordo com L. Boff. Concluído o diálogo, foram recebidos pelo Cardeal Prefeito, em outra sala, os Eminentíssimos Cardeais Aloísio Lorscheider e Paulo Evaristo Arns, que se encontravam em Roma para esta oportunidade.
A Congregação examinou, seguindo a praxe que lhe é própria, os esclarecimentos orais e escritos fornecidos por L. Boff e, embora tomando nota das boas intenções e das repetidas declarações de fidelidade à Igreja e ao Magistério por ele expressas, sentiu-se contudo no dever de salientar que as reservas levantadas acerca do conteúdo do livro e assinaladas na carta, não poderiam, na sua substância, considerar-se superadas. Julga pois necessário, assim como estava previsto, agora publicar, nas suas partes essenciais, o conteúdo doutrinal da mencionada carta.
PREMISSA DOUTRINAL
A eclesiologia do livro « Igreja: Carisma e Poder » propõe-se ir ao encontro dos problemas da América Latina e, em particular do Brasil, com uma coletânea de estudos e perspectivas (cf. p. 13). Tal intenção exige, de um lado, uma atenção séria e aprofundada às situações concretas, às quais o livro se refere e, por outro lado, — para realmente corresponder ao seu objetivo — a preocupação de inserir-se na grande tarefa da Igreja universal, no sentido de interpretar, desenvolver e aplicar, sob a inspiração do Espírito Santo, a herança comum do único Evangelho, entregue, uma vez para sempre, pelo Senhor à nossa fidelidade. Deste modo a única fé do Evangelho cria e edifica, ao longo dos séculos, a Igreja católica, que permanece una na diversidade dos tempos e na diferença das situações próprias às múltiplas Igrejas particulares. A Igreja universal realiza-se e vive nas Igrejas particulares e estas são Igreja exatamente enquanto continuam a ser, num determinado tempo e lugar, expressão e atualização da Igreja universal. Deste modo, com o crescimento e o progresso das Igrejas particulares cresce e progride a Igreja universal; ao passo que, debilitando-se a unidade, diminuiria e decairia também a Igreja particular. Por isso o verdadeiro discurso teológico não pode jamais contentar-se em apenas interpretar e animar a realidade de uma Igreja particular, mas deve, ao contrário, procurar aprofundar os conteúdos do depósito sagrado da palavra de Deus, depósito confiado à Igreja e autenticamente interpretado pelo Magistério. A praxis e as experiências que sempre têm origem numa determinada e limitada situação histórica, ajudam o teólogo e o obrigam a tornar o Evangelho acessível ao seu tempo. A praxis, contudo, não substitui, nem produz a verdade, mas está a serviço da verdade, que nos foi entregue pelo Senhor. O teólogo é, pois, chamado a decifrar a linguagem das diversas situações — os sinais dos tempos — e a abrir esta linguagem à inteligência da fé (cf. Enc. Redemptor hominis, n. 19). Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico — aqui apenas brevemente assinalados — certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis. Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo.
A ESTRUTURA DA IGREJA
L. Boff coloca-se, segundo as suas próprias palavras, dentro de uma orientação, na qual se afirma « que a igreja como instituição não estava nas cogitações do Jesus histórico, mas que ela surgiu como evolução posterior à ressurreição, particularmente com o processo progressivo de desescatologização » (p. 123). Consequentemente, a hierarquia é para ele « um resultado » da « férrea necessidade de se institucionalizar », « uma mundanização », no « estilo romano e feudal » (p. 71). Daí deriva a necessidade de uma « mutação permanente da Igreja » (p. 109); hoje deve emergir uma « Igreja nova » (p. 107, passim), que será « uma nova encarnação das instituições eclesiais na sociedade, cujo poder será pura função de serviço » (p. 108).
Na lógica destas afirmações explica-se também a sua interpretação acerca das relações entre catolicismo e protestantismo: « Parece-nos que o cristianismo romano (catolicismo) se distingue por afirmar corajosamente a identidade sacramental e o cristianismo protestante por uma afirmação destemida da não-identidade » (p. 132; cf. pp, 126 ss., 140).
Dentro desta visão, ambas as confissões constituiriam mediações incompletas, pertencentes a um processo dialético de afirmação e de negação. Nesta dialética « se mostra o que seja o cristianismo. Que é o cristianismo? Não sabemos. Somente sabemos aquilo que se mostrar no processo histórico » (p. 131).
Para justificar esta concepção relativizante da Igreja — que se encontra na base das críticas radicais dirigidas contra a estrutura hierárquica da Igreja católica — L. Boff apela para a Constituição Lumen gentium (n. 8) do Concílio Vaticano II. Da famosa expressão do Concílio « Haec Ecclesia (se. única Christi Ecclesia) ... subsistit in Ecclesia catholica », ele extrai uma tese exatamente contrária à significação autêntica do texto conciliar, quando afirma: de fato, « esta (isto é, a única Igreja de Cristo) pode subsistir também em outras Igrejas cristãs » (p. 125). O Concílio tinha, porém, escolhido a palavra « subsistit » exatamente para esclarecer que há uma única « subsistência » da verdadeira Igreja, enquanto fora de sua estrutura visível existem somente « elementa Ecclesiae », que — por serem elementos da mesma Igreja — tendem e conduzem em direção à Igreja católica (LG 8). O Decreto sobre o ecumenismo exprime a mesma doutrina (UR 3-4), que foi novamente reafirmada pela Declaração Mysterium Ecclesiae, n. 1 (AAS LXV [1973], pp. 396-398).
A subversão do significado do texto conciliar sobre a subsistência da Igreja está na base do relativismo eclesilógico de L. Boff, supra delineado, no qual se desenvolve e se explicita um profundo desentendimento daquilo que a fé católica professa a respeito da Igreja de Deus no mundo.
DOGMA E REVELAÇÃO
A mesma lógica relativizante encontra-se na concepção da doutrina e do dogma expressa por L. Boff. O Autor critica, de modo muito severo, « a compreensão doutrinária da revelação » (p. 73). É verdade que L. Boff distingue entre dogmatismo e dogma (cf. p. 139), admitindo o segundo e rejeitando o primeiro. Todavia, segundo ele, o dogma, na sua formulação, é válido somente « para um determinado tempo e circunstâncias » (pp. 127-128). « Num segundo momento do mesmo processo dialético o texto deve poder ser ultrapassado para dar lugar a outro texto do hoje da fé » (p. 128). O relativismo que resulta de semelhantes afirmações torna-se explícito quando L. Boff fala de posições doutrinárias contraditórias entre si, contidas no Novo Testamento (cf. p. 128). Consequentemente « a atitude verdadeiramente católica » seria de « estar fundamentalmente aberto a todas as direções » (p. 128). Na perspectiva de L. Boff a autêntica concepção católica do dogma cai sob o veredito do « dogmatismo »: « Enquanto perdurar este tipo de compreensão dogmática e doutrinária da revelação e da salvação de Jesus Cristo dever-se-á contar irretorquivelmente com a repressão da liberdade de pensamento divergente dentro da Igreja » (pp. 74-75).
A este propósito convém ressaltar que o contrário do relativismo não é o verbalismo ou o imobilismo. O conteúdo último da revelação é o próprio Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, que nos convida à comunhão com Ele; todas as palavras referem-se à Palavra, ou — como diz São João da Cruz: « ... a su Hijo ... todo nos habló junto y de una vez en esta sola Palabra y no tiene más que hablar » (Subida del Monte Carmelo, II, 22, 3). Mas nas palavras, sempre analógicas e limitadas, da Escritura e da fé autêntica da Igreja, baseada na Escritura, exprime-se, de modo digno de fé, a verdade acerca de Deus e acerca do homem. A constante necessidade de interpretar a linguagem do passado, longe de sacrificar esta verdade, torna-a, antes, acessível e desenvolve a riqueza dos textos autênticos. Avançando, guiada pelo Senhor, que é o caminho e a verdade (Jo 14, 16), a Igreja, que ensina e que crê, está convencida de que a verdade expressa pelas palavras de fé não só não oprime o homem, mas o liberta (Jo 8, 32) e é o único instrumento de verdadeira comunhão entre os homens de diversas classes e opiniões, enquanto uma concepção dialética e relativizante o expõe a um decisionismo arbitrário.
No passado, esta Congregação teve ocasião de mostrar que o sentido das fórmulas dogmáticas permanece sempre verdadeiro e coerente, determinado e irreformável, embora possa ser ulteriormente esclarecido e melhor compreendido (cf. Mysterium Ecclesiae, n. 5: AAS LXV [1973], pp. 403-404).
Para continuar na sua função de sal da terra, que nunca perde o seu sabor, o « depositum fidei » deve ser fielmente conservado na sua pureza, sem deslizar no sentido de um processo dialético da história e em direção ao primado da praxis.
O EXERCÍCIO DO PODER SAGRADO
Uma «grave patologia » de que, segundo L. Boff, a Igreja romana deveria livrar-se, é provocada pelo exercício hegemónico do poder sagrado que, além de torná-la uma sociedade assimétrica, teria também sido deformado em si mesmo.
Dando por certo que o eixo organizador de uma sociedade coincide com o modo específico de produção que lhe é próprio, e aplicando este princípio à Igreja, L. Boff afirma que houve um processo histórico de expropriação dos meios de produção religiosa por parte do clero em prejuízo do povo cristão que, em consequência, teria sido privado de sua capacidade de decidir, de ensinar etc. (cf. pp. 75, 215 ss., 238-239). Além disso, após ter sofrido esta expropriação, o poder sagrado teria também sido gravemente deformado, vindo a cair deste modo nos mesmos defeitos do poder profano em termos de dominação, centralização, triunfalismo (cf. pp. 98, 85, 91 ss.). Para remediar estes inconvenientes, propõe-se um novo modelo de Igreja, no qual o poder seria concebido sem privilégios teológicos, como puro serviço articulado de acordo com as necessidades da comunidade (cf. pp. 207, 108).
Não se pode empobrecer a realidade dos sacramentos e da palavra de Deus enquadrando-a no esquema da « produção e consumo », reduzindo deste modo a comunhão da fé a um mero fenómeno sociológico. Os sacramentos não são «material simbólico », a sua administração não é produção, a sua recepção não é consumo. Os sacramento são dom de Deus. Ninguém os « produz ». Todos recebemos por eles a graça de Deus, os sinais do eterno amor. Tudo isto está além de toda produção, além de todo fazer e fabricar humano. A única medida que corresponde à grandeza do dom é a máxima fidelidade à vontade do Senhor, de acordo com a qual todos seremos julgados — sacerdotes e leigos — sendo todos « servos inúteis » (Lc 17, 10). Existe sempre, decerto, o perigo de abusos; põe-se sempre o problema de como garantir o acesso de todos os fiéis à plena participação na vida da Igreja e na sua fonte, isto é, na vida da Senhor. Mas interpretar a realidade dos sacramentos, da hierarquia, da palavra e de toda a vida da Igreja em termos de produção e de consumo, de monopólio, expropriação, conflito com o bloco hegemónico, ruptura e ocasião para um modo assimétrico de produção, equivale a subverter a realidade religiosa. Ao contrário de ajudar na solução dos verdadeiros problemas, este procedimento leva, antes, à destruição do sentido autêntico dos sacramentos e da palavra da fé.
O PROFETISMO NA IGREJA
O livro « Igreja: Carisma e Poder » denuncia a hierarquia e as instituições da Igreja (cf. pp. 65-66, 88, 239-240). Como explicação e justificação para semelhante atitude reivindica o papel dos carismas e, em particular, do profetismo (cf. pp. 237-240, 246, 247). A hierarquia teria a simples função de « coordenar », de « propiciar a unidade, a harmonia entre os vários serviços », de « manter a circularidade e impedir as divisões e sobreposições », descartando pois desta função « a subordinação imediata de todos aos hierarcas » (cf. p. 248).
Não há dúvida de que todo o povo de Deus participa do múnus profético de Cristo (cf. LG 12); Cristo cumpre o seu múnus profético não só por meio da hierarquia, mas também por meio dos leigos (cf. ib. 35). Mas é igualmente claro que a denúncia profética na Igreja, para ser legítima, deve permanecer sempre a serviço, para a edificação da própria Igreja. Esta não só deve aceitar a hierarquia e as instituições, mas deve também colaborar positivamente para a consolidação da sua comunhão interna; além disso, pertence à hierarquia o critério supremo para julgar não só o exercício bem orientado da denúncia profética, como também a sua autenticidade (cf. LG 12).
CONCLUSÃO
Ao tornar público o que acima ficou exposto, a Congregação sente-se na obrigação de declarar, outrossim, que as opções aqui analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar.
O Sumo Pontífice João Paulo II, no decorrer de uma Audiência concedida ao Cardeal Prefeito que subscreve este documento, aprovou a presente Notificação, deliberada em reunião ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, e ordenou que a mesma fosse publicada.
Roma, Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de Março de 1985.
Joseph Card. Ratzinger
Prefeito
+ Alberto Bovone
Arcebispo tit. de Cesarea de Numidia
Secretário
Fonte: Vaticano
Retirado de Eurico Zine
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Exortação Apostólica do Papa Bento XVI - VERBUM DOMINI
Exortação Apostólica do Papa Bento XVI - VERBUM DOMINI
Verbum Domini
Exortação Apostólica pós-sinodal do papa Bento XVI aos bispos, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, publicada no dia 30 de Setembro – memória de São Jerônimo – de 2010, sexto ano de Pontificado.
A Verbum Domini consiste em uma introdução (nn. 1-5), três seções principais (nn. 6-120), e uma breve conclusão (nn. 121-124).
A primeira parte, Verbum Dei, ou "O Deus que fala" (nn. 6-49), investiga uma série de princípios e conceitos teológicos inter-relacionados, começando com a observação de que "a novidade da revelação bíblica consiste no fato de Deus Se dar a conhecer no diálogo, que deseja ter conosco" (n. 6). Os tópicos abordados incluem a natureza de Deus, a dimensão cósmica da sua palavra, a cristologia da palavra, Tradição, Escritura, a resposta do homem à Palavra de Deus, fé e razão, a Escritura como a alma da sagrada teologia, o estado dos estudos bíblicos e da interpretação, a unidade da Escritura, as falsas interpretações da Escritura, a Bíblia e o ecumenismo, e os santos e a interpretação da Escritura. Essa primeira seção sozinha é um documento importante por direito próprio.
A segunda parte é Verbum in Ecclesia, ou "A Palavra de Deus e a Igreja" (nn. 50-89). Seu foco principal é "a relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja", que é "uma relação vital na qual cada fiel, pessoalmente, é chamado a entrar" (n. 51). Aqui, os ensinamentos teológicos da primeira seção são aplicados à vida e ao culto da Igreja. Temas importantes discutidos são a presença de Cristo na Igreja, a Palavra de Deus na liturgia, a Palavra de Deus e a Eucaristia, o lecionário, o ministério dos leitores nas celebrações litúrgicas, a importância das homilias, os sacramentos da reconciliação e da unção dos enfermos, a liturgia das horas, a importância do silêncio, a música litúrgica, a catequese, as vocações, o papel dos leigos, o casamento e a vida familiar, a lectio divina e a oração mariana.
A seção final é intitulada Verbum Mundo, ou "A Missão da Igreja" (nn. 90-120). Considerando que a segunda seção discutiu a Palavra de Deus na Igreja, esta seção se concentra no trabalho missionário da Igreja e sua proclamação da Palavra de Deus no mundo. "O Sínodo dos Bispos", escreve Bento XVI, "reafirmou com veemência a necessidade de revigorar na Igreja a consciência missionária, presente no Povo de Deus desde a sua origem" (n. 92). Os tópicos incluem a responsabilidade do batizado de proclamar a Palavra de Deus, a necessidade do alcance missionário, a nova evangelização, a natureza do testemunho cristão, o serviço cristão, o compromisso com a justiça, a reconciliação e a paz entre os povos, a caridade prática, os migrantes, os doentes, os pobres, a defesa da criação, o valor da cultura, da educação, da arte, da comunicação social, a inculturação, a tradução da Bíblia, o diálogo inter-religioso e a liberdade religiosa.
Marcos introdutórios e conclusivos
Embora a Introdução e a Conclusão da Verbum Domini sejam relativamente curtas, elas destacam algumas palavras e ideias essenciais que perpassam a sucessão apostólica e preparam o terreno, por assim dizer, para as três seções principais.
Uma dessas palavras é "encontro".
No parágrafo de abertura, Bento XVI escreve que o Sínodo de 2008 "foi uma experiência profunda de encontro com Cristo, Verbo do Pai, que está presente onde dois ou três se encontram reunidos em seu nome (cf. Mt 18, 20)".
E, no parágrafo seguinte: "Não existe prioridade maior do que esta: reabrir ao homem atual o acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10, 10)".
No último parágrafo, ele escreve: "Que cada um dos nossos dias seja plasmado pelo encontro renovado com Cristo, Verbo do Pai feito carne: Ele está no início e no fim de tudo, e n'Ele todas as coisas subsistem (cf. Cl 1, 17)".
Um ponto consistente de destaque em toda a Verbum Domini é que o cristianismo é antes e acima de tudo um encontro transformador com Jesus Cristo, e que a leitura e a meditação da Palavra de Deus é uma forma essencial pela qual esse encontro acontece.
Em segundo lugar, o Prólogo ao Evangelho de João é um guia e um marco para todo o documento. A fim de que "a Bíblia não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual", escreve Bento XVI, "pretendo apresentar e aprofundar os resultados do Sínodo, tomando por referência constante o Prólogo do Evangelho de João (Jo 1, 1-18), que nos dá a conhecer o fundamento da nossa vida: o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus, fez-se carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1, 14). Trata-se de um texto admirável, que dá uma síntese de toda a fé cristã" (n. 5).
Cada uma das três seções principais é introduzida com citações do capítulo de abertura do Quarto Evangelho: Jo 1, 1.14; 1, 18; e 1, 12. Estas, por sua vez, apontam para a íntima relação entre a Sagrada Escritura, a palavra escrita de Deus e Jesus Cristo, a Palavra de Deus.
A Conclusão, então, leva esse círculo à conexão completa, afirmando: "O Prólogo do Evangelho de João nos leva a contemplar que todo o ser está sob o signo da Palavra. O Verbo sai do Pai e vem habitar entre os seus e regressa ao seio do Pai para levar consigo toda a criação que n'Ele e para Ele fora criada" (n. 121).
Em uma nota estreitamente relacionada, a Introdução abre com uma citação de 1 Pedro: "A palavra do Senhor permanece eternamente. E esta é a palavra do Evangelho que vos foi anunciada". A palavra de Deus nos foi anunciada, nos foi dada, é o dom de Deus ao homem. O verbo "proclamar" [anunciar] aparece várias vezes, destacando a iniciativa de Deus de se aproximar e se comunicar com a humanidade. Então, em conclusão, Bento XVI acentua a necessidade do homem de ouvir a palavra de Deus e de responder ao seu dom: "Por isso, o nosso deve ser cada vez mais o tempo de uma nova escuta da Palavra de Deus e de uma nova evangelização. (...) À imitação do grande Apóstolo das Nações, que ficou transformado depois de ter ouvido a voz do Senhor (cf. At 9, 1-30), escutemos também nós a Palavra divina que não cessa de nos interpelar pessoalmente aqui e agora" (n. 122).
Isso é retomado de forma muito bonita nas palavras finais da Verbum Domini, citando as palavras finais da Bíblia: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem'! E, aquele que ouve, diga: 'Vem'! (…) O que dá testemunho destas coisas diz. 'Sim, Eu venho em breve'! Amém. Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 17.20)".
Doze temas-chave na Verbum Domini
Uma exortação apostólica como a Verbum Domini não pode (e não deve) ser convenientemente resumida. Mas as observações que seguem irão ajudar os leitores – esperamos – a ver e a apreciar alguns – não todos, certamente – temas e pontos fundamentais de destaque dentro do documento.
Chamados a participar da vida divina
É surpreendente que os parágrafos de abertura de cada seção principal contém uma referência ao convite de Deus ao homem para participar da vida divina. No coração dessa vida divina, observa Bento XVI, "há a comunhão, há o dom absoluto. (…) Deus se dá a conhecer como mistério de amor infinito, no qual, desde toda a eternidade, o Pai exprime a sua Palavra no Espírito Santo. Por isso o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus e é Deus, revela-nos o próprio Deus no diálogo de amor entre as Pessoas divinas e convida-nos a participar nele" (n. 6; cf n. 9.).
Essa verdade é apresentada ainda mais fortemente no início da segunda parte: "Aqueles que creem, ou seja, aqueles que vivem a obediência da fé 'nasceram de Deus' (Jo 1, 13), são feitos participantes da vida divina: filhos no Filho (cf. Gl 4, 5-6; Rm 8, 14-17)" (n. 50). E na terceira seção: "O Verbo de Deus comunicou-nos a vida divina que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5)" (n. 91).
Diálogo divino
Deus iniciou um diálogo com o homem por causa do seu amor por ele. Como já vimos, é por isso que o Deus Trino é um Deus de "diálogo". Isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão constantemente falando um com os outros em um amor perfeito e abnegado. "Nesta perspectiva, todo o homem aparece como o destinatário da Palavra, interpelado e chamado a entrar, por uma resposta livre, em tal diálogo de amor. Assim Deus torna cada um de nós capaz de escutar e responder à Palavra divina. O homem é criado na Palavra e vive nela; e não se pode compreender a si mesmo, se não se abre a este diálogo" (n. 22).
Encarnação e Cristologia
No centro desse diálogo divino está "o coração do mundo" (n. 83), o Verbo Encarnado, Jesus Cristo. "A Palavra divina exprime-se ao longo de toda a história da salvação e tem a sua plenitude no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus" (n. 7). A fé cristã "não é uma 'religião do Livro': o cristianismo é a 'religião da Palavra de Deus', não de 'uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo'" (par. 7).
Bento XVI escreve sobre uma "Cristologia da Palavra" e reflete longamente sobre o significado da comunicação do Verbo eterno no tempo e no espaço: "A sua história, única e singular, é a palavra definitiva que Deus diz à humanidade" (n. 11).
Encontro e relação
A expressão "encontro" e "encontrar" aparecem mais de 40 vezes na Verbum Domini. Elas resumem, em muitos aspectos, o núcleo da explicação de Bento XVI sobre as relações entre Deus e o homem e do homem e a Palavra de Deus. Citando a sua encíclica de 2005, Deus caritas est, Bento XVI afirma que, "no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (n. 11). E ainda: "Toda a história da salvação nos mostra progressivamente esta ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé que se realiza no encontro com Cristo. De fato, com Ele a fé toma a forma de encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida" (n. 25).
Da mesma forma, a palavra "relação" aparece mais de sessenta vezes, muitas vezes para expressar de alguma forma a íntima comunhão dada por Deus através de Jesus Cristo e das Escrituras: "O mistério da Aliança exprime esta relação entre Deus que chama através da sua Palavra e o homem que responde, sabendo claramente que não se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliança não é um ato de entendimento entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus" (n. 22), e "A relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja não pode ser compreendida em termos de um acontecimento simplesmente passado, mas trata-se de uma relação vital na qual cada fiel, pessoalmente, é chamado a entrar" (n. 51).
Unidade da história da salvação
O plano de salvação de Deus, explica Bento XVI, é um plano de unidade: da unidade do único Deus surge "a unidade do desígnio divino no Verbo encarnado..." (n. 13). A primeira criação, que ocorreu por meio da Palavra eterna, está intimamente relacionada à nova criação, estabelecida por meio do Verbo encarnado: "Recordando estes elementos essenciais da nossa fé, podemos contemplar a unidade profunda entre criação e nova criação e de toda a história da salvação em Cristo" (n. 13).
Unidade da Escritura
Há uma "unidade intrínseca" dentro da Bíblia: "Na escola da grande tradição da Igreja, aprendemos na passagem da letra ao espírito a identificar também a unidade de toda a Escritura, pois única é a Palavra de Deus que interpela a nossa vida, chamando-a constantemente à conversão. Continuam a ser para nós uma guia segura as expressões de Hugo de São Vítor: 'Toda a Escritura divina constitui um único livro e este único livro é Cristo, fala de Cristo e encontra em Cristo a sua realização'" (n. 39). Bento XVI assinala que, embora a Bíblia seja composta por diversos livros escritos por diversos autores ao longo dos séculos, "a pessoa de Cristo que dá unidade a todas as 'Escrituras' postas em relação com a única 'Palavra'" (n. 39).
Aliança e comunhão:
Esses dois conceitos estiveram no centro dos escritos teológicos de Bento desde os seus primeiros textos, como jovem sacerdote, sobre São Boaventura e Santo Agostinho. Entrar na aliança é entrar em comunhão. A aliança está enraizada na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A morte sacrificial de Cristo estabelece a aliança e a comunhão: "Neste grande mistério, Jesus manifesta-Se como a Palavra da Nova e Eterna Aliança: a liberdade de Deus e a liberdade do homem encontraram-se definitivamente na sua carne crucificada, num pacto indissolúvel, válido para sempre" (n. 12). Tendo entrado na aliança por meio do batismo, crescemos nela por meio da escuta e da obediência à palavra de Deus: "A escuta da Palavra de Deus introduz e incrementa a comunhão eclesial com todos os que caminham na fé" (n. 30), e "deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus" (n. 86).
Fé
A necessidade e a natureza da fé são discutidas várias vezes ao longo da Verbum Domini: "A Deus que Se revela é devida 'a obediência da fé' (Rm 16, 26; cf. Rm 1, 5; 2 Cor 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus (…). É precisamente a pregação da Palavra divina que faz surgir a fé, pela qual aderimos de coração à verdade que nos foi revelada e entregamos todo o nosso ser a Cristo" (n. 25).
A fé exige tanto a escolha interna quanto a comunhão externa. Ela não é meramente uma questão de crença pessoal: "Cristo Jesus continua hoje presente, na história, no seu corpo que é a Igreja; por isso, o ato da nossa fé é um ato simultaneamente pessoal e eclesial" (n. 25). A Mãe de Deus é o exemplo culminante de um discípulo que respondeu perfeitamente na fé: "No nosso tempo, é preciso que os fiéis sejam ajudados a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina" (n. 27).
Interpretação das Escrituras
Um assunto óbvio e claramente identificado pelo Papa como um "grande tema" (n. 29). Sem fé, afirma veementemente, é impossível interpretar corretamente a Bíblia. "A ligação intrínseca entre Palavra e fé põe em evidência que a autêntica hermenêutica da Bíblia só pode ser feita na fé eclesial, que tem o seu paradigma no sim de Maria" (n. 29).
A Bíblia é o livro da Igreja, e por isso deve ser lida com o coração e a mente da Igreja: "A Bíblia é o livro da Igreja e, a partir da imanência dela na vida eclesial, brota também a sua verdadeira hermenêutica. (…) A Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo. Somente com o 'nós', isto é, nesta comunhão com o Povo de Deus, podemos realmente entrar no núcleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer" (nn. 29, 30). Essa grande secção sobre a interpretação e a teologia bíblica (nn. 29-49) deveria ser estudada e aprofundada por muitos anos.
Os Santos
O parágrafo 48 da Verbum Domini diz: "A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não se ouvisse também quem viveu verdadeiramente a Palavra de Deus, ou seja, os Santos". Essa não é, obviamente, uma simples referência, já que toda a exortação apostólica é um exemplo de como recorrer à sabedoria dos santos, doutores e místicos. Bento XVI cita muitas vezes Santo Agostinho, São Jerônimo, São Boaventura, São Tomás de Aquino, São Gregório Magno e muitos outros. Destes, São Jerônimo recebe um destaque especial (n. 72).
"Lectio Divina"
A "leitura orante da Sagrada Escritura" é incentivada, com "particular referência à lectio divina" (n. 86), que é a leitura "divina" ou "sagrada" da Bíblia. Essa abordagem da Escritura, afirma Bento XVI, é "verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva". Ele, então, revisa os passos básicos da "lectio divina" (n. 87).
Missão e testemunho
A terceira parte da Verbum Domini é um apelo claro e forte a que todos os cristãos sejam testemunhas da sua fé em Cristo. "A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que por nossa vez tínhamos, por graça, recebido" (n. 91) e "a missão da Igreja não pode ser considerada como realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial" (n. 93). A fonte para isso é a palavra de Deus. Um exemplo atemporal é o apóstolo Paulo, que "ilustra, com a sua vida, o sentido da missão cristã e a sua originária universalidade" (n. 92). Essa seção contém uma das frases mais bonitas e poderosas de todo o texto: "Não se trata de anunciar uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova" (n. 93).
O porte histórico e o contexto da Verbum Domini
A exortação apostólica pós-sinodal anterior de Bento XVI, Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de 2007), sobre a "Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja", foi um documento notavelmente maior, com cerca de 32 mil palavras e 256 notas de rodapé. A Verbum Domini é ainda maior, composta por cerca de 41 mil palavras e 382 notas de rodapé, tornando-a um documento reconhecidamente intimidativo para muitos leitores. Colocando isso em perspectiva, a encíclica do Papa João Paulo II sobre a Eucaristia, Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003), tinha cerca de 18 mil palavras e 104 notas de rodapé. A Dei Verbum, a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina tem menos de 6 mil palavras e 41 notas de rodapé. A encíclica do Papa Pio XII sobre interpretação bíblica, Divino afflante Spiritu (30 de setembro de 1943), tinha menos de 11 mil palavras, com 48 notas de rodapé.
A recepção relativamente discreta da Verbum Domini não deve obscurecer a sua importância, tanto no pontificado de Bento XVI quanto no escopo mais amplo dos documentos papais e conciliares sobre as Escrituras. Fazia mais de meio século desde que um Papa emitiu um grande documento sobre os estudos bíblicos: a encíclica do Papa Pio XII, Divino Afflante Spiritu, apresentada no dia 30 de setembro de 1943. Esse documento comemorava a encíclica do Papa Leão XIII, Providentissimus Deus ("Sobre os Estudos Bíblicos"), publicada em 1893, que marcou o início de uma nova era na interpretação e no magistério bíblicos entre os católicos. Leão XIII também criou a Pontifícia Comissão Bíblica, em 1902.
O mais recente grande texto magisterial que aborda o ensino da Igreja sobre as Escrituras era a Dei Verbum, a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina, emitida no dia 18 de novembro de 1965.
É interessante notar que um jovem sacerdote e perito teológico da Baviera, o Pe. Joseph Ratzinger, esteve envolvido na elaboração desse documento, um dos mais importantes que surgiram do Concílio. Não surpreendentemente, esse documento fundamental é mencionado com destaque na Verbum Domini: "Pode-se afirmar que, a partir do pontificado do Papa Leão XIII, houve um crescendo de intervenções visando suscitar maior consciência da importância da Palavra de Deus e dos estudos bíblicos na vida da Igreja, que teve o seu ponto culminante no Concílio Vaticano II, de modo especial com a promulgação da Constituição dogmática sobre a Revelação divina Dei Verbum. Esta representa um marco no caminho da Igreja. (…) É de conhecimento geral o grande impulso dado pela Constituição dogmática Dei Verbum à redescoberta da Palavra de Deus na vida da Igreja, à reflexão teológica sobre a Revelação divina e ao estudo da Sagrada Escritura" (n. 3).
Documento, na íntegra, em http://bit.ly/gmIOEQ
Algumas frases da Verbum Domini
"A Palavra eterna fez-se pequena, tão pequena, que cabe numa manjedoura!" (Verbum Domini, Bento XVI)
"Deus pronunciou a sua Palavra eterna de modo humano. O seu Verbo se fez carne!" (Jo 1,14)(Verbum Domini, Bento XVI)
" O Verbo da Vida se manifestou em Cristo". (Verbum Domini, Bento XVI)
"O Senhor compendiou sua Palavra e abreviou-a em seu próprio Filho!" (Verbum Domini, Bento XVI)
"Jesus Cristo fez-se criança para que a Palavra possa ser compreendida por nós". (Verbum Domini, Bento XVI)
A Palavra não é apenas audível, não possui somente uma voz.
Agora, a Palavra tem um rosto que podemos ver: Jesus de Nazaré!" (Verbum Domini, Bento XVI)
Cristo, Palavra de Deus encarnada é o Senhor de todas as coisas". (Verbum Domini, Bento XVI)
Em Cristo, a Palavra de Deus está presente como Pessoa! (Verbum Domini, Bento XVI)
O universo é como uma partitura, uma sinfonia. Dentro desta sinfonia aparece um "solo", um tema, uma voz. Dele depende o significado da obra inteira. Este "solo" é Jesus. (Verbum Domini, Bento XVI)
O Verbo do Eterno Pai se assemelhou aos homens tomando carne na fraqueza humana" (Verbum Domini, Bento XVI)
http://comunicacatequese.blogspot.com/2011/01/estrutura-da-verbum-domini.html
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini_po.html
Fonte: Emaús POA
Verbum Domini
Exortação Apostólica pós-sinodal do papa Bento XVI aos bispos, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, publicada no dia 30 de Setembro – memória de São Jerônimo – de 2010, sexto ano de Pontificado.
A Verbum Domini consiste em uma introdução (nn. 1-5), três seções principais (nn. 6-120), e uma breve conclusão (nn. 121-124).
A primeira parte, Verbum Dei, ou "O Deus que fala" (nn. 6-49), investiga uma série de princípios e conceitos teológicos inter-relacionados, começando com a observação de que "a novidade da revelação bíblica consiste no fato de Deus Se dar a conhecer no diálogo, que deseja ter conosco" (n. 6). Os tópicos abordados incluem a natureza de Deus, a dimensão cósmica da sua palavra, a cristologia da palavra, Tradição, Escritura, a resposta do homem à Palavra de Deus, fé e razão, a Escritura como a alma da sagrada teologia, o estado dos estudos bíblicos e da interpretação, a unidade da Escritura, as falsas interpretações da Escritura, a Bíblia e o ecumenismo, e os santos e a interpretação da Escritura. Essa primeira seção sozinha é um documento importante por direito próprio.
A segunda parte é Verbum in Ecclesia, ou "A Palavra de Deus e a Igreja" (nn. 50-89). Seu foco principal é "a relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja", que é "uma relação vital na qual cada fiel, pessoalmente, é chamado a entrar" (n. 51). Aqui, os ensinamentos teológicos da primeira seção são aplicados à vida e ao culto da Igreja. Temas importantes discutidos são a presença de Cristo na Igreja, a Palavra de Deus na liturgia, a Palavra de Deus e a Eucaristia, o lecionário, o ministério dos leitores nas celebrações litúrgicas, a importância das homilias, os sacramentos da reconciliação e da unção dos enfermos, a liturgia das horas, a importância do silêncio, a música litúrgica, a catequese, as vocações, o papel dos leigos, o casamento e a vida familiar, a lectio divina e a oração mariana.
A seção final é intitulada Verbum Mundo, ou "A Missão da Igreja" (nn. 90-120). Considerando que a segunda seção discutiu a Palavra de Deus na Igreja, esta seção se concentra no trabalho missionário da Igreja e sua proclamação da Palavra de Deus no mundo. "O Sínodo dos Bispos", escreve Bento XVI, "reafirmou com veemência a necessidade de revigorar na Igreja a consciência missionária, presente no Povo de Deus desde a sua origem" (n. 92). Os tópicos incluem a responsabilidade do batizado de proclamar a Palavra de Deus, a necessidade do alcance missionário, a nova evangelização, a natureza do testemunho cristão, o serviço cristão, o compromisso com a justiça, a reconciliação e a paz entre os povos, a caridade prática, os migrantes, os doentes, os pobres, a defesa da criação, o valor da cultura, da educação, da arte, da comunicação social, a inculturação, a tradução da Bíblia, o diálogo inter-religioso e a liberdade religiosa.
Marcos introdutórios e conclusivos
Embora a Introdução e a Conclusão da Verbum Domini sejam relativamente curtas, elas destacam algumas palavras e ideias essenciais que perpassam a sucessão apostólica e preparam o terreno, por assim dizer, para as três seções principais.
Uma dessas palavras é "encontro".
No parágrafo de abertura, Bento XVI escreve que o Sínodo de 2008 "foi uma experiência profunda de encontro com Cristo, Verbo do Pai, que está presente onde dois ou três se encontram reunidos em seu nome (cf. Mt 18, 20)".
E, no parágrafo seguinte: "Não existe prioridade maior do que esta: reabrir ao homem atual o acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10, 10)".
No último parágrafo, ele escreve: "Que cada um dos nossos dias seja plasmado pelo encontro renovado com Cristo, Verbo do Pai feito carne: Ele está no início e no fim de tudo, e n'Ele todas as coisas subsistem (cf. Cl 1, 17)".
Um ponto consistente de destaque em toda a Verbum Domini é que o cristianismo é antes e acima de tudo um encontro transformador com Jesus Cristo, e que a leitura e a meditação da Palavra de Deus é uma forma essencial pela qual esse encontro acontece.
Em segundo lugar, o Prólogo ao Evangelho de João é um guia e um marco para todo o documento. A fim de que "a Bíblia não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual", escreve Bento XVI, "pretendo apresentar e aprofundar os resultados do Sínodo, tomando por referência constante o Prólogo do Evangelho de João (Jo 1, 1-18), que nos dá a conhecer o fundamento da nossa vida: o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus, fez-se carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1, 14). Trata-se de um texto admirável, que dá uma síntese de toda a fé cristã" (n. 5).
Cada uma das três seções principais é introduzida com citações do capítulo de abertura do Quarto Evangelho: Jo 1, 1.14; 1, 18; e 1, 12. Estas, por sua vez, apontam para a íntima relação entre a Sagrada Escritura, a palavra escrita de Deus e Jesus Cristo, a Palavra de Deus.
A Conclusão, então, leva esse círculo à conexão completa, afirmando: "O Prólogo do Evangelho de João nos leva a contemplar que todo o ser está sob o signo da Palavra. O Verbo sai do Pai e vem habitar entre os seus e regressa ao seio do Pai para levar consigo toda a criação que n'Ele e para Ele fora criada" (n. 121).
Em uma nota estreitamente relacionada, a Introdução abre com uma citação de 1 Pedro: "A palavra do Senhor permanece eternamente. E esta é a palavra do Evangelho que vos foi anunciada". A palavra de Deus nos foi anunciada, nos foi dada, é o dom de Deus ao homem. O verbo "proclamar" [anunciar] aparece várias vezes, destacando a iniciativa de Deus de se aproximar e se comunicar com a humanidade. Então, em conclusão, Bento XVI acentua a necessidade do homem de ouvir a palavra de Deus e de responder ao seu dom: "Por isso, o nosso deve ser cada vez mais o tempo de uma nova escuta da Palavra de Deus e de uma nova evangelização. (...) À imitação do grande Apóstolo das Nações, que ficou transformado depois de ter ouvido a voz do Senhor (cf. At 9, 1-30), escutemos também nós a Palavra divina que não cessa de nos interpelar pessoalmente aqui e agora" (n. 122).
Isso é retomado de forma muito bonita nas palavras finais da Verbum Domini, citando as palavras finais da Bíblia: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem'! E, aquele que ouve, diga: 'Vem'! (…) O que dá testemunho destas coisas diz. 'Sim, Eu venho em breve'! Amém. Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 17.20)".
Doze temas-chave na Verbum Domini
Uma exortação apostólica como a Verbum Domini não pode (e não deve) ser convenientemente resumida. Mas as observações que seguem irão ajudar os leitores – esperamos – a ver e a apreciar alguns – não todos, certamente – temas e pontos fundamentais de destaque dentro do documento.
Chamados a participar da vida divina
É surpreendente que os parágrafos de abertura de cada seção principal contém uma referência ao convite de Deus ao homem para participar da vida divina. No coração dessa vida divina, observa Bento XVI, "há a comunhão, há o dom absoluto. (…) Deus se dá a conhecer como mistério de amor infinito, no qual, desde toda a eternidade, o Pai exprime a sua Palavra no Espírito Santo. Por isso o Verbo, que desde o princípio está junto de Deus e é Deus, revela-nos o próprio Deus no diálogo de amor entre as Pessoas divinas e convida-nos a participar nele" (n. 6; cf n. 9.).
Essa verdade é apresentada ainda mais fortemente no início da segunda parte: "Aqueles que creem, ou seja, aqueles que vivem a obediência da fé 'nasceram de Deus' (Jo 1, 13), são feitos participantes da vida divina: filhos no Filho (cf. Gl 4, 5-6; Rm 8, 14-17)" (n. 50). E na terceira seção: "O Verbo de Deus comunicou-nos a vida divina que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5)" (n. 91).
Diálogo divino
Deus iniciou um diálogo com o homem por causa do seu amor por ele. Como já vimos, é por isso que o Deus Trino é um Deus de "diálogo". Isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão constantemente falando um com os outros em um amor perfeito e abnegado. "Nesta perspectiva, todo o homem aparece como o destinatário da Palavra, interpelado e chamado a entrar, por uma resposta livre, em tal diálogo de amor. Assim Deus torna cada um de nós capaz de escutar e responder à Palavra divina. O homem é criado na Palavra e vive nela; e não se pode compreender a si mesmo, se não se abre a este diálogo" (n. 22).
Encarnação e Cristologia
No centro desse diálogo divino está "o coração do mundo" (n. 83), o Verbo Encarnado, Jesus Cristo. "A Palavra divina exprime-se ao longo de toda a história da salvação e tem a sua plenitude no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus" (n. 7). A fé cristã "não é uma 'religião do Livro': o cristianismo é a 'religião da Palavra de Deus', não de 'uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo'" (par. 7).
Bento XVI escreve sobre uma "Cristologia da Palavra" e reflete longamente sobre o significado da comunicação do Verbo eterno no tempo e no espaço: "A sua história, única e singular, é a palavra definitiva que Deus diz à humanidade" (n. 11).
Encontro e relação
A expressão "encontro" e "encontrar" aparecem mais de 40 vezes na Verbum Domini. Elas resumem, em muitos aspectos, o núcleo da explicação de Bento XVI sobre as relações entre Deus e o homem e do homem e a Palavra de Deus. Citando a sua encíclica de 2005, Deus caritas est, Bento XVI afirma que, "no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (n. 11). E ainda: "Toda a história da salvação nos mostra progressivamente esta ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé que se realiza no encontro com Cristo. De fato, com Ele a fé toma a forma de encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida" (n. 25).
Da mesma forma, a palavra "relação" aparece mais de sessenta vezes, muitas vezes para expressar de alguma forma a íntima comunhão dada por Deus através de Jesus Cristo e das Escrituras: "O mistério da Aliança exprime esta relação entre Deus que chama através da sua Palavra e o homem que responde, sabendo claramente que não se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliança não é um ato de entendimento entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus" (n. 22), e "A relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja não pode ser compreendida em termos de um acontecimento simplesmente passado, mas trata-se de uma relação vital na qual cada fiel, pessoalmente, é chamado a entrar" (n. 51).
Unidade da história da salvação
O plano de salvação de Deus, explica Bento XVI, é um plano de unidade: da unidade do único Deus surge "a unidade do desígnio divino no Verbo encarnado..." (n. 13). A primeira criação, que ocorreu por meio da Palavra eterna, está intimamente relacionada à nova criação, estabelecida por meio do Verbo encarnado: "Recordando estes elementos essenciais da nossa fé, podemos contemplar a unidade profunda entre criação e nova criação e de toda a história da salvação em Cristo" (n. 13).
Unidade da Escritura
Há uma "unidade intrínseca" dentro da Bíblia: "Na escola da grande tradição da Igreja, aprendemos na passagem da letra ao espírito a identificar também a unidade de toda a Escritura, pois única é a Palavra de Deus que interpela a nossa vida, chamando-a constantemente à conversão. Continuam a ser para nós uma guia segura as expressões de Hugo de São Vítor: 'Toda a Escritura divina constitui um único livro e este único livro é Cristo, fala de Cristo e encontra em Cristo a sua realização'" (n. 39). Bento XVI assinala que, embora a Bíblia seja composta por diversos livros escritos por diversos autores ao longo dos séculos, "a pessoa de Cristo que dá unidade a todas as 'Escrituras' postas em relação com a única 'Palavra'" (n. 39).
Aliança e comunhão:
Esses dois conceitos estiveram no centro dos escritos teológicos de Bento desde os seus primeiros textos, como jovem sacerdote, sobre São Boaventura e Santo Agostinho. Entrar na aliança é entrar em comunhão. A aliança está enraizada na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A morte sacrificial de Cristo estabelece a aliança e a comunhão: "Neste grande mistério, Jesus manifesta-Se como a Palavra da Nova e Eterna Aliança: a liberdade de Deus e a liberdade do homem encontraram-se definitivamente na sua carne crucificada, num pacto indissolúvel, válido para sempre" (n. 12). Tendo entrado na aliança por meio do batismo, crescemos nela por meio da escuta e da obediência à palavra de Deus: "A escuta da Palavra de Deus introduz e incrementa a comunhão eclesial com todos os que caminham na fé" (n. 30), e "deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus" (n. 86).
Fé
A necessidade e a natureza da fé são discutidas várias vezes ao longo da Verbum Domini: "A Deus que Se revela é devida 'a obediência da fé' (Rm 16, 26; cf. Rm 1, 5; 2 Cor 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus (…). É precisamente a pregação da Palavra divina que faz surgir a fé, pela qual aderimos de coração à verdade que nos foi revelada e entregamos todo o nosso ser a Cristo" (n. 25).
A fé exige tanto a escolha interna quanto a comunhão externa. Ela não é meramente uma questão de crença pessoal: "Cristo Jesus continua hoje presente, na história, no seu corpo que é a Igreja; por isso, o ato da nossa fé é um ato simultaneamente pessoal e eclesial" (n. 25). A Mãe de Deus é o exemplo culminante de um discípulo que respondeu perfeitamente na fé: "No nosso tempo, é preciso que os fiéis sejam ajudados a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina" (n. 27).
Interpretação das Escrituras
Um assunto óbvio e claramente identificado pelo Papa como um "grande tema" (n. 29). Sem fé, afirma veementemente, é impossível interpretar corretamente a Bíblia. "A ligação intrínseca entre Palavra e fé põe em evidência que a autêntica hermenêutica da Bíblia só pode ser feita na fé eclesial, que tem o seu paradigma no sim de Maria" (n. 29).
A Bíblia é o livro da Igreja, e por isso deve ser lida com o coração e a mente da Igreja: "A Bíblia é o livro da Igreja e, a partir da imanência dela na vida eclesial, brota também a sua verdadeira hermenêutica. (…) A Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo. Somente com o 'nós', isto é, nesta comunhão com o Povo de Deus, podemos realmente entrar no núcleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer" (nn. 29, 30). Essa grande secção sobre a interpretação e a teologia bíblica (nn. 29-49) deveria ser estudada e aprofundada por muitos anos.
Os Santos
O parágrafo 48 da Verbum Domini diz: "A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não se ouvisse também quem viveu verdadeiramente a Palavra de Deus, ou seja, os Santos". Essa não é, obviamente, uma simples referência, já que toda a exortação apostólica é um exemplo de como recorrer à sabedoria dos santos, doutores e místicos. Bento XVI cita muitas vezes Santo Agostinho, São Jerônimo, São Boaventura, São Tomás de Aquino, São Gregório Magno e muitos outros. Destes, São Jerônimo recebe um destaque especial (n. 72).
"Lectio Divina"
A "leitura orante da Sagrada Escritura" é incentivada, com "particular referência à lectio divina" (n. 86), que é a leitura "divina" ou "sagrada" da Bíblia. Essa abordagem da Escritura, afirma Bento XVI, é "verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva". Ele, então, revisa os passos básicos da "lectio divina" (n. 87).
Missão e testemunho
A terceira parte da Verbum Domini é um apelo claro e forte a que todos os cristãos sejam testemunhas da sua fé em Cristo. "A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que por nossa vez tínhamos, por graça, recebido" (n. 91) e "a missão da Igreja não pode ser considerada como realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial" (n. 93). A fonte para isso é a palavra de Deus. Um exemplo atemporal é o apóstolo Paulo, que "ilustra, com a sua vida, o sentido da missão cristã e a sua originária universalidade" (n. 92). Essa seção contém uma das frases mais bonitas e poderosas de todo o texto: "Não se trata de anunciar uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova" (n. 93).
O porte histórico e o contexto da Verbum Domini
A exortação apostólica pós-sinodal anterior de Bento XVI, Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de 2007), sobre a "Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja", foi um documento notavelmente maior, com cerca de 32 mil palavras e 256 notas de rodapé. A Verbum Domini é ainda maior, composta por cerca de 41 mil palavras e 382 notas de rodapé, tornando-a um documento reconhecidamente intimidativo para muitos leitores. Colocando isso em perspectiva, a encíclica do Papa João Paulo II sobre a Eucaristia, Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003), tinha cerca de 18 mil palavras e 104 notas de rodapé. A Dei Verbum, a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina tem menos de 6 mil palavras e 41 notas de rodapé. A encíclica do Papa Pio XII sobre interpretação bíblica, Divino afflante Spiritu (30 de setembro de 1943), tinha menos de 11 mil palavras, com 48 notas de rodapé.
A recepção relativamente discreta da Verbum Domini não deve obscurecer a sua importância, tanto no pontificado de Bento XVI quanto no escopo mais amplo dos documentos papais e conciliares sobre as Escrituras. Fazia mais de meio século desde que um Papa emitiu um grande documento sobre os estudos bíblicos: a encíclica do Papa Pio XII, Divino Afflante Spiritu, apresentada no dia 30 de setembro de 1943. Esse documento comemorava a encíclica do Papa Leão XIII, Providentissimus Deus ("Sobre os Estudos Bíblicos"), publicada em 1893, que marcou o início de uma nova era na interpretação e no magistério bíblicos entre os católicos. Leão XIII também criou a Pontifícia Comissão Bíblica, em 1902.
O mais recente grande texto magisterial que aborda o ensino da Igreja sobre as Escrituras era a Dei Verbum, a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina, emitida no dia 18 de novembro de 1965.
É interessante notar que um jovem sacerdote e perito teológico da Baviera, o Pe. Joseph Ratzinger, esteve envolvido na elaboração desse documento, um dos mais importantes que surgiram do Concílio. Não surpreendentemente, esse documento fundamental é mencionado com destaque na Verbum Domini: "Pode-se afirmar que, a partir do pontificado do Papa Leão XIII, houve um crescendo de intervenções visando suscitar maior consciência da importância da Palavra de Deus e dos estudos bíblicos na vida da Igreja, que teve o seu ponto culminante no Concílio Vaticano II, de modo especial com a promulgação da Constituição dogmática sobre a Revelação divina Dei Verbum. Esta representa um marco no caminho da Igreja. (…) É de conhecimento geral o grande impulso dado pela Constituição dogmática Dei Verbum à redescoberta da Palavra de Deus na vida da Igreja, à reflexão teológica sobre a Revelação divina e ao estudo da Sagrada Escritura" (n. 3).
Documento, na íntegra, em http://bit.ly/gmIOEQ
Algumas frases da Verbum Domini
"A Palavra eterna fez-se pequena, tão pequena, que cabe numa manjedoura!" (Verbum Domini, Bento XVI)
"Deus pronunciou a sua Palavra eterna de modo humano. O seu Verbo se fez carne!" (Jo 1,14)(Verbum Domini, Bento XVI)
" O Verbo da Vida se manifestou em Cristo". (Verbum Domini, Bento XVI)
"O Senhor compendiou sua Palavra e abreviou-a em seu próprio Filho!" (Verbum Domini, Bento XVI)
"Jesus Cristo fez-se criança para que a Palavra possa ser compreendida por nós". (Verbum Domini, Bento XVI)
A Palavra não é apenas audível, não possui somente uma voz.
Agora, a Palavra tem um rosto que podemos ver: Jesus de Nazaré!" (Verbum Domini, Bento XVI)
Cristo, Palavra de Deus encarnada é o Senhor de todas as coisas". (Verbum Domini, Bento XVI)
Em Cristo, a Palavra de Deus está presente como Pessoa! (Verbum Domini, Bento XVI)
O universo é como uma partitura, uma sinfonia. Dentro desta sinfonia aparece um "solo", um tema, uma voz. Dele depende o significado da obra inteira. Este "solo" é Jesus. (Verbum Domini, Bento XVI)
O Verbo do Eterno Pai se assemelhou aos homens tomando carne na fraqueza humana" (Verbum Domini, Bento XVI)
http://comunicacatequese.blogspot.com/2011/01/estrutura-da-verbum-domini.html
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini_po.html
Fonte: Emaús POA
domingo, 5 de fevereiro de 2012
O Concílio de Hipona
O Concílio de Hipona
Quantas vezes você já ouviu de algum protestante a afirmação de que a Igreja Católica teria acrescentado vários livros apócrifos à Bíblia durante o Concílio de Trento, no séc. XVI?
Quando eles falam isso, estão querendo se referir a sete livros do Antigo Testamento que não se encontram em suas bíblias: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e os dois livros dos Macabeus (além de alguns trechos dos livros de Daniel e Ester). Porém, a própria História - que é imutável - desmente tal argumento, vistos os testemunhos abaixo:
Cânon 36:
- Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'.
E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos(1), dois livros dos Paralipômenos(2), Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão(3), doze livros dos Profetas(4), Isaías, Jeremias(5), Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras(6) e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos(7), um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo(8), uma do mesmo aos Hebreus(9), duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João(10).
Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar(11). É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários(12) (Concílio de Hipona, 08.Out.393).
Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'.
E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João.
Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio, bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na Igreja (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).
Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos números, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juízes, um livro de Rute; quatro livros dos Reis(13), dois dos Paralipômenos; um livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do Eclesiastes e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc e mais suas Lamentações, um de Ezequiel, um de Daniel; um de Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus.
Um evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do outro João presbítero, duas (14); de Judas, o zelota, uma. (Catálogo dos livros sagrados, composto durante o pontificado de São Dâmaso [366-384], no Concílio de Roma de 382)
Quais os livros aceitos no cânon das Escrituras, o breve apêndice o mostra: Cinco livros de Moisés, isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um livro de Josué, filho de Num; um livro dos Juízes; quatro livros dos Reinos; e Rute. Dezesseis livros dos Profetas; cinco livros de Salomão; o Saltério. Livros históricos: um de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, dois de Esdras, dois dos Paralipômenos.
Do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos; quatorze epístolas do apóstolo Paulo, três de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago; os Atos dos Apóstolos; e o Apocalipse de João (papa Inocêncio I, 20.02.405; Carta Consulenti Tibi a Exupério, bispo de Tolosa).
Devemos agora tratar das Escrituras Divinas. Vejamos o que a Igreja Católica universalmente aceita e o que deve ser evitado:
(1) Começa a ordem do Antigo Testamento: um livro da Gênese, um do Êxodo, um do Levítico, um dos Números, um do Deuteronômio, um de Josué (filho de Nun), um dos Juízes, um de Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, um livro de 150 Salmos, três livros de Salomão (um dos Provérbios, um do Eclesiastes, e um do Cântico dos Cânticos).
Ainda um livro da Sabedoria e um do Eclesiástico. (2) A ordem dos Profetas: um livro de Isaías, um de Jeremias com Cinoth (isto é, as suas Lamentações), um livro de Ezequiel, um de Daniel, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Joel, um de Abdias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias e um de Malaquias. (3) A ordem dos livros históricos: um de Jó, um de Tobias, dois de Esdras, um de Ester, um de Judite e dois dos Macabeus. (4)
A ordem das escrituras do Novo Testamento, que a Santa e Católica Igreja Romana aceita e venera são: quatro livros dos Evangelhos (um segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas e um segundo João). Ainda um livro dos Atos dos Apóstolos. As 14 epístolas de Paulo Apóstolo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Efésios, duas aos Tessalonicenses, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon e uma aos Hebreus. Ainda um livro do Apocalipse de João. Ainda sete epístolas canônicas: duas do Apóstolo Pedro, uma do Apóstolo Tiago, uma de João Apóstolo, duas epístolas do outro João (presbítero) e uma de Judas Apóstolo (o zelota) (papa S. Gelásio, ~495; Decreto Gelasiano; repetido em 520 pelo papa S. Hormisdas.
Seguido também pelo Concílio Ecumênico de Florença (15) [1438-1445], e novamente ratificado pelos Concílio de Trento (16) [1546-1563] e Vaticano I [1870].
Outras Fontes: Concílio Regional de Trulos, realizado no ano 692.
1 Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).
2 Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).
3 Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
4 A saber: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
5 Incluindo as Lamentações e Baruc, segundo a Septuaginta.
6 Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.
7 Mateus, Marcos, Lucas e João.
8 Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.
9 Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.
10 Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.
11 Trata-se da Igreja de Roma.
12 Alusão ao culto dos santos mártires.
13 Os Concílios regionais de Cartago simplesmente repetem, com as mesmas palavras, o conteúdo do cânon 36 do Concílio regional de Hipona. A diferença está somente na conclusão.
14 Interessante distinção, já que antiquíssima tradição de Éfeso distinguia o João Apóstolo de um João Presbítero, da mesma região.
15 cf. Decreto Pro Iacobitis (da Bula Cantate Domino, de 04.02.1441): ...O Sacrossanto Concílio professa que um e o mesmo Deus é o autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e do Evangelho, pois os santos de ambos os Testamentos falaram sob a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concílio aceita e venera os seus livros que vêm indicados pelos títulos seguintes: Cinco livros de Moisés (isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze Profetas menores (isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e dois livros dos Macabeus. Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), catorze epístolas de Paulo (uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, uma aos Hebreus), duas epístolas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João.
16 cf. Decreto sobre o Cânon (sessão IV, de 08.04.1546).
Fonte: Site Veritatis Splendor
Retirado de Diionário da Fé
Quantas vezes você já ouviu de algum protestante a afirmação de que a Igreja Católica teria acrescentado vários livros apócrifos à Bíblia durante o Concílio de Trento, no séc. XVI?
Quando eles falam isso, estão querendo se referir a sete livros do Antigo Testamento que não se encontram em suas bíblias: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e os dois livros dos Macabeus (além de alguns trechos dos livros de Daniel e Ester). Porém, a própria História - que é imutável - desmente tal argumento, vistos os testemunhos abaixo:
Cânon 36:
- Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'.
E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos(1), dois livros dos Paralipômenos(2), Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão(3), doze livros dos Profetas(4), Isaías, Jeremias(5), Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras(6) e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos(7), um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo(8), uma do mesmo aos Hebreus(9), duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João(10).
Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar(11). É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários(12) (Concílio de Hipona, 08.Out.393).
Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'.
E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João.
Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio, bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na Igreja (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).
Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos números, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juízes, um livro de Rute; quatro livros dos Reis(13), dois dos Paralipômenos; um livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do Eclesiastes e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc e mais suas Lamentações, um de Ezequiel, um de Daniel; um de Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus.
Um evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do outro João presbítero, duas (14); de Judas, o zelota, uma. (Catálogo dos livros sagrados, composto durante o pontificado de São Dâmaso [366-384], no Concílio de Roma de 382)
Quais os livros aceitos no cânon das Escrituras, o breve apêndice o mostra: Cinco livros de Moisés, isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um livro de Josué, filho de Num; um livro dos Juízes; quatro livros dos Reinos; e Rute. Dezesseis livros dos Profetas; cinco livros de Salomão; o Saltério. Livros históricos: um de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, dois de Esdras, dois dos Paralipômenos.
Do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos; quatorze epístolas do apóstolo Paulo, três de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago; os Atos dos Apóstolos; e o Apocalipse de João (papa Inocêncio I, 20.02.405; Carta Consulenti Tibi a Exupério, bispo de Tolosa).
Devemos agora tratar das Escrituras Divinas. Vejamos o que a Igreja Católica universalmente aceita e o que deve ser evitado:
(1) Começa a ordem do Antigo Testamento: um livro da Gênese, um do Êxodo, um do Levítico, um dos Números, um do Deuteronômio, um de Josué (filho de Nun), um dos Juízes, um de Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, um livro de 150 Salmos, três livros de Salomão (um dos Provérbios, um do Eclesiastes, e um do Cântico dos Cânticos).
Ainda um livro da Sabedoria e um do Eclesiástico. (2) A ordem dos Profetas: um livro de Isaías, um de Jeremias com Cinoth (isto é, as suas Lamentações), um livro de Ezequiel, um de Daniel, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Joel, um de Abdias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias e um de Malaquias. (3) A ordem dos livros históricos: um de Jó, um de Tobias, dois de Esdras, um de Ester, um de Judite e dois dos Macabeus. (4)
A ordem das escrituras do Novo Testamento, que a Santa e Católica Igreja Romana aceita e venera são: quatro livros dos Evangelhos (um segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas e um segundo João). Ainda um livro dos Atos dos Apóstolos. As 14 epístolas de Paulo Apóstolo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Efésios, duas aos Tessalonicenses, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon e uma aos Hebreus. Ainda um livro do Apocalipse de João. Ainda sete epístolas canônicas: duas do Apóstolo Pedro, uma do Apóstolo Tiago, uma de João Apóstolo, duas epístolas do outro João (presbítero) e uma de Judas Apóstolo (o zelota) (papa S. Gelásio, ~495; Decreto Gelasiano; repetido em 520 pelo papa S. Hormisdas.
Seguido também pelo Concílio Ecumênico de Florença (15) [1438-1445], e novamente ratificado pelos Concílio de Trento (16) [1546-1563] e Vaticano I [1870].
Outras Fontes: Concílio Regional de Trulos, realizado no ano 692.
1 Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).
2 Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).
3 Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
4 A saber: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
5 Incluindo as Lamentações e Baruc, segundo a Septuaginta.
6 Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.
7 Mateus, Marcos, Lucas e João.
8 Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.
9 Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.
10 Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.
11 Trata-se da Igreja de Roma.
12 Alusão ao culto dos santos mártires.
13 Os Concílios regionais de Cartago simplesmente repetem, com as mesmas palavras, o conteúdo do cânon 36 do Concílio regional de Hipona. A diferença está somente na conclusão.
14 Interessante distinção, já que antiquíssima tradição de Éfeso distinguia o João Apóstolo de um João Presbítero, da mesma região.
15 cf. Decreto Pro Iacobitis (da Bula Cantate Domino, de 04.02.1441): ...O Sacrossanto Concílio professa que um e o mesmo Deus é o autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e do Evangelho, pois os santos de ambos os Testamentos falaram sob a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concílio aceita e venera os seus livros que vêm indicados pelos títulos seguintes: Cinco livros de Moisés (isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze Profetas menores (isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e dois livros dos Macabeus. Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), catorze epístolas de Paulo (uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, uma aos Hebreus), duas epístolas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João.
16 cf. Decreto sobre o Cânon (sessão IV, de 08.04.1546).
Fonte: Site Veritatis Splendor
Retirado de Diionário da Fé
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé
Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé
Introdução
Com a Carta apostólica Porta fidei de 11 de outubro de 2011, o Santo Padre Bento XVI convocou um Ano da Fé. Ele começará no dia 11 de outubro 2012, por ocasião do quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, e terminará aos 24 de novembro de 2013, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Este ano será uma ocasião propícia a fim de que todos os fiéis compreendam mais profundamente que o fundamento da fé cristã é “o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.1 Fundamentada no encontro com Jesus Cristo ressuscitado, a fé poderá ser redescoberta na sua integridade e em todo o seu esplendor. “Também nos nossos dias a fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar” para que o Senhor “conceda a cada um de nós viver a beleza e a alegria de sermos cristãos”2.
O início do Ano da Fé coincide com a grata recordação de dois grandes eventos que marcaram a face da Igreja nos nossos dias: o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, desejado pelo beato João XXIII (11 de outubro de 1962), e o vigésimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, oferecido à Igreja pelo beato João Paulo II (11 de outubro de 1992).
O Concílio, segundo o Papa João XXIII, quis “transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios”, empenhando-se para que “esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”3. A este propósito, continua sendo de importância decisiva o início da Constituição dogmática Lumen gentium: “A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15)”4. A partir da luz de Cristo, que purifica, ilumina e santifica na celebração da sagrada liturgia (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium) e com a sua palavra divina (cf. Constituição dogmática Dei Verbum), o Concílio quis aprofundar a natureza íntima da Igreja (cf. Constituição dogmática Lumen gentium) e a sua relação com o mundo contemporâneo (cf. Constituição pastoral Gaudium et spes). Ao redor das suas quatro Constituições, verdadeiras pilastras do Concílio, se agrupam as Declarações e os Decretos, que enfrentam alguns dos maiores desafios do tempo.
Depois do Concílio, a Igreja se empenhou na assimilação (receptio) e na aplicação do seu rico ensinamento, em continuidade com toda a Tradição, sob a guia segura do Magistério. A fim de favorecer a correta assimilação do Concílio, os Sumos Pontífices convocaram amiúde o Sínodo dos Bispos5, instituído pelo Servo de Deus Paulo VI em 1965, propondo à Igreja orientações claras por meio das diversas Exortações apostólicas pós-sinodais. A próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, no mês de outubro de 2012, terá como tema: A nova evangelização para a transmissão da fé cristã.
Desde o começo do seu pontificado, o Papa Bento XVI se empenhou de maneira decisiva por uma correta compreensão do Concílio, rechaçando como errônea a assim chamada “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” e promovendo aquele que ele mesmo chamou de “’hermenêutica da reforma’”, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho”6.
O Catecismo da Igreja Católica, pondo-se nesta linha, é, de um lado, “verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II”7, e de outro pretende favorecer a sua assimilação. O Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por ocasião do vigésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II e para efetuar um balanço da sua assimilação, sugeriu que fosse preparado este Catecismo a fim de oferecer ao Povo de Deus um compêndio de toda a doutrina católica e um texto de referência segura para os catecismos locais. O Papa João Paulo II acolheu a proposta como desejo “de responder plenamente a uma necessidade verdadeira da Igreja Universal e das Igrejas particulares”8. Redigido em colaboração com todo o Episcopado da Igreja Católica, este Catecismo “exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a ‘sinfonia da fé’”9.
O Catecismo compreende “coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas. Para responder a esta dupla exigência, o ‘Catecismo da Igreja Católica’ por um lado retoma a ‘antiga’ ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e por fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com frequência expresso de um modo ‘novo’, para responder às interrogações da nossa época”10. Este Catecismo é “um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé.”11. Nele os conteúdos da fé encontram “a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.”12.
O Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a “porta da fé” a tantas pessoas que estão em busca. Esta “porta” escancara o olhar do homem para Jesus Cristo, presente no nosso meio “todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). Ele nos mostra como “a arte de viver” se aprende “numa relação profunda com Ele”13. “Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé”14.
Por ordem do Papa Bento XVI15, a Congregação para a Doutrina da Fé redigiu a presente Nota, em acordo com os Dicastérios competentes da Santa Sé e com a contribuição do Comitê para a preparação do Ano da Fé16, com algumas indicações para viver este tempo de graça, sem excluir outras propostas que o Espírito Santo quiser suscitar entre os Pastores e os fiéis nas diversas partes do mundo.
Indicações
“Eu sei em quem pus a minha fé” (2 Tm 1, 12): esta palavra de São Paulo nos ajuda a compreender que “antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus”17. A fé como confiança pessoal no Senhor e a fé que professamos no Credo são inseparáveis, se atraem e se exigem reciprocamente. Existe uma ligação profunda entre a fé vivida e os seus conteúdos: a fé das testemunhas e dos confessores é também a fé dos apóstolos e dos doutores da Igreja.
Neste sentido, as seguintes indicações para o Ano da Fé desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos. Trata-se de propostas que visam solicitar, de maneira exemplificativa, a pronta responsabilidade eclesial diante do convite do Santo Padre a viver em plenitude este Ano como um especial “tempo de graça”18. A redescoberta alegre da fé poderá contribuir também a consolidar a unidade e a comunhão entre as diversas realidades que compõem a grande família da Igreja.
I. A nível da Igreja universal
1. O principal evento eclesial no começo do Ano da Fé será a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Bento XVI para o mês de outubro de 2012 e dedicada à Nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Durante este Sínodo, no dia 11 de outubro de 2012, acontecerá uma celebração solene de inauguração do Ano da Fé, recordando o quinquagésimo aniversário de abertura do Concílio Vaticano II.
2. No Ano da Fé devem-se encorajar as romarias dos fiéis à Sé de Pedro, para ali professarem a fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, unindo-se àquele que é chamado hoje a confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). Será importante favorecer também as romarias à Terra Santa, lugar que por primeiro viu a presença de Jesus, o Salvador, e de Maria, sua mãe.
3. No decorrer deste Ano será útil convidar os fiéis a se dirigirem com devoção especial a Maria, figura da Igreja, que “reúne em si e reflete os imperativos mais altos da nossa fé”19. Assim pois deve-se encorajar qualquer iniciativa que ajude os fiéis a reconhecer o papel especial de Maria no mistério da salvação, a amá-la filialmente e a seguir a sua fé e as suas virtudes. A tal fim será muito conveniente organizar romarias, celebrações e encontros junto dos maiores Santuários.
4. A próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013 oferecerá uma ocasião privilegiada aos jovens para experimentar a alegria que provém da fé no Senhor Jesus e da comunhão com o Santo Padre, na grande família da Igreja.
5. Deseja-se que sejam organizados simpósios, congressos e encontros de grande porte, também a nível internacional, que favoreçam o encontro com autênticos testemunhos da fé e o conhecimento dos conteúdos da doutrina católica. Demonstrando como também hoje a Palavra de Deus continua a crescer e a se difundir, será importante dar testemunho de que em Jesus Cristo “encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano”20 e que a fé “se torna um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do homem”21. Alguns congressos serão dedicados à redescoberta dos ensinamentos do Concílio Vaticano II.
6. Para todos os crentes, o Ano da Fé oferecerá uma ocasião favorável para aprofundar o conhecimento dos principais Documentos do Concílio Vaticano II e o estudo do Catecismo da Igreja Católica. Isto vale de modo particular para os candidatos ao sacerdócio, sobretudo durante o ano propedêutico ou nos primeiros anos dos estudos teológicos, para as noviças e os noviços dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, bem como para aqueles que vivem um período de prova para incorporar-se a uma Associação ou a um Movimento eclesial.
7. Este Ano será a ocasião propícia para acolher com maior atenção as homilias, as catequeses, os discursos e as outras intervenções do Santo Padre. Os Pastores, as pessoas consagradas e os fiéis leigos serão convidados a um empenho renovado de efetiva e cordial adesão ao ensinamento do Sucessor de Pedro.
8. Durante o Ano da Fé, se deseja que haja várias iniciativas ecumênicas, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, com o fim de invocar e favorecer “a restauração da unidade entre todos os cristãos” que é “um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II”22. Em particular, acontecerá uma solene celebração ecumênica a fim de reafirmar a fé em Cristo por parte de todos os batizados.
9. Junto ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização será instituída uma Secretaria especial para coordenar as diversas iniciativas relativas ao Ano da Fé, promovidas pelos vários Dicastérios da Santa Sé ou que tenham relevância para a Igreja universal. Será conveniente informar com tempo esta Secretaria sobre os principais eventos organizados: ela também poderá sugerir iniciativas oportunas a respeito. A Secretaria abrirá para tanto um site internet com a finalidade de oferecer todas as informações úteis para viver de modo eficaz o Ano da Fé.
10. Por ocasião da conclusão deste Ano, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, acontecerá uma Eucaristia celebrada pelo Santo Padre, na qual se renovará solenemente a profissão de fé.
II. A nível das Conferências Episcopais23
1. As Conferências Episcopais poderão dedicar uma jornada de estudo ao tema da fé, do seu testemunho pessoal e da sua transmissão às novas gerações, na consciência da missão específica dos Bispos como mestres e “arautos da fé”24.
2. Será útil favorecer a republicação dos Documentos do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e do seu Compêndio, também em edições de bolso e econômicas, e a sua maior difusão possível com a ajuda dos meios eletrônicos e das tecnologias modernas.
3. Deseja-se um esforço renovado para traduzir os Documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica nas línguas em que ainda não existem. Encorajam-se as iniciativas de sustento caritativo para tais traduções nas línguas locais dos Países em terra de missão, onde as Igrejas particulares não podem arcar com as despesas. Tudo isto seja feito sob a guia da Congregação para a Evangelização dos Povos.
4. Os Pastores, haurindo das novas linguagens de comunicação, devem se empenhar para promover transmissões televisivas ou radiofônicas, filmes e publicações, também a nível popular e acessíveis a um grande público, sobre o tema da fé, dos seus princípios e conteúdos, como também sobre o significado eclesial do Concílio Vaticano II.
5. Os Santos e os Beatos são as autênticas testemunhas da fé25. Portanto será oportuno que as Conferências Episcopais se empenhem para difundir o conhecimento dos Santos do próprio território, utilizando também os modernos meios de comunicação social.
6. O mundo contemporâneo é sensível à relação entre fé e arte. Neste sentido, se aconselha às Conferências Episcopais a valorizar adequadamente, em função catequética e eventualmente em colaboração ecumênica, o patrimônio das obras de arte presentes nos lugares confiados à sua cura pastoral.
7. Os docentes nos Centros de estudos teológicos, nos Seminários e nas Universidades católicas são convidados a verificar a relevância, no exercício do próprio magistério, dos conteúdos do Catecismo da Igreja Católica e das implicações que daí derivam para as respectivas disciplinas.
8. Será útil preparar, com a ajuda de teólogos e autores competentes, subsídios de divulgação com caráter apologético (cf. 1 Pd 3, 15). Assim cada fiel poderá responder melhor às perguntas que se fazem nos diversos âmbitos culturais, ora no tocante aos desafios das seitas, ora aos problemas ligados ao secularismo e ao relativismo, ora “a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas”26, como também a outras dificuldades específicas.
9. Deseja-se um controle dos catecismos locais e dos vários subsídios catequéticos em uso nas Igrejas particulares, para garantir a sua conformidade plena com o Catecismo da Igreja Católica27. No caso em que alguns catecismos ou subsídios não estejam em plena sintonia com o Catecismo, ou revelem algumas lacunas, poder-se-á encetar a elaboração de novos, eventualmente segundo o exemplo e a ajuda de outras Conferências Episcopais que já providenciaram à sua redação.
10. Será oportuna, em colaboração com a competente Congregação para a Educação Católica, um controle da presença dos conteúdos do Catecismo da Igreja Católica na Ratio da formação dos futuros sacerdotes e no Curriculum dos seus estudos teológicos.
III. A nível diocesano
1. Deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular, ocasião para “confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro”28.
2. Será oportuno organizar em cada Diocese do mundo uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas. Nesta ocasião, por exemplo, as Eparquias orientais católicas poderiam preparar um encontro com os sacerdotes para testemunhar a sensibilidade específica e a tradição litúrgica próprias ao interno da única fé em Cristo; assim as jovens Igrejas particulares nas terras de missão poderão ser convidadas a oferecer um testemunho renovado daquela alegria na fé que tanto as caracterizam.
3. Cada Bispo poderá dedicar uma sua Carta pastoral ao tema da fé, recordando a importância do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica levando em conta as circunstâncias pastorais específicas da porção de fiéis a ele confiada.
4. Deseja-se que em cada Diocese, sob a responsabilidade do Bispo, sejam organizados momentos de catequese, destinados aos jovens e àqueles que estão em busca de um sentido para a vida, com a finalidade de descobrir a beleza da fé eclesial, e que sejam promovidos encontros com as testemunhas significativas da mesma.
5. Será oportuno controlar a assimilação (receptio) do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica na vida e na missão de cada Igreja particular, especialmente em âmbito catequético. Neste sentido se deseja um empenho renovado por parte dos Ofícios catequéticos das Dioceses, os quais – com o apoio das Comissões para a Catequese das Conferências Episcopais ; têm o dever de providenciar à formação dos catequistas no que diz respeito aos conteúdos da fé.
6. A formação permanente do clero poderá ser concentrada, especialmente neste Ano da Fé, nos Documentos do Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica, tratando, por exemplo, de temas como “o anúncio do Cristo ressuscitado”, “a Igreja, sacramento de salvação”, “a missão evangelizadora no mundo de hoje”, “fé e incredulidade”, “fé, ecumenismo e diálogo inter-religioso”, “fé e vida eterna”, “a hermenêutica da reforma na continuidade”, “o Catecismo na preocupação pastoral ordinária”.
7. Os Bispos são convidados a organizar, especialmente no período da quaresma, celebrações penitenciais nas quais se peça perdão a Deus, também e particularmente, pelos pecados contra a fé. Este Ano será também um tempo favorável para se aproximar com maior fé e maior frequência do sacramento da Penitência.
8. Deseja-se um envolvimento do mundo acadêmico e da cultura por uma renovada ocasião de diálogo criativo entre fé e razão por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo, especialmente nas Universidades católicas, mostrando “que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade”29.
9. Será importante promover encontros com pessoas que, “embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”30, inspirando-se também nos diálogos do Pátio dos Gentios, organizados sob a guia do Conselho Pontifício para a Cultura.
10. O Ano da Fé poderá ser uma ocasião para prestar uma maior atenção às Escolas católicas, lugares próprios para oferecer aos alunos um testemunho vivo do Senhor e para cultivar a sua fé com uma referência oportuna à utilização de bons instrumentos catequéticos, como por exemplo, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ou como o Youcat.
IV. A nível das paróquias / comunidades / associações / movimentos
1. Em preparação para o Ano da Fé, todos os fiéis são convidados a ler e meditar atentamente a Carta apostólica Porta fidei do Santo Padre Bento XVI.
2. O Ano da Fé “será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia”31. Na Eucaristia, mistério da fé e fonte da nova evangelização, a fé da Igreja é proclamada, celebrada e fortalecida. Todos os fiéis são convidados a participar dela conscientemente, ativamente e frutuosamente, a fim de serem testemunhas autênticas do Senhor.
3. Os sacerdotes poderão dedicar maior atenção ao estudo dos Documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, tirando daí fruto para a pastoral paroquial – a catequese, a pregação, a preparação aos sacramentos – e propondo ciclos de homilias sobre a fé ou sobre alguns dos seus aspectos específicos, como por exemplo “o encontro com Cristo”, “os conteúdos fundamentais do Credo”, “a fé e a Igreja”32.
4. Os catequistas poderão haurir sobremaneira da riqueza doutrinal do Catecismo da Igreja Católica e guiar, sob a responsabilidade dos respectivos párocos, grupos de fiéis à leitura e ao aprofundamento deste precioso instrumento, a fim de criar pequenas comunidades de fé e de testemunho do Senhor Jesus.
5. Deseja-se que nas paróquias haja um empenho renovado na difusão e na distribuição do Catecismo da Igreja Católica ou de outros subsídios adequados às famílias, que são autênticas igrejas domésticas e primeiro lugar da transmissão da fé, como por exemplo no contexto das bênçãos das casas, dos Batismos dos adultos, das Crismas, dos Matrimônios. Isto poderá contribuir para a confissão e aprofundamento da doutrina católica “nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre”33.
6. Será oportuno promover missões populares e outras iniciativas nas paróquias e nos lugares de trabalho para ajudar os fiéis a redescobrir o dom da fé batismal e a responsabilidade do seu testemunho, na consciência de que a vocação cristã “é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado”34.
7. Neste tempo, os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica são solicitados a se empenhar na nova evangelização, com uma adesão renovada ao Senhor Jesus, pela contribuição dos próprios carismas e na fidelidade ao Santo Padre e à sã doutrina.
8. As Comunidades contemplativas durante o Ano da Fé dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações.
9. As Associações e os Movimentos eclesiais são convidados a serem promotores de iniciativas específicas, as quais, pela contribuição do próprio carisma e em colaboração com os Pastores locais, sejam inseridas no grande evento do Ano da Fé. As novas Comunidades e os Movimentos eclesiais, de modo criativo e generoso, saberão encontrar os modos mais adequados para oferecer o próprio testemunho de fé ao serviço da Igreja.
10. Todos os fiéis, chamados a reavivar o dom da fé, tentarão comunicar a própria experiência de fé e de caridade35 dialogando com os seus irmãos e irmãs, também com os das outras confissões cristãs, com os seguidores de outras religiões e com aqueles que não creem ou são indiferentes. Deste modo se deseja que todo o povo cristão comece uma espécie de missão endereçada aqueles com os quais vive e trabalha, com consciência de ter recebido “a mensagem da salvação para a comunicar a todos”36.
Conclusão
A fé “é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo”37. A fé é um ato pessoal e ao mesmo tempo comunitário: é um dom de Deus que deve ser vivenciado na grande comunhão da Igreja e deve ser comunicado ao mundo. Cada iniciativa para o Ano da Fé quer favorecer a alegre redescoberta e o testemunho renovado da fé. As indicações aqui oferecidas têm o fim de convidar todos os membros da Igreja ao empenho a fim de que este Ano seja a ocasião privilegiada para partilhar aquilo que o cristão tem de mais caro: Cristo Jesus, Redentor do homem, Rei do Universo, “autor e consumador da fé” (Heb 12, 2).
Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 6 de janeiro de 2012, Solenidade da Epifania do Senhor.
William Card. Levada
Prefeito
Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo titular de Thibica
Secretário
______________________________
1 BENTO XVI, Carta Enc. Deus caritas est, 25 de dezembro de 2005, n. 1.
2 ID., Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de janeiro 2010.
3 JOÃO XXIII, Discurso de solene abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, 11 de outubro de 1962.
4 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 1.
5 As assembléias Ordinárias do Sínodo dos Bispos trataram os seguintes temas: A preservação e o fortalecimento da fé católica, a sua integridade, o seu vigor, o seu desenvolvimento, a sua coerência doutrinal e histórica (1967), O sacerdócio ministerial e a justiça no mundo (1971), A evangelização no mundo moderno (1974), A catequese no nosso tempo (1977), A família cristã (1980), A penitência e a reconciliação na missão da Igreja (1983), A vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo (1987), A formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais (1991), A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo (1994), O Bispo: servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo (2001), A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (2005), A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008).
6 BENTO XVI, Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005.
7 ID. Carta ap. Porta fidei, n. 4.
8 JOÃO PAULO II, Discurso de conclusão da II Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, 7 de dezembro de 1985, n. 6. O próprio Sumo Pontífice, na fase inicial do mesmo Sínodo, durante o Ângelus de 24 de novembro de 1985, dizia: “A fé é o princípio fundamental, é o cardo, o critério essencial da renovação querida pelo Concílio. Da fé deriva a norma, o estilo de vida, a orientação prática em qualquer circunstância”.
9 ID., Const. ap. Fidei depositum, 11 de outubro de 1992, n. 2.
10 Ibid., n. 3
11 Ibid., n. 4.
12 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 11.
13 ID. Discurso aos participantes do Encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, 15 de outubro de 2011.
14 ID. Carta ap. Porta fidei, n. 7.
15 Cf. ibid., n. 12
17 Catecismo da Igreja Católica, n. 150.
18 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.
19 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 65.
20 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
21 Ibid., n. 6
22 CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Unitatis redintegratio, 1.
23 As indicações oferecidas às Conferências Episcopais valem de modo análogo também para os Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e Arquiepiscopais Maiores e para as Assembléias dos Hierarcas das Igrejas sui iuris.
24 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 25.
25 Cf. BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
26 Ibid., n. 12.
27 Cf. JOÃO PAULO II, Cons. Ap. Fidei depositum, n. 4.
28 BENTO XVI, Carta ap. Porta Fidei, n. 8.
29 Ibid., n. 12.
30 Ibid. n. 10.
31 Ibid., n. 9.
32 Cf. BENTO XVI, Exort. Ap. Pós-Sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, nn. 59-60 e 74.
33 ID., Carta ap. Porta fidei, n. 8.
34 CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Apostolicam actuositatem, n. 2.
35 Cf. BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 14.
36 CONC. ECUM. VAT. II, Cost. Past. Gaudium et spes, n. 1.
37 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.
[00005-06.01] [Texto original: Português]
16 Este Comitê, constituído junto à Congregação para a Doutrina da Fé por mandato do Santo Padre Bento XVI, contará entre seus membros: os Cardeais William Levada, Francis Arinze, Ângelo Bagnasco, Ivan Dias, Francis E. George, Zenon Grocholewski, Marc Ouellet, Mauro Piacenza, Jean-Pierre Ricard, Staniław Ryłko e Christoph Schönborn; gli Arcivescovi Luis F. Ladaria e Salvatore Fisichella; i Vescovi Maria Del Valle Moronta Rodriguez, Gerhard Ludwig Müller e Raffaello Martinelli.
Fonte: Católicos na Rede
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé
Introdução
Com a Carta apostólica Porta fidei de 11 de outubro de 2011, o Santo Padre Bento XVI convocou um Ano da Fé. Ele começará no dia 11 de outubro 2012, por ocasião do quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, e terminará aos 24 de novembro de 2013, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Este ano será uma ocasião propícia a fim de que todos os fiéis compreendam mais profundamente que o fundamento da fé cristã é “o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.1 Fundamentada no encontro com Jesus Cristo ressuscitado, a fé poderá ser redescoberta na sua integridade e em todo o seu esplendor. “Também nos nossos dias a fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar” para que o Senhor “conceda a cada um de nós viver a beleza e a alegria de sermos cristãos”2.
O início do Ano da Fé coincide com a grata recordação de dois grandes eventos que marcaram a face da Igreja nos nossos dias: o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, desejado pelo beato João XXIII (11 de outubro de 1962), e o vigésimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, oferecido à Igreja pelo beato João Paulo II (11 de outubro de 1992).
O Concílio, segundo o Papa João XXIII, quis “transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios”, empenhando-se para que “esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”3. A este propósito, continua sendo de importância decisiva o início da Constituição dogmática Lumen gentium: “A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15)”4. A partir da luz de Cristo, que purifica, ilumina e santifica na celebração da sagrada liturgia (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium) e com a sua palavra divina (cf. Constituição dogmática Dei Verbum), o Concílio quis aprofundar a natureza íntima da Igreja (cf. Constituição dogmática Lumen gentium) e a sua relação com o mundo contemporâneo (cf. Constituição pastoral Gaudium et spes). Ao redor das suas quatro Constituições, verdadeiras pilastras do Concílio, se agrupam as Declarações e os Decretos, que enfrentam alguns dos maiores desafios do tempo.
Depois do Concílio, a Igreja se empenhou na assimilação (receptio) e na aplicação do seu rico ensinamento, em continuidade com toda a Tradição, sob a guia segura do Magistério. A fim de favorecer a correta assimilação do Concílio, os Sumos Pontífices convocaram amiúde o Sínodo dos Bispos5, instituído pelo Servo de Deus Paulo VI em 1965, propondo à Igreja orientações claras por meio das diversas Exortações apostólicas pós-sinodais. A próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, no mês de outubro de 2012, terá como tema: A nova evangelização para a transmissão da fé cristã.
Desde o começo do seu pontificado, o Papa Bento XVI se empenhou de maneira decisiva por uma correta compreensão do Concílio, rechaçando como errônea a assim chamada “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” e promovendo aquele que ele mesmo chamou de “’hermenêutica da reforma’”, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho”6.
O Catecismo da Igreja Católica, pondo-se nesta linha, é, de um lado, “verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II”7, e de outro pretende favorecer a sua assimilação. O Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por ocasião do vigésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II e para efetuar um balanço da sua assimilação, sugeriu que fosse preparado este Catecismo a fim de oferecer ao Povo de Deus um compêndio de toda a doutrina católica e um texto de referência segura para os catecismos locais. O Papa João Paulo II acolheu a proposta como desejo “de responder plenamente a uma necessidade verdadeira da Igreja Universal e das Igrejas particulares”8. Redigido em colaboração com todo o Episcopado da Igreja Católica, este Catecismo “exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a ‘sinfonia da fé’”9.
O Catecismo compreende “coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas. Para responder a esta dupla exigência, o ‘Catecismo da Igreja Católica’ por um lado retoma a ‘antiga’ ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e por fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com frequência expresso de um modo ‘novo’, para responder às interrogações da nossa época”10. Este Catecismo é “um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé.”11. Nele os conteúdos da fé encontram “a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.”12.
O Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a “porta da fé” a tantas pessoas que estão em busca. Esta “porta” escancara o olhar do homem para Jesus Cristo, presente no nosso meio “todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). Ele nos mostra como “a arte de viver” se aprende “numa relação profunda com Ele”13. “Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé”14.
Por ordem do Papa Bento XVI15, a Congregação para a Doutrina da Fé redigiu a presente Nota, em acordo com os Dicastérios competentes da Santa Sé e com a contribuição do Comitê para a preparação do Ano da Fé16, com algumas indicações para viver este tempo de graça, sem excluir outras propostas que o Espírito Santo quiser suscitar entre os Pastores e os fiéis nas diversas partes do mundo.
Indicações
“Eu sei em quem pus a minha fé” (2 Tm 1, 12): esta palavra de São Paulo nos ajuda a compreender que “antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus”17. A fé como confiança pessoal no Senhor e a fé que professamos no Credo são inseparáveis, se atraem e se exigem reciprocamente. Existe uma ligação profunda entre a fé vivida e os seus conteúdos: a fé das testemunhas e dos confessores é também a fé dos apóstolos e dos doutores da Igreja.
Neste sentido, as seguintes indicações para o Ano da Fé desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos. Trata-se de propostas que visam solicitar, de maneira exemplificativa, a pronta responsabilidade eclesial diante do convite do Santo Padre a viver em plenitude este Ano como um especial “tempo de graça”18. A redescoberta alegre da fé poderá contribuir também a consolidar a unidade e a comunhão entre as diversas realidades que compõem a grande família da Igreja.
I. A nível da Igreja universal
1. O principal evento eclesial no começo do Ano da Fé será a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Bento XVI para o mês de outubro de 2012 e dedicada à Nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Durante este Sínodo, no dia 11 de outubro de 2012, acontecerá uma celebração solene de inauguração do Ano da Fé, recordando o quinquagésimo aniversário de abertura do Concílio Vaticano II.
2. No Ano da Fé devem-se encorajar as romarias dos fiéis à Sé de Pedro, para ali professarem a fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, unindo-se àquele que é chamado hoje a confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). Será importante favorecer também as romarias à Terra Santa, lugar que por primeiro viu a presença de Jesus, o Salvador, e de Maria, sua mãe.
3. No decorrer deste Ano será útil convidar os fiéis a se dirigirem com devoção especial a Maria, figura da Igreja, que “reúne em si e reflete os imperativos mais altos da nossa fé”19. Assim pois deve-se encorajar qualquer iniciativa que ajude os fiéis a reconhecer o papel especial de Maria no mistério da salvação, a amá-la filialmente e a seguir a sua fé e as suas virtudes. A tal fim será muito conveniente organizar romarias, celebrações e encontros junto dos maiores Santuários.
4. A próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013 oferecerá uma ocasião privilegiada aos jovens para experimentar a alegria que provém da fé no Senhor Jesus e da comunhão com o Santo Padre, na grande família da Igreja.
5. Deseja-se que sejam organizados simpósios, congressos e encontros de grande porte, também a nível internacional, que favoreçam o encontro com autênticos testemunhos da fé e o conhecimento dos conteúdos da doutrina católica. Demonstrando como também hoje a Palavra de Deus continua a crescer e a se difundir, será importante dar testemunho de que em Jesus Cristo “encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano”20 e que a fé “se torna um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do homem”21. Alguns congressos serão dedicados à redescoberta dos ensinamentos do Concílio Vaticano II.
6. Para todos os crentes, o Ano da Fé oferecerá uma ocasião favorável para aprofundar o conhecimento dos principais Documentos do Concílio Vaticano II e o estudo do Catecismo da Igreja Católica. Isto vale de modo particular para os candidatos ao sacerdócio, sobretudo durante o ano propedêutico ou nos primeiros anos dos estudos teológicos, para as noviças e os noviços dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, bem como para aqueles que vivem um período de prova para incorporar-se a uma Associação ou a um Movimento eclesial.
7. Este Ano será a ocasião propícia para acolher com maior atenção as homilias, as catequeses, os discursos e as outras intervenções do Santo Padre. Os Pastores, as pessoas consagradas e os fiéis leigos serão convidados a um empenho renovado de efetiva e cordial adesão ao ensinamento do Sucessor de Pedro.
8. Durante o Ano da Fé, se deseja que haja várias iniciativas ecumênicas, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, com o fim de invocar e favorecer “a restauração da unidade entre todos os cristãos” que é “um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II”22. Em particular, acontecerá uma solene celebração ecumênica a fim de reafirmar a fé em Cristo por parte de todos os batizados.
9. Junto ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização será instituída uma Secretaria especial para coordenar as diversas iniciativas relativas ao Ano da Fé, promovidas pelos vários Dicastérios da Santa Sé ou que tenham relevância para a Igreja universal. Será conveniente informar com tempo esta Secretaria sobre os principais eventos organizados: ela também poderá sugerir iniciativas oportunas a respeito. A Secretaria abrirá para tanto um site internet com a finalidade de oferecer todas as informações úteis para viver de modo eficaz o Ano da Fé.
10. Por ocasião da conclusão deste Ano, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, acontecerá uma Eucaristia celebrada pelo Santo Padre, na qual se renovará solenemente a profissão de fé.
II. A nível das Conferências Episcopais23
1. As Conferências Episcopais poderão dedicar uma jornada de estudo ao tema da fé, do seu testemunho pessoal e da sua transmissão às novas gerações, na consciência da missão específica dos Bispos como mestres e “arautos da fé”24.
2. Será útil favorecer a republicação dos Documentos do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e do seu Compêndio, também em edições de bolso e econômicas, e a sua maior difusão possível com a ajuda dos meios eletrônicos e das tecnologias modernas.
3. Deseja-se um esforço renovado para traduzir os Documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica nas línguas em que ainda não existem. Encorajam-se as iniciativas de sustento caritativo para tais traduções nas línguas locais dos Países em terra de missão, onde as Igrejas particulares não podem arcar com as despesas. Tudo isto seja feito sob a guia da Congregação para a Evangelização dos Povos.
4. Os Pastores, haurindo das novas linguagens de comunicação, devem se empenhar para promover transmissões televisivas ou radiofônicas, filmes e publicações, também a nível popular e acessíveis a um grande público, sobre o tema da fé, dos seus princípios e conteúdos, como também sobre o significado eclesial do Concílio Vaticano II.
5. Os Santos e os Beatos são as autênticas testemunhas da fé25. Portanto será oportuno que as Conferências Episcopais se empenhem para difundir o conhecimento dos Santos do próprio território, utilizando também os modernos meios de comunicação social.
6. O mundo contemporâneo é sensível à relação entre fé e arte. Neste sentido, se aconselha às Conferências Episcopais a valorizar adequadamente, em função catequética e eventualmente em colaboração ecumênica, o patrimônio das obras de arte presentes nos lugares confiados à sua cura pastoral.
7. Os docentes nos Centros de estudos teológicos, nos Seminários e nas Universidades católicas são convidados a verificar a relevância, no exercício do próprio magistério, dos conteúdos do Catecismo da Igreja Católica e das implicações que daí derivam para as respectivas disciplinas.
8. Será útil preparar, com a ajuda de teólogos e autores competentes, subsídios de divulgação com caráter apologético (cf. 1 Pd 3, 15). Assim cada fiel poderá responder melhor às perguntas que se fazem nos diversos âmbitos culturais, ora no tocante aos desafios das seitas, ora aos problemas ligados ao secularismo e ao relativismo, ora “a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas”26, como também a outras dificuldades específicas.
9. Deseja-se um controle dos catecismos locais e dos vários subsídios catequéticos em uso nas Igrejas particulares, para garantir a sua conformidade plena com o Catecismo da Igreja Católica27. No caso em que alguns catecismos ou subsídios não estejam em plena sintonia com o Catecismo, ou revelem algumas lacunas, poder-se-á encetar a elaboração de novos, eventualmente segundo o exemplo e a ajuda de outras Conferências Episcopais que já providenciaram à sua redação.
10. Será oportuna, em colaboração com a competente Congregação para a Educação Católica, um controle da presença dos conteúdos do Catecismo da Igreja Católica na Ratio da formação dos futuros sacerdotes e no Curriculum dos seus estudos teológicos.
III. A nível diocesano
1. Deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular, ocasião para “confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro”28.
2. Será oportuno organizar em cada Diocese do mundo uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas. Nesta ocasião, por exemplo, as Eparquias orientais católicas poderiam preparar um encontro com os sacerdotes para testemunhar a sensibilidade específica e a tradição litúrgica próprias ao interno da única fé em Cristo; assim as jovens Igrejas particulares nas terras de missão poderão ser convidadas a oferecer um testemunho renovado daquela alegria na fé que tanto as caracterizam.
3. Cada Bispo poderá dedicar uma sua Carta pastoral ao tema da fé, recordando a importância do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica levando em conta as circunstâncias pastorais específicas da porção de fiéis a ele confiada.
4. Deseja-se que em cada Diocese, sob a responsabilidade do Bispo, sejam organizados momentos de catequese, destinados aos jovens e àqueles que estão em busca de um sentido para a vida, com a finalidade de descobrir a beleza da fé eclesial, e que sejam promovidos encontros com as testemunhas significativas da mesma.
5. Será oportuno controlar a assimilação (receptio) do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica na vida e na missão de cada Igreja particular, especialmente em âmbito catequético. Neste sentido se deseja um empenho renovado por parte dos Ofícios catequéticos das Dioceses, os quais – com o apoio das Comissões para a Catequese das Conferências Episcopais ; têm o dever de providenciar à formação dos catequistas no que diz respeito aos conteúdos da fé.
6. A formação permanente do clero poderá ser concentrada, especialmente neste Ano da Fé, nos Documentos do Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica, tratando, por exemplo, de temas como “o anúncio do Cristo ressuscitado”, “a Igreja, sacramento de salvação”, “a missão evangelizadora no mundo de hoje”, “fé e incredulidade”, “fé, ecumenismo e diálogo inter-religioso”, “fé e vida eterna”, “a hermenêutica da reforma na continuidade”, “o Catecismo na preocupação pastoral ordinária”.
7. Os Bispos são convidados a organizar, especialmente no período da quaresma, celebrações penitenciais nas quais se peça perdão a Deus, também e particularmente, pelos pecados contra a fé. Este Ano será também um tempo favorável para se aproximar com maior fé e maior frequência do sacramento da Penitência.
8. Deseja-se um envolvimento do mundo acadêmico e da cultura por uma renovada ocasião de diálogo criativo entre fé e razão por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo, especialmente nas Universidades católicas, mostrando “que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade”29.
9. Será importante promover encontros com pessoas que, “embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”30, inspirando-se também nos diálogos do Pátio dos Gentios, organizados sob a guia do Conselho Pontifício para a Cultura.
10. O Ano da Fé poderá ser uma ocasião para prestar uma maior atenção às Escolas católicas, lugares próprios para oferecer aos alunos um testemunho vivo do Senhor e para cultivar a sua fé com uma referência oportuna à utilização de bons instrumentos catequéticos, como por exemplo, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ou como o Youcat.
IV. A nível das paróquias / comunidades / associações / movimentos
1. Em preparação para o Ano da Fé, todos os fiéis são convidados a ler e meditar atentamente a Carta apostólica Porta fidei do Santo Padre Bento XVI.
2. O Ano da Fé “será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia”31. Na Eucaristia, mistério da fé e fonte da nova evangelização, a fé da Igreja é proclamada, celebrada e fortalecida. Todos os fiéis são convidados a participar dela conscientemente, ativamente e frutuosamente, a fim de serem testemunhas autênticas do Senhor.
3. Os sacerdotes poderão dedicar maior atenção ao estudo dos Documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, tirando daí fruto para a pastoral paroquial – a catequese, a pregação, a preparação aos sacramentos – e propondo ciclos de homilias sobre a fé ou sobre alguns dos seus aspectos específicos, como por exemplo “o encontro com Cristo”, “os conteúdos fundamentais do Credo”, “a fé e a Igreja”32.
4. Os catequistas poderão haurir sobremaneira da riqueza doutrinal do Catecismo da Igreja Católica e guiar, sob a responsabilidade dos respectivos párocos, grupos de fiéis à leitura e ao aprofundamento deste precioso instrumento, a fim de criar pequenas comunidades de fé e de testemunho do Senhor Jesus.
5. Deseja-se que nas paróquias haja um empenho renovado na difusão e na distribuição do Catecismo da Igreja Católica ou de outros subsídios adequados às famílias, que são autênticas igrejas domésticas e primeiro lugar da transmissão da fé, como por exemplo no contexto das bênçãos das casas, dos Batismos dos adultos, das Crismas, dos Matrimônios. Isto poderá contribuir para a confissão e aprofundamento da doutrina católica “nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre”33.
6. Será oportuno promover missões populares e outras iniciativas nas paróquias e nos lugares de trabalho para ajudar os fiéis a redescobrir o dom da fé batismal e a responsabilidade do seu testemunho, na consciência de que a vocação cristã “é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado”34.
7. Neste tempo, os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica são solicitados a se empenhar na nova evangelização, com uma adesão renovada ao Senhor Jesus, pela contribuição dos próprios carismas e na fidelidade ao Santo Padre e à sã doutrina.
8. As Comunidades contemplativas durante o Ano da Fé dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações.
9. As Associações e os Movimentos eclesiais são convidados a serem promotores de iniciativas específicas, as quais, pela contribuição do próprio carisma e em colaboração com os Pastores locais, sejam inseridas no grande evento do Ano da Fé. As novas Comunidades e os Movimentos eclesiais, de modo criativo e generoso, saberão encontrar os modos mais adequados para oferecer o próprio testemunho de fé ao serviço da Igreja.
10. Todos os fiéis, chamados a reavivar o dom da fé, tentarão comunicar a própria experiência de fé e de caridade35 dialogando com os seus irmãos e irmãs, também com os das outras confissões cristãs, com os seguidores de outras religiões e com aqueles que não creem ou são indiferentes. Deste modo se deseja que todo o povo cristão comece uma espécie de missão endereçada aqueles com os quais vive e trabalha, com consciência de ter recebido “a mensagem da salvação para a comunicar a todos”36.
Conclusão
A fé “é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo”37. A fé é um ato pessoal e ao mesmo tempo comunitário: é um dom de Deus que deve ser vivenciado na grande comunhão da Igreja e deve ser comunicado ao mundo. Cada iniciativa para o Ano da Fé quer favorecer a alegre redescoberta e o testemunho renovado da fé. As indicações aqui oferecidas têm o fim de convidar todos os membros da Igreja ao empenho a fim de que este Ano seja a ocasião privilegiada para partilhar aquilo que o cristão tem de mais caro: Cristo Jesus, Redentor do homem, Rei do Universo, “autor e consumador da fé” (Heb 12, 2).
Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 6 de janeiro de 2012, Solenidade da Epifania do Senhor.
William Card. Levada
Prefeito
Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo titular de Thibica
Secretário
______________________________
1 BENTO XVI, Carta Enc. Deus caritas est, 25 de dezembro de 2005, n. 1.
2 ID., Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de janeiro 2010.
3 JOÃO XXIII, Discurso de solene abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, 11 de outubro de 1962.
4 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 1.
5 As assembléias Ordinárias do Sínodo dos Bispos trataram os seguintes temas: A preservação e o fortalecimento da fé católica, a sua integridade, o seu vigor, o seu desenvolvimento, a sua coerência doutrinal e histórica (1967), O sacerdócio ministerial e a justiça no mundo (1971), A evangelização no mundo moderno (1974), A catequese no nosso tempo (1977), A família cristã (1980), A penitência e a reconciliação na missão da Igreja (1983), A vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo (1987), A formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais (1991), A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo (1994), O Bispo: servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo (2001), A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (2005), A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008).
6 BENTO XVI, Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005.
7 ID. Carta ap. Porta fidei, n. 4.
8 JOÃO PAULO II, Discurso de conclusão da II Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, 7 de dezembro de 1985, n. 6. O próprio Sumo Pontífice, na fase inicial do mesmo Sínodo, durante o Ângelus de 24 de novembro de 1985, dizia: “A fé é o princípio fundamental, é o cardo, o critério essencial da renovação querida pelo Concílio. Da fé deriva a norma, o estilo de vida, a orientação prática em qualquer circunstância”.
9 ID., Const. ap. Fidei depositum, 11 de outubro de 1992, n. 2.
10 Ibid., n. 3
11 Ibid., n. 4.
12 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 11.
13 ID. Discurso aos participantes do Encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, 15 de outubro de 2011.
14 ID. Carta ap. Porta fidei, n. 7.
15 Cf. ibid., n. 12
17 Catecismo da Igreja Católica, n. 150.
18 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.
19 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 65.
20 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
21 Ibid., n. 6
22 CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Unitatis redintegratio, 1.
23 As indicações oferecidas às Conferências Episcopais valem de modo análogo também para os Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e Arquiepiscopais Maiores e para as Assembléias dos Hierarcas das Igrejas sui iuris.
24 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 25.
25 Cf. BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
26 Ibid., n. 12.
27 Cf. JOÃO PAULO II, Cons. Ap. Fidei depositum, n. 4.
28 BENTO XVI, Carta ap. Porta Fidei, n. 8.
29 Ibid., n. 12.
30 Ibid. n. 10.
31 Ibid., n. 9.
32 Cf. BENTO XVI, Exort. Ap. Pós-Sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, nn. 59-60 e 74.
33 ID., Carta ap. Porta fidei, n. 8.
34 CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Apostolicam actuositatem, n. 2.
35 Cf. BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 14.
36 CONC. ECUM. VAT. II, Cost. Past. Gaudium et spes, n. 1.
37 BENTO XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.
[00005-06.01] [Texto original: Português]
16 Este Comitê, constituído junto à Congregação para a Doutrina da Fé por mandato do Santo Padre Bento XVI, contará entre seus membros: os Cardeais William Levada, Francis Arinze, Ângelo Bagnasco, Ivan Dias, Francis E. George, Zenon Grocholewski, Marc Ouellet, Mauro Piacenza, Jean-Pierre Ricard, Staniław Ryłko e Christoph Schönborn; gli Arcivescovi Luis F. Ladaria e Salvatore Fisichella; i Vescovi Maria Del Valle Moronta Rodriguez, Gerhard Ludwig Müller e Raffaello Martinelli.
Fonte: Católicos na Rede
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
O Vestir da Mulher Católica
O Vestir da Mulher Católica
out 24
Postado por mariaemodestia
Alocução do Papa Bento XV às Dirigentes da União Católica Feminina Italiana
22 de Outubro de 1919
A alteração das condições dos tempos atribuiu às mulheres direitos e deveres que a anterior época não lhes permitira. Mas nenhuma mudança na ação dos homens e nenhuma novidade de coisas ou acontecimentos poderão jamais afastar da família, seu centro natural, a mulher consciente de sua missão. No coração doméstico ela é a rainha; e mesmo quando está longe de casa, deve encaminhar para esta não só o carinho de mãe, mas também os cuidados de sábia regente, da mesma forma que um soberano que esteja fora do território do seu Estado não negligencia o bem deste, mas sempre o coloca no ponto mais elevado de seus pensamentos, acima dos seus próprios cuidados.
Com razão, portanto, pode-se dizer que a alteração das condições dos tempos alargou o campo da atividade feminina: àquela ação mais íntima e estrita que ela desenvolvia entre as paredes domésticas, sucedeu-lhe um apostolado no mundo, mas este apostolado deve ser realizado de modo que a mulher, tanto fora como dentro de casa, seja consciente de que sua primeira responsabilidade, ontem como hoje, é a família. Foi com este critério que quisemos agora informar-nos sobre o crescimento, ainda contínuo, da atividade da mulher católica italiana. É onde aplaudimos o reafirmado propósito “de dedicar-se à educação dos jovens, à melhoria da família e da escola”.
Não esquecemos o direito que se pretende reivindicar à liberdade na educação dos filhos, porque seria coisa de bárbaros sugerir que a mãe que formou as crianças dela fisicamente tenha que manter-se afastada do cuidado e crescimento da porção mais nobre deles.
Apressemo-nos, ao contrário, em alegrar-nos pelo propósito que foi feito de garantir que a mulher católica sinta, além do dever de ser irrepreensível, o dever de mostrar-se tal em seu estilo de vestir. Tal propósito manifesta a necessidade do bom exemplo que deve dar a mulher católica; e oh! quão grave, quão urgente é o dever de repudiar os exageros da moda! Isso surge da corrupção dos seus inventores, dando uma contribuição fatal para a grande corrupção geral dos costumes!
Alguns excessos
Sobre este ponto, queremos insistir de uma maneira especial, porque, por um lado, sabemos que certos estilos de vestuário que estão começando a ser aceitos pelas mulheres são provocadores do mal, e por outro lado nos causa espanto ver que quem favorece o veneno parece ignorar a sua ação maléfica, e quem incendeia a casa parece ignorar a força destruidora do fogo. Mas somente a suposição de tal ignorância torna explicável a infeliz extensão que teve em nossos dias uma moda tão contrária àquela modéstia que deveria ser o mais belo ornamento da mulher Cristã. Se ela se desse conta do que estava fazendo, dificilmente poderia chegar ao ponto de entrar na igreja indecentemente vestida e apresentar-se àqueles que são os naturais e mais credenciados mestres da moral Cristã.
O dever de se opor a esta tendência
Oh! Que satisfação tivemos ao perceber que as aderentes à União Católica Feminina têm escrito no seu programa o propósito de mostrar-se irrepreensíveis também na forma de vestir-se! Ao fazê-lo, cumprirão, antes de mais nada, um estrito dever: o de não dar escândalo e de não ser para outros obstáculo no caminho da virtude. Elas também mostrarão ter compreendido que, depois de ter sido ampliada a sua missão no mundo, devem dar bom exemplo, não só dentro de sua casa, mas também no meio das ruas, até mesmo nas praças públicas.
É importante que a mulher Católica aceite esse desenvolvimento. Elas devem sentir tanto uma obrigação social como pessoal neste campo. Por isso, gostaríamos que as numerosas inscritas na União Católica Feminina, hoje reunidas na nossa presença, realizassem entre si uma união para combater as modas indecentes, não somente entre si mesmas, mas também em toda a sociedade que chegue a sua influência.
Seria desnecessário dizer que a mãe Cristã não deve nunca permitir que as filhas cedam às falsas exigências de uma moda não perfeitamente irrepreensível. Mas não é supérfluo acrescentar que toda mulher de nível – e, quanto maior for a posição que ocupa, tanto maior é o dever dela – não deve tolerar na presença dela indecência no modo de vestuário. Uma advertência, dada a tempo, impediria a renovação dessa impertinência audaz, violadora dos direitos da boa hospitalidade. E talvez o eco dessa lição, chegando aos ouvidos daqueles que criam modas desagradáveis, induziria a não manchar-se mais de vergonha, igual ou semelhante à que a sábia mulher teria oportunamente reprovado. Acreditamos que essa união contra os vícios da moda deva ser bem recebida pelos pais e esposos, pelos irmãos e por toda a família dessas corajosas batalhadoras. Certamente, gostaríamos que a promovessem e favorecessem, do melhor modo possível, todos os sacerdotes a quem compete o cuidado das almas, lá onde a moda tenha ultrapassado os limites da modéstia… e, infelizmente, já os ultrapassou em muitos lugares! Mas a nossa palavra seja acolhida principalmente por vós, amadas filhas, que hoje declarastes vosso desejo de fazer um apostolado no meio do mundo.
Nem somente é este bom exemplo parte da missão educativa que compete diretamente à mulher, tanto dentro como fora do círculo familiar. A coragem cristã que inspira o bom exemplo entre a corrupção do mundo, em face à expansão de modas indecentes, torna mais fácil a missão inteira das mulheres na sociedade. O ditado popular “a virtude inspira respeito” é somente bom senso.
Campo para ação
Voltemos, porém, amadas filhas, ao exame, que quer ser de louvor, das vossas intenções. Com prazer, percebemos que a União Católica Feminina “promete especialmente dedicar-se à educação da juventude, à melhoria da família e da escola.” É principalmente aqui que dizemos estar satisfeitos por terem sido atendidos os nossos desejos, pois se tivéssemos de fazer um programa para a ação feminina, não teríamos sido capazes de traçar regras diferentes daquelas que são orientadas para o bem-estar da família, da juventude, da escola. E não somente elogiamos a finalidade, mas também aplaudimos os meios que serão usados, “levando, como já se disse muito bem, para toda a vida do país uma visão mais clara da justiça e da caridade”. Oh! Se as novas gerações crescessem formadas nestas virtudes e, especialmente, se se falasse menos em teoria da justiça e da caridade e mais na prática, os debates e as horríveis questões sociais não tardariam a ter uma boa solução.
Para conseguir tal efeito desejável, a mulher católica deve apelar ao dever que têm os pais de exigir uma sólida educação religiosa para seus filhos. Ela deve apelar à obrigação que têm as autoridades civis de não colocar aqui um obstáculo, mas acima de tudo se deve mostrar convencida da necessidade de buscar na Igreja as mais oportunas normas de ação para colocá-las em prática, o mais breve possível.
Mas porque grande é a necessidade do apostolado da mulher, pois a urgência para frear o mal e para fazer florescer o bem é algo maior do que qualquer esforço possível para a criatura, levantamos nossos olhos para o Céu, e ao Céu, de onde nos pode vir o auxílio mais poderoso, confiantes endereçamos a nossa prece. Ó Senhor, seja do Vosso agrado, enobrecer com a Vossa graça os sábios propósitos da União Católica Feminina: abençoai todas aquelas que, depois de os terem manifestado nobremente, devem cuidar da sua execução; abençoai quem, com conselho ou com ação, deve promover o desenvolvimento e assegurar a eficácia da missão confiada à mulher, para que, assim como de um só indivíduo desviado se poderia dizer que foi orientado a um bom caminho pela fidelidade de uma mulher, “pois o marido infiel fica santificado por sua mulher fiel” (1Cor. VII,14), assim possa o mesmo repetir-se a respeito da sociedade atual que voltou ao caminho da salvação graças aos exemplos e aos ensinamentos, em uma palavra, graças à missão da mulher católica.
- Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
Fonte: Apostolado Maria Santíssima e Modéstia
out 24
Postado por mariaemodestia
Alocução do Papa Bento XV às Dirigentes da União Católica Feminina Italiana
22 de Outubro de 1919
A alteração das condições dos tempos atribuiu às mulheres direitos e deveres que a anterior época não lhes permitira. Mas nenhuma mudança na ação dos homens e nenhuma novidade de coisas ou acontecimentos poderão jamais afastar da família, seu centro natural, a mulher consciente de sua missão. No coração doméstico ela é a rainha; e mesmo quando está longe de casa, deve encaminhar para esta não só o carinho de mãe, mas também os cuidados de sábia regente, da mesma forma que um soberano que esteja fora do território do seu Estado não negligencia o bem deste, mas sempre o coloca no ponto mais elevado de seus pensamentos, acima dos seus próprios cuidados.
Com razão, portanto, pode-se dizer que a alteração das condições dos tempos alargou o campo da atividade feminina: àquela ação mais íntima e estrita que ela desenvolvia entre as paredes domésticas, sucedeu-lhe um apostolado no mundo, mas este apostolado deve ser realizado de modo que a mulher, tanto fora como dentro de casa, seja consciente de que sua primeira responsabilidade, ontem como hoje, é a família. Foi com este critério que quisemos agora informar-nos sobre o crescimento, ainda contínuo, da atividade da mulher católica italiana. É onde aplaudimos o reafirmado propósito “de dedicar-se à educação dos jovens, à melhoria da família e da escola”.
Não esquecemos o direito que se pretende reivindicar à liberdade na educação dos filhos, porque seria coisa de bárbaros sugerir que a mãe que formou as crianças dela fisicamente tenha que manter-se afastada do cuidado e crescimento da porção mais nobre deles.
Apressemo-nos, ao contrário, em alegrar-nos pelo propósito que foi feito de garantir que a mulher católica sinta, além do dever de ser irrepreensível, o dever de mostrar-se tal em seu estilo de vestir. Tal propósito manifesta a necessidade do bom exemplo que deve dar a mulher católica; e oh! quão grave, quão urgente é o dever de repudiar os exageros da moda! Isso surge da corrupção dos seus inventores, dando uma contribuição fatal para a grande corrupção geral dos costumes!
Alguns excessos
Sobre este ponto, queremos insistir de uma maneira especial, porque, por um lado, sabemos que certos estilos de vestuário que estão começando a ser aceitos pelas mulheres são provocadores do mal, e por outro lado nos causa espanto ver que quem favorece o veneno parece ignorar a sua ação maléfica, e quem incendeia a casa parece ignorar a força destruidora do fogo. Mas somente a suposição de tal ignorância torna explicável a infeliz extensão que teve em nossos dias uma moda tão contrária àquela modéstia que deveria ser o mais belo ornamento da mulher Cristã. Se ela se desse conta do que estava fazendo, dificilmente poderia chegar ao ponto de entrar na igreja indecentemente vestida e apresentar-se àqueles que são os naturais e mais credenciados mestres da moral Cristã.
O dever de se opor a esta tendência
Oh! Que satisfação tivemos ao perceber que as aderentes à União Católica Feminina têm escrito no seu programa o propósito de mostrar-se irrepreensíveis também na forma de vestir-se! Ao fazê-lo, cumprirão, antes de mais nada, um estrito dever: o de não dar escândalo e de não ser para outros obstáculo no caminho da virtude. Elas também mostrarão ter compreendido que, depois de ter sido ampliada a sua missão no mundo, devem dar bom exemplo, não só dentro de sua casa, mas também no meio das ruas, até mesmo nas praças públicas.
É importante que a mulher Católica aceite esse desenvolvimento. Elas devem sentir tanto uma obrigação social como pessoal neste campo. Por isso, gostaríamos que as numerosas inscritas na União Católica Feminina, hoje reunidas na nossa presença, realizassem entre si uma união para combater as modas indecentes, não somente entre si mesmas, mas também em toda a sociedade que chegue a sua influência.
Seria desnecessário dizer que a mãe Cristã não deve nunca permitir que as filhas cedam às falsas exigências de uma moda não perfeitamente irrepreensível. Mas não é supérfluo acrescentar que toda mulher de nível – e, quanto maior for a posição que ocupa, tanto maior é o dever dela – não deve tolerar na presença dela indecência no modo de vestuário. Uma advertência, dada a tempo, impediria a renovação dessa impertinência audaz, violadora dos direitos da boa hospitalidade. E talvez o eco dessa lição, chegando aos ouvidos daqueles que criam modas desagradáveis, induziria a não manchar-se mais de vergonha, igual ou semelhante à que a sábia mulher teria oportunamente reprovado. Acreditamos que essa união contra os vícios da moda deva ser bem recebida pelos pais e esposos, pelos irmãos e por toda a família dessas corajosas batalhadoras. Certamente, gostaríamos que a promovessem e favorecessem, do melhor modo possível, todos os sacerdotes a quem compete o cuidado das almas, lá onde a moda tenha ultrapassado os limites da modéstia… e, infelizmente, já os ultrapassou em muitos lugares! Mas a nossa palavra seja acolhida principalmente por vós, amadas filhas, que hoje declarastes vosso desejo de fazer um apostolado no meio do mundo.
Nem somente é este bom exemplo parte da missão educativa que compete diretamente à mulher, tanto dentro como fora do círculo familiar. A coragem cristã que inspira o bom exemplo entre a corrupção do mundo, em face à expansão de modas indecentes, torna mais fácil a missão inteira das mulheres na sociedade. O ditado popular “a virtude inspira respeito” é somente bom senso.
Campo para ação
Voltemos, porém, amadas filhas, ao exame, que quer ser de louvor, das vossas intenções. Com prazer, percebemos que a União Católica Feminina “promete especialmente dedicar-se à educação da juventude, à melhoria da família e da escola.” É principalmente aqui que dizemos estar satisfeitos por terem sido atendidos os nossos desejos, pois se tivéssemos de fazer um programa para a ação feminina, não teríamos sido capazes de traçar regras diferentes daquelas que são orientadas para o bem-estar da família, da juventude, da escola. E não somente elogiamos a finalidade, mas também aplaudimos os meios que serão usados, “levando, como já se disse muito bem, para toda a vida do país uma visão mais clara da justiça e da caridade”. Oh! Se as novas gerações crescessem formadas nestas virtudes e, especialmente, se se falasse menos em teoria da justiça e da caridade e mais na prática, os debates e as horríveis questões sociais não tardariam a ter uma boa solução.
Para conseguir tal efeito desejável, a mulher católica deve apelar ao dever que têm os pais de exigir uma sólida educação religiosa para seus filhos. Ela deve apelar à obrigação que têm as autoridades civis de não colocar aqui um obstáculo, mas acima de tudo se deve mostrar convencida da necessidade de buscar na Igreja as mais oportunas normas de ação para colocá-las em prática, o mais breve possível.
Mas porque grande é a necessidade do apostolado da mulher, pois a urgência para frear o mal e para fazer florescer o bem é algo maior do que qualquer esforço possível para a criatura, levantamos nossos olhos para o Céu, e ao Céu, de onde nos pode vir o auxílio mais poderoso, confiantes endereçamos a nossa prece. Ó Senhor, seja do Vosso agrado, enobrecer com a Vossa graça os sábios propósitos da União Católica Feminina: abençoai todas aquelas que, depois de os terem manifestado nobremente, devem cuidar da sua execução; abençoai quem, com conselho ou com ação, deve promover o desenvolvimento e assegurar a eficácia da missão confiada à mulher, para que, assim como de um só indivíduo desviado se poderia dizer que foi orientado a um bom caminho pela fidelidade de uma mulher, “pois o marido infiel fica santificado por sua mulher fiel” (1Cor. VII,14), assim possa o mesmo repetir-se a respeito da sociedade atual que voltou ao caminho da salvação graças aos exemplos e aos ensinamentos, em uma palavra, graças à missão da mulher católica.
- Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
Fonte: Apostolado Maria Santíssima e Modéstia
Cruzada pela Pureza
out 31
Postado por mariaemodestia
Alocução do Papa Pio XII às Garotas da Ação Católica
Cruzada pela Pureza[1]
(Felicitações por ter começado a “Cruzada pela Pureza”)
É uma cruzada contra os que minam a moral cristã, contra os perigos que estão criando, no fluxo tranqüilo da boa moral no mundo, poderosas ondas de imoralidade que estão inundando todo o mundo e envolvendo todas as classes sociais. Não é apenas a Igreja que proclama esse perigo existente hoje em toda a parte; mesmo entre os homens que não seguem a fé cristã, aqueles que são mais perspicazes, os mais preocupados com o bem público, têm apontado claramente os perigos terríveis para a ordem social e para o futuro das nações. Os incentivos à impureza, multiplicando-se continuamente, envenenam as bases da vida. E ao mesmo tempo, a atitude indulgente, ou melhor, a atitude negativa de uma parte cada vez maior da opinião pública, tornando-a cega para os mais graves distúrbios morais e relaxa ainda mais as rédeas que mantêm o mal sob controle.
A imoralidade presente é pior do que a de idades precedentes? Seria talvez imprudente afirmar isso, e a pergunta é em todo caso supérflua. Na sua própria época, o autor do Livro de Eclesiastes pôde escrever: “Não digas jamais: Como pode ser que os dias de outrora eram melhores que estes de agora? Porque não é a sabedoria que te inspira esta pergunta. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol”.[2]
Batalha Cristã
A vida do homem na terra, mesmo na época cristã, permanece sempre uma guerra. Temos que salvar nossas almas e as almas dos nossos irmãos. Hoje, o perigo é certamente maior, porque os meios de excitar as paixões, anteriormente muito restritos, multiplicaram-se enormemente. O progresso na impressão, publicações baratas e luxuosas, fotografia, ilustrações, reproduções artísticas de todas as formas, cores e preços; filmes, espetáculos de variedades e centenas de outros meios apresentam secreta e discretamente as atrações do mal, e as tornam disponíveis a todos – velhos e jovens, mulheres e garotas. Não é verdade que está aí para todo o mundo ver uma moda que é tão exagerada a ponto de dificilmente ser adequada a uma garota cristã? E o cinema não apresenta agora as produções que anteriormente eram apresentadas apenas em locais onde mal se ousava pôr os pés?
Em face de tais perigos, em alguns países, as autoridades públicas têm tomado medidas legislativas ou administrativas para conter a avalanche de imoralidade. Mas essa ação externa vinda até mesmo das autoridades mais poderosas, embora louvável, útil e mesmo necessária, nunca pode por si só trazer os resultados na esfera moral, que são sinceros, fecundos e curadores para a alma. Para curar a alma, um tipo diferente de poder é necessário.
O dever da Ação Católica
A Igreja deve trabalhar pela alma, e da mesma forma a Ação Católica, a sua ação, a serviço da Igreja, em união íntima e sob a direção da Hierarquia, lutando contra os perigos da imoralidade, lutando em qualquer campo que esteja aberto para você: no campo da moda e do vestuário, da saúde e do esporte, no domínio das relações sociais e de entretenimento, suas armas serão a sua palavra, o seu exemplo, a sua cortesia e seu comportamento; armas que põe ante os outros um padrão de ações, que são uma honra para você e sua atividade, e tornam este mesmo padrão possível e louvável para eles.
Não temos a intenção de pintar o triste retrato, apenas muito familiar, dos exageros que você percebe sobre si: vestidos que dificilmente são suficientes para cobrir a pessoa, ou outros que parecem concebidos para enfatizar aquilo que deveria esconder; esportes que são realizados com tais vestuários, tanto exibicionismo e em tais companhias que são irreconciliáveis até mesmo com o padrão menos exigente da modéstia; danças, filmes, peças teatrais, publicações, ilustrações, decoração a partir do qual o desejo louco de entretenimento e prazer produz graves perigos. Ao contrário, nós temos o desejo de trazer à mente mais uma vez os princípios cristãos que iluminem suas decisões nesses assuntos, seus passos e guia de conduta, e inspirem e sustentem sua guerra do espírito.
É realmente uma guerra. A pureza das almas que vivem em estado de graça sobrenatural não é preservada, nem será preservada, sem luta. Felizes são vocês que têm recebido em suas famílias na aurora da vida, do berço, uma vida mais elevada, vida divina, através do batismo. Quando você era bebê não tinha que batalhar, inconsciente de tal grande dom e de tal felicidade – como fazem as almas mais maduras, mas menos afortunadas do que você – para ganhar um tão grande bem: mas você também deve lutar para preservá-lo.
Embora o pecado original tenha sido limpo de suas almas pela ação purificadora da graça santificante que as reconciliou com Deus, tornando vocês filhas adotadas e herdeiras do céu, deixou em vocês uma forma triste da herança de Adão: um desequilíbrio interior, um conflito, que até mesmo o grande apóstolo Paulo sentia. Quando o homem interior alegrou-se na lei de Deus, sentiu outra lei, a lei do pecado nos seus membros, a lei das paixões e das inclinações desordenadas, nunca inteiramente sujeitadas, com a qual o anjo de Satanás trabalha, ajudado pela carne e pelo mundo, para seduzir as almas. Essa é a guerra do espírito e da carne, tão abertamente atestada na revelação, que (se excetuarmos só a Virgem Maria) é inútil pensar que pode haver uma vida humana sem o devido cuidado e luta.
Não se engane, considerando a sua alma insensível à tentação, invencível a atrações e perigos. É verdade que o hábito pode tornar uma alma menos impressionável, sobretudo no caso de uma cujos poderes são absorvidos e totalmente ocupados no exercício de alguma atividade intelectual superior ou profissional. Mas imaginar que todas as almas, tão propensas ao sentimento, podem tornar-se insensíveis às incitações provenientes de imagens que, coloridas pela sedução do prazer, chamam e prendem a atenção, seria supor e julgar que a cooperação no mal que os convites insidiosos encontram no instinto da natureza decaída e desordenada poderiam cessar ou diminuir.
O objetivo de ação comum
Essa luta inevitável você aceita com coragem e espírito cristão. O objetivo da ação comum não pode ser a eliminação total desse combate, mas deve ter por objetivo assegurar que esse necessário conflito espiritual não se torne mais difícil e perigoso para as almas pelas circunstâncias extrínsecas e pela atmosfera em que os corações que sofrem seus ataques devem resistir e lutar. Nos campos de batalha da Igreja, onde a virtude se opõe ao vício, você encontrará sempre os personagens heróicos novos intrépidos, moldados por Deus: esses, sustentados pela graça, não se abalam nem caem, não importa o quão fortes sejam os golpes; eles podem abertamente conservar-se incorruptos e puros no meio da sujeira que os cerca; eles são, por assim dizer, o fermento no grão bom, e um renascimento para o maior número de almas – esses, também, redimidos pelo sangue de Cristo, que constituem as massas. O objetivo, então, do seu combate deve ser o de tornar menos árdua para os homens de boa vontade a conquista do grau de pureza cristã, a condição de salvação: para garantir que as tentações que surgem do ambiente não excedam os limites da resistência que, com a graça divina, a vitalidade medíocre de muitas almas possa se opor a elas.
Para realizar objetivo tão santo e virtuoso, deve-se agir de acordo com os grupos e correntes de idéias: uma tarefa na qual uma ação conjunta pode operar com grande efeito. Desde que a união faz a força, apenas um grupo compacto, tão numeroso quanto possível, de espíritos cristãos resolutos e não tímidos, será capaz de, sempre que a sua consciência exige, de lançar fora o jugo de certos ambientes sociais, de se libertar da tirania – hoje mais forte do que nunca – de modas de todo tipo: a moda no vestir, a moda no comportamento e nas relações da vida.
Moderação e bom gosto
O movimento da moda em si não é algo mau. Ele flui espontaneamente da natureza social do homem, de acordo com um impulso que o inclina a manter-se em harmonia com seus semelhantes, e com o modo de agir das pessoas entre os quais ele vive. Deus não lhe pede para viver fora do seu tempo, tão descuidado das exigências de forma a tornar-vos ridículos, vestindo-se de maneira oposta ao gosto comum e práticas de seus contemporâneos, sem considerar o que agrada a todos eles.
Por isso mesmo o angélico Santo Tomás afirma que, nas coisas externas que o homem usa, não há mal. Mas o mal vem do homem, que faz uso dessas coisas sem moderação, ou de modo contrário ao uso comum no seu ambiente, tornando-se estranhamente em discórdia para com os outros. Ou então, usando as coisas de acordo com o uso comum, mas na verdade com afeição exagerada, através do uso de muitas roupas pelo orgulho de estar na moda ou pelo prazer, ou analisadas com um cuidado exagerado, quando apenas humildade e simplicidade teriam sido suficientes para garantir o decoro necessário.
E o mesmo santo Doutor vai tão longe e diz que o ornamento da pessoa do sexo feminino pode ser um ato meritório da virtude, quando estiver em conformidade com o estado, a posição da pessoa, e se é feito com boas intenções, e quando as mulheres usam ornamentos que são decentes de acordo com sua posição e sua dignidade, quando eles são governados de acordo com os costumes de seu país. Então ornamentar a si mesmo também se torna um ato da virtude da modéstia, que influencia o modo de andar e de se portar, o modo de vestir, todos os movimentos externos.
Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede é recordar sempre que a moda não é, nem pode ser a regra suprema da conduta; que acima da moda e de suas exigências existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem ser sacrificados ao talante do prazer ou do capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber inclinar a sua fugaz onipotência. Esses princípios foram proclamados por Deus, pela Igreja, pelos santos e pelas santas, pela razão e pela moral cristãs, assinalados limites, além dos quais não florescem lírios e rosas, nem pairam nuvens de perfumes da pureza, da modéstia, do decoro e da honra feminina, mas aspira-se e domina um ar malsão de leviandade, de linguagem dúbia, de vaidade audaz, de vanglória, não menos de espírito que de traje. São aqueles princípios que Santo Tomás mostra para o ornamento feminino e recorda, quando ensina qual deve ser a ordem de nossa caridade, de nossas afeições:o bem da própria alma deve preceder o do nosso corpo, e à vantagem de nosso próprio corpo devemos preferir o bem da alma de nosso próximo. Não se vê, portanto, que há um limite que nenhuma idealizadora de modas pode fazer ultrapassar, a saber, aquele além do qual a moda se torna mãe de ruína para a alma própria e dos outros?
O sacrifício exige
Algumas jovens dirão talvez que uma determinada forma de vestuário é mais cômoda, e também mais higiênica; mas, se constitui para a saúde da alma um perigo grave e próximo, não é certamente higiênica para o espírito: tem-se o dever de renunciar. A salvação da alma fez heroínas mártires como Inês e Cecília, em meio dos tormentos e lacerações de seus corpos virginais: e não irão vocês, suas irmãs na fé, no amor de Cristo, na estima para virtude, encontrar no fundo de seus corações a coragem e força para sacrificar um pouco do bem-estar – uma vantagem física, se vocês preferem – para conservar segura e pura a vida de suas almas?
E se, por um simples prazer próprio, não se tem o direito de colocar em perigo a saúde física dos outros, não é talvez ainda menos lícito comprometer a saúde, até a própria vida de suas almas? E, se como dizem algumas mulheres, uma moda ousada não deixa nelas impressão alguma, o que sabem elas da impressão que deixarão nos outros? Quem lhes assegura que outros não tirarão disto um incentivo para o mal? Vocês não conhecem bem a fragilidade humana, nem de que sangue de corrupção sangram as feridas deixadas na natureza humana pela culpa de Adão com a ignorância no intelecto, com a malícia na vontade, com a ânsia do prazer e a debilidade para o bem, árduo nas paixões dos sentidos a tal ponto que o homem, como cera amoldável ao mal, “vê o melhor e o aprova, e ao pior se apega”[3], por causa daquele peso que sempre, como chumbo, o arrasta para o fundo. Ó, quão verdade seria se algumas mães cristãs suspeitassem as tentações e quedas que causam aos outros com seus modelos de vestidos e familiaridades em seus comportamentos, que elas inconscientemente consideram de pouca importância: estariam chocadas pela responsabilidade que é sua!
Ao que Nós não duvidamos de acrescentar: oh, mães cristãs, se soubésseis que futuro de perigos e íntimos desgostos, de dúvidas e irreprimível rubor preparais para vossas filhas e filhos, com imprudência em acostumá-los a viver parcamente vestidos, fazendo deles desaparecer o sentido natural da modéstia, vós mesmas enrubesceríeis, e vos horrorizaríeis pela vergonha que causais a vós mesmas e o dano que fazeis aos filhos que vos foram confiados pelo céu, para que crescessem cristãmente. E aquilo que dizemos para as mães, repetimo-lo a não poucas senhoras crentes, e mesmo piedosas, que aceitam seguir esta ou aquela moda arrojada, e com o seu exemplo fazem cair as últimas hesitações que retêm uma turba de suas irmãs que estão longe daquela moda, a qual poderá tornar-se para elas fonte de ruína espiritual. Enquanto certos modos provocantes de vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas”.
(Exortação a um combate inteligente e corajoso)
[1] Alocução 22 maio 1941. Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
[2] Eclesiastes 7, 10; 1, 9
[3] Rm 7, 19
Fonte:Apostolado Maria Santíssima e Modéstia
out 31
Postado por mariaemodestia
Alocução do Papa Pio XII às Garotas da Ação Católica
Cruzada pela Pureza[1]
(Felicitações por ter começado a “Cruzada pela Pureza”)
É uma cruzada contra os que minam a moral cristã, contra os perigos que estão criando, no fluxo tranqüilo da boa moral no mundo, poderosas ondas de imoralidade que estão inundando todo o mundo e envolvendo todas as classes sociais. Não é apenas a Igreja que proclama esse perigo existente hoje em toda a parte; mesmo entre os homens que não seguem a fé cristã, aqueles que são mais perspicazes, os mais preocupados com o bem público, têm apontado claramente os perigos terríveis para a ordem social e para o futuro das nações. Os incentivos à impureza, multiplicando-se continuamente, envenenam as bases da vida. E ao mesmo tempo, a atitude indulgente, ou melhor, a atitude negativa de uma parte cada vez maior da opinião pública, tornando-a cega para os mais graves distúrbios morais e relaxa ainda mais as rédeas que mantêm o mal sob controle.
A imoralidade presente é pior do que a de idades precedentes? Seria talvez imprudente afirmar isso, e a pergunta é em todo caso supérflua. Na sua própria época, o autor do Livro de Eclesiastes pôde escrever: “Não digas jamais: Como pode ser que os dias de outrora eram melhores que estes de agora? Porque não é a sabedoria que te inspira esta pergunta. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol”.[2]
Batalha Cristã
A vida do homem na terra, mesmo na época cristã, permanece sempre uma guerra. Temos que salvar nossas almas e as almas dos nossos irmãos. Hoje, o perigo é certamente maior, porque os meios de excitar as paixões, anteriormente muito restritos, multiplicaram-se enormemente. O progresso na impressão, publicações baratas e luxuosas, fotografia, ilustrações, reproduções artísticas de todas as formas, cores e preços; filmes, espetáculos de variedades e centenas de outros meios apresentam secreta e discretamente as atrações do mal, e as tornam disponíveis a todos – velhos e jovens, mulheres e garotas. Não é verdade que está aí para todo o mundo ver uma moda que é tão exagerada a ponto de dificilmente ser adequada a uma garota cristã? E o cinema não apresenta agora as produções que anteriormente eram apresentadas apenas em locais onde mal se ousava pôr os pés?
Em face de tais perigos, em alguns países, as autoridades públicas têm tomado medidas legislativas ou administrativas para conter a avalanche de imoralidade. Mas essa ação externa vinda até mesmo das autoridades mais poderosas, embora louvável, útil e mesmo necessária, nunca pode por si só trazer os resultados na esfera moral, que são sinceros, fecundos e curadores para a alma. Para curar a alma, um tipo diferente de poder é necessário.
O dever da Ação Católica
A Igreja deve trabalhar pela alma, e da mesma forma a Ação Católica, a sua ação, a serviço da Igreja, em união íntima e sob a direção da Hierarquia, lutando contra os perigos da imoralidade, lutando em qualquer campo que esteja aberto para você: no campo da moda e do vestuário, da saúde e do esporte, no domínio das relações sociais e de entretenimento, suas armas serão a sua palavra, o seu exemplo, a sua cortesia e seu comportamento; armas que põe ante os outros um padrão de ações, que são uma honra para você e sua atividade, e tornam este mesmo padrão possível e louvável para eles.
Não temos a intenção de pintar o triste retrato, apenas muito familiar, dos exageros que você percebe sobre si: vestidos que dificilmente são suficientes para cobrir a pessoa, ou outros que parecem concebidos para enfatizar aquilo que deveria esconder; esportes que são realizados com tais vestuários, tanto exibicionismo e em tais companhias que são irreconciliáveis até mesmo com o padrão menos exigente da modéstia; danças, filmes, peças teatrais, publicações, ilustrações, decoração a partir do qual o desejo louco de entretenimento e prazer produz graves perigos. Ao contrário, nós temos o desejo de trazer à mente mais uma vez os princípios cristãos que iluminem suas decisões nesses assuntos, seus passos e guia de conduta, e inspirem e sustentem sua guerra do espírito.
É realmente uma guerra. A pureza das almas que vivem em estado de graça sobrenatural não é preservada, nem será preservada, sem luta. Felizes são vocês que têm recebido em suas famílias na aurora da vida, do berço, uma vida mais elevada, vida divina, através do batismo. Quando você era bebê não tinha que batalhar, inconsciente de tal grande dom e de tal felicidade – como fazem as almas mais maduras, mas menos afortunadas do que você – para ganhar um tão grande bem: mas você também deve lutar para preservá-lo.
Embora o pecado original tenha sido limpo de suas almas pela ação purificadora da graça santificante que as reconciliou com Deus, tornando vocês filhas adotadas e herdeiras do céu, deixou em vocês uma forma triste da herança de Adão: um desequilíbrio interior, um conflito, que até mesmo o grande apóstolo Paulo sentia. Quando o homem interior alegrou-se na lei de Deus, sentiu outra lei, a lei do pecado nos seus membros, a lei das paixões e das inclinações desordenadas, nunca inteiramente sujeitadas, com a qual o anjo de Satanás trabalha, ajudado pela carne e pelo mundo, para seduzir as almas. Essa é a guerra do espírito e da carne, tão abertamente atestada na revelação, que (se excetuarmos só a Virgem Maria) é inútil pensar que pode haver uma vida humana sem o devido cuidado e luta.
Não se engane, considerando a sua alma insensível à tentação, invencível a atrações e perigos. É verdade que o hábito pode tornar uma alma menos impressionável, sobretudo no caso de uma cujos poderes são absorvidos e totalmente ocupados no exercício de alguma atividade intelectual superior ou profissional. Mas imaginar que todas as almas, tão propensas ao sentimento, podem tornar-se insensíveis às incitações provenientes de imagens que, coloridas pela sedução do prazer, chamam e prendem a atenção, seria supor e julgar que a cooperação no mal que os convites insidiosos encontram no instinto da natureza decaída e desordenada poderiam cessar ou diminuir.
O objetivo de ação comum
Essa luta inevitável você aceita com coragem e espírito cristão. O objetivo da ação comum não pode ser a eliminação total desse combate, mas deve ter por objetivo assegurar que esse necessário conflito espiritual não se torne mais difícil e perigoso para as almas pelas circunstâncias extrínsecas e pela atmosfera em que os corações que sofrem seus ataques devem resistir e lutar. Nos campos de batalha da Igreja, onde a virtude se opõe ao vício, você encontrará sempre os personagens heróicos novos intrépidos, moldados por Deus: esses, sustentados pela graça, não se abalam nem caem, não importa o quão fortes sejam os golpes; eles podem abertamente conservar-se incorruptos e puros no meio da sujeira que os cerca; eles são, por assim dizer, o fermento no grão bom, e um renascimento para o maior número de almas – esses, também, redimidos pelo sangue de Cristo, que constituem as massas. O objetivo, então, do seu combate deve ser o de tornar menos árdua para os homens de boa vontade a conquista do grau de pureza cristã, a condição de salvação: para garantir que as tentações que surgem do ambiente não excedam os limites da resistência que, com a graça divina, a vitalidade medíocre de muitas almas possa se opor a elas.
Para realizar objetivo tão santo e virtuoso, deve-se agir de acordo com os grupos e correntes de idéias: uma tarefa na qual uma ação conjunta pode operar com grande efeito. Desde que a união faz a força, apenas um grupo compacto, tão numeroso quanto possível, de espíritos cristãos resolutos e não tímidos, será capaz de, sempre que a sua consciência exige, de lançar fora o jugo de certos ambientes sociais, de se libertar da tirania – hoje mais forte do que nunca – de modas de todo tipo: a moda no vestir, a moda no comportamento e nas relações da vida.
Moderação e bom gosto
O movimento da moda em si não é algo mau. Ele flui espontaneamente da natureza social do homem, de acordo com um impulso que o inclina a manter-se em harmonia com seus semelhantes, e com o modo de agir das pessoas entre os quais ele vive. Deus não lhe pede para viver fora do seu tempo, tão descuidado das exigências de forma a tornar-vos ridículos, vestindo-se de maneira oposta ao gosto comum e práticas de seus contemporâneos, sem considerar o que agrada a todos eles.
Por isso mesmo o angélico Santo Tomás afirma que, nas coisas externas que o homem usa, não há mal. Mas o mal vem do homem, que faz uso dessas coisas sem moderação, ou de modo contrário ao uso comum no seu ambiente, tornando-se estranhamente em discórdia para com os outros. Ou então, usando as coisas de acordo com o uso comum, mas na verdade com afeição exagerada, através do uso de muitas roupas pelo orgulho de estar na moda ou pelo prazer, ou analisadas com um cuidado exagerado, quando apenas humildade e simplicidade teriam sido suficientes para garantir o decoro necessário.
E o mesmo santo Doutor vai tão longe e diz que o ornamento da pessoa do sexo feminino pode ser um ato meritório da virtude, quando estiver em conformidade com o estado, a posição da pessoa, e se é feito com boas intenções, e quando as mulheres usam ornamentos que são decentes de acordo com sua posição e sua dignidade, quando eles são governados de acordo com os costumes de seu país. Então ornamentar a si mesmo também se torna um ato da virtude da modéstia, que influencia o modo de andar e de se portar, o modo de vestir, todos os movimentos externos.
Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede é recordar sempre que a moda não é, nem pode ser a regra suprema da conduta; que acima da moda e de suas exigências existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem ser sacrificados ao talante do prazer ou do capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber inclinar a sua fugaz onipotência. Esses princípios foram proclamados por Deus, pela Igreja, pelos santos e pelas santas, pela razão e pela moral cristãs, assinalados limites, além dos quais não florescem lírios e rosas, nem pairam nuvens de perfumes da pureza, da modéstia, do decoro e da honra feminina, mas aspira-se e domina um ar malsão de leviandade, de linguagem dúbia, de vaidade audaz, de vanglória, não menos de espírito que de traje. São aqueles princípios que Santo Tomás mostra para o ornamento feminino e recorda, quando ensina qual deve ser a ordem de nossa caridade, de nossas afeições:o bem da própria alma deve preceder o do nosso corpo, e à vantagem de nosso próprio corpo devemos preferir o bem da alma de nosso próximo. Não se vê, portanto, que há um limite que nenhuma idealizadora de modas pode fazer ultrapassar, a saber, aquele além do qual a moda se torna mãe de ruína para a alma própria e dos outros?
O sacrifício exige
Algumas jovens dirão talvez que uma determinada forma de vestuário é mais cômoda, e também mais higiênica; mas, se constitui para a saúde da alma um perigo grave e próximo, não é certamente higiênica para o espírito: tem-se o dever de renunciar. A salvação da alma fez heroínas mártires como Inês e Cecília, em meio dos tormentos e lacerações de seus corpos virginais: e não irão vocês, suas irmãs na fé, no amor de Cristo, na estima para virtude, encontrar no fundo de seus corações a coragem e força para sacrificar um pouco do bem-estar – uma vantagem física, se vocês preferem – para conservar segura e pura a vida de suas almas?
E se, por um simples prazer próprio, não se tem o direito de colocar em perigo a saúde física dos outros, não é talvez ainda menos lícito comprometer a saúde, até a própria vida de suas almas? E, se como dizem algumas mulheres, uma moda ousada não deixa nelas impressão alguma, o que sabem elas da impressão que deixarão nos outros? Quem lhes assegura que outros não tirarão disto um incentivo para o mal? Vocês não conhecem bem a fragilidade humana, nem de que sangue de corrupção sangram as feridas deixadas na natureza humana pela culpa de Adão com a ignorância no intelecto, com a malícia na vontade, com a ânsia do prazer e a debilidade para o bem, árduo nas paixões dos sentidos a tal ponto que o homem, como cera amoldável ao mal, “vê o melhor e o aprova, e ao pior se apega”[3], por causa daquele peso que sempre, como chumbo, o arrasta para o fundo. Ó, quão verdade seria se algumas mães cristãs suspeitassem as tentações e quedas que causam aos outros com seus modelos de vestidos e familiaridades em seus comportamentos, que elas inconscientemente consideram de pouca importância: estariam chocadas pela responsabilidade que é sua!
Ao que Nós não duvidamos de acrescentar: oh, mães cristãs, se soubésseis que futuro de perigos e íntimos desgostos, de dúvidas e irreprimível rubor preparais para vossas filhas e filhos, com imprudência em acostumá-los a viver parcamente vestidos, fazendo deles desaparecer o sentido natural da modéstia, vós mesmas enrubesceríeis, e vos horrorizaríeis pela vergonha que causais a vós mesmas e o dano que fazeis aos filhos que vos foram confiados pelo céu, para que crescessem cristãmente. E aquilo que dizemos para as mães, repetimo-lo a não poucas senhoras crentes, e mesmo piedosas, que aceitam seguir esta ou aquela moda arrojada, e com o seu exemplo fazem cair as últimas hesitações que retêm uma turba de suas irmãs que estão longe daquela moda, a qual poderá tornar-se para elas fonte de ruína espiritual. Enquanto certos modos provocantes de vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas”.
(Exortação a um combate inteligente e corajoso)
[1] Alocução 22 maio 1941. Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
[2] Eclesiastes 7, 10; 1, 9
[3] Rm 7, 19
Fonte:Apostolado Maria Santíssima e Modéstia
Assinar:
Postagens (Atom)