sábado, 31 de março de 2012

Bento XVI participa da última pregação da Quaresma

Bento XVI participa da última pregação da Quaresma
Frei Raniero Cantalamessa meditou sobre os ensinamentos de São Gregório de Nissa Cidade do Vaticano (Sexta-feira, 30-03-2012, Gaudium Press) O Papa Bento XVI chegou ontem de sua viagem ao México e Cuba e hoje pela manhã, participou da pregação quaresmal ministrada pelo Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa. Nesta que é a última pregação do ciclo, Frei Raniero falou sobre o caminho para o conhecimento de Deus com base nos escritos de São Gregório de Nissa, padre da Igreja Oriental, que viveu no século IV. Segundo o pregador, para o encontro com Deus "é preciso ir além dos limites da razão". O frei capuchinho disse ainda que a "transição das trevas para a luz é a primeira separação de idéias falsas e errôneas sobre Deus". O pregador da Casa Pontifícia explicou que a busca de Deus não é de excluir a razão porque ninguém é forçado a escolher entre seguir a fé ou a inteligência. O Padre Cantalamessa finalizou dizendo que, se o caminho do intelecto e da alma para Deus parece ser um caminho difícil, não devemos esquecer que o homem de Deus no Monte Calvário, Jesus de Nazaré, se uniu a Deus para sempre. Fonte: Gaudium Press

As cerimônias da Semana Santa

As cerimônias da Semana Santa A última semana da Quaresma é denominada como Semana Santa. Ela é a última a semana que encerra os quarenta dias que antecedem a páscoa da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nessa semana a Igreja celebra os principais episódios do mistério da Paixão. As cerimônias que se fazem durante este período, são solenes e cheias de significado. Vamos enunciar cada uma delas em seus respectivos dias: Domingo de Ramos O Domingo de Ramos (Dominica in palmis), é que propriamente da início à Semana Santa. Nesse domingo comemora-se a entrada triunfante de Nosso Senhor Jesus Cristo em Jerusalém, seis dias antes de sua Paixão. Chama-se "de Ramos" por causa da procissão que se faz neste dia, na qual os fiéis levam na mão um ramo de oliveira, ou de palma. A Sagrada Escritura nos narra que o povo veio ao encontro de Nosso Senhor: atiravam-se vestimentas na sua passagem; cortavam-se galhos de árvore, que se carregavam em sinal de alegria ao canto de: "Hosana ao filho de David! Bendito aquele que vem em nome do Senhor!"(Mt 21, 1-11). Para tornar mais real a lembrança desse fato, antes da missa, o celebrante revestido de paramentos de cor vermelha ou de capa, abençoa os ramos que, logo em seguida são distribuídos aos fiéis presentes. Depois da bênção e distribuição dos ramos, um Diácono proclama o trecho do Evangelho no qual se narra o fato, tal como aconteceu em Jerusalém (Mt 21, 1-11; Mc 11, 1-10; Jo 12,12-16; Lc 19, 28-40). E então, após a leitura, o Celebrante ou o Diácono diz: ---Irmãos e irmãs, imitando o povo que aclamou Jesus, comecemos com alegria a nossa procissão. Os fiéis empunhando seus ramos seguem em procissão para a igreja onde será celebrada a Missa. Levam os ramos em sinal do triunfo real que, sucumbindo na cruz, Cristo alcançou. Baseando-se nas palavras de São Paulo: Se com ele padecemos, com ele também seremos glorificados.(Rm 8, 17). Ramos da Paixão, ramos do triunfo Nosso Senhor quis entrar, antes da sua Paixão, triunfante em Jerusalém, como fora predito: 1º - Para animar os seus discípulos, dando-lhes por esta forma uma prova clara de que Ele ia sofrer espontaneamente; 2º - Para nos ensinar que por sua morte Ele triunfaria do demônio, do mundo e da carne, e que nos abriria as portas do Céu. Os ramos bentos, são um sacramental para o uso dos fiéis. Na liturgia grega e na latina, os ramos de oliveira tinham um caráter simbólico como sinais de esperança, vitória, vida. Os fiéis levam para casa esses ramos que foram solenemente portados na procissão e que, antes receberam a benção da Igreja. Confiados na proteção de Deus, a esses ramos atribui-se eficácia curativa e protetora em ocasiões de perigos, tempestades, raios, incêndios e outras desgraças. A procissão volta à Igreja Chegando de volta a igreja, o clero e o povo encontram a porta, previamente, fechada. Uma parte dos cantores estando dentro da igreja, representando os coros angélicos, entoa o "Gloria laus" (Glória, louvor e honra, a Cristo, Rei redentor). A outra parte, ainda fora do santuário, pede em seus cantos a entrada livre para Cristo que triunfou pela cruz. Acabado o hino, um ministro bate três vezes na porta, que não se abre. Então, o cruciferário --aquele que porta a cruz processional--- bate na porta com o pé da haste cruz. Ai, a porta se abre e deixa entrar a procissão. E o simbolismo desta cerimônia é de fácil interpretação: A Igreja fechada a princípio, representa o céu, que por causa do pecado de Adão e Eva, está fechado e no qual não entra ninguém. Mas agora abrem-se novamente as portas, por virtude da morte de Nosso Senhor na cruz. E as almas remidas por Nosso Senhor Jesus Cristo, o vencedor, podem entrar na Igreja, no Céu. Cerimônia já antiga A procissão, é mencionada por alguns autores já no século IV, ao passo que a benção dos ramos remonta ao século VII ou VIII. O costume da procissão de Ramos provém já desde o século V. Os cristãos se reuniam no Monte das Oliveiras e, após a solene liturgia da Palavra, dirigiam-se em procissão à cidade de Jerusalém, levando ramos de oliveira, recordando a entrada solene de Jesus na cidade santa. A partir do século VII encontramos esse mesmo costume nas Igrejas do do Oriente e do Ocidente. Na Idade Média, essa procissão era realizada de modo piedoso e solene: Cristo era simbolicamente representado por uma cruz ou por um livro do evangelho que ia carregado num andor ornamentado. Usava-se também a figura de um asno de madeira que se deslocava sobre rodas e sobre o qual vinha uma imagem esculpida de Nosso Senhor. E foi também estabelecido o costume de benzer os ramos numa igreja ou capela situada fora dos muros da cidade. Final da cerimônia Após a procissão, o celebrante tira a capa, se estiver revestido dela, e veste a casula roxa, porque apesar destas cenas de entusiasmo e de glória na procissão pouco tempo depois destas aclamações dos judeus de Jerusalém, vão ser iniciados os opróbrios, escárnios e as dores pungentíssimas da Paixão. A Missa solene é iniciada. Nela é cantado o Evangelho da Paixão segundo São Mateus, Marcos ou Lucas conforme o ciclo das leituras, por três diáconos ou três sacerdotes. Um deles faz o papel do evangelista, historiando o drama; outro canta as palavras de Nosso Senhor e o terceiro diz a parte da sinagoga (palavras dos judeus, de Pilatos e dos apóstolos). Chegando a parte em que se diz: "emisit spiritum" (entregou o espírito) todos ajoelham-se e prostram-se. Em certos países, osculam a terra. No final da leitura, diz-se: Palavra da Salvação, mas não se oscula o livro. Após a homilia, a missa prossegue normalmente, até seu final. Fonte: Gaudium Press

Estudantes de jornalismo conhecem mais sobre religião em Roma

Estudantes de jornalismo conhecem mais sobre religião em Roma
Cidade do Vaticano (Sexta-feira, 30-03-2012, Gaudium Press) Um grupo de estudantes de jornalismo da Universidade de Columbia está em Roma para aprender sobre como desenvolver textos que abordam a religião. Durante o tempo que estiverem participando deste curso, os alunos terão contato com os aspectos que envolvem a religião. Além das aulas, eles estão percorrendo os mais importantes locais religiosos acompanhados do Cardeal James Stafford, Penitenciário-mor da Penitenciária Apostólica. Segundo o prelado, "é importante para os alunos que aprendam e se informem sobre os assuntos ligados à religião, assim como os jornalistas devem conheçam melhor a realidade da vida da Igreja. Como parte do projeto, os estudantes publicam seus artigos em um blog. (LB) Fonte: Gauidium Press

Conferência Episcopal do Uruguai se levanta contra aborto e eutanásia

Conferência Episcopal do Uruguai se levanta contra aborto e eutanásia Montevidéu (Sexta-feira, 30-03-2012, Gaudium Press) Enquanto ainda se debate sobre a despenalização do aborto e da eutanásia, no Uruguai, os Bispos da Conferência Episcopal do país (CEU), reiteraram sua rejeição a possível decisão do governo. A sociedade paraguaia ainda está consternada pelo assassinato de 16 pacientes que se encontravam na terapia intensiva de diversos hospitais do país. O Conselho Permanente da CEU, em mensagem por ocasião da Páscoa assinalou que essa rejeição surge "em dias em que a opinião pública está comovida por fatos que significam a perda de vidas humanas", os bispos referem-se a morte das 16 pessoas, totalmente indefesas, que se encontravam na Unidade de Terapia Intensiva, em uma Clínica uruguaia e que ali foram mortas. Autoridades do Uruguai detiveram, há poucos, dias três enfermeiros acusados de terem assassinado aqueles 16 pacientes. Segundo a polícia, já são por volta de 50 as vítimas. Outras fontes afirmam que foram cometidos 200 homicídios através de injeções de morfina e ar. Os prelados ainda rezam "por aqueles que tiveram suas vidas ceifadas, por suas famílias e também pelos causadores destas mortes". Esperam eles, unidos com a sociedade uruguaia, que as medidas "contribuam com o fortalecimento da confiança nos órgãos de saúde" e estimulem a defesa da vida em qualquer de suas etapa. Vitória de Jesus sobre a morte Apesar de estarem com o foco no debate da despenalização do aborto, que ainda está sendo decidida na Câmara de Representantes, os Bispos lutam também em defesa dessas vidas humanas, também indefesas. "Reafirmamos nossa convicção, garantida pela ciência, de que cada vida que está em gestação é a de um ser humano chamado a nascer e continuar desenvolvendo-se em todas as dimensões da existência e assim participar com todos seus deveres e direitos na vida de nossa sociedade", afirmam os prelados. Ao final do documento, os bispos animam aos "crentes e não crentes para que estes dias, nos quais nós cristãos celebraremos a Vitória de Jesus sobre a morte, nos ajudem a crescer em um sustentado amor e respeito a vida de todas as pessoas". (EPC) Com informações da EWTN Notícias. Fonte: Gaudium Press

Arquidiocese de Fortaleza promove maior encenação de Via Sacra da cidade

Arquidiocese de Fortaleza promove maior encenação de Via Sacra da cidade Fortaleza (Sexta-feira, 30-03-2012, Gaudium Press) No dia 9 de abril a Arquidiocese de Fortaleza, Ceará, promoverá a representação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo no ginásio poliesportivo Paulo Sarasate, localizado no centro da capital cearense. O espetáculo contará com a presença de 150 atores, um palco móvel e uma procissão com mais de 1500 pessoas que percorrerá as principais avenidas da cidade promovendo reflexões sobre as 14 estações da Via Sacra. Segundo um dos organizadores do evento, Tobias Cortez, "o objetivo é levar ao fortalezense o anúncio do imenso amor de Deus por cada um de nós". Vários sacerdotes ouvirão os fiéis em confissão durante o trajeto. Esse é o maior espetáculo sobre a Paixão de Cristo da cidade. (EPC) Com informações da Arquidiocese de Fortaleza. Fonte: Gaudium Press

sexta-feira, 30 de março de 2012

Terço cantado em CD promove devoção à Divina Misericórdia por todo o País

Terço cantado em CD promove devoção à Divina Misericórdia por todo o País
Curitiba (Quinta-Feira, 29/03/2012, Gaudium Press) O Santuário da Divina Misericórdia, em Curitiba, no Paraná, promove hoje a partir das 19h30min o lançamento do novo CD do Terço da Divina Misericórdia, cantado em diversas melodias. Segundo estimativa dos organizadores, o evento deve reunir as cerca de 2 mil pessoas que todas as quintas-feiras se encontram para participar do grupo de oração no mesmo local.

CD Terço Cantado.jpg
No novo CD o Terço da Divina Misericórdia
é cantado em diversas melodias
De acordo com a assessoria de comunicação do Santuário da Divina Misericórdia, a produção do CD levou aproximadamente um ano para ser finalizada e envolveu diversos cantores, entre eles destacam-se: Eduardo Filho, Fábio Buttere, Hemerson Jean, Joelma Datovo, Lucas Fruhauf, Paula Reis e Valdete Barbosa, além de ter também a participação do padre Silvio Roberto, diretor do Apostolado da Divina Misericórdia.

Segundo a cantora Paula Reis, coordenadora do projeto, a ideia inicial era somente regravar as melodias existentes do primeiro CD, mas no decorrer dos trabalhos a produção foi tomando forma com novas melodias e com a regravação de outras já conhecidas. Outra novidade desta obra, que a caracteriza como inédita, é o fato de trazer canções cantadas em outros idiomas e versadas para o português. Ainda para homenagear os devotos que freqüentam o Santuário, a primeira faixa do CD foi gravada ao vivo, com a participação dos fiéis nas orações do Pai Nosso, Ave Maria, o Creio e uma leitura do diário de Santa Faustina.

Padre Silvio explica que a obra será de grande ajuda e importância tanto para os que já conhecem a devoção, como para os que não a conhecem ainda. "Para quem já conhece a devoção à Divina Misericórdia este Cd vai ajudar a rezar ainda mais com as lindas melodias. Já para quem ainda não fez esta experiência, será uma oportunidade para descobrir uma espiritualidade nova, capaz de transformar a vida", disse.

O lançamento do CD será marcado com uma Santa Missa, celebrada hoje ás 19h30 com a participação de todos os envolvidos na produção da obra musical. Logo após haverá o habitual grupo de oração, seguido de uma pregação do padre Sílvio sobre as orações e melodias do Terço da Divina Misericórdia. Na sequência será realizada a Adoração ao Santíssimo Sacramento com orações e melodias do terço e a apresentação do CD.

O Santuário da Divina Misericórdia fica localizado na Estrada do Ganchinho, 570, no bairro Umbará, na capital paranaense. Os interessados em adquirir o CD podem acessar o portal www.misericordia.org.br e o comprá-lo através da loja virtual. Mais informações pelo telefone

Apostolado da Divina Misericórdia

A Mensagem da Divina Misericórdia, deixada por Jesus ao mundo por meio de Santa Faustina Kowalska, tem se espalhado cada vez mais por todos os cantos da terra. A Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição, que nasceu na Polônia em 1673 e hoje se encontra espalhada pelo mundo, assumiu a difusão desta mensagem como um dos elementos do seu apostolado.

O Santuário da Divina Misericórdia, em Curitiba, é o primeiro e mais conhecido do Brasil. Há também outros Santuários na Polônia, EUA e Ruanda. Entre as diversas formas de culto à Divina Misericórdia, a Festa, comemorada no segundo domingo de Páscoa, e o Terço da Divina Misericórdia ocupam uma posição de destaque. (FB)
Fonte: Gaudium Press

Catedral Primaz da Colômbia realizada a Vigília à Nossa Senhora das Dores

Catedral Primaz da Colômbia realizada a Vigília à Nossa Senhora das Dores
Bogotá (Quinta-feira, 29-03-2012, Gaudium Press) Vestida delicadamente e com imensa majestade assim estará no próximo dia 30 a Virgem das Dores na Catedral Primaz da Colômbia, quando terá lugr a tradicional Vigília da imagem de Nossa Senhora.
Imagem de Nossa Senhora das dores
A tradição, que é realizada há mais de um século e meio, ocorrerá nesta ocasião em uma data diferente a terça-feira santa, dia anteriormente dedicado a veneração da Dolorosa no templo da capital da Colômbia.

"Este ano celebraremos a Sexta-feira das dores, quando liturgicamente é a festa propriamente", explica a Catedral de Bogotá em uma informação.

Durante a jornada de vigília serão celebradas Santas Missas desde as 7h até as 17h, no altar mor da Catedral, onde os fiéis poderão unir seus sofrimentos às dores de Nossa Senhora.

Mas de 160 anos cuidando da imagem da Dolorosa

Grande parte da permanência desta devoção deve-se ao cuidado dos descendentes de Maria Regina Imbrech, que há anos atrás vinha da Europa para encontrar-se na Colômbia com seu esposo, Simón de Herrera. Ela, diante da ameaça de naufrágio, prometeu que salvando-se, velaria a Virgem das Dores a cada Sexta-feira Santa.

Obtendo o favor da Virgem, Maria Regina, junto com sua filha, confeccionou os vestidos da Dolorosa e criou uma tradição que hoje continua em seus descendentes.

São eles que ainda hoje preparam com grande cuidado a Virgem, antes da velação. São eles também que mantêm as roupagens usadas a cada ano pela Mãe de Deus.

Com informações da Catedral Primaz da Colômbia.
Fonte: Gaudium Press

O sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza

O sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza
Vemos que no mundo sensível é fato evidente a graduação das perfeições transcendentais numa maravilhosa hierarquia. É fácil compreender que todas as coisas são ontologicamente boas secundum magis et minus. A apreensão dos graus se torna ainda mais evidente quando se considera o pulchrum, escada segura de contemplação hierárquica das coisas, com a qual atinge, em seu vértice, a sua Suma Perfeição.

Tal Perfeição, absolutamente desproporcional ao homem, nos é revelada por meio desse sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza.

Ao analisar a Criação e sua multifacetada variedade podemos nos perguntar por que Deus quis criar tal imensidade de seres. Pois sendo Ele infinitamente perfeito, bastaria-se a Si mesmo, sem a absoluta necessidade de criá-los. Porém, na Sua infinita bondade e misericórdia, assim o desejou.

Ora, Seu intuito, ao criar quantidade insondável de seres, foi para que estes não somente refletissem Sua perfeição infinita, mas também a reproduzisse em seus mais variados graus. Deste modo se explica o caráter hierárquico que Deus imprimiu ao Universo.

Contudo, não poderia Deus originar uma única criatura que por si só refletisse todas as suas perfeições tão bem como o conjunto dos seres criados? Parece que isso seria metafisicamente impossível. Pois Deus criou um Universo composto de muitas criaturas para que elas, de um lado pela sua pluralidade, de outro pela sua hierarquização, espelhassem convenientemente a Sua beleza e perfeição divina. Pois assim como um acorde sonoro é belo pela formação de uma unidade harmoniosa numa "terça", mais belo ainda quando acrescentamos apenas uma nota num acorde de "quinta", constituindo o que se chama "consonância perfeita". Analogamente, a ordem da criação é ainda mais bela por sua rica pluralidade, quando coesa na unidade. Portanto, o homem, ao contemplar o mundo ao seu redor pode - aliando-se com a quarta via, ou seja, a partir da observação da gradualidade dos seres criados - inferir nestes, os esplêndidos reflexos da divina Pulchritudo.

Deste modo, o espírito hierárquico dos diversos graus aliados à ordem, às desigualdades harmônicas, ao pulchrum, em suma, leva-nos de proche en proche até a demonstração da existência de Deus, à Sua consideração e, por fim, à contemplação de Sua Suma Perfeição, causa de todas as perfeições.

Por Diácono Felipe Ramos, EP.
Fonte: Gaudium Press

Domingo de Ramos

Domingo de Ramos

O Domingo de Ramos é a comemoração litúrgica que recorda a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém onde Ele iria celebrar a Páscoa judaica com seus discípulos.

Ele é o portal de entrada da Semana Santa. É no Domingo de Ramos que se inicia a Semana da Paixão. É o dia em que a Igreja lembraa história e a cronologia desses acontecimentos para dele tirarmos uma lição.

Um Rei entra na cidade montando um jumento

Já desde a entrada da cidade, os filhos dos hebreus portavam ramos de oliveiras e alegres acenavam com eles, estendiam mantos no chão para Jesus passar sobre eles. Jesus entrou na cidade como Rei!

Até parece que era um desejo d'Ele que fosse assim, pois, a cena em que tudo transcorre reproduz a profecia de Zacarias: o rei dos judeus virá. Exulta de alegria, filha de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso; ele é simples e vem montado num jumento, no potro de uma jumenta.(Zc 9,9)

Embora Jesus montasse um simples jumento, o cortejo caminhava, alegre e digno. Na expectativa de estar ali o Messias prometido, Jerusalém transformou-se, era uma cidade em clima de festa.

E Ele era aplaudido, aclamado pelo povo: "Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas". Isto aconteceu alguns dias antes de que Jesus fosse condenado à morte, quando os ecos dos gritos de "hosana" já se misturavam ao clamor de insultos, ameaças e blasfêmias que o levariam a sua Paixão redentora.

Que tipo de Messias queriam aqueles judeus?

Da entrada festiva como rei em Jerusalém até o deboche da flagelação, da coroação de espinhos e da inscrição na cruz (Jesus de Nazaré, rei dos Judeus), somos levados a perguntar: Que tipo de rei aquele povo queria? E que tipo de rei era Jesus? Nosso Senhor era aclamado pelo mesmo povo que o tinha visto alimentar multidões. Era aplaudido por aqueles que o viram curar cegos e aleijados e, ainda há pouco, tinham presenciado a ressurreição de Lázaro.

Impressionada com tudo isso aquela gente tinha a certeza de que este era o Messias anunciado pelos Profetas. Mas, aquele povo era superficial e mundano, julgava que Jesus fosse um Messias político, um libertador social que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Salomão. E nisso estavam equivocados, enganados: Ele não era um Rei deste mundo!

Seus corações apreciavam Jesus de modo incompleto

A entrada de Jesus em Jerusalém foi uma introdução para as dores e humilhações que logo Ele sofreria abundantemente: a mesma multidão que o homenageou movida por seus milagres, virou-lhe as costas e pediu sua morte.

No Domingo de Ramos fica patente como o povo apreciava Jesus de um modo incompleto. É verdade que O aclamaram, porém, Ele merecia aclamações incomensuravelmente superiores. Merecia uma adoração amorosa, bem diversa da que lhe foi dada!

No entanto, cheio de humildade, lá ia Nosso Senhor Jesus Cristo sentado num burrico, avançando em meio à multidão ruidosa, impulsionando todos ao amor de Deus.

Só uma pessoa O entendeu naquela hora

Em geral, as pinturas e gravuras apresentam Nosso Senhor olhando pesaroso e quase severo para a multidão. Para Ele, o interior das almas não oferecia segredo. Ele percebia a insuficiência e a precariedade daquela ovação.

Apenas uma pessoa percebia o que estava acontecendo com Jesus e sofria com Ele. E essa pessoa oferecia sua dor de alma como reparação de seu amor puríssimo a Nosso Senhor: era Nossa Senhora.

Mas, ...que requinte de glória para Nosso Senhor! Era o maior deles porque Nossa Senhora vale incomparavelmente mais do que toda a Criação. Naquelas circunstancias, Maria representava todas as almas piedosas que, meditando a Paixão de nosso Salvador, haveriam de ter compaixão e pena d'Ele. Almas que lamentariam não terem vivido naquele tempo para poderem, então, ter tomado posição ao lado de Jesus.

Domingo de Ramos em minha vida?

Existe um defeito que diminui a eficácia das meditações que fazemos. Este defeito consiste em meditar os fatos da vida de Nosso Senhor e não aplicá-los ao que sucede em nós ou em torno de nós.

Assim, por exemplo, a nós espanta a versatilidade e ingratidão dos judeus que assistiram a entrada de Jesus em Jerusalém. Nós os censuramos porque proclamaram com a mais solene recepção o reconhecimento da honra que se deveria ter ao Divino Salvador e, pouco depois, O crucificaram com um ódio tal que a muitos chega a parecer inexplicável.

Essa ingratidão, essa versatilidade para mudanças de opinião e atitudes não existiram apenas nos homens dos tempos de Nosso Senhor! A atitude das pessoas contemporâneas de Jesus, festejando sua entrada em Jerusalém e depois abandonando-O à mercê de seus algozes, assemelha-se a muitas atitudes que tomamos.

Muitas vezes louvamos a Cristo e nos enchemos de boas intenções para seguir os seus ensinamentos, porém, ao primeiro obstáculo, nos deixamos levar pelo desânimo, ou pelo egoísmo, ou pela falta de solidariedade e, mais uma vez, por esse desamor, alimentamos o sofrimento de Jesus.

Ainda hoje, no coração de quantos fiéis, tem Nosso Senhor que suportar essas alternativas, essas mudanças que balançam entre adorações e vitupérios, entre virtude e pecado? E estas atitudes contraditórias e defectivas não se passam apenas no interior de alma de cada homem, de modo discreto, no fundo das consciências: Em quantos países essas alternações se passam e Nosso Senhor tem sido sucessivamente glorificado e ultrajado, em curtos intervalos espaços de tempo?

Uma perda de tempo: não reparar as ofensas a Nosso Senhor

É pura perda de tempo nos horrorizarmos exclusivamente com a perfídia, fraude e traição daqueles que estavam presente na entrada de Jesus em Jerusalém.

Para nossa salvação será útil refletirmos também em nossas fraudes e defeitos. Com os olhos postos na bondade de Deus, poderemos conseguir a emenda e o perdão para nossas próprias perfídias. Existe uma grande analogia entre a atitude daqueles que crucificaram o Redentor e nossa situação quando caímos em pecado mortal.

Não é verdade que, muitas vezes, depois de termos glorificado a Nosso Senhor ardentemente, caímos em pecado e O crucificamos em nosso coração? O pecado é um ultraje feito a Deus. Quem peca expulsa Deus de seu coração, rompe as relações filiais entre criatura e Criador, repudia Sua graça.

E é certo que Nosso Senhor é muito ultrajado em nossos dias. Não pelo brilho de nossas virtudes, mas pela sinceridade de nossa humildade nós poderemos ter atitudes daquelas almas que reparam, junto ao trono de Deus, os ultrajes que a cada hora são praticados contra Ele. As lições do Domingo de Ramos nos convidam a isso. (JG)

Fontes:

Dom Eurico dos Santos Veloso - O significado do Domingo de Ramos - CNBB -29 de Março de 2010
Felipe Aquino - O significado do Domingo de Ramos - Vida Eclesial - 30/03/2007D.
Javier Echevarría - Domingo de Ramos: Jesus entra em Jerusalém
Plinio Corrêa de Oliveira - excertos
Retirado de Gaudium Press

Bento XVI terá conta pessoal no Twitter, antes do verão europeu

Bento XVI terá conta pessoal no Twitter, antes do verão europeu
Roma (Quinta-feira, 29-03-2012, Gaudium Press) Gustavo Entrala, cofundador da agência 101rpm e acessor da Santa Sé no uso de novas tecnologias, assegurou em entrevista a Paraula que estão sendo concluidos os detalhes para que o Santo Padre Bento XVI abra sua conta pessoal oficial no Twitter. Ele informou também que representantes oficiais desta rede social viajaram da Califórnia até o Vaticano para cooperar nesta iniciativa.
O Santo Padre poderá abençoar
os católicos através da rede social
Foto: ACI
Segundo o expert em marketing digital, Sua Santidade habilitará esta plataforma antes do verão.

Bento XVI está muito interessado em aproveitar as possibilidades que estes novos canais de informação geram para a Nova Evangelização e já pediu acessorias no uso das ferramentas.

"Sugerimos que em seu Twitter fique muito marcada sua presença como padre e pastor", disse o representante da rede social californiana, Entrala. Ele destacou a proximidade que a rede social pode gerar entre o Papa e os fiéis.

O Santo Padre "poderá abençoar os católicos através da rede social durante as festividades mais importantes do ano; ou lançar uma mensagem de apoio para mostrar sua proximidade quando ocorra alguma catástrofe", assegurou.

Entrala adiantou que o uso da ferramenta será moderado já que não convêm "saturar com uma grande quantidade de mensagens porque isso, no Twiter, faz com que se perca o efeito" que desejado.

Antala contou que o processo iniciou com uma carta escrita "sem esperança alguma de resposta" na qual ele ofereceu seus conhecimentos em novas tecnologias a serviço da Santa Sé.

Ele recebeu esta inspiração, afirma ele, quando o Santo Padre comentou publicamente que a Igreja seria menos afetada por informações negativas, se estivesse melhor preparada para aproveitar as novas tecnologias. A resposta chegou, para sua surpresa dele, cinco meses depois. A Santa Sé solicitou então a Antala uma exposição sobre comunicação digital para seus membros.

Desde então, Entrala tem prestado sua ajuda nas novas iniciativas da Igreja para evangelizar através da Internet. O expert americano colaborou na montagem do portal de notícias do Vaticano -www.news.va- que entrou em funcionamento em 28 de junho de 2011.

Seu lançamento foi anunciado em uma mensagem escrita pelo próprio Bento XVI no twitter, o que constituiu o primeiro "tweet" de um Papa.

Com informações de Paraula.
Fonte: Gaudium Press

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Abra o coração ao Evangelho", recomenda Papa ao deixar Cuba

"Abra o coração ao Evangelho", recomenda Papa ao deixar Cuba

Bento XVI durante sua visita à Cuba

Havana (Quinta-feira, 29-03-2012, Gaudium Press) "Cuba, reaviva em ti a fé de teus pais! Extrai dela a força para edificar um futuro melhor, confia nas promessas do Senhor, abre o teu coração ao seu Evangelho para renovar autenticamente a vida pessoal e social". Assim, Bento XVI despede-se de Cuba concluindo a sua 23ª viagem apostólica internacional, que o levou à ilha e antes ao México. A viagem que poderá ser chamada de histórica, como a de João Paulo II. As pessoas, tanto no México como em Cuba, receberam o Papa com grande calor.

Bento XVI esteve na ilha como "testemunha de Jesus Cristo" para "lembrar a sua mensagem de salvação, para que fortaleça o entusiasmo e a solicitude dos Bispos cubanos, bem como dos seus sacerdotes, dos religiosos e daqueles que generosamente se preparam para o sacerdócio e a vida consagrada; e sirva de novo impulso também para quantos colaboram, com constância e abnegação, na obra de evangelização".

O Santo Padre esteve três dias em Cuba, onde chegou na segunda-feira passada. Foi à cidade de Santiago de Cuba e à capital Havana. Nas ruas sempre foi recebido por multidões que o acolheram em festa gritando e saudando-o com bandeirinhas.

Antes de partir para Roma, o pontífice ainda reafirmou a mensagem de esperança e amor: "O caminho que Cristo propõe à humanidade - disse - e a cada pessoa e povo, em particular - não a tolhe em nada, antes pelo contrário, é o fator primeiro e principal do seu verdadeiro progresso". O Papa fez votos para os cubanos "fazerem frutificar o melhor da alma cubana, os seus valores mais nobres, sobre os quais é possível fundar uma sociedade de largos horizontes, renovada e reconciliada".

Fez também votos para que "ninguém se veja impedido de tomar parte nesta tarefa apaixonante pela limitação das suas liberdades fundamentais, nem eximido dela por negligência ou carência de recursos materiais".

Na partida do Papa, Havana "chorou": uma forte chuva fez com que a cerimônia de despedida fosse abreviada e realizada no interior do aeroporto.

O Santo Padre partiu com destino a Roma com 30 minutos de atraso. (JSG)
Fonte: Gaudium Press

Papa se comove em encontro com Missionárias de Madre Teresa

Papa se comove em encontro com Missionárias de Madre Teresa

Havana (Quarta-feira, 28-03-2012, Gaudium Press) Padre Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, em entrevista coletiva de imprensa, comentou acontecimentos do segundo dia do Papa Bento XVI em Cuba.

Segundo Padre Lombardi, mesmo sem discursos públicos previstos, o dia de Bento XVI foi intenso.

Bento XVI visitando missionárias de
Madre Teresa de Calcutá
Houve, porém, um momento que deverá permanecer na memória dos cubanos muito especialmente: o Santo Padre rezando no Santuário Nacional da Virgem da Caridade do Cobre.

Para o sacerdote jesuíta, "Este foi o momento central, a razão de sua viagem".

Outro momento desse dia comoveu, desta vez, o próprio Papa. Foi o encontro que Bento XVI teve no Seminário São Basílio Magno, em Santiago de Cuba, com cerca de 10 missionárias de Madre Teresa de Calcutá.

Quando estas freiras se consagram à vida religiosa, elas recebem a incumbência de, diariamente, rezar por um sacerdote. E entre as religiosas que estiveram com o Papa nesse encontro estava uma freira indiana que há 20 anos reza por ele, ainda desde a época em que o Pontífice ainda era apenas o Card. Ratzinger.

"O Papa estava comovido por encontrar essa pessoa que reza por ele", afirmou o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano.

Padre Lombardi ressaltou a importância do encontro pessoal entre o Santo Padre e Raul Castro: um momento cordial e sereno. A situação do povo cubano e as expectativas da Igreja para continuar sua missão foram os temas. O encontro durou cerca de 40 minutos e nele foi feito um pedido especial a Castro: a possibilidade do reconhecimento por parte do governo da Sexta-feira Santa como feriado - assim como, 14 anos atrás, João Paulo II fez o mesmo pedido em relação ao dia do Natal, e foi atendido. Pe. Lombardi não tinha detalhes a respeito das "temáticas de caráter humanitário" debatidas no encontro.

Ao fazer uma avaliação deste segundo dia do Papa em Cuba, Padre Lombardi declarou que tudo transcorreu "muito positivamente". (JSG)
Fonte: Gaudium Press

Cultura, Evangelho e inculturação

Cultura, Evangelho e inculturação

O instinto natural com que Deus enobreceu o coração materno - um dos mais extraordinários dons concedidos ao ser humano -, não é senão um pálido reflexo de outro "instinto", este de ordem sobrenatural, com o qual Cristo adornou o coração de sua esposa, a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana. Ela é a mãe terníssima que infunde o Lumen Christi nos povos, através da proclamação do Evangelho, e gera para a vida sobrenatural os irmãos de Cristo, por meio dos Sacramentos; incentiva cada qual a fazer desabrochar plenamente seus próprios talentos e os educa para um relacionamento fraterno, harmônico e de mútua complementaridade.

Na Igreja se encontra, portanto, a matriz e arquétipo do instinto materno, o qual se expressa na benquerença, na solicitude e na ternura com que ela evangeliza os homens, os povos e as culturas mais diversas, dando cumprimento ao mandato do divino Mestre: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi" (Mt 28, 19-20).

Pari passu ao anúncio do Evangelho, a Igreja, como mãe benigníssima, identificará as qualidades de cada povo e de cada cultura; protegê- las-á e estimulará seu pleno florescimento, eventualmente assimilando- as e tornando-as parte de seu formidável tesouro cultural. É uma nota característica do modus operandi da Igreja fazer com que os povos mais díspares se sintam irmanados em seus braços maternos como membros de uma grande família, a família de Cristo.

As três fases do mandato divino

Para muitos de nossos contemporâneos pode parecer que evangelizar consiste no mero anúncio da Boa Nova salvífica de Cristo a estes ou aqueles indivíduos, a este ou aquele povo, ou mesmo a certa área de influência cultural específica, sem preocupar-se com uma transformação das psicologias, dos estilos de vida, dos contextos culturais e sociológicos nos quais vivem; tampouco sem incomodar-se com favorecer o pleno florescimento das suas virtudes e talentos, ou sem combater seus vícios e más inclinações.

Entretanto, uma análise mais atenta do mandato do divino Mestre, contido nos mencionados versículos de São Mateus, revela todo um processo de transformação subjacente ao primeiro anúncio do Evangelho, e delineia com clareza três fases distintas para a sua plena realização:

Primeira, a proclamação ou anúncio universal da Boa Nova, propriamente dito: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações".

Segunda, a necessidade do Batismo, condição essencial para o nascimento do homem novo em Cristo: "Batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Este requisito, Cristo o afirma de forma ainda mais peremptória e inequívoca na conversa com Nicodemos: "Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus" (Jo 3, 5).

Terceira, a etapa mais complexa e importante sob o prisma da práxis evangelizadora, e também quanto à sua duração: "Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi". Podemos chamá-la a fase do discipulado, da assimilação e da transformação total em Cristo, segundo nos exorta São Paulo: "Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti- vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade" (Ef 4, 22-24).

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Como se pode, sem dificuldade, deduzir das palavras do Apóstolo, quer se trate de um indivíduo quer se trate de um povo, esta fase abarcará necessariamente toda a sua existência, pois a conversão a Cristo implica um processo de contínua transformação e aperfeiçoamento dos hábitos mentais, dos estilos de vida, da visualização do fim último da vida terrena, do relacionamento com os demais seres humanos, etc. É toda uma concepção do homem, do universo e do próprio Deus que deve ser com frequência ajustada e atualizada em função de Nosso Senhor. Ou seja, se requer uma total metamorfose em Cristo.

Metamorfose em Cristo: objetivo último da evangelização

Em sua Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo, o Concílio Vaticano II nos ensina: "O Evangelho de Cristo renova continuamente a vida e cultura do homem decaído, e combate e elimina os erros e males nascidos da permanente sedução e ameaça do pecado. Purifica sem cessar e eleva os costumes dos povos. Fecunda como que por dentro, com os tesouros do alto, as qualidades de espírito e os dotes de todos os povos e tempos; fortifica-os, aperfeiçoa-os e restaura- os em Cristo".1

Confirmando a importância dessa metamorfose como objetivo último da evangelização, assim se exprimiu o Papa Paulo VI: "Para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação".2 E o Pontífice acrescentou: "A ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas".3

Nesse contexto da metamorfose em Cristo, façamos uma rápida incursão por um dos aspectos da evangelização das culturas mais em foco hoje em dia: a noção de inculturação do Evangelho. Ela é de capital importância para a Igreja obter o fruto precioso do mandato recebido do Divino Mestre: gerar o homem novo em Cristo, segundo a expressão do Apóstolo (cf. Ef 4, 22-24).

O que vem a ser "inculturar" o Evangelho?

A palavra inculturação - neologismo surgido no início dos anos 60 - tem sido por vezes objeto de definições um tanto vagas e ambíguas, dando margem a certas discrepâncias de cunho semântico. Sem entrar no mérito do problema, pois isto extrapolaria os limites deste artigo, consideraremos aqui inculturação como "o processo pelo qual a Igreja torna-se parte da cultura de um povo", conforme define o teólogo jesuíta Roest Crollius.4

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A Igreja, como mãe benigníssima, identifica as
qualidades de cada povo e de cada cultura;
protege-as e estimula seu pleno florescimento

Embora a Igreja, pelo próprio caráter de sua vocação universal, não esteja vinculada exclusivamente a nenhuma nação, raça ou cultura específica, nem a qualquer agremiação social, política ou econômica, 5 ela procura se relacionar não apenas com os indivíduos, mas também com os diversos grupos sociais ou culturais. Nesse sentido, afirma o Decreto Ad Gentes: "A fim de poder oferecer a todos o mistério de salvação e a vida trazida por Deus, a Igreja deve inserir-se em todos esses agrupamentos, impelida pelo mesmo movimento que levou o próprio Cristo, na Encarnação, a sujeitar-Se às condições sociais e culturais dos homens com quem conviveu".6

Em todas as civilizações há resquícios da ordem natural

Na realidade, a preocupação da Igreja em inculturar o Evangelho não é um fenômeno recente, exclusivo dos tempos pós-conciliares: ela remonta às próprias origens do Cristianismo. Já São Justino, o grande apologista do século II, ensinava ser necessário, ao entrar em contato com novas realidades culturais, discernir as "sementes do Verbo" (σπ?ρμα του λ?γου) nelas pré-existentes, 7 purificá-las de tudo quanto não fosse segundo o espírito de Cristo, promover seu florescimento pleno e, de alguma forma, assimilá-las ao próprio tesouro espiritual e cultural da Igreja.

De fato, até mesmo nas civilizações pagãs mais distantes do Cristianismo encontraremos resquícios da ordem natural estabelecida por Deus em toda a criação. Enquanto reflexos do Criador, eles são dignos de apreço e devem ser incorporados ao tesouro da Igreja, sacramento de salvação universal e custódia da ordem do universo.

Esse ensinamento de São Justino foi reafirmado por diversos Padres da Igreja, e constitui um fundo de quadro para compreendermos o procedimento da Esposa de Cristo no campo da evangelização através dos séculos. Nós mesmos, vivendo em pleno século XXI, podemos testemunhar em vários campos os efeitos concretos dessa inculturação já bimilenar; por exemplo, na diversidade das numerosas liturgias que a Igreja conserva em nossos dias, bem como na variedade e peculiaridade da iconografia católica.

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A preocupação da Igreja em inculturar
o Evangelho não é um fenômeno
recente, exclusivo dos tempos
pós-conciliares

Necessidade de evangelizar as culturas

O Magistério pós-conciliar tem insistido de modo especial sobre este particular. Uma das razões para enfatizá-lo é, sem dúvida alguma, a crescente onda de secularização e relativismo do mundo moderno.

O Papa Bento XVI tem sido pródigo em declarações ora sobre a necessidade de uma inculturação do Evangelho ora sobre a evangelização das culturas, como instrumento necessário para a Palavra de Deus poder penetrar e transformar os corações. Afirmou ele: "Cada povo deve inserir na própria cultura a mensagem revelada e expressar a sua verdade salvífica com a linguagem que lhe é própria".8

Poucos meses antes, recomendara aos Bispos guatemaltecos: "A evangelização das culturas é uma tarefa prioritária para que a Palavra de Deus se torne acessível a todos e, acolhida na mente e no coração, seja luz que as ilumina e água que as purifica com a mensagem do Evangelho que traz a salvação para todo o gênero humano".9

Se a "ruptura entre o Evangelho e a cultura" é, como observou o Papa Paulo VI, "o drama da nossa época", torna-se da maior importância para a Igreja não só evangelizar as culturas, mas também enraizar nelas o Evangelho, ou seja, criar uma atmosfera favorável ao desabrochar dos próprios dons e, consequentemente, ao florescimento de um estilo de vida peculiar a cada povo, impregnado das mais variadas virtudes características do espírito cristão.

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A preocupação da Igreja em inculturar
o Evangelho não é um fenômeno
recente, exclusivo dos tempos
pós-conciliares
Multiplicidade e diversidade da criação

Conforme nos explica São Tomás de Aquino, Deus, em seu ato criador, não poderia ter feito apenas uma única criatura, por mais excelsa que esta fosse; tampouco poderia ter criado uma multidão de seres, porém, todos de uma mesma espécie. A razão apresentada pelo Doutor Angélico é cheia de lógica e de sabedoria: tendo a criação por finalidade última espelhar o Altíssimo de modo tão perfeito quanto possível, a multiplicidade e a diversidade das criaturas era mais conveniente, para assim elas refletirem melhor as infinitas perfeições do Criador.10

Este princípio foi manifestado também pelo Autor Sagrado no livro do Gênesis, ao relatar a obra da criação: cada uma das partes, individualmente considerada, era boa: "E Deus viu que isso era bom" (Gn 1, 12.18.25); mais excelente, porém, era o conjunto: "Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom" (Gn 1, 31).

Ora, se é portentosa a diversidade entre os seres irracionais, muitíssimo mais prodigiosa ela é quando consideramos o homem, pois este engloba em si elementos de todas as ordens do criado, seja do reino mineral, do vegetal, do animal ou mesmo do angélico. Obra-prima da criação, feito à imagem e semelhança do Criador, o ser humano constitui um verdadeiro microcosmo, cumulado por Deus com superabundância de dons naturais, preternaturais e sobrenaturais.

Maravilhado com a magnificência com a qual Deus ornou sua criatura amada, o Salmista canta: "Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, Vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes" (Sl 8, 5-6).

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Paulo VI - "Torna-se da maior impor-
tância para a Igreja não só evangelizar
as culturas mas também enraizar
nelas o Evangelho"

E refletindo sobre a grande diversidade de dons concedidos pelo Espírito Santo ao homem, o Apóstolo comenta: "A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas" (I Cor 12, 8-10).

Assim, os diferentes talentos, aptidões, psicologias e gostos de cada pessoa darão origem a distintas expressões artísticas, comportamentos, crenças, estilos de vida, originando grande diversidade de criaturas.

Estas constituem um dos tesouros mais preciosos de vida espiritual, intelectual e social que o homem herda quando nasce e é chamado a enriquecê-lo com seu próprio contributo e transmiti-lo às gerações seguintes.
As culturas, em suma, de um lado são formadas pelo homem, e de outro contribuem poderosamente para formá-lo.

A Encarnação do Verbo

Alternando severas punições corretivas com misericórdias divinas, Ele formará gradualmente o povo eleito para o magno evento da História: "Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, submetido à Lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos" (Gal 4, 4-5).

O Verbo Encarnado viveu, pois, como um típico judeu de seu tempo, não apenas guardando os preceitos estabelecidos pela Lei divina, mas também submetendo-Se às leis humanas e aos costumes sociais de seu povo em tudo, "com exceção do pecado" (Hb 4, 15). E no contexto religioso, social e cultural desse povo Ele operou a Redenção universal e proclamou sua mensagem salvífica para todo o gênero humano: "De fato, o Senhor Jesus, precisamente no mistério da Encarnação, ao nascer de uma mulher como perfeito homem (Gal 4, 4), colocou-Se em relação direta não só com as expectativas que se registravam no âmbito do Antigo Testamento, mas também com as cultivadas por todos os povos; manifestou, assim, que Deus pretende alcançar-nos no nosso contexto vital".11

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Bento XVI - "Cada povo deve inserir
na própria cultura a mensagem
revelada e expressar a sua verdade
salvífica com a linguagem
que lhe é própria".
A grande doxologia final da História

Uma última consideração, a título de epílogo.

Na Divina Comédia, o imortal Dante qualifica de "netas de Deus" as obras de arte humanas.12 De fato, embora não tenham elas saído diretamente das mãos do Criador, são filhas dos talentos do homem. Neste sentido, se compreende sem dificuldade a afirmação do poeta.

Parafraseando Dante, e na mesma ordem de ideias, poderíamos dizer que as culturas são netas de Deus, pois "a cultura é do homem, pelo homem e para o homem".13 E enquanto fruto da multiplicidade de dons postos pelo Altíssimo na alma humana, também elas participam do chamado a refletir as perfeições e a render glória a Deus, o Criador de seus criadores. Ora, elas só poderão alcançar este objetivo se estiverem imbuídas do espírito de Cristo.

Aqui nós compreendemos mais em profundidade o desvelo maternal da Igreja ao promover o desenvolvimento pleno das peculiaridades de cada povo e de cada cultura segundo o espírito do Evangelho. Assim, no fim dos tempos, também elas serão, de alguma forma, glorificadas quando Cristo "entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. [...] E, quando tudo Lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos" (I Cor 15, 24.28). Esta será a grande doxologia final da História, dirigida pelo próprio Filho ao Pai.

Esse canto de glorificação, entoado pelo Verbo Encarnado como Primogênito de toda a criação, incluirá obviamente todas as criaturas, tanto racionais quanto irracionais. Entre as racionais encontraremos o homem com as suas belas obras, entre as quais as mais variadas culturas, na medida em que elas se assemelhem a Cristo. Nessa perspectiva, poderíamos por certo afirmar que quanto maiores forem a multiplicidade e a diversidade dessas culturas pervadidas pelo espírito do Evangelho, tanto mais nobre e bela será a participação dos homens na magna doxologia com a qual Cristo concluirá e coroará a obra da criação.

Por Padre Marcos Faes de Araújo, EP.

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"Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que
vos prescrevi" (Mt 28, 19-20)

1 CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et spes, n.58.
2 PAULO VI. Evangelii nuntiandi, n.19.
3 Idem, n.20.
4 ROEST CROLLIUS, SJ, Ary. What is so new about Inculturation? In: Inculturation, Working Papers on Living Faith and Cultures. Roma: Pontificia Università Gregoriana, v.V, 1991.
5 Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et spes, n.58.
6 CONCÍLIO VATICANO II. Ad gentes, n.10.
7 Cf. SÃO JUSTINO. Apologia Secunda, 8. MG 6, 457.
9 BENTO XVI. Audiência Geral de 17/6/2009.
10 BENTO XVI. Discurso aos Bispos da Guatemala de 6/3/2008.
12 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Summa Contra Gentiles, l.2, c.45.
13 BENTO XVI. Sacramentum Caritatis, n.54.
14 DANTE ALIGHIERI. Divina Comédia. O inferno. Canto XI, v.105.
15 PAUL POUPARD. Culture et Inculturation: Essai de définition. In: Seminarium. Vaticano. Anno 32, n.1.

Fonte: Gaudium Press

“Espírito Vivificante”: a alma do Corpo Místico

“Espírito Vivificante”: a alma do Corpo Místico

Ao escolher a figura do corpo humano como uma imagem para seu Divino Organismo, Cristo elegeu também uma alma, que, ao contrário de outras, possui o inteiro domínio desse Corpo, além de ser seu elemento vivificador: o Espírito Santo.

A alma humana possui como característica principal ser a forma do corpo. Entretanto, ao dizermos ser o Espírito Santo a alma do Corpo Místico, usamos por apropriação essa expressão, dado que uma Pessoa Divina não pode ser a forma de nenhuma criatura.

Apesar do termo ser usado por apropriação, é inteiramente cabível ao Espírito Santo, uma vez que Ele habita e age a partir de dentro, como a alma. Nesse sentido, contestava o Apóstolo: "não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Cor 3,16), "porventura não sabeis que os vossos membros são templos do Espírito Santo, que habita em vós" (1 Cor 6,19).

Sendo a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a Alma do Corpo Místico, afirma-se, sobretudo, que é Ela quem anima e vivifica, analogamente como a alma humana. Encontram-se inúmeros trechos que alimentam a devoção dos fiéis, contudo, limitamos a narrar uma passagem de Santo Agostinho:

"Se quereis ter o Espírito, irmãos, escutai: o espírito pelo qual vive o homem, se chama alma; nosso espírito, pelo qual vivemos cada homem se chama alma; e vede o que faz a alma com o corpo: vivifica todos os membros: com os olhos vê, com os ouvidos ouve, com as narinas olfatea, com a língua fala, com as mãos opera, com os pés anda. Está em todos os membros para que vivam; dá a vida a todos e a cada um o seu ofício [...]. Os ofícios são diversos e a vida é comum. Assim sucede na Igreja: em uns santos faz milagres, a outros ensina a verdade... Cada um faz o que lhe é próprio, mas todos vivem igualmente. O que é a alma para o corpo é o Espírito Santo para Corpo de Cristo, que é a Igreja".1

A sensibilidade e o movimento transmitido à cabeça dimanam da alma que os distribui para o corpo de maneira desigual à semelhança do Corpo de Cristo. O Espírito Santo não opera uniformemente em todos os membros, mas com graus diferentes nos bem-aventurados, nos justos, e inclusive nos que estão em estado de pecado e os que fazem parte desse Corpo somente em potência.2 A verdade é que "o Espírito Santo está em todos os que são membros de Cristo, desde os que recebem d'Ele a bem-aventurança da glória, até os que recebem a graça mais inicial e primitiva".3

"O Espírito Santo é um princípio vivo e vivificador. Operou na vinda de Cristo sobre a Terra, fecundando ativamente Maria, e interveio no nascimento da Igreja. O dia de Pentecostes foi o dia da proclamação oficial da sociedade estabelecida por Cristo".4

Prometido por Nosso Senhor antes de sua partida: "vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias" (At 1, 5), a Igreja teve seu nascimento no batismo de Pentecostes, e, portanto, é n'Ele que somos batizados e recebemos o princípio vital da vida divina que nos faz filhos de Deus.5

De modo que dentro da diversidade dos membros se cumpre o pedido do Salvador: "que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e Eu em Ti, para que também eles estejam em nós" (Jo 17, 22).

Sabemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo comparados entre si, são distintos embora idênticos, sendo a ação que procede o Espírito Santo, a via de amor.

E elegendo o Espírito Santo para ser a alma da Igreja, o qual é denominado de "Amor", podemos dizer que "Cristo deseja que a união que deve haver naqueles que formam o seu Corpo Místico seja o amor".6 Assim a Igreja se unifica onde se unificam o Pai e o Filho, ou seja, no amor, na Terceira Pessoa.

"Se é Ele quem governa e move aos membros do Corpo Místico de Cristo, quem os unifica, quem os vivifica; e se faz tudo isso a partir de dentro, inabitando em cada membro e em todo corpo, temos que terminar dizendo que desempenha autênticas funções de alma".7

Por Fahima Akram Salah Spielmann
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1."Si queréis tener el Espíritu, hermanos, escuchad: el espíritu por el que vive el hombre se llama alma; nuestro espíritu, por el que vivamos cada hombre, se llama alma; y vede qué hace el alma en el cuerpo: vivifica todos los miembros: con los ojos ve, con los oídos oye, con las narinas olfatea, con la lengua habla, con las manos opera, con los pies anda. Está en todos los miembros para que viva; da la vida a todos, y a cada uno su oficio. [...] Los oficios son diversos y la vida es común. Así sucede en la Iglesia: en unos santo hace milagros, en otros enseña la verdad... Cada uno hace lo suyo propio, pero todos viven igualmente. Lo que es el alma al cuerpo del hombre es el Espíritu Santo al cuerpo de Cristo, que es la Iglesia" (SANTO AGOSTINHO, apud SAURAS, Emilio. Op. cit. p. 760. Tradução da autora).

2.Convém esclarecer que a estes o Espírito Santo será a alma enquanto preparação para receber os princípios que dispõem ao sujeito para a perfeição dessa vivificação.

3."El Espírito Santo está en todos cuantos son miembros de Cristo, desde que reciben de El la bienaventuranza de la gloria, hasta los que reciben la gracia más inicial y primitiva" (SAURAS, Emilio. Op. cit. p. 739. Tradução da autora).

4."El Espírito es un principio vivo y vivificador. Intervino en la aparición de Cristo sobre la tierra, fecundando activamente a María, e interviene en el nacimiento da la Iglesia. El día de Pentecostés fue el de la proclamación oficial de la sociedad establecida por Cristo, y ese día aparecen en el nacimiento oficial de esta sociedad María y el Espírito Santo, como en el nacimiento de Cristo" (Ibid. p.766. Tradução da autora).

5.Cf. Cabe relembrar o que diz São Paulo aos Romanos: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Abbá! Oh Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus" (Rm 8, 10-16).

6."Cristo desea que la unión que debe haber en quienes forman su Cuerpo Místico sea unión de amor" (SAURAS, Emilio. Op. cit. p. 767. Tradução da autora.).

7."Si Él es quien gobierna y mueve a los miembros del cuerpo místico de Cristo, quien los unifica, quien los vivifica; my se hace todo eso desde dentro, inhabitando en cada miembro y en todo cuerpo, hemos que terminar diciendo que desempeña autenticas funciones de alma" (Ibid. p.768. Tradução da autora).
Fonte: Gaudium Press

Missionários devem ser como Maria

Missionários devem ser como Maria
Roma (Quarta-feira, 29-03-2012, Gaudium Press) A Festa da Anunciação do Senhor significa para a Universidade Pontifícia Urbaniana, localizada em Roma, a celebração de suas festas patronais. Como parte da mensagem do anúncio do Anjo a Maria e sua resposta: "Faça-se em mim segundo a tua palavra", o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e Grã Chanceler da Universidade, presidiu uma solene Eucaristia.

Para Dom Filoni a obra salvadora de Cristo depende também do nosso "sim"
Nela, destacou o chamado, expressado na saudação do Anjo: "Alegra-te".

Dom Filoni explicou que "desde o momento da Anunciação, o advento de Jesus é presenteado com um convite à alegria". Segundo o prelado, esta alegria cristã deve ser a nota caracteristica da evangelização. "Quem se faz portador da boa nova, que é Cristo, deve revestir-se de entusiasmo e alegria e ser como Maria, artífice de consolação e de graça em todas as situações de angústia".

Meditando sobre a perplexidade de Nossa Senhora, Dom Filoni disse que é um mistério que Deus queria nos associar a sua missão salvadora. Sua vontade de condicionar a Encarnação de seu Filho a Maria "nos recorda que Deus confia em nós, apesar de tudo, quer que sejamos colaboradores e servidores. A execução da obra salvadora de Cristo depende também de nós, do nosso "sim", de nossos esforços, de nossa iniciativa".

O prelado comparou também o impulso da Santíssima Virgem de sair para a casa de Isabel com a mesma identidade da Igreja. Maria não leva "somente a sua ajuda e sim o mesmo Jesus, enviado a nós pelo Pai para salvar a humanidade". Dom Filoni diz ainda que "Maria se converte em um ícone da Igreja, que incansavelmente caminha pelo mundo, e com pressa, para levar a todos e em todas as partes, o Evangelho".
Fonte: Gaudium Press

quarta-feira, 28 de março de 2012

Obediência e liberdade

Obediência e liberdade

By Pe. Faus on January 12, 2012

Os dois caminhos

Um escrito cristão do século I, chamado a Didaqué ou Doutrina dos doze Apóstolos, começa assim: «Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande». O caminho da vida - explica - consiste em amar a Deus e ao próximo e observar todos os outros mandamentos. Pelo contrário, quem despreza os mandamentos da lei de Deus e se entrega às paixões, hipocrisias, orgulho, adultério, rapinagens, etc., esse envereda pelo caminho da morte. «Filho, fica longe de tudo isso», exorta o autor anônimo desse antiquíssimo texto catequético (I e II).

Como os primeiros cristãos, procuremos compreender o roteiro que os mandamentos da Lei de Deus nos indicam como «caminho da vida».

Servindo-nos de uma comparação, vamos imaginar esse «caminho da vida» como uma moderníssima estrada. Podemos pensar numa das grandes rodovias que percorrem o Brasil, por exemplo, a rodovia Belém-Brasília (supondo-a bem conservada).

Tal como acontece com qualquer outra auto-estrada, essa permite ao viajante chegar em tempo ao seu destino. Se não houvesse estrada nenhuma, mas apenas a natureza em estado bruto, o viajante ficaria perdido entre matas, capoeiras, brejos, rios e montes, e jamais chegaria ao termo da viagem, ou - como os antigos bandeirantes - demoraria muitos meses até alcançá-lo.

O comerciante desvairado

Pensemos agora num comerciante que, dizendo encaminhar-se para Belém do Pará, saísse de Brasília e, uma vez na estrada, comentasse com a esposa, sentada no banco ao lado: - “Vamos a Belém, meu bem, mas eu não estou para aguentar imposições. Estas faixas brancas no asfalto, essas placas, essas sinalizações todas me abafam. Nada de normas rígidas, minha querida. Independência ou morte! Liberdade!”

Nisso, em coerência com os seus devaneios libertários, o nosso motorista resolve sair das “normas rígidas” e acelera em direção à margem direita da estrada, perpendicularmente, como se fosse uma garça, capaz de levantar vôo acima de guard-rails, muretas, árvores e construções. O desfecho é fácil de prever: não conseguirá percorrer uns poucos metros sem se espatifar, acabando com a viagem, com o veículo, consigo mesmo e com a esposa.

Pois bem, os Mandamentos, são a estrada que o próprio Deus idealizou, traçou, rasgou e sinalizou para a breve viagem da vida, rumo à eternidade. Essa estrada - se nós a seguimos - conduz-nos a cada passo para mais perto da nossa perfeição, até levar-nos à plenitude da vida eterna.

Obviamente, como toda a autêntica estrada, tem umas margens, está traçada dentro de uns limites. Se os ultrapassamos ou os burlamos, enganamo-nos a nós mesmos e acabamos com a viagem. Quando o Mandamento diz “Não matarás”, “Não roubarás”, “Não mentirás”, “Não cometerás adultério”…, não está, de maneira nenhuma, nos limitando, mas nos encaminhando. Marcando margens além das quais só há descaminho e morte, permite-nos correr pela rota certa e avançar sempre mais, rumo ao horizonte sem fim.

Este sentido eminentemente positivo do bom caminho da vida, está perfeitamente indicado pela própria lei de Deus. Nas rodovias de asfalto, lê-se, com letras e setas: “Para Belo Horizonte”, “Para Goiânia”, “Para Fortaleza”…

No caminho da lei divina, mesmo nas “placas” onde se diz “Não”, um viajante lúcido e sensato saberá ler a verdadeira indicação: “Para o amor”, “Para a compreensão”, “Para a fidelidade”, “Para a verdade”, “Para a generosidade”… E, na placa principal, encontrará os dizeres mais claros, que são a meta e a iluminação de todas as outras: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas (Mt 22, 36-39).

Um não que permite dizer sim

Cada proibição que os Mandamentos formulam, quando bem entendida, é o não imprescindível para poder dizer um sim amoroso e feliz. Se Deus nos proíbe que odiemos, e nos manda dizer não ao ódio, é para que possamos dizer um sim ao amor, para que fiquemos liberados para o amor. Se Deus nos diz: “Não pecarás contra a castidade”, “Não cometerás adultério”, é para que, dizendo não ao sexo egoísta, possamos dizer sim ao amor profundo e fiel, vivido com a alma e com o corpo, dentro do matrimônio santo, generoso e fecundo. Dizer não à devassidão e à impureza é “afirmar jubilosamente” - como dizia Mons. Escrivá - que a castidade é própria de enamorados que sabem entregar-se e aprendem a dar-se, iluminando o mundo com o seu “dom” sorridente…

Estando, como estamos, tão propensos a saltar fora do caminho, a afundar no egoísmo, a errar e perder-nos, é natural que o fato de descobrir essas verdades nos mova a elevar a Deus um cântico de agradecimento por nos ter libertado do erro e do mal, e por ter gravado na nossa consciência o caminho claro da sua Lei divina -, os Dez Mandamentos e a “lei evangélica” que os completa e os aperfeiçoa -, pois só esta é a autêntica estrada do Amor.

E a obediência ao Amor é o caminho da Liberdade.

(Adaptação de um trecho da obra de F. Faus: A voz da consciência)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

terça-feira, 27 de março de 2012

Responsáveis pela nossa vida

Responsáveis pela nossa vida

By Pe. Faus on November 17, 2011

Para que vivo eu?

Enquanto não tivermos uma resposta a esta pergunta, uma resposta que nos mostre o significado da nossa existência - a nossa razão de viver, de amar, de lutar, de trabalhar… -, não seremos um autêntico ser humano. Seremos um bicho mais ou menos pensante que circula, come, bebe, dorme, faz sexo, fuça, desfruta, enjoa, se ilude, se desilude, trabalha, briga, se deprime, vai ao psiquiatra, não sabe o que lhe acontece, envelhece e morre.

Faz já alguns anos, uma crônica jornalística reproduzia a resposta de uma mocinha carioca à pergunta sobre o que achava dos bandos de vândalos e pixadores que danificam instalações públicas: - «Para mim - dizia ela -, as pessoas não sabem mais o que fazer das suas vidas». Sem grandes filosofias, essa menina lembrava que nós é que temos de “fazer a nossa vida”, que é preciso “fazer algo com ela”, e que não faremos nada de válido se não “soubermos o que fazer”. Justamente por termos uma inteligência e uma vontade livre, somos os responsáveis pela nossa vida. Que fazemos dela? Que faremos dela?

Essa filósofa-mirim trouxe-me à memória outra menina e outra reportagem de jornal. No caso, uma reportagem bem triste. Em São Paulo, há vários anos, uma estudante de dezesseis anos despencou - ou se jogou? - da janela de um dos últimos andares de um prédio de apartamentos, onde uma turma de colegas consumia drogas. Morreu na hora. Entre os seus papéis, acharam-se rabiscos de umas confissões íntimas. Desse texto, baste uma amostra: «Vou ver se aqui eu consigo dizer tudo o que sempre quis dizer. Em primeiro lugar, eu queria viver. Mas eu vivo, o problema não é esse. O problema é ter que viver para quê? Ou para quem? Eu quero encontrar algo que me faça querer viver eternamente».

A pobre mocinha não tinha descoberto ainda para que vivia, e por isso se achava perdida, sem sentido e sem rumo. Isso faz pensar que, mesmo na sua trágica desorientação, tinha uma intuição profunda do sentido humano da vida. Reparemos que ela não colocava a sua realização em possuir bens, em enriquecer, gozar dos prazeres da vida (como seria de esperar, mexendo-se num ambiente consumista e hedonista), mas numa “razão de viver”, que não conseguia achar: «Eu quero encontrar algo que me faça querer viver eternamente». Só por isso era humana: porque sentia a sede de sentido, sem a qual tudo acaba em absurdo e frustração.

Eu sou fiel a mim mesmo?

À vista desses dois episódios, tornam-se incisivas estas perguntas: - Podemos dizer que estamos configurando, orientando a nossa vida de acordo com um ideal que a cumule de sentido, ou pelo menos que lutamos para chegar a isso? Esse ideal move-nos de maneira a vencermos a preguiça, a pressão do ambiente, os impulsos meramente instintivos, a inércia e a moleza, que apagam qualquer ideal?

Estejamos certos de que só vivendo assim - à procura de um ideal que nos encha de sentido - poderemos dizer que somos fiéis a nós mesmos, à grandeza do que nós somos, às exigências profundas da nossa dignidade de pessoas humanas; em suma, poderemos dizer que somos autênticos seres humanos.

Talvez nos mostre uma pista, para começarmos essa procura, um comentário do protagonista do romance Life after God (”A vida depois de Deus”, deste Deus que “nós matamos”), do americano Douglas Coupland.

O escritor se autodefine como membro da «primeira geração americana educada sem religião», e retrata a falta de sentido e o tédio acumulado de muitos dos seus companheiros, criados no vácuo do prazer sem Deus (drogas, álcool, sexo-carne, ausência de compromissos).

No final do romance, o protagonista faz chegar uma mensagem à namorada, que é como que o grito do vazio:

«Pois bem… eis o meu segredo. Digo-o com uma franqueza que duvido voltar a ter outra vez; de maneira que rezo para que você esteja num quarto tranqüilo quando ouvir estas palavras. O meu segredo é que preciso de Deus; que estou farto e que já não posso continuar sozinho. Preciso de Deus para que me ajude a dar, pois me parece que já não sou capaz de dar; para que me ajude a ser generoso, pois me parece que desconheço a generosidade; para que me ajude a amar, pois me parece que perdi a capacidade de amar…».

Não vale a pena pensarmos a sério nessas coisas todas?

(adaptação de um trecho do livro de F. Faus: Autenticidade & Cia)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

O verdadeiro “bem” dos filhos

O verdadeiro “bem” dos filhos

By Pe. Faus on November 15, 2011

O maior bem dos filhos

Um dos maiores amores do mundo é o que - com algumas tristes exceções - os pais têm pelos filhos. Sai-lhes da mais entranhada fibra da alma querer bem a seus filhos e desejar o melhor para eles.

Mas são poucos os que entendem qual é o maior bem dos filhos.

Muitos dirão que o maior bem é a saúde, porque é um pressuposto básico de quase todos os outros bens: «Tendo saúde, tudo se pode superar, tudo se pode conseguir!». Será preciso, como é lógico, acrescentar uma boa educação (procurar - como costumam dizer muitos pais orgulhosos dos filhos - que “não fumem, não bebam, não caiam na droga”) e proporcionar-lhes um preparo profissional de excelência, que lhes permita ter segurança e bom nível material de vida pessoal e familiar.

Será que isso é o “maior bem”, o “melhor” para os filhos? Tudo o que acabamos de mencionar é excelente, sem dúvida, mas não é o mais “essencial” e, em vários aspectos, nem sequer é “imprescindível” (Há, por exemplo, pessoas com sérias deficiências físicas ou com carência de bens materiais que são fantásticas, realizadas e felizes).

Seria um contrassenso que o bem mais “essencial” fosse desprezado, deixado de lado pelos pais. Faltando o essencial, todas as coisas “boas” dos filhos ficam como os materiais excelentes de uma ótima casa… que não tem alicerces nem pilares sólidos. É bom lembrar o que Cristo diz da casa construída sobre areia movediça: Caiu a chuva (das dificuldades e provações), vieram as enchentes (momentos de crise e tormenta familiar, profissional ou social), os ventos sopraram e se abateram contra aquela casa (injustiças, perseguições, inimizades, falência, dívidas, etc.), e ela desabou. Sua ruína foi grande (Mt 7,27).

Daí a grande importância de não perdermos nunca de vista qual é o verdadeiro bem do homem, o único bem imprescindível, sem o qual nenhum dos outros se sustenta.

A resposta a essa questão já foi dada por Cristo: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? Ou que poderá dar o homem em troca da sua alma? (Mt 16, 26).

São palavras que brilham como um farol no meio do nevoeiro. Nenhum “bem” vale a pena se a alma estiver privada da Vida divina, da Verdade e da Graça de Deus. Com efeito, sem a graça divina, uma alma está “morta” e, então, as melhores qualidades e “bens” de que possa dispor não passam de flores vistosas enfeitando um corpo sem vida. Estando ausente a vida, “de que aproveitam” as flores?

Os pais deveriam pensar mais nisso, todos os pais cristãos deveriam ser capazes de compreender o que significa Cristo, o único Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6), e o valor de uma eternidade feliz. Uma e outra vez deveríamos repetir-nos que “querer bem” outra coisa não é senão “querer o bem” dos filhos, e que não pode haver “bens” autênticos quando falta Deus. «A quem tem Deus - dizia Santa Teresa de Ávila - nada lhe falta». A quem não o tem - poderíamos acrescentar - falta-lhe o suporte que impede que as melhores coisas (família, amor, alegria, sentido da vida) se esfarelem.

É excelente, sem dúvida - como víamos -, o empenho dos pais em que os filhos tenham saúde, cultura, bem-estar, capacitação profissional que lhes permita enfrentar com segurança o futuro. Mas é um empenho muito mais excelente e vital - por ser decisivo nesta terra e na eternidade - esforçarem-se com a sua oração, o seu exemplo e uma orientação prudente e contínua, para que os filhos conheçam as verdades da fé cristã - a doutrina salvadora de Cristo - e aprendam a amá-las e praticá-las. Podem ter a certeza de que as virtudes cristãs de um filho vão fazer-lhe, ao longo da vida, um bem infinitamente maior do que todos os diplomas ou contas bancárias que lhes possam proporcionar. Mil vezes mais vale a fé do que a saúde, a união com Deus do que o sucesso. Só as virtudes cristãs são os tesouros verdadeiros de que Cristo falava (Mt 6, 19-20). E somente esses tesouros proporcionam àqueles que amamos a “realização” - o bem pleno -, quer nesta terra, quer na eternidade.

Sem esta convicção, todos os carinhos cheios de boa vontade podem vir a desfazer-se como um sonho ilusório. Por isso, sempre deveria ecoar em nossos ouvidos, como um norte para a vida e, especificamente, para a família, o segredo que Cristo confidenciou a Marta: Tu te inquietas e te perturbas por muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada (Lc 10, 41-42).

A “melhor parte” é estarmos junto de Cristo, segui-lo atentos às suas palavras, fazer do Amor de Deus e da sua santa Vontade a estrela que guie a nossa vida.

Aí está o verdadeiro bem do homem.



(inspirado em trechos do livro de F.Faus: O homem bom)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

A ponte das palavras

A ponte das palavras

By Pe. Faus on November 3, 2011

O amor e a palavra

Uma canção popular exalta em versos muito simples o valor da palavra:

Palavra não foi feita para dividir ninguém.

Palavra é a ponte por onde o amor vai e vem…

A alma exprime-se pelo corpo, e especialmente pela língua. «Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, através da linguagem, de gestos, de ações» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1146).

Nós falamos, comunicamo-nos uns com os outros de inúmeras maneiras. Quanto não diz com freqüência um simples olhar, um sorriso levemente esboçado, um silêncio significativo, um gesto de paixão ou um aceno impregnado de afeto… Muitos são os caminhos da linguagem que interliga em comunhão alma com alma. Mas a grande ponte que Deus nos deu para nos comunicarmos entre nós - e para nos comunicarmos com Ele - é a palavra: palavra pensada, interior; palavra pronunciada; palavra publicada. É falando, conversando, escrevendo, que estamos a construir constantemente pontes de intercomunicação: por elas a nossa alma - a nossa vida! - vai passando, e chega até os outros, com toda a sua carga de alegrias e dores, de ódios e amores, de desconcertos e dúvidas, de enganos e desenganos, de perplexidades e certezas, de esperanças e ilusões.

É bom pensar no que significam, todos os dias, as nossas palavras. Constroem ou destroem? Enriquecem ou desgastam? Que fazemos diariamente com a língua? Talvez de súbito não saibamos responder, mas uma coisa é certa: fazemos muito; de bom ou de mau, mas fazemos muito.

Quando as palavras têm raízes no amor, são sempre fecundas. Da abundância do coração fala a boca (Lc 6,45). Muitos corações atenazados pelo erro, pela vergonha ou pelo desespero reergueram-se por uma só palavra (Mt 8,8) de Cristo. Os olhos da mulher adúltera, cerrando-se para não ver as pedras com que os fariseus iam esmagá-la, recuperaram a luz perdida e se acenderam com claridades inéditas, mal ela escutou as palavras de perdão e alento de Cristo: Vai e não peques mais! (Jo 8,11). Zaqueu, o arrecadador desonesto, sentiu o coração arrebentar-lhe o peito quando Jesus, ao passar junto dele, em vez de lhe espetar um remoque de desprezo, lhe lançou uma palavra amiga: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa (Lc 19,5). Pedro viu-se como um morto-vivo acabado de desenterrar quando Cristo, com a doçura do perdão na língua, em vez de recriminá-lo pela sua indigna traição, lhe perguntou: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? (Jo 21,15).

Palavras de compreensão, de perdão, de afeto, de estímulo; palavras que acordam, elevam, iluminam, desvendam erros, apagam dúvidas, apontam rumos; palavras de amor, compaixão e confiança, palavras-dom… Se quiséssemos, a nossa vida inteira, cada um dos nossos dias, poderia ser uma contínua chuva de palavras fecundas, capazes de suscitar vida, sem provocar tristezas, nem ira, nem ódio. Não há uma única situação, agradável ou constrangedora, não há uma só pessoa neste mundo que não possa fazer surgir, do bom tesouro do coração (cf Lc 6,45) que verdadeiramente ama, uma palavra construtiva.

Já imaginamos o que seria a nossa vida se em cada instante fôssemos capazes de proferir a palavra acertada, toda ela impregnada de sinceridade e amor, sem sombra de malignidade, irritação, rancor, orgulho, rudeza ou desprezo? Não há dúvida de que, além de nos tornarmos a alegria de Deus, seríamos a felicidade dos homens. Já pensamos no que seria a “utopia” de um mundo em que as palavras faladas, emitidas ou impressas, fossem apenas veículo da verdade e da caridade? Se a nossa fantasia tivesse um mínimo de asas, perceberíamos que esse mundo admiravelmente novo seria o próprio céu, pois não há um só mal no mundo que, de alguma maneira, não esteja fundido com a maldade das palavras.

Mas esse “admirável mundo novo” não existe, e toca a cada um de nós examinar a parte com que contribuímos para a sinfonia amorosa ou para a dança macabra das palavras.

Façamos esse exame com sinceridade, na presença de Deus. Pensemos que nosso Senhor, como Médico divino, poderia dizer-nos o que às vezes os médicos humanos nos dizem: «Mostra-me a língua! E eu te farei ver teu coração, porque as tuas palavras - com as suas mil tonalidades, cargas, intenções e acentos - são um retrato falado do teu coração: dos teus sentimentos mais íntimos, das tuas purezas e sujidades, dos teus tesouros espirituais e das tuas carências lastimáveis. Não esqueças nunca que a boca fala daquilo de que o coração está cheio» (cf Lc 6,45).

(Adaptação de trechos do livro de F. Faus: A língua)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

É preciso libertar a vontade

É preciso libertar a vontade

By Pe. Faus on October 7, 2011

Um paradoxo

Vamos começar com um paradoxo, que não é um jogo de palavras, mas “a vida como ela é”: muitas vezes, as pessoas menos livres do mundo são aquelas que julgam ser mais livres.

Por quê? Porque só fizeram na vida o que queriam e gostavam, até que se habituaram de tal modo a isso, que agora “só podem” fazer isso mesmo, estão com uma paralisia grave da vontade, que lhes impede o menor movimento dos “músculos espirituais”, enfraquecidos e até incapacitados para se libertarem das amarras que eles mesmos criaram. São como uma hipotética aranha - valha a comparação, não muito elegante - que se foi envolvendo de tal modo em sua própria teia, que acabou ficando presa… e se asfixiou.

Tendo em vista o perigo dessa doença da vontade, São Josemaria Escrivá ensinava: “Nem tudo o que experimentamos no corpo e na alma deve ser deixado à rédea solta. Nem tudo o que se pode fazer se deve fazer. É mais cômodo deixar-se arrastar pelos impulsos que chamam de naturais; mas no fim deste caminho encontra-se a tristeza, o isolamento na miséria própria. Há pessoas que não querem negar nada ao estômago, aos olhos, às mãos. Recusam-se a escutar quem as aconselha…”. Pelo contrário, “o homem verdadeiramente homem [...]sabe prescindir do que faz mal à sua alma e apercebe-se de que o sacrifício é apenas aparente, porque, ao viver assim - com sacrifício - , livra-se de muitas escravidões”.

A vontade precisa ser libertada

A vontade - como a inteligência - é uma potência, uma energia da alma, que pode estar abafada ou liberada. Ninguém tem a vontade suficientemente “livre”. Todos temos que lutar para ir desamarrando a nossa vontade das fraquezas, preguiças, egoísmo, ilusões, paixões, manias e vícios, e transformá-la no que deve ser: a grande força inteligente, a gestora, a “executiva” racional da conduta humana.

Como libertar a vontade? Há duas “libertações, que são inseparáveis: a primeira consiste em pedir a Deus que nos empreste a sua fortaleza, a sua graça (e, para isso, rezar, confessar-nos, comungar…); a segunda consiste em lutar sinceramente para adquirir, com garra e sacrifício - com a prática da mortificação -, o autodomínio, necessário para sermos verdadeiramente livres.

Lembro-me de que, quando era criança, no colégio nos incutiam essa verdade por meio dos versos ingênuos de uma fábula, cujo autor já não saberia recordar e que traduzo a seguir: “A um favo de doce mel / dez mil moscas acorreram, / que, por gulosas, morreram, / presas as patas no mel. // Outra, em gostoso pastel / enterrou-se, e lá se fina. / Assim, se bem se examina, / os humanos corações / vão morrendo nas prisões / do vício que as domina”.

É preciso “desgrudar as patas do mel”. E isso só se consegue com a mortificação, sabendo dizer não e renunciando com alegria - ainda que custe - a uma série de prazeres que podem nos escravizar. É um esforço que vale a pena visando alcançar um bem maior: o autodomínio, a liberdade, a autodeterminação.

Ninguém pode dizer “sim”, se não aprende a dizer “não”

No livro Caminho lemos estas palavras: “Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e te negares a ti próprio nessas coisas - que nunca são futilidades nem ninharias -, fortalecerás, virilizarás, com a graça de Deus, a tua vontade, para seres, em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo…”

Achei muita graça num “teste de autodomínio”, que os monitores de um clube para garotos de 10 a 12 anos aplicavam aos meninos. Queriam ajudá-los a ter uma formação integral, e sabiam que não poderiam alcançá-la se descuidassem a autodisciplina, se não fossem limpando caprichos e “vontades”, na base de alcançar o domínio próprio por meio da mortificação. O teste fazia, entre outras, as seguintes perguntas:

- Assalto a geladeira logo que chego em casa, à tarde ou à noite?

- Faço as refeições com um refrigerante bem gelado e, evidentemente, nunca com água natural potável?

- Estabeleci uma lista de comidas tabus que não como nunca?

- Se minha mãe serve uma dessas comidas, reclamo na hora?

- Digo mais de sete vezes aos dia “não gosto”, “não estou com vontade”?

- Compro ao menos um chiclete por dia?

- Reclamo energicamente se a sopa está muito fria ou muito quente?

Esse teste para os adolescentes serve também, em boa parte, para adultos.

É preciso valorizar o autodomínio. Aprender o valor da mortificação: um “não” ao que nos ata e prejudica, para poder dizer “sim” ao que nos faz amadurecer e nos realiza.

É preciso aprender a exercitar-se diariamente, desde infância e a adolescência, em pequenas mortificações (também as relativas à ordem nas roupas e gavetas; à pontualidade nos horários, especialmente à hora de levantar e de dormir; aos tempos razoáveis de assistência à tv, de navegação na Internet, de brincar com videogames, etc.). Sem isso, sem essa disciplina, não pode haver formação nem caráter firme, não se pode forjar uma personalidade verdadeira. Pelo contrário, lutando, perdendo o medo da mortificação e da disciplina imprescindível - e sempre com a ajuda de Deus -, será possível formar homens e mulheres de caráter, que sejam donos de si mesmos.



(Adaptação de trechos do livro de F. Faus: Autodomínio)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

Caras sorridentes

Caras sorridentes

By Pe. Faus on October 6, 2011

“Não esqueças - dizia São Josemaria Escrivá - que, às vezes, faz-nos falta ter ao lado caras sorridentes” (Sulco, n. 57).

Ele o recomendava, e (sou testemunha disso) praticava-o em favor dos outros todos os dias. Costumava dizer, por experiência própria, que, em muitas ocasiões, “sorrir é a melhor mortificação”, porque custa. Sim, pode nos custar, custar muito, sobretudo nos dias em que não nos sentimos bem ou andamos aflitos e preocupados, mas o esforço sacrificado de tentar sorrir por amor - por amor a Deus e por amor aos outros -, passando por cima das dificuldades, constitui um belo serviço, pois torna mais amável e alegre a vida dos que convivem conosco.

É estranho, mas alguns pensam que sorrir sem ter vontade é hipocrisia. Não é verdade. Por exemplo, fazer o esforço, no lar, de sorrir para evitar preocupações, angústias, tormentos, mau humor ao marido, à mulher, aos filhos, é um grande ato de amor. O sorriso afetuoso dissipa nuvens, desarma irritações, abre uma nesga de céu por onde pode entrar o sol da alegria e o bom humor.

Por isso, deve-se lutar esforçadamente para não privar desse bem os outros. Sorrir não é só uma reação espontânea, uma atitude “natural” que não se pode controlar; pode - deve, muitas vezes - ser um ato voluntário de amor, praticado com esforço consciente, pensando no bem dos outros.

A este propósito, gosto de recordar um cartão de Boas-Festas que um padre amigo me mandou em fins de 1992. Era uma folha de papel simples, xerocada na paróquia, e trazia uma espécie de poema. Não sei se era da autoria dele, ou se o tomara emprestado de alguma publicação ou da Internet. Seja como for, o conteúdo era muito simpático. Debaixo do cabeçalho - Um sorriso -, vinham as seguintes frases:

- “Não custa nada e rende muito.

- “Enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o dá.

- “Dura somente um instante, mas os seus efeitos perduram para sempre.

- “Ninguém é tão rico que dele não precise.

- “Ninguém é tão pobre que não o possa dar a todos.

- “Leva a felicidade a todos e a toda a parte.

- “É símbolo da amizade, da boa vontade, é alento para os desanimados, repouso para os cansados, raio de sol para os tristes, ressurreição para os desesperados.

- “Não se compra nem se empresta.

- “Nenhuma moeda do mundo pode pagar o seu valor.

- “Não há ninguém que precise tanto de um sorriso como aquele que já não sabe sorrir.

- “Quando você nasceu, todos sorriram, só você é que chorava. Viva de tal maneira que, quando você morrer, todos chorem e só você sorria”.



(Adaptação de um trecho do livro A paz na família)
Fonte: Fé, Verdade e Caridade

O Sentido da Cruz

O Sentido da Cruz
Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa.
O que significa a cruz para você?
Que sentido ela tem na sua vida?
Padre Pio de Pietrelcina sabiamente dizia que "o sofrer é de todos", mas "o saber sofrer é de poucos". Todos sofremos, todo ser humano tem algum sofrimento em sua vida, mas é muito comum pensarmos que somos a pessoa que mais sofre no mundo ou até agirmos como se só nós sofrêssemos. Temos a mania, na hora da dor, de pensar que todas as maldições do mundo estão apontadas para "eu" e que a grama do vizinho é sempre mais verde. Quando mais atentos e sinceros, no entanto, percebemos que todos sofrem, inclusive seu vizinho do jardim bonito - e certamente há alguém sofrendo mais do que você, que agora pode ler este texto.


Os jardins bonitos sempre estão nos programas de TV: as câmeras invadem as casas dos "famosos" e milionários para mostrar como a vida deles parece ser é legal. Quando você vê depois, na revista de fofoca, que um deles foi preso ou internado por causa de depressão, você pensa: "ah! Mas se fosse eu no lugar dele, seria diferente"...

Nas estradas da vida, conheci pessoas que têm a semana lotada de festas, estão a quase toda hora sorrindo e dançando; mas, quando chegam em casa, tomam o remédio controlado e se trancam no quarto para chorar.

O paganismo diz que você tem que buscar as criaturas que lhe fazem feliz, o que quer dizer que a felicidade está nas criaturas. O cara se mata de trabalhar para juntar dinheiro para um final de semana em Fernando de Noronha porque ele acha que vai ser feliz nesse momento. O romântico faz de tudo para agradar a sua paixão, mas, se um dia ele a perde - ou descobre que nunca poderá conquistá-la -, ele perde (também) o rumo da vida. O Cristianismo, porém, me ensinou - me guiando nas primeiras estações de minha própria via crucis - que, para nos relacionarmos com as criaturas, nós já deveríamos estar felizes. Você não deveria ir ao trabalho para buscar, nele próprio ou em seu salário, a alegria: você deveria ir ao trabalho porque já está alegre. É uma felicidade que vem de dentro...


Mas como chego a essa felicidade? Qual é a sua fonte? Só há um ser que pode nos dar essa verdadeira felicidade: Deus. Para a criatura ser feliz é preciso que ela esteja em comunhão com o Criador. Assim, ela estará em Deus, e Deus estará nela. Nessa condição, a criatura encontra em seus semelhantes um meio de encontrar o Criador, e ela própria é um canal da bondade e da felicidade de Deus para as outras criaturas.

Tudo que está de errado no mundo se deve justamente às pessoas buscarem a felicidade no mundo, ao invés de encontrá-la em Deus e trazê-la para o mundo.

Mas o que fazer para alcançar a comunhão com Deus? Depois do pecado original, de toda essa bagunça que a gente já fez, só há um caminho: o único caminho que nos leva de volta para Deus é a Cruz. O próprio Deus, infinitamente misericordioso, veio, como ser humano, ao nosso meio onde foi pregado, literalmente, a uma cruz e, assim, foi o primeiro homem a mostrar o que os outros deveriam fazer para voltar a seu Criador. Aquilo que para os judeus era escândalo e para os pagãos era loucura (I Coríntios 1,18), aquilo que parece ser o fim, ou a própria perdição, para os descrentes, tornou-se, para os cristãos, não somente um símbolo, mas o seu meio de salvação.

Qual o significado da cruz na sua vida? O que significa a cruz para você?


Aquela doença para qual não se descobre cura, aquele tratamento doloroso e incomodo que tem de ser feito; aquele trabalho degastante; aquela gravidez indesejada, aquele filho especial ou aquele idoso que você tem de cuidar; aquele pai alcoólatra que bate em você e na sua mãe; aquela falta de dinheiro ou mesmo de alimento; o "bullying", os preconceitos que as pessoas tem contra você, aquele irmão que se mete demais na sua vida; a garota que não te quer ou aquele garoto com quem você tanto quer "fazer amor", mas não deveria...

Tudo isso e muito mais pode ser a sua cruz. Através dessas coisas Deus pode derramar graças na sua vida; Deus não permitiria esses amargos "limões" se não nos permitisse ser capazes de transformá-los em saborosas "limonadas". Através desses sofrimentos, dos menores aos maiores, poderemos encontrar o próprio Deus, fonte da Verdadeira Felicidade, a Verdadeira Alegria dos homens. Mas para isso é preciso "abraçar a cruz"; ao invés de inevitavelmente fugir do sofrimento, é preciso aceitá-lo como uma missão.

Serei capaz disso? Existem histórias reais de pessoas que provaram ser possível, a exemplo de Cristo, passar pela cruz. A vida dos santos é a prova concreta. Não estou falando aqui do "testemunho" que você pode ter ouvido hoje a tarde ou de madrugada (ou a qualquer hora!) no programa de algum "apóstolo", estou falando da vida histórica e documentada de homens e mulheres que tiveram a presença de Deus, da verdadeira felicidade, na sua vida.

Você pode não acreditar nos milagres do Padre Pio ou de Santa Rita, mas de uma coisa você pode ter certeza: os santos foram (e hoje são muito mais) bem mais felizes que tantos desses "famosos" e milionários; eles, que aceitaram sua cruz, os sofrimentos que chegavam em suas vidas - dos quais extraiam o bem e sua própria santidade.

Criou-se em nosso tempo o estereótipo de que os santos são tristes - talvez por causa de seus sofrimentos e sua atitude em aceitá-los. Mas o que acontece é justamente o contrário! Conheça-os (e para os católicos isso vai além de ler sobre eles) e descobrirá que era uma virtuosa e misteriosa alegria interior que os ajudava a alcançar seus heroísmos. Santos são os imitadores de Cristo, portanto não poderiam deixar de passar pela cruz.

Infelizmente, em certas "igrejas" nem se fala em santos, enquanto se busca, a todo custo e dízimo, fugir da cruz. Diria que buscam a Cristo sem a cruz, mas sequer buscam a Cristo: buscam somente seus milagres...

Não podemos ir à igreja pelo mesmo motivo que os pagãos vão às loterias! A igreja é um lugar especial para pedirmos a Deus a força e o dom dessa misteriosa alegria, que nos ajudarão a carregar a nossa cruz de cada dia até quando Ele quiser. Num encontro cristão de jovens, de casais, de dependentes químicos é possível ver que todos sofremos, embora os sofrimentos sejam diferentes; e assim poderemos nos ajudar, uns aos outros, em nossos calvários.



Essa é a resposta para você que pergunta o porque dessa dor; essa a resposta para você que está em depressão; a resposta para você que não é capaz de olhar ao lado e ver que o outro também sofre (a diferença dele talvez seja a atitude ante o sofrimento); está aqui a resposta para você que acha que sua vida não vale nada e quer acabar com ela. Olhem para Cristo! Olhem para a Cruz! Olhem, e encontrarão o sentido de suas vidas.

Meu irmão, minha irmã, você não está só. Há bilhões de pessoas que sofrem, como você - umas mais, umas muito mais, outras menos, outras igualmente. Todos sofrem. O próprio Deus, quando veio ao mundo, sofreu. Você é chamado agora a dar um sentido ao seu sofrimento. Há, entre esses bilhões, uma multidão de pessoas que decidiu abraçar seu sofrimento como uma missão, o meio de encontrar a tão almejada felicidade.

Desde a década de 80, circula pelos diversos países do mundo uma cruz de madeira de 3,8 metros de comprimento. Junto dela vem a imagem de uma mãe ternurosa: a Mãe que o Crucificado deu aos seus irmãos, para que aqueles que também se dispuserem a carregar a própria cruz tivessem um alento nas horas de dor e cansaço.

Carregando uma cruz visível, jovens do mundo inteiro lembram que também deveríamos carregar as nossas cruzes invisíveis. Essa cruz fortalece os laços entre os que abraçaram seu calvário; ela une os católicos - assim como une quem a enviou. Essa cruz esteve em minha cidade nos dias 11 e 12 de janeiro de 2012. Sobre essa experiência escreverei em breve.


Que significa a cruz na sua vida? Qual é a sua cruz?
Fonte: Fé, Ciência e Etc...