sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Problema do “dom de línguas”

O Problema do “dom de línguas”

Vamos analisar o texto de Marcos 16.17,18:

Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.

O texto fala de cinco sinais. Como segue:

1) Expelir demônios;
2) Falar novas línguas;
3) Pegar em serpentes;
4) Beber coisa mortífera;
5) Dom de cura.

Os pentecostais usam somente o verso 17. Por quê? O texto não fala de dois sinais, mas de cinco sinais que acompanharão aqueles que crêem.

Os pentecostais dizem que os sinais 1,3,4 e 5 podem acontecer “ocasionalmente” (sem que a pessoa deseje). Somente o sinal 2 é que pode acontecer “desejando”.

Onde o texto diz isso? Onde no texto Marcos faz diferença entre os cinco sinais? Onde no texto, Marcos separa os cinco sinais em “sinais que podem se desejados” e “sinais que podem acontecer ocasionalmente”? Os cinco sinais estão alinhados um após o outro, initerruptamente, de tal forma que o que for dito de um, será dito dos outros.

Se o sinal 2 é para a igreja hoje e os crentes têm que desejarem, então é lícito e bíblico aplicar estas características nos sinais 1,3,4 e 5.

Pergunto: alguém está disposto a tocar em serpente? Alguém está disposto a beber veneno? Alguém está disposto a impor as mãos sobre os enfermos para serem curados? Mas por quê todos estão dispostos a falar em línguas? Os que defendem a contemporaneidade dos dons alegam que esses cinco sinais não acontecem necessariamente em todos os casos de se falar em línguas. Eles alegam que os acontecimentos de Marcos 16.17,18 são sinais se ocorrerem e não se forem irresponsavelmente buscados.

Bom, a teologia pentecostal é bem clara ao exortar o crente pentecostal a “buscar” o dom de línguas. Todos eles exortam a outros crentes a “orar” e a “buscar” pelo dom de línguas. Mas, por que neste texto as pessoas não querem defender uma “busca desenfreada” pelo dom de línguas? Será que é porque o texto apresenta uma dificuldade inerente aos pentecostais? Por que em outros textos se exorta a buscar o dom e no texto de Marcos alertam contra uma “busca desenfreada”? Mas, se os cinco sinais podem acontecer ocasionalmente, por que nas igrejas pentecostais só acontece o dom de línguas? Por que só o sinal do dom de línguas acontece “ocasionalmente”? A prática revela a incoerência daqueles que falam!

Outra coisa, dos cinco sinais que devem ocorrer “ocasionalmente”, não há nenhum registro sequer no Novo Testamento dos sinais “pegar em serpentes e viver” e “beber coisa mortífera” (beber veneno). Nenhum caso, nenhuma menção sequer!

O texto, mesmo que longe de provar o cessacionismo, também não serve para provar a contemporaneidade dos dons.

Depois de analisar o texto de Mc 16.17,18, vou me deter agora no livro de Atos, onde nós encontramos apenas quatro ocasiões onde se fala sobre o batismo do Espírito Santo. O primeiro relato está em Atos 2.4:

…de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. (Atos 2.2-4).

O texto nos apresenta três sinais que mostravam aos presentes que Deus havia derramado seu Espírito naquela ocasião:

um som como de um vento;
línguas como de fogo sobre cada um dos presentes;
falaram em outras línguas.

Os três sinais juntos (e não apenas as línguas) constituem o tripé que caracteriza o ocorrido como um derramamento do Espírito nesta ocasião. Isso é bastante claro no verso 33: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis”. Alguns defensores do continuísmo alegam que esta passagem é o padrão. Ora, então podemos concluir que os três sinais acontecem nas igrejas pentecostais? Claro que não! Por quê só deve acontecer o sinal 3 e não os outros dois?

No restante do capítulo 2, não há provas de que o batismo do Espírito é acompanhado pelo falar em línguas. No verso 38 Pedro diz: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.

Dizer que receber o dom do Espírito do verso 38 é o mesmo que falar em línguas é um argumento desprovido de provas concretas, porque não é dito que os 3.000 convertidos falaram em línguas. Querer dizer o que o texto não diz é muita pretensão!

Pelo contrário, o texto diz aquilo que os pentecostais rejeitam. Pedro está dizendo que o arrependimento é suficiente para o recebimento do batismo do Espírito Santo. Ou seja, quando é que se recebe o batismo do Espírito? Pedro diz que é no momento do arrependimento, e não numa ocasião futura. Quando alguém se arrepende e crê recebe o Espírito Santo, e não algum tempo depois. O texto não está dizendo mais nada além do que já diz!
Depois de analisarmos a primeira ocorrência do B.E em Atos, vamos analisar a segunda ocorrência do batismo do Espírito Santo em Atos 8.14-17. É o relato de Felipe pregando na cidade de Samaria.

Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo. (Atos 8.14-17).

Provavelmente houve a manifestação das línguas, visto que houve uma evidência visível. Mas essa conclusão não deve ser final, visto que há outras manifestações visível do batismo do Espírito Santo: profecia e dons de cura.Não tenho muita coisa a dizer sobre este texto, a não ser para frisar um detalhe bem claro: foi preciso que dois apóstolos fossem à Samaria para impor as mãos sobre os samaritanos para, desta maneira, receber o batismo do Espírito. Neste caso, por que não esperar pela presença de um “apóstolo” para que, impondo-lhes as mãos, os crentes falem em línguas? Estarei sendo exagerado em dizer que é necessário a presença de uma apóstolo? Mas o texto não diz isso? Há outras ocorrências em Atos da presença de apóstolos na ocasião do falar em línguas, mas vou trata-las de acordo com a necessidade.

Parece-me que há uma evidência do argumento pentecostal neste texto. Os samaritanos receberam o Espírito após a sua conversão. Mas, como alguns sensatos pentecostais, não existe nenhum padrão, nenhum método, nenhuma condição na qual a pessoa precise se colocar para receber o dom de línguas. E de fato, os registros da descida do Espírito Santo em Atos não obedecem a um padrão, mas todos eles apresentam elementos únicos e variados, o que torna difícil estabelecermos um padrão para o recebimento do Espírito.

Então, posso descansar e relaxar pois, o que aconteceu em Samaria foi um caso isolado e excepcional. Aliás, não estou fugindo desta questão, é que a Bíblia não mostra nenhuma outra ocorrência, além de Samaria, de que crentes só receberam o Espírito após a conversão (diga-se de passagem que Atos é um livro histórico, não podemos criar uma doutrina em cima de um fato histórico relatado em um único texto!).
É bom destacar também a importância desta descida do Espírito entre o samaritanos. Os judeus cristãos tinham preconceito para com os samaritanos. Os judeus cristãos eram hostis aos samaritanos. Eles não suportavam conviver, falar ou até mesmo passar por perto dos samaritanos. Diante do relato bíblico, vemos este preconceito e esta hostilidade sendo derrubada, pois deixava claro para os judeus cristãos que Deus também aceitou samaritanos para que façam parte, juntamente com os judeus, da salvação. Judeus e samaritanos agora podem conviver uns com os outros pois todos eles participavam da mesma graça.
Este fato é cheio de características únicas e peculiares dentro de um contexto particular onde viviam os judeus preconceituosos e os samaritanos desprezados. Diante disso, não podemos racionalizar que esta ocasião deva ser repetido várias vezes por todas as gerações, visto que serviu para um propósito único e exclusivo.
Depois de termos visto a respeito da segunda ocorrência do B.E em Atos , passemos agora para a terceira ocorrência do batismo do Espírito em At 10.44-46. A passagem descreve a descida do Espírito sobre Cornélio e os que estavam com ele:

Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus.

No capítulo 11, versos 15-17, encontramos Pedro relatando estes acontecimentos aos irmãos de Jerusalém. Pedro, então, trata o ocorrido como um batismo do Espírito Santo. Pedro ainda estabelece uma semelhança com o que ocorreu em Atos 2: “Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?”(At 11.17).O texto, ao que parece, não dá suporte à teologia pentecostal do batismo do Espírito, visto que o texto deixa claro que a descida do Espírito se deu juntamente com o exercício da fé dos gentios: “sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo” (v. 45).

Temos aqui um caso raro e improvável que se aconteça novamente. Os judeus tinham preconceito com os gentios, ao ponto dos judeus evitarem levar a verdade de Deus aos gentios. Esta descida do Espírito mostrou aos judeus que os gentios também fazem parte da família de Deus.

A barreira entre os judeus e gentios eram muito maior do que a barreira entre os judeus e samaritanos. O batismo do Espírito entre os samaritanos e entre os gentios revela aos judeus que Deus também demonstra sua salvação aos outros povos e não a eles somente.

A descida do Espírito aos gentios é uma clara demonstração de que os gentios poderiam ser salvos e que os judeus cristãos não tinham razão para hesitar em receber os gentios convertidos em sua comunhão.

Essa é uma outra extensão do pentecostes (além de Samaria) em Cesaréia, entre os gentios. Não podemos ter dúvida disso pois Pedro disse: “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio… Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (11.15,17).

A recepção dos dons extraordinários do Espírito colocava estes gentios em igualdade com os cristãos samaritanos e com os cristãos judeus. Porém, o texto não prova que cada crente deve receber este dom; ou ainda, o texto não prova que os crentes devem desejar receber este dom pois o texto não dá nenhum indício de que os gentios estavam buscando por este dom. Mesmo que a entrega dos dons pelo Espírito seja um ato soberano de Deus, como dizem alguns pentecostais menos insensatos, eles ainda afirmam que o crente deve desejar o dom. Mas eu vejo o contrário em At 11. Alguém se levantaria para dizer que os gentios estavam desejando receber o batismo do Espírito?
Depois de vermos a terceira ocorrência do B.E em Atos, passemos para a quarta e última ocorrência do batismo do Espírito que se encontra em At 19.1-7. Se trata da descida do Espírito Santo em Éfeso:

Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam. Eram, ao todo, uns doze homens.

Precisamos nos deter, por um instante, na estrutura grega em que esta passagem se apresenta. Isso por que há algumas versões que traduzem assim a pergunta de Pedro: “Recebeste o Espírito Santo depois que crestes?”. Quando a pergunta é lida desta maneira, dá a impressão que a interpretação pentecostal de que alguém deve receber o batismo após a conversão está correta. Mas temos que pergunta se a estrutura da pergunta no grego permite tal conclusão.

No grego esta pergunta se encontra assim: “Ei pneúma hágiom elábete pisteúsantes”. Temos um verbo no tempo aoristo (elábete) seguido por um particípio aoristo (pisteúsantes). O particípio expressa uma ação contemporânea “ao crerem”, isto é, “quando vocês se tornaram cristãos”. Já o aoristo denota uma ação que ocorreu no passado e que não se repete. Neste caso, o “recebeste” (elábete) é uma ação única, ocorrida uma única vez. O recebimento (elábete) do Espírito junto com a fé (pisteúsantes) são simultâneos, de acordo com a construção da pergunta no grego. O particípio aoristo coincidente é doutrinariamente importante.

Para os pentecostais o recebimento do Espírito deve acontecer somente depois da conversão, nunca ao mesmo tempo. Se esta fosse a intenção de Lucas, ele poderia ter feito outra construção para a pergunta.

A resposta dos doze discípulos é reveladora: “Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo”. O comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal do texto diz que os crentes efésios não haviam ouvido falar sobre o derramamento do Espírito, mas que tinham algum conhecimento do Espírito. Ora, o que a Bíblia de Estudo Pentecostal quer defender é que eles já conheciam o Espírito, mas que não sabiam ainda sobre o derramamento no Pentecoste.

É isso mesmo que o texto diz? No grego está literalmente assim: “Pelo contrário, nem temos ouvido que existe um Espírito Santo”. Isso é importante saber pois a teologia pentecostal afirma que o crente deve buscar pelo batismo do Espírito. O texto diz que eles não tinham a menor idéia do que era o Espírito Santo. Não há nada que indique no texto que eles tinham algum conhecimento do Espírito. Nada. Ora, como os efésios poderiam buscar algo de que não conhecem?

Continuando com o texto, o relato diz que Paulo lhes impôs as mãos para receberem o Espírito e falaram em línguas e profetizaram.

O texto não prova que todo crente deve receber o batismo do Espírito Santo após sua conversão evidenciando as línguas. Algumas características que encontramos no texto é a seguinte:

Os eféios não conheciam o Espírito Santo;
Os efésios não estavam buscando pelo Batismo do Espírito;
O texto mostra que eles receberam mediante a imposição das mãos de um apóstolo, no caso Paulo.

Deixo uma pergunta: se é verdade que eu devo receber o batismo do Espírito para falar em línguas, onde está um apóstolo para impor as mãos sobre mim?
Precisamos fazer uma análise adicional com relação às quatro ocorrências do batismo em Atos. As únicas ocorrências do batismo do Espírito em Atos se encontram em Atos 2,4; 8, 14-17; 10, 44-46 e 19, 1-7Todas as ocasiões apresentam situações bem parecidas, bem semelhantes, o suficiente para concluirmos que, se o batismo do Espírito com a manifestação do dom de línguas é válido para a igreja de hoje, então todas as situações que envolveram o batismo do Espírito em Atos também devem se repetir na igreja hoje.

Os pentecostais defendem que o livro de Atos é normativo para a igreja de hoje. Neste caso, todos os eventos registrados no livo podem (e devem) acontecer hoje. Dizem que não é apenas um registro histórico, mas uma declaração do que a igreja pode esperar ainda hoje. Então, se o batismo do Espírito acompanhado do dom de línguas é para hoje, então todas as situações que envolveram esta manifestação em Atos são para hoje também. São essas situações que vamos ver agora.

1) Em cada um dos quatro casos (Pentecoste, Samaria, Cesaréia e Éfeso), o dom especial do Espírito, incluindo o falar em línguas (supondo que houve línguas entre os samaritanos), foram dados a grupos inteiros. Em nenhum caso encontramos alguns recebendo o dom e outros não. Isso acontece nas igrejas pentecostais, onde alguns recebem o dom enquanto outros não. Por quê?

2) Nos últimos três casos, os dons especiais do Espírito foram dados a pessoas que não pediram. Ninguém pode provar que os samaritanos, os da casa de Cornélio e os éfesos pediram para serem batizados com o Espírito Santo. Os pentecostais erram em instruir os crentes a buscarem o dom de línguas, visto que em Atos não se encontra tal busca por parte dos crentes primitivos. Um detalhe a mais que devemos notar: em nenhum caso encontramos os apóstolos “treinando” os crentes para receberem o Espírito. Nada de “glória, glória, glória…”!

3) Ainda sobre os três últimos casos, não encontramos uma passagem sequer que nos diga que em Samaria, Cesaréia e em Éfeso, os crentes estiveram comprometidos com uma espécie de “espera do Espírito Santo”. Ninguém estava esperando a descida do Espírito. Ninguém estava buscando ser batizado com o Espírito. Mesmo que se cite o texto de Lucas 24.49 para apoiar a posição pentecostal, o texto está se referindo ao acontecido em Atos 2 somente. O livro de Atos é claro em afirmar que a promessa de derramamento em Lucas 24.49 se cumpriu em Atos 2 (veja 2.33). Portanto a promessa de Lucas 24.49 não é para a igreja hoje, mas foi uma promessa que se cumpriu no dia de Pentecostes.

4) Nos quatro casos, encontramos a presença de, no mínimo, um apóstolo impondo as mãos para os crentes receberem o batismo do Espírito. Em Pentecoste (At 2), em Samaria (8.15-17), em Cesaréia (10.44) e em Éfeso (19.6). Em todos encontramos a presença de pelo menos um apóstolo. Em dois deles, encontramos a imposição as mãos dos apóstolos. Se Atos é normativo para a igreja de hoje, então a manifestação do dom de línguas também é. Atos nos mostra a presença dos apóstolos e com imposição das mãos dos mesmos. Se Atos é normativo, e se Atos nos mostra a presença dos apóstolos em todas as ocasiões, então devemos concluir que precisamos ainda hoje da presença dos apóstolos para orar e impor as mãos sobre nós para sermos batizados com o Espírito Santo?

Todas essas evidências que acompanham o derramamento do Espírito em Atos nos faz acreditar que o falar em línguas nas igrejas pentecostais de hoje não passa de mero emocionalismo criado pelo homem.

Se Atos é normativo, então não faz sentido que se espere por todos os elementos envolvidos em um batismo do Espírito? Se Atos é normativo, então cada registro em Atos é norma para a igreja. Sendo assim, onde estão os apóstolos para impor as mãos sobre a minha cabeça? Há ainda apóstolos hoje?

Diante do que foi exposto nos artigos sobre o dom de línguas em Atos, a minha conclusão é que não há nada em Atos que nos faça entender que as manifestações extraordinárias do Espírito Santo são para a igreja de hoje. O livro de Atos não fornece nenhuma evidência de que a igreja de hoje deve esperar por algo parecido com os acontecimentos em Atos. Mas, sendo o livro de Atos um livro “normativo”, não seria justo que esperássemos por tais acontecimentos?

Não. O livro de Atos não é normativo. É apenas um registro do Espírito Santo sobre os atos dos apóstolos na igreja primitiva, sem ser tratado como “norma” para a igreja. E nem poderia ser.

Fonte: A Fé Explicada

Marxismo cultural é a nova ameaça à sociedade, diz Pe. Paulo Ricardo

Marxismo cultural é a nova ameaça à sociedade, diz Pe. Paulo Ricardo

Matthew Cullinan Hoffman
SÃO PAULO, Brasil, 21 de dezembro de 2011 (Notícias Pró-Família) — Embora pareça ter morrido com a queda da União Soviética, o marxismo só passou por uma metamorfose, e agora está ameaçando a cultura de muitas nações em todos os níveis, de acordo com um dos padres mais famosos do Brasil.
Numa exclusiva entrevista de vídeo para LifeSiteNews, o Pe. Paulo Ricardo diz para LifeSiteNews que os marxistas invadiram a esfera cultura depois que suas opiniões sobre economia caíram em descrédito, e agora estão buscando subverter todas as instituições da sociedade a partir de dentro.
“Eles querem ter o controle de tudo o que produz a cultura. Portanto, acima de tudo, a Igreja é importante. Mas também as universidades, e as escolas, os jornais, os meios de comunicações e tais. E é claro que na batalha em que estão, eles têm tudo nas mãos agora”, Paulo Ricardo disse para LifeSiteNews. Contudo, acrescentou ele, precisamos compreender que “Deus está conosco”.
De acordo com Paulo Ricardo, o marxismo cultural não só incorpora as premissas de Marx, mas também de Nietzsche e Freud. A meta nada mais é do que destruir a civilização ocidental pelas raízes. Dessa destruição, nos asseguram, surgirá uma utopia.
Entre as instituições visadas para extermínio, disse Paulo Ricardo, está a família.
“Eles acham que a família é opressão. Por isso, logo que há uma família, aí há um homem, que está oprimindo a mulher, e oprimindo os filhos, pois ele está fazendo imposições sobre eles”, disse Paulo Ricardo.
“Por isso, logo que há uma família tradicional, aí há um homem como governante da família e eles acham que devem destruir isso e para se ter uma sociedade igual, eles querem pessoas crescendo num ambiente diferente”.
No Brasil, o país com a maior população católica do mundo, os marxistas têm visado a Igreja, e grande número de padres e bispos adotou uma ideologia que substitui os ensinos espirituais de Cristo por uma imitação marxista conhecida como “teologia da libertação”.
“Agora o que eles estão tentando fazer é alcançar o Cristianismo e mudá-lo de dentro”, disse Paulo Ricardo. “Por isso, eles mantêm as palavras religiosas, mas mudam o conceito interior da palavra”.
“Quando eles falam sobre o reino de Deus, nós como cristãos, quando falamos sobre o reino de Deus, cremos que estamos falando sobre o reino do céu. Por isso, estamos falando sobre algo que não está aqui neste mundo”.
“Pois bem, eles começam dizendo que estão trabalhando aqui para o reino de Deus, e querem produzir o reino aqui neste mundo. Portanto, na realidade o assunto sobre o qual eles estão falando é a sociedade socialista com a qual eles sonham, a utopia que eles pensam vai acontecer, é o reino de Deus”.
“Eles usam as mesmas palavras. Parece algo católico, parece algo cristão, mas ao mesmo tempo percebemos que há algo estranho nisso, pois há alguma coisa faltando, e o que está faltando é tudo o que tem relação com o transcendental, com o céu, com a vida após a morte. Tudo o que eles fazem é aplicar aqui na Terra”.
Essa rejeição das realidades espirituais se junta à exaltação do homem como o “super-homem” de Nietzsche, que pode decidir por si mesmo o bem e o mal, como a serpente prometeu no Jardim do Éden, disse Paulo Ricardo.
Os cidadãos do Brasil e dos Estados Unidos estão desarmados diante do marxismo cultural, disse Paulo Ricardo, pois eles ingenuamente creem que o marxismo morreu com a queda da União Soviética.
“Nós realmente estamos diante de um monstro que está destruindo tudo o que estimamos, tudo o que consideramos precioso e sagrado”, disse ele.
O Pe. Paulo Ricardo é famoso no Brasil por suas explicações claras e firme defesa da fé católica, que ele apresenta em seu programa de TV para a Rede Canção Nova, bem como seu blog, Christo Nihil Praeponere.
Artigos relacionados:
http://www.youtube.com/watch?v=L7Reb9wvTzg&list=UUYImiD9L0dMycenfBy2al0Q&index=2&feature=plcp

Fonte: A Fé Explicada
O verdadeiro sentido do Natal
23 dez

Há dois mil e seis anos nasceu Jesus. Foi numa gruta escura e fria, nos arredores de Belém. Era Natal! Foi a primeira festa do Natal de Jesus da história da cristandade. Festa, aliás, muito simples, restrita a poucas pessoas: a Maria, a José, a uma senhora caridosa, parteira familiar, que deu assistência a Maria no parto, e a alguns pastores. Se foi uma festa simples, restrita a poucas pessoas, ao mesmo tempo foi uma solenidade que, por seu significado e importância, atingiu a humanidade toda. Isto porque foi o nascimento do Filho de Deus que assumiu a natureza humana para ser o Salvador e Senhor da própria humanidade.

Por causa da importância e da influência histórica para toda a humanidade do Menino que nasceu, a festa do Natal tornou-se a maior, a mais festiva, a mais envolvente, a mais cordial e familiar, bem como a mais universal celebração no nosso planeta. É uma celebração que começa a ser preparada com semanas de antecedência, que envolve bilhões de pessoas de todas as idades, classes, raças e línguas, que é comemorada todos os anos no dia 25 de dezembro com singular exultação, e que se prolonga por mais semanas.

Faz bem, espiritual e psicologicamente, recorrermos ao relato histórico-bíblico do acontecimento. Lido com atenção, imaginação e fé, o texto tem o poder de nos levar àqueles sentimentos místicos, íntimos, deliciosos e maravilhosos da Noite Santa e do dia do Natal. Diz o texto:



“Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade natal. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com sua esposa, Maria, que estava grávida. Estando eles ali em Belém, completaram-se os dias para ela dar à luz. E deu à luz seu Filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido” envolto em faixas e posto numa manjedoura. E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens por Ele amados” (Lucas 2,1-14).

O coração do Natal:

É Natal porque alguém nasceu. No coração do Natal há um personagem: Jesus! Personagem que precisa ser colocado no centro de toda a celebração natalina, quer pessoal, familiar, comunitária ou eclesial. Se não for para celebrar a Pessoa de Jesus, e nessa celebração, se não houver a disposição de aceitar ainda mais radicalmente Jesus como Salvador pessoal, a festa do Natal não tem o seu significado e a sua razão de ser celebrado. Natal que não uma festa para Jesus, é como uma festa de aniversário, sem aniversariante…

Para penetrar no coração do Santo Natal e para podermos celebrá-lo em todo seu significado, importância e repercussão espiritual, é preciso dar atenção a três dimensões inerentes ao acontecimento:

1º) A recordação do nascimento de Jesus.

2º) A celebração anual do acontecimento por causa de sua grandeza e importância, quer para nós, pessoalmente, quer para nossas famílias, bem como para a Igreja e a humanidade.

3º) A atualização do acolhimento do Salvador que vem de novo, em cada Natal, para poder ser acolhido como Deus, Salvador e Senhor.

Essas três dimensões constituem o “coração” da espiritualidade, da celebração e dos efeitos salvíficos do Santo Natal. No entanto, a terceira dimensão, ou seja, o “renovado acolhimento de Jesus”, por parte de todos, é que dá a razão maior à celebração anual do Santo Natal.

Jesus ainda não nasceu…

Para muitos, talvez até para algumas pessoas de nossa família, Jesus ainda não nasceu. O Natal ainda não aconteceu em suas vidas. São todos aqueles que ainda não tiveram a graça de conhecer pessoalmente Jesus, e de experimentar seu amor e sua salvação pessoal. Ou são aqueles que se recusam a conhecê-Lo, ou até combatem Sua Pessoa, procurando descaracterizá-Lo como Deus e Salvador. Enfim, são todos aqueles que ainda não aderiram pela fé a Jesus Cristo, ao Seu Evangelho, à Sua Igreja, e que, portanto, não fazem parte dos discípulos do Divino Mestre. Para esses, ainda não houve Natal. Jesus ainda não nasceu em suas vidas.

Para todos esses é muito desejável que aconteça um Natal em suas vidas, que tenham um encontro pessoal com Jesus, que O conheçam e o acolham como seu Deus, Salvador e Senhor. Para esses, seria preciso que acontecesse a grande bênção da abertura de seus corações ao Salvador nascido e celebrado, a fim de se tornem Seus discípulos, e de entrarem no processo de salvação.

Para auxiliar e beneficiar a todos esses a fim de que possam ter um Natal pleno e verdadeiro, seria muito desejável que aqueles que já tiveram um Natal pessoal, se propusessem a realizar um anúncio muito cristalino e argumentado, que suscite em seus corações um ardente desejo de conhecer o Salvador e sua mensagem.



Natal é ocasião de tomar ainda mais consciência da beleza da personalidade e da obra de Jesus aniversariante, crescendo em admiração, encantamento e adesão crescente. Natal é ocasião propícia para solidificar mais e mais a amizade com Jesus aniversariante.

Preparar o Natal

Para que o Natal produza suas bênçãos específicas e especiais, e para que Jesus aconteça ainda mais em nossas vidas, em nossas famílias e em nossa comunidade cristã, precisamos nos organizar e tomar algumas providencias apropriadas. Eis algumas sugestões:

1. Participar com alegria e entusiasmo da caminhada da paróquia que se prepara cuidadosamente para celebrar Jesus, realizando a novena de Natal, quer nas famílias, quer na igreja.

2. Ou realizar uma novena de Natal em sua própria família, reunindo um número maior de familiares.

3. Ou reunir sua família e convidar famílias vizinhas para realizarem juntos a novena de Natal pela televisão, quer por meio de vídeo ou DVD, ou por um canal de TV.

4. Preparar-se por uma santa confissão sacramental bem preparada e celebrada.

5. Preparar sua casa ou apartamento com uma decoração natalina que chame atenção para a Pessoa de Jesus, o festejado, o centro do Natal.

6. Preparar a ceia natalina de tal forma que Jesus seja o aniversariante celebrado, para que todos se sintam celebrando o Natalício de Jesus.

7. Combinar com a família toda para participarem juntos de uma determinada santa Missa Natalina.

8. Preparar-se espiritual e psicologicamente para realizar com pleno conhecimento o encontro pessoal com Jesus aniversariante na santa Comunhão Eucarística, como sendo o momento mais significativo de um encontro muito pessoal com Jesus, o celebrado, a razão de ser do Natal.

Será, também, muito significativo, apropriado e abençoado, dentro das possibilidades reais e generosas de sua pessoa e família, tomarem a decisão de fazer alguma coisa para que famílias e crianças carentes, pessoas idosas, presos e encarcerados, desempregados ou migrantes, possam ter algo a mais para poderem celebrar com alguma alegria o Santo Natal. Em relação a essa solidariedade, felizmente vemos inúmeras iniciativas que impressionam e comovem. Não é difícil encontrar alguma forma de colaborar.

Por onde passo vejo casas serem restauradas, pintadas,as lojas de eletrodomésticos, então, estão cheias, as pessoas aproveitam para trocar os móveis…
Todos querem arrumar suas casas.

As pessoas estão em uma euforia enorme. Muitas correm contra o tempo. Tudo tem que ser novo.

E a nossa casa interior? o nosso espírito? o nosso coração? como está?

Será que estamos nos preocupando em arrumar o nosso íntimo?

Penso que mais do que arrumar a nossa casa para receber parentes e amigos devemos arrumar o nosso coração para receber Jesus.
Permitir que Ele entre em nossa intimidade e seja o personagem principal em nosso Natal, afinal Ele o é.

Vamos fazer uma faxina em nossa vida, rever nossos atos e atitudes, jogar fora tudo aquilo que nos afasta do verdadeiro sentido do Natal, pintar nosso coração com as cores da felicidade e da esperança, trocar o que temos de velho por uma fé renovada n’Aquele que que se fez presente para nós.

Fonte: A Fé Explicada

Ana Paula Valadão Desmascarada



Fonte: A Fé Explicada

Castidade: Isso Ainda Existe?

sábado, 15 de outubro de 2011

Saboreie e veja(e ouça e toque)o Evangelho

Saboreie e veja(e ouça e toque)o Evangelho


Por Scott Han

Para entender as partes da Missa

Algumas pessoas de coração romântico gostam de pensar que o culto primitivo era puramente expontâneo e improvisado. Gostam de imaginar os primeiros fiéis tão cheios de entusiasmo que o louvor e a ação de graças simplesmente transbordavam em profunda oração quando a Igreja se reunia para partir o pão .Afinal de contas, quem precisa de Missal a fim de exclamar "eu te amo"?

Outrora Scott acreditava nisso. Entretanto, o estudo das Escrituras e da Tradição o levaram a ver o bom senso da ordem no culto.

Enquanto Scott ainda era protestante, aos poucos foi sendo atraído à liturgia e procurou"formar uma liturgia a partir das palavras das Escrituras". Scott não sabia que isso já tinha sido feito. Já com São Paulo, vemos a preocupação da Igreja com a exatidão ritual e o cerimonial litúrgico. Scott crê haver boa razão para isso.

Scott pede para que algum romântico tenha paciência enquanto ele diz que "ordem e rotina" não são necessariamente más. De fato, são indispensáveis para uma vida boa, piedosa e serena. Sem horários e rotinas, pouco realizaríamos em nosso dia de trabalho. Sem frases pré determinadas, o que seriam nossos relacionamentos humanos?

Scott diz que nunca encontrou pais que se cansassem de ouvir os filhos repetirem antiga expressão:"Obrigado". Nunca encontrou esposos que se enjoassem de ouvir:"Eu te amo". A fidelidade a nossas rotinas é um meio de demonstrar amor. Não trabalhamos por trabalhar, ou agradecemos ou damos afeto quando estamos inclinados a fazê-lo por fazê-lo. Amores verdadeiros são amores que vivemos com constância se revela na rotina.

A Liturgia forma hábitos

As rotinas não são apenas boa teoria, funcionam na prática. A ordem deixa a vida mais tranquila, mais eficiente e mais eficaz. De fato quanto mais rotinas criamos, mais eficientes nos tornamos. As rotinas nos libertam da necessidade de cogitar a todo momento em pequenos detalhes; as rotinas deixam os bons hábitos tomar conta e libertam a mente e o coração a seguirem para frente e para o alto.

Os ritos da liturgia cristã são as frases pré determinadas que, através do tempo, se manifestaram: o obrigado dos filhos de Deus; o eu te amo da esposa de Cristo, a Igreja. A liturgia é o hábito que nos faz altamente eficientes, não apenas na "vida espiritual", mas na vida em geral, pois a vida deve ser vivida em um mundo que Deus criou e redimiu. A liturgia cativa a pessoa toda: corpo, alma e espírito.

Scott lembra a primeira vez que participou de uma liturgia católica, as Vésperas em um seminário bizantino. Sua formação e seu treinamento calvinistas não o prepararam para a experiência - o incenso e os ícones, as prostrações e as reverências, o canto e os sinos. Todos os seus sentidos foram absorvidos. Depois um seminarista pergunta a Scott: "O que achou?" Scott só consegue dizer:"Agora sei porque Deus me deu um corpo: Para adorar o Senhor com seu povo na liturgia".

Os católicos não apenas ouvem o Evangelho. Na liturgia, nós a ouvimos, vemos, cheiramos e saboreamos.

A divisão de um bom momento

Talvez a frase em que ouvimos mais claramente o chamado à Missa seja a que ressoa na maior parte das liturgias do mundo todo, em toda a história da Igreja:" Corações ao alto!" Aonde vão nossos corações? para o céu, pois a Missa é o céu na terra. Contudo antes de perceber isso claramente (e eis um segredo:antes de entendermos o livro do apocalíse), temos de entender as partes da Missa.

Neste capítulo, vamos caminhar passo a passo pela liturgia, para ver como "funciona" cada elemento - de onde vem e para que serve. Embora só tenhamos espaço para tratar de alguns dos principais detalhes, eles devem bastar para nos ajudar a contemplar a Missa e a descobrir sua lógica interior pois, se não entendermos as partes e o todo, a Missa poderá se tornar rotina tediosa, sem participação sincera; e esse é o tipo de rotina que dá má fama à rotina.

Primeiro, devemos entender que a missa de divide realmente eu duas: a "liturgia da Palavra" e a "liturgia Eucarística". Essas metades dividem-se ainda em rituais específicos.

Na Igreja latina, a liturgia da Palavra inclui: a entrada, os ritos iniciais, o ato penitencial e as leituras das Escrituras. A liturgia eucarística divide-se em quatro partes: o ofertório, a oração eucarística, o rito da comunhão e os ritos finais. Embora os atos sejam muitos, a missa "é uma só oferenda", isto é, o Sacrifício de Jesus Cristo, que renova nossa aliança com Deus Pai.

Os propósitos da Cruz

É provável que entre os cristãos primitivos, o Sinal-da-Cruz fosse a expressão de fé mais universal. Aparece com frequência nos documentos do período. Na maioria dos lugares, o costume era apenas traçar a Cruz sobre a fronte.

Alguns autores -(como São Jerônimo e santo Agostinho) -, descrevem os cristãos traçando sobre a fronte, em seguida sobre os lábios e depois sobre o coração, exatamente como fazem os católicos ocidentais modernos antes da leitura do Evangelho.

Grandes santos também atestam o poder extraordinário do sinal. No sec.III, são Cipriano de Cartago escreveu que "no...sinal-da-cruz está toda virtude e todo poder...Neste sinal-da-cruz está a salvação para todos os marcados na fronte"(ref. aliás de Ap.7,3 e 14,1).

Um século mais tarde, santo Atanásio declarou que "pelo sinal-da-cruz toda mágica cessa e toda feitiçaria não dá resultado". Satanás é impotente diante da Cruz de Jesus Cristo.

O Sinal-da-Cruz é o gesto mais profundo que fazemos. É o mistério do Evangelho em um momento. É a fé cristã resumida em um único gesto. Quando nos persignamos, renovamos a aliança que se iniciou com nosso batismo.Com nossas palavras, proclamamos a fé trinitária na qual fomos batizados - "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

Com a mão proclamamos nossa redenção pela Cruz de Jesus Cristo. O maior pecado da história da humanidade - a cruxifixão do Filho de Deus - tornou-se o maior ato de amor misericordioso e de poder divino. A cruz é o meio pelo qual somos salvos, pelo qual entramos em comunhão com a natureza divina.(veja 2Pd 1,4).

Trindade, Encarnação e Redenção - o Credo todo passa como um raio naquele breve momento.

No Oriente, o gesto é ainda mais fecundo, pois os cristãos traçam o sinal juntando os tres primeiros dedos (polegar, indicador e médio), separados dos outros dois (anular e mínimo):os tres dedos juntos representam a unidade da Trindade, os dois dedos juntos representam a união das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina.

Não é apenas um ato de culto. É também um lembrete de quem somos nós."Pai, Filho e Espírito Santo" reflete um relacionamento familiar, a vida interior e a comunhão eterna de Deus. A nossa é a única religião com um Deus que é uma família. O próprio Deus é uma "família eterna", mas por causa de nosso Batismo, ele é nossa família também.

O Batismo é um sacramento que vem da palavra latina para juramento (sacramentum) e por esse juramento estamos ligados à família de Deus. Ao fazer o Sinal da Cruz, iniciamos a Missa com um lembrete de que somos filhos de Deus. Também renovamos o juramento solene do Batismo. Fazer o sinal-da-cruz, então, é como jurar sobre a Bíblia num tribunal.

Prometemos que viemos à Missa para dar testemunho. Assim, não somos espectadores do culto, mas participantes ativos, testemunhas e juramos dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade.

Fonte: O Banquete do Cordeiro e É Razoável Crer?

Credo - Décimo Artigo

Credo - Décimo Artigo


Creio na Comunhão dos Santos e na Remissão dos Pecados.

Por São Tomás de Aquino

Assim como no corpo natural a atividade de um membro subordina-se ao bem de todo o corpo, também no corpo espiritual acontece o mesmo, isto é, na Igreja. E porque todos os fiéis são um só corpo, o bem de um comunica-se ao outro. Diz S. Paulo: Somos todos membros uns dos outros (Rom 12,5).

Por isso entre os artigos de fé propostos pelos Apóstolos, há este referente à comunhão dos bens entre os fiéis, que se chama comunhão dos santos.

Entre os diversos membros da Igreja, o principal é Cristo, que é a cabeça. Lê-se: Deus o colocou como cabeça de toda a Igreja, que é o seu corpo (Ef 1,22).

Os bens de Cristo são comunicados a todos os cristãos, como a energia da cabeça é comunicada a todos os membros. Essa comunicação é realizada pelos Sacramentos da Igreja, nos quais opera a virtude da paixão de Cristo, de modo a conferir a graça da remissão dos pecados.

São sete esses Sacramentos da Igreja.

O primeiro é o Batismo.

Que é uma certa regeneração espiritual. Como a vida carnal não pode existir sem que o homem tenha nascido carnalmente, assim também a vida espiritual, na qual a graça não pode existir sem o nascimento espiritual

Essa geração faz-se pelo Batismo, conforme se lê: A não ser que alguém tenha renascido pela água e pelo Espírito Santo, não pode entrar no reino do céu (J o 3,5). Deve-se, além disso, saber que como o homem não nasce senão uma só vez, assim também é batizado só uma vez. Eis porque os Santos Padres acrescentaram: Confesso um só batismo.

A virtude do batismo purifica de todos os pecados, quer quanto à culpa, quer quanto à pena. Por esse motivo não se impõe, aos que saíram no batismo, nenhuma penitência, mesmo que eles antes tenham sido grandes pecadores. Morrendo eles logo após o batismo, imediatamente voam para a vida eterna.

Pela mesma razão, bem que só os sacerdotes batizem por ofício, em caso de necessidade qualquer um pode batizar, desde que siga a forma deste Sacramento, que é: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Este Sacramento recebe a sua virtude da Paixão de Cristo, conforme nos ensina S. Paulo: Cada um de nós que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte (Rom 6,3). Como Cristo esteve morto três dias no sepulcro, para simbolizar melhor a sua morte, fazem-se três imersões na água

O Segundo Sacramento é a Confirmação.

Como para os que nascem corporalmente, são necessárias as forças para agir, assim também para os renascidos espiritualmente é necessária a força do Espírito Santo. Por isso os Apóstolos, a fim de serem fortes, receberam o Espírito Santo após a Ascensão de Cristo: Vós ficareis na cidade, até que sejais revestidos pela força do Alto (Lc 24,49). Esta força é conferida pelo Sacramento da Confirmação. Eis porque os responsáveis pelas crianças devem ter especial cuidado para que elas sejam confirmadas, já que na Confirmação é conferida uma grande graça. Quem recebeu a Confirmação, quando morrer, terá maior glória do que quem não a recebeu, justamente porque teve uma graça mais abundante.

O Terceiro Sacramento é a Eucaristia

Como na vida corporal, após ter o homem nascido e estar fortificado, ele tem necessidade dos alimentos para sustentar-se e conservar-se, assim também na vida espiritual, após ter recebido a força, lhe é necessário o alimento espiritual," que é o corpo de Cristo". Lê-se em S. João: Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós (Jo 6,54).

Por isso, todo cristão deve, pelo menos uma vez por ano, receber o corpo de Cristo, naturalmente com dignidade e pureza, porque está escrito: O que come e bebe indignamente (isto é, sabendo que tem um pecado mortal que não confessou, ou que não se decidiu dele fugir) come e bebe o seu próprio julgamento (1 Cor 11,29).

O Quarto Sacramento é a Penitência.

Acontece na vida corporal que as pessoas ficam doentes, e, se não tomaram remédio, morrem. Na vida espiritual pode-se também adoecer pelo pecado. Por este motivo, é necessário que se tome remédio para recuperar a saúde. A saúde é a graça conferida pelo Sacramento da Penitência. Lê-se: Ele perdoa todas as suas faltas, que te cura de todas as tuas doenças (SI 102,3).

São necessários três elementos na Penitência: a contrição que é a dor do pecado com o propósito de abster-se dele no futuro; a confissão íntegra, isto é, de todos os pecados, e a satisfação, que é realizada pelas boas obras.

O Quinto Sacramento é a Extrema-Unção.

Há nesta vida muitas coisas que impedem o homem de conseguir a perfeita purificação dos pecados. Como, porém, ninguém pode entrar na vida eterna senão estiver bem purificado, foi necessária a instituição de um outro Sacramento que purificasse o homem também dos pecados, o curasse das doenças e o preparasse para entrar no reino celeste. Este sacramento é a Extrema-Unção.

Quando, porém, ele não produz a saúde do corpo, é porque talvez não convenha à salvação da alma que a pessoa viva mais tempo. Lê-se, com relação a este sacramento: Está alguém doente entre nós? Chame os presbíteros da Igreja, que eles orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração com fé salvará o enfermo, e o Senhor o aliviará; e se ele tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados (Tgo 5,14-15)

Está, pois, claro que pelos cinco Sacramentos, dos quais tratamos, realiza-se a perfeição da vida cristã. Mas como é necessário que esses sacramentos sejam conferidos por determinados ministros, torna-se necessário também o Sacramento da Ordem, por cujo ministério os outros sacramentos são conferidos. Nem se deve considerar na confecção dos sacramentos a vida dos ministros, se esta alguma vez tendeu para o mal, mas a virtude de Cristo, pela qual os sacramentos tornam-se eficazes, dos quais os ministros são apenas dispensadores. Lê-se: Assim os homens nos considerem como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus (1 Cor 4,1). Este é o sexto Sacramento, a Ordem.

O Sétimo Sacramento é o Matrimônio

No qual os homens, se viverem em pureza, salvam-se, e nele podem também viver sem pecado mortal. Quando a concupiscência dos esposos não se dirige para fora dos bens do matrimônio, eles algumas vezes caem em pecados veniais, se, porém, fazem algo fora destes bens, então cometem pecado mortal.

Por estes sete sacramentos consegue-se a remissão dos pecados. Por isso encontra-se no Símbolo: na remissão dos pecados.

Foi também dado aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados. Deve-se, por essa razão, acreditar que os ministros da Igreja, aos quais, foi transmitido este poder pelos Apóstolos (aos Apóstolos, o foi por Cristo), têm nela o poder de ligar e desligar, e que a Igreja tem o pleno poder de perdoar os pecados. Este poder, porém, é exercido por degraus, estendendo-se, a partir do Papa, para os outros prelados.

Devemos saber que não apenas a paixão de Cristo nos é comunicada, mas também o mérito da sua vida.

O que também de bom fizeram todos os Santos, pela caridade comunica-se aos que aqui vivem, porque todos são um, conforme se lê: Participo dos bens de todos os que O temem (SI 118,3). Por isso, quem vive na caridade participa de todo bem que se faz no mundo inteiro. Mas aqueles para os quais se faz um bem especial, participam de modo também especial. Pode, assim, uma pessoa satisfazer por outra, como acontece em muitas Congregações Religiosas que admitem novos membros para receberem benefícios dos outros membros.

Por meio dessa comunicação conseguimos dois efeitos:

O primeiro, o mérito de Cristo que se comunica a todos; depois, o bem de um que se comunica ao outro.

Os excomungados, porque estão fora da Igreja, perdem parte de todos os bens dela. Este dano lhes é maior que um dano nos bens temporais. Há um outro perigo para os excomungados: como sabemos que pelo sufrágio dos bons o diabo é impedido de nos tentar, quando alguém da Igreja é excluído, o diabo facilmente o tenta. Eis porque, na Igreja primitiva; quando alguém era excomungado, o diabo logo o atormentava corporalmente.

Fonte: É Razoável Crer?

A grandeza Cristã da Idade Média

A grandeza Cristã da Idade Média

Por Dr. Rafael Vitola Brodbek

É preciso que as civilizações também se curvem a Jesus, Rei do Universo, que as cidades se conformem à Cidade de Deus, eis que a “compenetração da cidade terrena com a cidade celestial, só pela fé pode ser percebida; porém, é um permanente mistério da história humana.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, de 7 de dezembro de 1965, nº 40)

Nós, cristãos, somos uma legítima família através da graça que de Cristo, pela Igreja, recebemos. E como vivemos em sociedade e não isoladamente – salvo vocações específicas –, é a ela que devemos transformar. Não temos que abandonar e satanizar a cultura, mas evangelizá-la, dialogar com ela para que seja meio de propagação da verdade, da beleza, da unidade.

O Papa Paulo VI já ensinava que evangelizar significa precisamente “levar a Boa Nova a todos os ambientes da humanidade” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, nº 18)

Nosso dever é primar por uma autêntica civilização, e, no ensino do Papa São Pio X, “a civilização do mundo é a Civilização Cristã, tanto mais verdadeira, mais duradoura, mais fecunda em frutos preciosos, quanto é mais autenticamente cristã.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Encíclica Il Fermo Proposito, de 11 de junho de 1905, in “ASS”, vol. 37, p. 745)

É obrigação dos crentes, sobretudo dos leigos católicos, “penetrar de espírito cristão as mentalidades e os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vivem.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Apostolicam Actuositatem, de 18 de novembro de 1965, nº 13)

E qual é o conceito de civilização, sobre o que falávamos, senão a reunião da cultura própria de um povo, das mentalidades, dos costumes, das leis e das demais estruturas?

São estes os ambientes os quais devemos cristianizar, ou melhor, recristianizar, vez que, como veremos, antes do advento deste pensamento moderno, a cultura católica imperou em determinado momento da História – ainda que com seus defeitos e abusos, naturais no percurso da peregrinação terrestre pela qual o homem passa; lembremos que o Reino temporal deve ser reflexo do Reino celestial, porém só este último é perfeito e livre de todo pecado!

Os homens precisam de Cristo, mesmo para a reforma da sociedade.

O campo temporal não escapa da influência do Espírito Santo, de Deus que se manifesta ordinariamente pela Sua Igreja. Somos cidadãos do céu, mas vivemos na terra, e nela devemos nos santificar e construir estruturas que auxiliem os outros a fazerem o mesmo.

Inegável, insistimos, que os bens presentes e seculares, profanos, também podem e devem nos convidar a Deus, mediante a contemplação da ordem, da natureza, da beleza, da verdade, da unidade, do bem.

Vivendo numa sociedade sacralizada torna-se mais fácil atrair os homens a Cristo e, mais, realizar aquilo que é a própria vontade de Deus: atrair tudo a Si, “desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra.” (Ef 1,10)

Auxilia-nos o compêndio da doutrina católica: “O dever social dos cristãos é respeitar e despertar em cada homem o amor da verdade e do bem. Exige que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na Igreja católica e apostólica. Os cristãos são chamados a ser a luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a realeza de Cristo sobre toda a criação e particularmente sobre as sociedades humanas.” (Catecismo da Igreja Católica, 2105)

Que civilização é essa que devemos construir? “Não se deve inventar a Civilização, nem se deve construir nas nuvens a nova sociedade. Ela existiu e existe: é a Civilização Cristã, é a sociedade católica. Não se trata senão de a instaurar e restaurar incessantemente nas suas bases naturais e divinas, contra os ataques sempre remanescentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: instaurar todas as coisas em Cristo.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de 1910)

O Reino de Deus é nos céus.

Achar que é na terra seria cair na utopia e injustiça comunistas, ou no milenarismo gnóstico – raiz cultural daquele, e inspirador de movimentos comunais semelhantes, como a revolta dos anabatistas alemães, dos cátaros albigenses, dos espirituais que deturparam a regra de São Francisco de Assis, dos montanistas que desdenhavam da autoridade episcopal, dos iluministas favorecedores de uma burguesia atéia etc.

Todavia, na terra, os homens refletem seu Deus, e as sociedades devem refletir o Reino. Das civilizações, deve-se procurar instaurar uma que seja cristã, católica, i.e., governada pelo espírito do Evangelho. E ela já teve uma expressão histórica concreta, mesmo com seus defeitos: foi o período medievo.

"Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda a parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Immortale Dei, de 1 de novembro de 1885, in “AAS”, vol. XVIII, p. 169)O Papa João Paulo II reitera esse ensino tradicional da Santa Igreja de Cristo:

“Nós somos ainda os herdeiros de longos séculos nos quais se formou na Europa uma Civilização inspirada pelo cristianismo. (...) Na Idade Média, com certa coesão do continente inteiro, a Europa constrói uma Civilização luminosa da qual permanecem muitos testemunhos.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso à CEE, em Bruxelas, 21 de maio de 1985, in “L´Osservatore Romano”, 22 de maio de 1985)

A Europa, vemos, é uma realização temporal do primado cristão sobre a matéria social.

Digamos mais, é a Europa medieval a verdadeira guardiã da divina religião, pois foi dela que partiram, intrépidos, os valorosos conquistadores da América, território dado pela Providência justamente no momento em que os ventos terríveis da Reforma Protestante varriam cantões outrora católicos – princípio de uma nova onda gnóstica que inauguraria, junto com o pagão Renascimento e com o humanismo sem Deus, o pensamento moderno, que explodiria, mais tarde, com o absolutismo, com a Revolução Francesa, com o marxismo e todas as formas de socialo-comunismo, com os nazismos e fascismos dos anos 30-40, e com os fundamentalismos e liberalismos de matriz revolucionária que caracterizariam os anos 70 e a década de 80. De uma Espanha banhada de glória pelos séculos da Reconquista cristã aos mouros islâmicos, emerge a expedição de Colombo.

Se olharmos, aliás, para o mapa, veremos que as fronteiras que delimitam a Europa com a Ásia são, geograficamente, de um artificialismo bastante visível. O território é contínuo. Não está separada a Europa da Ásia como está, por exemplo, da Oceania ou da América. Europa e Ásia formam uma só unidade no plano geográfico natural: a Eurásia.

Não são os Urais, na Rússia, que separam os europeus dos asiáticos, porém a cultura que com os primeiros se formou. A Europa é o resultado de anos de experiência de um unificado Império Romano, com as valiosas contribuições gregas, recebendo, outrossim, os costumes germânicos dos bárbaros que, unidos aos povos celtas já submetidos às legiões de César, souberam construir um mundo todo próprio.

Pela influência da religião cristã e da Igreja Católica dela depositária, todos esses elementos se mesclaram e formaram a Europa medieval – prova inequívoca da capacidade católica de abstrair, dentre as culturas, os elementos bons e maus, e valorizar os primeiros mesmo quando não diretamente cristãos.

Convertidos os bárbaros invasores, os reinos germânicos foram tomando o lugar das antigas nações celtas e províncias romanas, e aqueles, por sua vez, pela fragmentação hereditária, favoreceram o aparecimento de um modelo de harmônica e justa desigualdade, o regime feudal.

Tudo isso é básico para entendermos a vocação da Europa, tão esquecida pelos dirigentes da hodierna Comunidade Européia.

“A conversão dos povos ocidentais não foi um fenômeno de superfície. O gérmen da vida sobrenatural penetrou no próprio âmago da sua alma, e foi paulatinamente configurando à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo o espírito outrora rude, lascivo e supersticioso das tribos bárbaras. A sociedade sobrenatural - a Igreja - a estendeu assim sobre toda a Europa a sua contextura hierárquica, e desde as brumas da Escócia até às encostas do Vesúvio foram florindo as dioceses, os mosteiros, as igrejas catedrais, conventuais ou paroquiais, e, em torno delas, os rebanhos de Cristo. (...) Nasceram por essas energias humanas vitalizadas pela graça, os reinos e as estirpes fidalgas, os costumes corteses e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. A grande experiência de 10 anos de luta)

Pois essa ordem sacral que refletia a realidade celeste e, guardadas as devidas proporções, manifestava, na terra o Reinado de Cristo, se foi deteriorando, pela introdução do orgulho, da vaidade humana, da tentação de Satanás que se traduziu numa nova visão do homem sem Deus – pseudo-humanismo italiano, aspectos renascentistas etc.

Quando decaiu a Alta Idade Média, as universidades católicas iniciaram a cultuar o pensamento clássico sem o tempero filtrador das lições de Santo Tomás de Aquino; junto com as artes gregas e romanas do período áureo, introduziram-se, até mesmo no Vaticano, costumes que as acompanhavam – bebedeiras, orgias, assassinatos por interesse. Desse declínio, acompanhado da releitura social de que o homem pode e deve se libertar de tudo – até de Deus! –, vai-se repetindo o lema “Cristo sim, a Igreja não” (Reforma Protestante), mais tarde mudado em “Deus sim, Cristo não” (Revolução Francesa), que finalmente culminará em “Nem Cristo, nem Deus” (Revolução Russa).

O pensamento moderno é o caos pela tentativa, radical em Nietzsche, de matar Deus e de celebrar o homem – no positivismo de Augusto Comte, “a religião da humanidade”, percebemos quão ridícula foi tal tentativa.

Toda a desordem moral, liberalismo de costumes, ecumenismos desviados, ódio ao catolicismo, críticas infundadas à Idade Média, preguiça mental, e modo de pensar notadamente protestante, romanticamente doentio e filosoficamente cripto-socialista, provém dessa estrutura que resolveu expulsar Deus e Sua Igreja da influência que exercia, sadiamente, sobre o Estado e as sociedades.

A Europa, com a filosofia defendida por seus atuais líderes políticos, ameaça romper com seu passado e fazer triunfar esse modernismo social e cultural.

“Nos nossos dias, percebe-se uma crise cultural de proporções insuspeitáveis. Certamente o substrato cultural de hoje apresenta bom número de valores positivos, muitos dos quais fruto da evangelização; mas ao mesmo tempo, eliminou valores religiosos fundamentais e introduziu concepções enganosas, que não são aceitáveis do ponto de vista cristão.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso Nueva Evangelización, Promoción Humana, Cultura Cristiana. Jesucristo ayer, hoy y siempre, em Santo Domingo, a 12 de outubro de 1992, in “suppl. a L´Osservarore Romano”, nº 238, de 14 de outubro de 1992, IV, pp. 21-22)

Não se quer, com isso, pregar que a sociedade medieval foi perfeita.

Abusos houve –mesmo que tenhamos a defesa do brocardo jurídico abusum non tollit usum. Se essa sociedade terminou, somos chamados a estar atentos agora, quando o mundo moderno e o conceito de Estados-Nação estão desaparecendo.

Dialogando com a modernidade, queremos sua conversão.

E mais do que isso, vigiemos e denunciemos as explosões típicas do término de um determinado período histórico – e é exatamente o que estamos vivendo. Precisamos construir uma nova sociedade, uma nova cultura, aproveitando tudo de bom que na atual existe, mas filtrando-a com o bom senso católico.

Ao passado não se volta, tradição não é isso: é passar adiante o que há de bom.

Da Idade Média, ainda guardamos aquilo que nem mesmo é exclusivo dela, a Fé católica e apostólica e aspectos de sua influência nas comunidades humanas.

O Reino não terminou com sua máxima expressão terrena! Aliás, foi máxima até agora, pois nossa vocação é construir uma nova, em que o amor volte a reinar!

Cristo, Rei do Universo não quis só reinar na terra na Idade Média, e sim hoje o quer.

E quer se nos utilizar, Seus membros, Seus instrumentos, através do apostolado, de nosso desempenho dos deveres de estado, do cultivo da oração, em suma, da gana por fazer a Solenidade de Cristo Rei perpetuar-se no campo secular.

“Se bem que a Idade Média tenha sido uma época de Cristandade, e o foi por excelência, é preciso deixar bem claro que a Cristandade não se identifica com a Idade Média. A Cristandade é uma vocação permanente da Igreja e dos políticos cristãos. Nem sempre se poderá realizar hic et nunc, por exemplo nos países comunistas, ou inclusive nos países liberais, enquanto sigam sendo tais. Todavia, nem por isso a Igreja e os cristãos que atuam na ordem temporal renunciarão definitivamente a dito ideal. (...) Também hoje, a Igreja, se bem que viva em um regime não-cristão ou, como queria Péguy, pós-cristão, não pode renunciar para sempre ao ideal da Cristandade, que não é outra coisa que a impregnação social dos princípios do Evangelho. E se, porventura, aparecesse uma nova Cristandade, seria substancialmente igual à da Idade Média, ainda que acidentalmente diferente, atendendo à diversidade de condições que caracteriza a época atual em comparação com aquela, tanto no campo econômico como no social. Todo o resgatável deverá ser salvo. Porém, o ideal segue de pé.” (SÁENZ, Pe. Alfredo, SJ. La Cristiandad. Una realidad histórica. Pamplona: Gratis Date, 2005, p. 16)

Depois continuamos, aguardem!

Fonte: É Razoável Crer?

Mitos Litúrgicos

Mitos Litúrgicos

Autor: Francisco Dockhorn

Revisão teológica: Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen-RS

Retirado do site: Reino da Virgem

Mito 2: "A Eucaristia é para ser comida e não para ser adorada"

É para ser adorada, sim.

A Hóstia consagrada é a Presença Real e substancial de Nosso Senhor, e por isso a Santa Igreja dedica a ela toda a adoração.

O Santo Padre Bento XVI responde (Exortação Sacramentum Caritatis, n.66, de 2006) :"...aconteceu às vezes não se perceber com suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do Santíssimo Sacramento; uma objeção então em voga, por exemplo, partia da idéia que o pão eucarístico nos fora dado não para ser contemplado, mas comido. Ora, tal contraposição, vista à luz da experiência de oração da Igreja, aparece realmente destituída de qualquer fundamento; já Santo Agostinho dissera: « Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (...) peccemus non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (...) pecaríamos se não a adorássemos ». De facto, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d'Aquele que comungamos."

Dizer que a Eucaristia não é para ser adorada implica em negar a que a Hóstia Consagrada é o Corpo de Nosso Senhor, ou pensar que Deus não é digno de adoração...

Fonte: É Razoável Crer?

O Monge domador dos animais

O Monge domador dos animais

Por Thiamer Toth

Muitos jovens estariam prontos para matar o dragão nos bosques, como Siegfied; mas, quando se trata do dragão de suas más tendências, não tem coragem e paciência para lhe dar combate. Preferem renunciar a tão santo trabalho.

Uma tarde, o Abade de um mosteiro perguntou a um dos seus monges: ”O que é que fizestes hoje!” – Eu – respondeu o monge – como todos os outros dias, tenho estado tão ocupado que as minhas poucas forças não bastariam para o meu trabalho sem o auxílio da graça divina. Todos os dias eu devo guardar dois falcões, amarrar dois veados, obrigar dois gaviões a fazerem a minha vontade, vencer um verme, domar um urso e tratar um doente.

— Que dizes tu?—— interrogou o Abade, rindo às gargalhadas. — No mosteiro não se faz semelhantes trabalhos!

—No entanto, é isso que eu faço - replicou o monge. — Os dois falcões são os meus olhos, que eu devo vigiar continuamente para que não se detenham sobre os objectos proibidos. Os dois veados são os meus pés, cuja marcha devo ordenar, se não quero que me conduzam pelo caminho do mal. Os dois gaviões são as minhas mãos, que devo obrigar ao trabalho e a fazer o bem. O verme é a minha língua, que tem necessidade de ser reprimida mil vezes por dia para não dizer palavras vis e superficiais. O urso é o meu coração ,cujo egoísmo e vaidade tenho de dominar. E o doente é o meu corp0, com o qual tenho de ter incessantes precauções, para que não se apodere dele a sensualidade.

Este monge tinha muita razão. A luta contra os nossos instintos desordenados assemelha-se ao trabalho do domador; e todos aqueles que querem formar bem o seu caráter tem de entregar-se diariamente a este trabalho... E tu também, meu filho.

Não se podem realizar grandes coisas, vir a ser um grande homem, um grande santo, senão com uma grande paixão. Uma paixão em si mesma, não é um mal: mas, se a não dominas a tempo, pode vir a sê-lo. Na formação do teu caráter, não se te pedirá que arranques as paixões, mas que tires delas habilmente partido, que as faças tuas aliadas, tuas companheiras de armas. Não escutes os conselhos que elas te deram, serve-te, porém, de suas forças. Se as paixões são más conselheiras, são também inapreciáveis auxiliares.

É precisamente a paixão bem dominada que torna a vontade firme. Não poderão vencer-se todos os obstáculos senão prosseguindo apaixonadamente um nobre objetivo. À paixão assemelha-se ao fogo, pode ser uma benção ou uma maldição, como bem disse Schiller no seu canto do sino: “Se o homem o domina, o sustém, o fogo é poderoso para o bem“

Lembre-se sempre disso: “ Facienti quod est in se, Deus non degegat gratiam”: àquele que faz tudo quanto dele depende, nunca Deus recusa sua graça.

Fonte: O Jovem de Caráter e É Razoável Crer?

Santa Tereza Dávila - Rogai por nós!

Santa Tereza Dávila - Rogai por nós!

Santa Tereza, certa vez, disse que ninguém pode enganar uma alma perfeita, porque ela sabe por experiência o valor das coisas terrenas. – os santos não foram enganados.

Dizia ela às suas filhas espirituais: “coisa imperfeita me parece este queixar-mo-nos constantemente de males ligeiros; se podeis sofre-los, não o façais. O mal, quando é grave, queixa-se por si mesmo […]. Fraquesas e males de mulheres, esquecei-vos de os lamentar. Quem não perde o costume de queixar-se e de contar tudo, a não ser a Deus, nunca acabará. Sabei sofrer um pouco por amor à Deus, sem que todos o saibam […]Não me refiro a males sérios, mas aos pequenos males que se podem suportar de pé. Lembremo-nos dos nossos Santos Padres passados…Pensais que eram de ferro? Se não nos decidirmos a tragar de uma vez a morte e a falta da saúde, nunca faremos nada” (Santa Tereza Dávila – cit. em J. Urtega, Deus e os filhos, Quadrante, São Paulo, pag.52)

Fonte: É Razoável Crer?

Seguir Jesus é Adrenalina na Veia!

Seguir Jesus é Adrenalina na Veia!

Por A Catequista em 30/09/2011

No dicionário, uma das possíveis definições de aventura é “ação ou situação arriscada”. Quem já deu alguns passos – poucos ou muitos – na amizade com Cristo, deve ter notado que o Senhor tem mania de nos colocar em circunstâncias altamente estressantes. Vez por outra, nos vemos como que à beira de um abismo e, lá na outra ponta, Ele nos estende a mão e nos convida a saltar como quem chama pra tomar um sorvete:

– Vem amigo, tenha um namoro casto!

– Não se desespere com o pouco dinheiro. Estou cuidando de tudo!

– Não se corrompa para manter o emprego. É melhor ser desempregado do que ser desonesto.

– Que mérito há em fazer o bem somente a quem é legal contigo? Ajude o cara que te sabotou!

– Te perseguem por ser cristão? Dont worry… Vai piorar! Tá querendo ter mais moleza do que o Mestre aqui?

Diante de cada um dos Seus apelos, nós cristãos podemos dar, basicamente, três respostas diversas:

1) “Só se for agora, ninguém salta como eu!” – Saltamos confiando em nós mesmos, na nossa própria capacidade e… PUF!!! Este é o som que se ouve no fundo do abismo, logo em seguida.
“Ah, tá… Beijo, me liga!” – Retrocedemos e, em vão, buscamos atalhos que nos permitam chegar ao Senhor de forma mais fácil e menos arriscada. No fundo, tememos que, se fizermos a vontade dEle, vamos nos dar mal.

3) “Tô me borrando todo, mas eis-me aqui, Senhor!” – Saltamos o abismo, ainda que nossas pernas estejam trêmulas (devido à noção da nossa incapacidade humana). Dizemos SIM a Cristo em nossa vida concreta, pois cremos que Ele nunca decepciona Seus filhos. Isso é ter fé.

Olhando para a vida de São Pedro, podemos muito apropriadamente encaixá-lo no item três citado acima – afinal, ele era o Apóstolo que amava a Cristo mais do que os outros (Jo 21:15). Entretanto, ao menos em uma ocasião, a sua fé vacilou. Por exemplo, quando viu Jesus caminhando sobre as águas do mar:

Pedro tomou a palavra e falou: Senhor, se és tu, manda-me ir sobre as águas até junto de ti! Ele disse-lhe: Vem! Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: Senhor, salva-me! No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste? (Mt 14:28-31)

Entretanto, anos mais tarde, esse mesmo homem que negou o Mestre temendo sofrer como Ele, foi capaz de se expor ao martírio, morrendo também na cruz.

A FÉ É UM PROBLEMA DE CONHECIMENTO

Algumas nos inspiram confiança nos primeiros minutos em que as conhecemos. Porém, a esta confiança só crescerá e se consolidará com o tempo; quanto mais conhecemos uma pessoa, mais confiamos nela. Assim também acontece com Jesus: quanto mais nos empenhamos em conhecê-Lo, mais somos capazes de crer efetivamente nEle. Não com uma devoção que se manifesta quase que clandestinamente no âmbito restrito das paróquias, mas como uma fé que determina os passos concretos do cotidiano.

A coragem de dar um “salto de fé no abismo” é um fator relevante, mas não é o ponto central. O problema fundamental é de conhecimento: sabemos quem é Cristo? Conhecemos as suas promessas? Cremos que Ele tem poder e amor incomparáveis? Entendemos que Ele é o único capaz de nos realizar realmente? Muitas vezes, fé morna ou vacilante se manifesta naqueles que não alcançaram as respostas adequadas a estas perguntas.

A fé é o reconhecimento da Presença do Deus Vivo entre nós, que atrai a nossa afeição para Ele. É essa afeição que nos impulsiona a realizar as obras de fé e que nos motiva a seguir seus ensinamentos com alegria, por mais que nos dê aquele friozinho na barriga, por mais insano ou inadequado que isso possa parecer aos olhos do mundo.

Que Nossa Senhora nos ajude a dizer “Jesus, eu creio em vós” não só com os lábios, mas também com atitudes.

Fonte: O Catequista

Discurso do Papa: "Novos evangelizadores para Nova Evangelização"

Discurso
Aos participantes do Encontro "Novos evangelizadores para a Nova Evangelização – A Palavra de Deus cresce e se difunde"
Sala Paulo VI
Sábado, 15 de outubro de 2011



Senhores Cardeais,
Venerados irmãos no Episcopado,
Queridos amigos!

Acolhi de bom grado o convite do presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização para estar presente com todos vós, esta noite por um breve momento, e sobretudo amanhã, para a Celebração Eucarística. Agradeço a Dom Fisichella pelas palavras de saudação que me dirigiu em vosso nome, e alegro-me por ver-vos assim tão numerosos. Sei que estais aqui representando muitos outros que, como vós, estão envolvidos na difícil tarefa da nova evangelização. Saúdo também a todos aqueles que estão seguindo este evento através dos meios de comunicação que permitem a tantos novos evangelizadores estar conectados simultaneamente, embora espalhados em diferentes partes do mundo.

Tendes escolhido como frase-guia para a vossa reflexão de hoje a expressão: "A Palavra de Deus cresce e se difunde". Várias vezes o evangelista Lucas usa essa fórmula nos Atos dos Apóstolos; em várias circunstâncias, ele afirma, de fato, que "a Palavra de Deus crescia e se difundia" (cf. At 6,7; 12,24). Mas no tema desta jornada vós tendes alterado o tempo dos dois verbos, para destacar um aspecto importante da fé: a certeza consciente de que a Palavra de Deus é sempre viva, em cada momento da história, até os nossos dias, porque a Igreja a atualizada através de sua fiel transmissão, da celebração dos sacramentos e do testemunho dos crentes. Por essa razão, nossa história está em plena continuidade com aquela da primeira Comunidade cristã, vive da mesma seiva de vida.

Mas que terreno encontra a Palavra de Deus? Como no então, também hoje pode encontrar fechamento e rejeição, modos de pensar e de viver que estão longe da busca de Deus e da verdade. O homem moderno está muitas vezes confuso e não consegue encontrar respostas para muitas perguntas que agitam sua mente, em referência ao sentido da vida e às questões que surgem nas profundezas do seu coração. O homem não pode evitar essas questões que tocam o significado de si e da realidade, não pode viver em uma só dimensão! Ao invés disso, muitas vezes, é removida a busca do essencial na vida, enquanto lhe é proposta uma felicidade efêmera, que contenta por um momento, mas deixa, logo depois, tristeza e insatisfação.

No entanto, não obstante esta condição do homem contemporâneo, podemos ainda afirmar com certeza, como no início do Cristianismo, que a Palavra de Deus continua a crescer e a se difundir. Por quê? Gostaria de mencionar pelo menos três razões. A primeira é que o poder da Palavra não depende principalmente de nossa ação, dos nossos meios, do nosso "fazer", mas de Deus, que esconde o seu poder sob os sinais da fraqueza, que se faz presente na brisa suave da manhã (cf. 1 Re 19, 12), que se revela no lenho da Cruz. Devemos sempre acreditar no humilde poder da Palavra de Deus e deixar que Deus aja! O segundo motivo é porque a semente da Palavra, como narra a Parábola evangélica do Semeador, ainda cai em terra boa que a recebe e produz frutos (cf. Mt 13,3-9). E os novos evangelizadores fazem parte desse campo que permite que o Evangelho cresça em abundância e transformar suas vidas e as vidas dos outros. No mundo, mesmo se o mal faça mais barulho, continua a existir a terra boa. A terceira razão é que o anúncio do Evangelho verdadeiramente chegou até os confins do mundo e, mesmo no meio da indiferença, incompreensão e perseguição, muitos continuam, também hoje, com coragem, a abrir o coração e a mente para acolher o convite de Cristo a encontrá-Lo e tornar-se seus discípulos. Não fazem barulho, mas são como a semente de mostarda que se torna uma árvore, o levedo que fermenta a massa, o grão de trigo que se quebra para dar lugar à espiga. Tudo isso, se, por um lado, traz conforto e esperança, porque mostra o incessante fermento missionário que anima a Igreja, por outro, deve preencher a todos de um renovado sentido de responsabilidade com a Palavra de Deus e a difusão do Evangelho.

O Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, que instituí no ano passado, é um instrumento precioso para identificar as grandes questões que se agitam nos diversos setores da sociedade e da cultura contemporânea. Ele é chamado a oferecer um auxílio particular à Igreja na sua missão, sobretudo no interior daqueles países de antiga tradição cristã que parecem tornados indiferentes, se não às vezes hostis à Palavra de Deus. O mundo de hoje precisa de pessoas que anunciem e testemunhem que é Cristo a ensinar-nos a arte de viver, a estrada da verdadeira felicidade, porque é Ele mesmo a estrada da vida; pessoas que tenham antes de tudo elas mesmas o olhar fixo em Jesus, o Filho de Deus: a palavra do anúncio deve ser sempre imersa em um relacionamento intenso com Ele, em uma intensa vida de oração. O mundo de hoje precisa de pessoas que falem com Deus, para poderem falar de Deus. E devemos também recordar sempre que Jesus não redimiu o mundo com belas palavras ou meios vistosos, mas com o seu sofrimento e com a sua morte. A lei do grão de trigo que morre na terra vale também hoje; não podemos dar a vida a outros sem dar a nossa vida: "quem perder a sua vida por mim e pela causa do Evangelho, a salvará", diz-nos o Senhor (Mc 8,35). Vendo a todos vós e conhecendo o grande compromisso que cada um coloca a serviço da missão, estou convencido de que os novos evangelizadores se multiplicarão sempre mais para dar vida a uma verdadeira transformação de que o mundo de hoje tem necessidade. Somente através de homens e mulheres plasmados pela presença de Deus a Palavra de Deus continuará o seu caminho no mundo, produzindo frutos.

Queridos amigos, ser evangelizadores não é um privilégio, mas um compromisso que provém da fé. À pergunta que o Senhor dirige aos cristãos: "Quem enviarei e quem andará por mim?", respondais com a mesma coragem e a mesma confiança do Profeta: "Eis-me aqui, Senhor, envia-me" (Is 6,8). Peço-vos que vos deixeis plasmar pela graça de Deus e correspondais docilmente à ação do Espírito do Ressuscitado. Sejais sinais de esperança, capazes de olhar para o futuro com a certeza que provém do Senhor Jesus, o qual venceu a morte e nos deu a vida eterna. Comuniqueis a todos a alegria da fé com o entusiasmo que provém do serem movidos pelo Espírito Santo, porque Ele faz novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5), confiando na promessa feita por Jesus à Igreja: "E eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).

Ao final desta jornada, peçamos também a proteção da Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, enquanto acompanho de coração a cada um de vós e o vosso empenho com a Bênção Apostólica.

Fonte: Canção Nova

Discurso a membros da Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice

Discurso
Aos participantes do Encontro Internacional promovido pela Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice
Sala Clementina
Sábado, 15 de outubro de 2011



Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs,

estou muito contente em acolher-vos por ocasião do Encontro anual da Fundação Centesimus Annus - Pro Pontifice, no qual vos reunis durante dois dias de estudo sobre o tema da relação entre família e negócios. Agradeço ao presidente, Dr. Domingo Sugranyes Bickel, pelas amáveis ​​palavras que me dirigiu, e saúdo cordialmente a todos vós. Recorre neste ano – como foi observado – o 20º aniversário da Encíclica Centesimus Annus, do Beato João Paulo II, publicada 100 anos após a Rerum Novarum, bem como o 30º da Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Tal dúplice celebração torna ainda mais atual e oportuno o vosso tema. Nestes 120 anos de desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja aconteceram no mundo grandes mudanças, que não eram sequer imagináveis no momento da histórica encíclica do Papa Leão XIII. No entanto, ao mudarem as condições externas, não se alterou o patrimônio interno do Magistério social, que sempre promove a pessoa humana e a família, no seu contexto de vida, também de negócios.

O Concílio Vaticano II falou da família em termos de Igreja doméstica, de "santuário intocável", onde a pessoa amadurece nos afetos, na solidariedade, na espiritualidade. Também a economia, com as suas leis, deve sempre considerar o interesse e a proteção de tal célula primária da sociedade; a própria palavra "economia" em sua origem etimológica contém uma referência à importância da família: oikia e nomos, a lei da casa.

Na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, o Beato João Paulo II indicou para a instituição familiar quatro tarefas que gostaria de recordar brevemente: a formação de uma comunidade de pessoas; o serviço à vida; a participação social e a participação eclesial.São todas funções em cuja base está o amor, e é a isso que educa e forma a família. "O amor – afirma o venerado Pontífice – entre o homem e a mulher no matrimônio e, de forma derivada e ampliada, o amor entre membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, parentes e familiares – é animado e impelido por um interior e incessante dinamismo, que conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar" (n. 18). Da mesma forma, o amor está na base do serviço à vida, fundado na cooperação que a família dá à continuidade da criação, à procriação do homem feito à imagem e semelhança de Deus.

E é principalmente na família que se aprende como a atitude certa a se viver em sociedade, também no mundo do trabalho, economia, negócios, deve ser guiada pela caritas, na lógica da gratuidade, da solidariedade e da responsabilidade de uns pelos outros. "As relações entre os membros da comunidade familiar – escreve ainda o Beato João Paulo II – são inspiradas e guiadas pela lei da gratuidade que, respeitando e favorecendo em todos e em cada um a dignidade pessoal como único título de valor, torna-se acolhida cordial, encontro e diálogo, disponibilidade desinteressada, serviço generoso, solidariedade profunda" (n. 43). Nessa perspectiva, a família, de mero objeto, torna-se sujeito ativo e capaz de recordar o "rosto humano" que deve ter o mundo da economia. Se isso vale para a sociedade em geral, assume ainda maior proeminência na comunidade eclesial. Também na evangelização, na verdade, a família tem um lugar de destaque, como recordei recentemente, em Ancona: não é simplesmente destinatária da ação pastoral, mas é sua protagonista, chamada a tomar parte na evangelização de modo próprio e original, colocando a serviço da Igreja e da sociedade o próprio ser e o próprio agir, como íntima comunidade de vida e amor (cf. Exort. ap. Familiaris Consortio, n. 50). Família e trabalho são lugares privilegiados para a realização da vocação do homem, que colabora na obra criadora de Deus no presente.

Como tendes observado nos vossos trabalhos, na difícil situação que estamos experimentando, assistimos, infelizmente, a uma crise do trabalho e da economia, que se acompanha por uma crise familiar: conflitos de cônjuges, de gerações, aqueles entre o tempo para a família e para o trabalho, a crise de emprego, criam uma situação complexa de mal-estar que afeta o próprio viver social. É preciso, por isso, uma nova síntese harmoniosa entre família e trabalho, ao qual a Doutrina Social da Igreja pode oferecer sua valiosa contribuição. Na Encíclica Caritas in veritate, quis enfatizar como o modelo familiar da lógica do amor, da gratuidade e do dom deve ser alargado a uma dimensão universal. A justiça comutativa – "dar para receber" – e aquela distributiva – "dar por dever" – não são suficientes no viver social. Porque, para haver verdadeira justiça, é necessário adicionar gratuidade e solidariedade. "A solidariedade consiste primariamente em que todos se sintam responsáveis por todos e, por conseguinte, não pode ser delegada só ao Estado. Se, no passado, era possível pensar que havia necessidade primeiro de procurar a justiça e que a gratuidade intervinha depois como um complemento, hoje é preciso afirmar que, sem a gratuidade, não se consegue sequer realizar a justiça... Neste caso, caridade na verdade significa que é preciso dar forma e organização àquelas iniciativas econômicas que, embora sem negar o lucro, pretendam ir mais além da lógica da troca de equivalentes e do lucro como fim em si mesmo" (n. 38). "O mercado da gratuidade não existe, tal como não se podem estabelecer por lei comportamentos gratuitos, e todavia tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco" (n. 39). Não é missão da Igreja definir os caminhos para enfrentar a crise. No entanto, os cristãos têm o dever de denunciar os males, testemunhar e manter vivos os valores que sustentam a dignidade humana, e promover as formas de solidariedade que favorecem o bem comum, a fim de que a humanidade se torne sempre mais família de Deus.

Queridos amigos, espero que as reflexões que surgiram em vosso encontro vos ajudem a assumir um papel cada vez mais ativo na difusão e aplicação da Doutrina Social da Igreja, sem esquecer que "o desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade – caritas in veritate –, do qual procede o desenvolvimento autêntico, não o produzimos nós, mas é-nos dado" (n. 79). Com esse desejo, enquanto vos confio à intercessão da Virgem Maria, concedo de coração a todos vós e aos vossos queridos uma especial Bênção Apostólica.

Fonte: Canção Nova

Milagre de Nhá Chica é aprovado por comissão médica do Vaticano

Milagre de Nhá Chica é aprovado por comissão médica do Vaticano

A comissão médica da Congregação das Causas dos Santos analisou o milagre ocorrido por intercessão da Venerável Serva de Deus Nhá Chica em favor da senhora Ana Lúcia. Todos os sete médicos deram voto favorável. A cura não tem explicação científica.

A grande graça atribuída a Nhá Chica refere-se à professora Ana Lúcia Meirelles Leite, de Caxambu (MG). Ana Lúcia foi curada de um problema congênito muito grave no coração, sem precisar passar por cirurgia, apenas pelas orações de Nhá Chica. O fato realizou-se em 1995.

Dessa forma, a Venerável Serva de Deus dá mais um passo em direção à Beatificação. Em janeiro deste ano, foram reconhecidas suas virtudes heróicas e Nhá Chica foi proclamada venerável. Resta, agora, passar pela comissão de Cardeais e Bispos, que devem confirmar a opinião dos médicos e, depois, o Papa assinar o decreto de beatificação e marcar a data.

O anúncio foi realizado na última quinta-feira, 13.

Fonte: Canção Nova

A nobre missão de educar um ser humano

A nobre missão de educar um ser humano

O transcurso do Dia do Professor (a), em 15 de outubro, é uma oportunidade para saudá-lo, agradecer pelo trabalho dedicado aos nossos jovens; e de oferecer-lhe uma reflexão sobre esta nobre missão. Eu me incluo entre eles porque há 40 anos exerço o magistério.

Não há dúvida de que no rol das profissões, a de professor sempre se destacou pelo fato de trabalhar diretamente com a mais nobre realidade do mundo: o coração, a inteligência e alma do ser humano. Nada é mais importante do que o homem e a mulher. Santo Irineu já dizia no século II que “o homem é a glória de Deus”; é claro que falava do ser humano, não apenas do masculino. A missão do professor, mais do que ensinar, é educar.

É nobre e necessário dominar o aço e os microorganismos, ouvir as galáxias e o cosmo, construir casas e computadores, mas muito mais nobre ainda é formar o homem, senhor de tudo isso. Os sábios gregos já diziam: “dá-me uma sala de aula e mudarei o mundo!”

Ghandi dizia que “a verdadeira educação consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa”. É como fazia Michelangelo com a pedra. Certo dia, ele viu um bloco de mármore e disse a seus alunos: “Aí dentro há um anjo, vamos colocá-lo para fora!”. Depois de algum tempo, com o seu gênio de escultor, um anjo surgiu da pedra. Então os discípulos lhe perguntaram como tinha conseguido aquela proeza. Ele respondeu: “O anjo já estava aí, apenas tirei os excessos que estavam sobrando”. Educar é isso, é ir com paciência e perícia, sabedoria e bondade, retirando os maus hábitos e descobrindo as virtudes, até que o “anjo” apareça em cada aluno.

O grande educador francês Michel Quoist dizia “que não é para si que os homens educam os seus filhos, mas para os outros e para Deus. Educar é colaborar com Deus”. O jovem e frágil aluno de hoje será o condutor da nação amanhã; o que for semeado hoje no seu coração, na sua mente e no seu espírito, será colhido amanhã pela sociedade. Daí a grande tarefa e enorme responsabilidade do professor, em qualquer nível. Já esqueci os nomes de muitas pessoas ilustres que passaram em minha vida, mas nunca esqueci os nomes das quatro primeiras professoras do curso primário.

O que o aluno espera de um professor? O que os pais e a nação esperam de nós? Em primeiro lugar, que sejamos honestos, honrados e capacitados, exigências mínimas de quem carrega o título de mestre. Sabemos que o homem moderno está cansado de discursos… Quer ver bons exemplos, a começar do professor. O mestre romano Sêneca dizia que “de nada vale ensinar-lhes o que é a linha reta, se não lhes ensinarmos o que é a retidão”.

O aluno só aprende com satisfação quando o professor ensina com entusiasmo e sabe motivá-lo. Os alunos respeitam o professor que domina a matéria e sabe motivar para o aprendizado. Um homem motivado vai à Lua, mas sem motivação não atravessa a rua.

O aluno espera que o professor tenha paciência com ele, tenha a humildade de não usar o seu conhecimento para humilhá-lo e que não use do poder da avaliação para destruir a sua autoestima. O aluno espera que o professor prepare bem as aulas. Nada pior para um aluno do que ter que assistir a uma aula maçante, mal preparada, ministrada por alguém que não conhece o que ensina. É um grande desrespeito… para não dizer, um crime. Ele quer ver o seu mestre ensinar com didática, competência e clareza, além de pontualidade no horário e apresentação adequada. Ele quer vê-lo como um bom amigo que não lhe dá apenas informações, mas formação e sabedoria de viver.

João Paulo II, na encíclica Redentor dos Homens, disse que o mundo vai mal porque o homem moderno conquistou o universo, mas perdeu o domínio de si mesmo. Sente-se hoje ameaçado por aquilo que ele mesmo criou com a sua inteligência e construiu com as suas mãos. Por quê? Porque falta-lhe a Sabedoria. Porque junto com a ciência e a tecnologia não cuidou do desenvolvimento e do respeito aos princípios da ética, da moral e da fé. Está cheio de ciência, mas vazio de sabedoria. Ele disse que os falsos profetas e os falsos mestres conheceram o maior sucesso possível no século XX (EV,17).

Sabemos que a felicidade verdadeira, que não acaba, é aquela que nasce no bojo da virtude. Portanto, é na vivência de um magistério autêntico que colheremos os frutos mais doces da profissão.

Felipe Aquino
Professor de física, autor de mais de 60 livros, e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: “Escola da Fé” e “Trocando Idéias” (www.cancaonova.com)

Fonte: Canção Nova

Da Mariologia Bíblica a Dogmática

Da Mariologia Bíblica a Dogmática

Introdução

O estudo dos textos sobre Maria na Bíblia causa em muitos cristãos admiração e perplexidade. Por um lado, se entusiasmam por sua pessoa, ao descobrirem os traços principais da imagem neo-testamentária da mãe de Jesus: a perfeita discípula, seguidora radical de Jesus, irmã mãe da comunidade, profeta da libertação, peregrina na fé, contemplativa no cotidiano... Por outro lado, produz se em não poucos um sentimento de mal estar, quando comparam os dados bíblicos com os que se veiculam na piedade e na liturgia. Acrescenta se a isso a pergunta: afinal, como se chegou a afirmar a Imaculada Conceição ou mesmo a Assunção, se não há nenhum dado bíblico direto sobre estes dogmas? Não bastariam as afirmações bíblicas? Qual é a legitimidade do crescente aumento de espaço da pessoa de Maria na fé católica? Estas e outras perguntas afins só podem ser respondidas recorrendo a alguns princípios e conceitos da teologia fundamental, tais como: o lugar da Escritura no processo de interpretação da fé, função dos dogmas, relação Bíblia-comunidade-Tradição.

I. Relação Bíblia-Tradição na Mariologia

1. Divergência entre exegese e interpretação corrente

Quem leu atentamente e se apropriou das reflexões dos artigos anteriores de Nova Aurora sobre a mariologia bíblica deve ter se perguntado: como vencer o abismo entre a interpretação da Escritura, dada pelas Ciências Bíblicas, e a maneira de compreensão reinante na comunidade eclesial? Constata se que os dados sobre Maria no NT divergem significativamente da interpretação hegemônica no meio dos fiéis. Em sermões, cantos, ladainhas, terços, comentários, celebrações ou "tardes de louvor", acentua-se a maternidade de Maria, mãe de Jesus e nossa mãe. No NT, ao contrário, o acento recai no discipulado, no modelo de fé. A Bem-Aventurança central sobre Maria não diz respeito à maternidade biológica. Ao contrário, ela teve de fazer uma ruptura drástica, abandonando os privilégios da maternidade biológica para entrar humildemente no grupo dos seguidores de Jesus. Aí, sim, sua maternidade recobra pleno valor; ela reúne a comunidade em torno de Jesus, impelindo-a a fazer a Sua vontade. Junto com os apóstolos prepara a vinda do Espírito que continua em nós a missão de Jesus.

O culto a Maria assumiu dimensões gigantescas no catolicismo. Que diferença da sóbria imagem sobre Maria no NT! Para a comunidade das origens, Jesus Cristo, o Filho de Deus Pai e nosso irmão, ocupa todo espaço de reverência e culto. Estritamente falando, não há culto a Maria no NT, embora alguns mariólogos ousem detectar, no relato da visitação (Lc 1), traços de reverência à sua pessoa na afirmação "Bendita és tu entre as mulheres" e "Bendito é o fruto do teu ventre".

Pastoral mente surge o problema da mensagem central dos textos bíblicos sobre Maria, ao seguirmos o consenso dos teólogos e biblistas. Citemos dois exemplos. O relato das Bodas de Caná não se centra na solicitude de Maria e sua capacidade de intercessão ("peça à Mãe que o Filho dá"), mas na intervenção decidida para realizar o sinal que leva à fé. Os dois textos que servem para alimentar a piedade sobre "Nossa Senhora das Dores" têm originalmente outra mensagem central. A referência de Simeão à "espada que transpassará a alma de Maria" (Lc 2,35) se liga à obediência da fé e a deixar-se julgar pela Palavra de Deus. A cena de Maria aos pés de Cruz (Jo 19,25) não tematiza primariamente o sofrimento redentor, mas a hora da glorificação e passagem para o Pai. E o que dizer do uso de Apocalipse 12 na missa da Assunção, sabendo que o texto prioritariamente alude ao povo de Deus (Israel e Igreja), referindo-se a Maria somente "in obliquo", de forma derivada?

Há maneiras equivocadas de resolver esta problemática. A primeira consiste em criar duplo discurso, dirigido a públicos distintos, sem nenhuma articulação entre si. Para os fiéis, fala-se de Maria de maneira ingênua, doce, demasiadamente piedosa. Não há limites, pois se acredita que tudo o que se diz bem de Maria redundará para a glória de Deus e de sua Igreja. Para os estudantes de teologia está reservada a linguagem técnica, precisa, restritiva e fria. A conseqüência é desastrosa para ambos.

Os fiéis continuam com fé ingênua, sem enriquecer-se e corrigir-se com a Escritura e a teologia. Os futuros pastores e agentes pastorais acumulam um saber que não lhes será útil nem na pastoral, nem na sua vida pessoal.

O segundo equívoco reside na absolutização e minimização, seja da vida concreta dos fiéis, seja das ciências bíblicas. De um extremo, surgem os ferozes iconoclastas, que, em nome da fé pura, incontaminada e reta, aniquilam e zombam das manifestações populares marianas. Sem levar em conta o horizonte cultural e religioso dos fiéis, pretendem a todo custo impor uma interpretação minimalista. Do outro extremo, manifesta se a ingenuidade consentida. O agente pastoral repete as manifestações religiosas marianas e as interpretações simplistas, mesmo se não acredita nelas. A mariologia aprendida na faculdade de teologia assemelha-se a um boné esquecido em algum canto da casa, do qual se tem algumas remotas lembranças. Muitos padres recém-ordenados deixam o "chapéu" da teologia pendurado na porta dos fundos da sala de aula. A teologia não "entrou" na sua mente. Momentaneamente justaposta à sua cabeça, perde vigência nos primeiros meses de ministério.

A questão só se resolve com base razoável de conhecimentos, bom senso e sensibilidade pastoral, a partir da compreensão do lugar da Escritura no processo de interpretação da fé atual, vivida pela comunidade eclesial.

Fonte:
Da Mariologia Bíblica à Dogmática
Irmão Afonso Murad (marista)
In: Nova Aurora, 1995 - no 1, São Paulo.

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