sexta-feira, 23 de março de 2012

As estruturas do mundo ameaçam ruir, enquanto crescem as saudades da Cristandade

As estruturas do mundo ameaçam ruir, enquanto crescem as saudades da Cristandade


30/1/2012

Luis Dufaur

A interdependência universal das economias, das políticas e das sociedades ao longo de várias décadas deu início ao maior colosso de origem humana da História. Mas ele continha fissuras que em 2011 se agigantaram e ficaram expostas, ameaçando um desabamento também universal.

Nos períodos pobres em acontecimentos o tempo parece não passar, e todo o ocorrido no seu decurso parece ter-se dado há pouco. Mas quando a sucessão dos fatos é vertiginosa, os eventos próximos parecem de há muito transcorridos. O ano de 2011 foi destes.

Em janeiro passado o Brasil sofria a mais mortífera catástrofe natural de sua história e uma das dez piores do mundo no último século. Contaram-se pelo menos 902 mortos e 400 desaparecidos. Na região serrana fluminense, chuvas incomuns provocaram deslizamentos de toneladas de terra, quedas de pedras gigantescas e enxurradas de lama comparadas a tsunamis, que atingiram 100 km/h. Não só prédios, mas bairros inteiros foram inundados ou sepultados em segundos, em um cenário semelhante ao provocado pelo furacão Katrina que em 2005 devastou Nova Orleans. Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis foram algumas das 15 localidades mais afetadas.

O engenheiro Ícaro Moreno Júnior, presidente da Empresa de Obras Públicas (Emop), avaliou: “Era impossível prever algo daquela dimensão. Foi como se a natureza decidisse despejar toda sua força de uma vez só”. Dez dias depois da tragédia, 130 geólogos de todo o Brasil que haviam se apresentado como voluntários não tinham uma explicação para o fenômeno.

Num contexto geográfico inteiramente diverso, na Austrália, chuvas torrenciais fizeram transbordar o rio Brisbane, também com a força e a extensão de um tsunami.
Japão: tsunami, terremoto e crise nuclear

No Japão, um tsunami provocado pelo sexto terremoto mais violento da História engoliu 26.466 pessoas, entre mortos e desaparecidos

Porém, o tsunami — não metaforicamente falando, mas o real, provocado pelo sexto terremoto mais violento da História — veio pouco depois, no Japão, tragando 26.466 pessoas, entre mortos e desaparecidos. As fotos das pavorosas ruínas da cidade de Sendai e vizinhanças estão em todos os jornais, TVs e sites da Internet.

O terremoto interrompeu a produção de automóveis, chips de computador e diversos outros bens. Fábricas estratégicas foram obrigadas a fechar prolongadamente as portas, criando um ponto de estrangulamento na economia global. Até no Brasil as montadoras japonesas dependentes de peças da matriz acusaram o golpe.

Entre os imensos estragos, a situação da antiga central atômica de Fukushima — que em parte derreteu e espalhou relevante radiação nas redondezas — inspirou graves temores. Embora muitíssimo menos grave que a da usina soviética de Chernobyl, o acidente de Fukushima foi intensamente explorado pela mídia e pelo ambientalismo para promover o desmantelamento de toda e qualquer central nuclear e até mesmo do sistema industrial moderno, o qual é acusado sem matizes de pôr em risco a vida na Terra.

De um lado, o caso de Fukushima ajudou a perceber a existência de como que tumores cancerígenos industriais instalados em vários pontos-chave de um mundo tornado quase totalmente interdependente. De outro, a manipulação demagógica dos fatos distorceu sua focalização e os “verdes” capitalizaram a onda de pânico, servindo-se para isso do sensacionalismo midiático. Na Alemanha, por exemplo, eles “surfaram” nas ondas de Fukushima e no estado de Baden-Würtemberg infligiram considerável derrota eleitoral ao CDU, partido democrata-cristão ao qual pertence a chanceler Angela Merkel.
Avisos e proteções de Nossa Senhora

Mas o tsunami trouxe outras recordações. Em 1973, no convento das Servas da Santíssima Eucaristia, em Yuzawadai, perto de Akita — a região mais atingida pelo terremoto — Nossa Senhora se manifestara à Irmã Agnes Katsuko Sasagawa, então com 42 anos de idade.

Akita está situada na mesma latitude do epicentro do colossal abalo sísmico, a 150 km de Sendai, a cidade mais atingida. As aparições de Akita haviam sido analisadas e aprovadas pela Hierarquia eclesiástica. Naquela data, Nossa Senhora preanunciou que castigos ainda mais terríveis do que aquele enorme terremoto e tsunami viriam, caso o clero católico e o mundo não se arrependessem e mudassem de vida. “Se os homens não se arrependerem e melhorarem, o Pai infligirá um terrível castigo para a humanidade. Será uma punição maior que a do dilúvio, nunca vista antes. Fogo cairá do céu e destruirá grande parte da humanidade, tanto os bons quanto os maus, não poupando nem sequer os sacerdotes ou fiéis”, advertiu Nossa Senhora.

“A obra do demônio se infiltrará até mesmo dentro da Igreja, de tal modo que veremos cardeais se opondo a cardeais, bispos contra bispos. Os padres que Me veneram serão escarnecidos, menosprezados e combatidos pelos seus confrades [outros padres]. Igrejas e altares serão pilhados. A Igreja estará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio afligirá muitos padres e almas consagradas para que deixem o serviço do Senhor. Se os pecados aumentarem em número e gravidade, em breve não haverá perdão para eles. Aqueles que colocam sua confiança em Mim serão salvos”, concluiu o aviso maternal.

Também na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro a Santíssima Virgem quis deixar claro que sua presença protetora ali estava para os que ouvem a sua voz. No meio de grandes pedras e troncos de árvores arrastados pela enxurrada podia-se contemplar, incólume, uma frágil imagenzinha de gesso de Nossa Senhora das Graças que, em seu oratório de madeira exposto às intempéries, soube resistir a estas de modo surpreendente. Arrebatadora, a aluvião a envolveu, pareceu engoli-la, mas nada pôde contra a Imaculada!

Numerosas reuniões de cúpula, promessas de decisões transcendentais e aumentos eletrizantes do poder da UE foram encabeçadas pelos dois “grandes” da UE, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, poderosa dupla apelidada de Merkozy.

Tsunami financeiro: crise do euro e da União Europeia

No início do ano, a utopia da República Universal, encarnada a seu modo pela União Europeia (UE), afigurava-se quase morta nos espíritos. Porém ainda resistia, exibindo sua formidável organização material. Já no fim do ano, na ordem concreta dos fatos, a UE entrava em ebulição, com governos e empresas preparando-se para o impensável: a ruptura da união monetária, acompanhada por abalos financeiros e desordens sociais imprevisíveis. O descontentamento e a discórdia estendem-se a outros pontos nevrálgicos, como a moeda comum, o euro.

Em janeiro do ano passado, na reunião dos máximos representantes do mundo econômico e financeiro, realizada em Davos, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, garantiu: “Quem apostar contra o euro vai queimar os dedos”. Porém, pelo fim do ano, aconteceu o oposto: não eram os dedos dos eurocéticos (contrários à União Europeia) que se queimavam, mas todo o corpo da união monetária, crucial para haver união política. Numerosas reuniões de cúpula, promessas de decisões transcendentais e aumentos eletrizantes do poder da UE foram então encabeçadas pelos dois “grandes” da UE, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, poderosa dupla apelidada de Merkozy.

As medidas de salvação do euro, anunciadas estrepitosamente na UE, tiveram até o momento resultados pífios, e seu futuro é incerto. Pelo fim do ano, cada novo anúncio de mais uma reforma profunda das finanças e dos tratados fundacionais da UE para conjurar a crise era “mais do mesmo”, sem qualquer resultado sério.
“Merkozy” contra a opinião pública europeia

Numa desesperada tentativa de salvar os países da eurozona em crise, a chanceler da Alemanha foi ao Parlamento de Berlim para impor um aumento da participação de seu país no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Embora tal ideia fosse repelida pela maioria do povo e dos deputados alemães — cansados de financiar outros países que pouco ou nada faziam para pagar suas dívidas e racionalizar seus orçamentos — Angela Merkel conseguiu obter dos parlamentares a aprovação desejada. Constatou-se, porém, poucas semanas depois, que o fundo salvador era fantasmagórico, porque os capitais indispensáveis não afluíam.

Se nadar contra a correnteza é árduo, muito mais o é governar contra a opinião pública. E esta não foi somente a grande ignorada na crise, mas até mesmo a grande repelida. Bastou o premier socialista grego, Papandreou, anunciar um plebiscito a fim de auscultar o povo sobre as medidas de arrocho econômico, para ser em seguida deposto de modo ditatorial pela troika composta pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em seu lugar foi nomeado Lucas Papademos, considerado um técnico ao gosto da troika que se arrogou a tarefa de direção da UE.

De chibata na mão, observada por Portugal, Grécia e Itália algemados, Angela Merkel diz ao Banco Central Europeu (ECB), que leva dinheiro para salvá-los: Mais dinheiro não, mais disciplina!

A crise derrubou sete governos, entre eles o quase inabalável “reinado” de Silvio Berlusconi, na Itália. Em seu lugar a troika impôs um primeiro ministro de seu gosto: Mario Monti. Este apresentou em dezembro mais um plano de arrocho — a lei Salva Itália — dizendo: “Os mercados são um animal feroz e hoje estão bravos: nós temos que domá-los”. Frase por certo prenunciadora de maiores atritos.

Dos EUA, onde a crise financeira também produzira anteriormente sérios problemas, chegaram durante o ano notícias menos alarmantes, mescladas com sinais debilmente positivos.

Mais obscuro e enigmático, contudo, ficou o panorama econômico chinês. A potência comunista — que não produz suficiente comida para alimentar seu sofrido povo — depende em tudo de suas exportações ao Ocidente e do dinheiro que recebe em troca. Mas o esfriamento das economias ocidentais acarretou-lhe diminuição de atividades e grande número de revoltas operárias. As famosas reservas chinesas de dólar mostraram-se exíguas, incapazes de tampar sequer o buraco da eventual falência da Itália. O que então dizer desse claudicante dragão chinês no tocante à crise da Europa? De eventual “salvador” a China passou a ser imenso espectro desestabilizador. As esquerdas laicas e católicas, apologistas da UE e do euro, insistiram como remédio um aumento dos poderes absorventes da própria UE e do Banco Central Europeu (BCE), em detrimento da soberania das nações. Precisamente aquilo que para largos setores da opinião pública europeia é a própria essência do mal presente, ou seja, o socialismo crescente. A chanceler da Alemanha teve que assumir a contragosto o papel de “Lady No”, ao negar a emissão de mais dinheiro pelo BCE; dinheiro este que acabaria sendo fornecido pela Alemanha. A opinião pública germânica não suporta mais financiar governos estrangeiros.

Tida como o bastião que segurava a economia europeia, a Alemanha deu, nos últimos meses do ano findo, graves sinais de contágio do mesmo mal que aflige os demais governos. Durante todo o ano Merkel exigira insistentemente, dos países europeus com problemas, mais disciplina e menos despesas. Em vista disso, não causou espanto o crescimento nesses países de um sentimento germanofóbico, pois afinal Berlim cometera os mesmos abusos que, de látego na mão, queria extinguir nos outros.
Horizontes aterradores impensáveis

No final do ano, economistas, sociólogos e especialistas de diversas áreas trabalhavam com hipóteses que incluíam o surgimento de desordens sociais, decorrentes de desabamentos até há pouco tempo impensáveis nas economias mundiais: corridas aos bancos, evaporação da poupança de milhões de cidadãos, empobrecimento de nações inteiras, “corralitos”, desvalorizações devoradoras, migrações, saques e revoluções. Nas combalidas esquerdas, a perspectiva de um colapso do capitalismo privado — baseado na propriedade particular e na livre iniciativa — afigurava-se como a realização das obscuras profecias de Karl Marx, um equivalente ocidental da derrubada, nas décadas de 80 e 90, do capitalismo de Estado socialista e anticristão simbolizado pela URSS.

Nas minorias radicais anarquistas, ambientalistas e comuno-tribalistas, a crise era comemorada como um passo rumo à utopia eco-tribalista de uma humanidade diminuída que “retornava” à vida na selva. Porém, ecologia e ambientalismo radicais tiveram pouca ressonância na opinião pública, como ficou evidenciado no esvaziamento das exageradas profecias de um “aquecimento global”, como também no desinteresse pela Conferência de Durban.

Fugitivos das revoltas e guerras civis do norte da África chegavam ilegalmente em barcos à ilha de Lampedusa, no Mediterrâneo, pertencente à Itália

Crise migratória racha a Europa

A União Europeia sonhou constituir uma sociedade imensa, “célula-mater” da República Universal, na qual a multiplicação das vias de comunicação e a fusão das economias dos diversos países gerariam um todo cada vez mais interdependente amalgamando povos das mais diversas culturas e etnias. Sua opulência e seu laxismo alfandegário atraíam multidões de todos os recantos do mundo. Porém, receosos de ficarem sujeitos — a exemplo do império romano — à pressão de imensas e incontroladas levas de estrangeiros, os povos do continente ficaram dominados pelo pavor.

No início do ano, a contragosto de Bruxelas, a Grécia anunciou a construção de uma fossa aquática de 120 quilômetros de comprimento ao longo de toda a sua fronteira transitável com a Turquia. A fronteira seria ladeada por um muro de três metros de altura, 30 de largura e sete de profundidade, bem como cercada por arame farpado, câmeras térmicas e sensores de movimento. Por essa fronteira entraram, só em 2010, 180 mil pessoas, o equivalente a 90% dos imigrantes ilegais na UE.

Poucos meses depois, mais de 35 mil magrebinos — fugitivos das revoltas e guerras civis do norte da África — chegavam ilegalmente em barcos à ilha de Lampedusa, no Mediterrâneo, pertencente à Itália. Muitos outros milhares sucumbiram naquele mar, durante a mesma tentativa desesperada. Incapaz de sustentar essa multidão, a Itália concedeu um visto temporário aos recém-chegados e os encaminhou aos países vizinhos. Esse grande fluxo obrigou as autoridades francesas a barrar as linhas férreas provenientes da Itália e devolver os imigrantes dotados de vistos legais. Paris pediu então — e obteve — a reforma do tratado de Schengen, que garante a livre circulação nas fronteiras sem controle de identidade.

Em outro lance, com argumentos e pretextos polêmicos, a Dinamarca restabeleceu os controles fronteiriços para se defender da imigração descontrolada e do crime. A Comissão Europeia de Bruxelas, máximo órgão executivo da União Europeia, ameaçou processar o país “dissidente”. A decisão foi verberada como sendo um “presente” intolerável do Partido do Povo Dinamarquês, rotulado de “extrema-direita” e por isso mesmo tido como indigno de ser ouvido no debate democrático.

Na França, Marine Le Pen comemorou a decisão dinamarquesa que acabara “com o bla-bla-blá permanente e inação total do governo”. Para ela, o exemplo deveria ser seguido por outros países. Na Suíça, Christoph Blocher, líder da União Democrática de Centro (UCD), partido governante, propôs restabelecer os controles policiais nas fronteiras e abandonar o tratado de Schengen para limitar a imigração ilegal.

Em face desse gênero de reações, reveladoras de um crescimento da direita na juventude europeia, o mau humor e o temor foram crescendo nos ambientes favoráveis à UE, dominados pelas esquerdas e pelo progressismo católico. Por exemplo, o jornal sueco de tendência socialista “Aftonbladet”, o maior da Escandinávia, levantou o espantalho de que “nos armários de sapatos da Europa, as botas estão guardadas e prontas para serem usadas”.

O fato é que largos setores da opinião pública europeia já estão enojados com os abusos totalitários praticados pela UE, notadamente na questão relativa à maciça imigração islâmica, vista por eles como uma “invasão”. Porém, os “europeístas” se recusaram a renunciar à utopia igualitária de “um continente sem fronteiras”.

O fundamentalismo islâmico — cuja cabeça reside no Egito, mas que se estende por todo o mundo muçulmano — foi surgindo como a verdadeira inteligência que teleguiava os agitadores da rua, mandando atacar igrejas, interromper cerimônias cristãs e matar fiéis.

“Primavera árabe” ou “primavera fundamentalista”

Na Líbia, o ditador Khadafi, acobertador do terrorismo nos tempos da URSS, não entregou pacificamente o poder

Batizado como “Primavera árabe”, um tsunami de revoluções percorria o mundo muçulmano, desde o Marrocos, nas costas do Atlântico, passando pela Tunísia, o Egito e a Síria no Oriente Médio, atingindo o Bahrein e o Kuwait no Golfo Pérsico, o Iêmen e a Arábia Saudita no Mar Vermelho. A imprensa mundial ressaltava as aparências liberais e democráticas dessas revoluções simultâneas em vários países tão diversos. Dizia-se que as revoltas populares eram ateadas pelos anseios de liberdade e democracia entre as novas gerações criadas e organizadas por meio de Internet e dos celulares. Tudo começou na Tunísia, quando um ambulante ateou fogo em seu corpo como protesto. Manifestações em série, que exigiam a queda do regime socialista e altamente corrompido do país, espocaram imediatamente.

O incêndio propagou-se aos países vizinhos segundo um esquema estranhamente similar. Enquanto a ditadura socialista tunisiana ruía e Zine el Abidine Ben Ali renunciava, no coração do Cairo, no Egito, as agora famosas manifestações na Praça Tahrir atingiam grande dimensão e duração. Elas exigiam a queda do presidente socialista Hosni Mubarak, sustentado pelo exército e por um esquema de governo também marcado pela corrupção. Após muitos enfrentamentos de rua, o ditador egípcio acabou renunciando.

A “Primavera árabe” ensejou a instalação no poder de coalizões de grupos oposicionistas que deveriam preparar a transição para regimes genuinamente livres e democráticos. Mas nessas coalizões, compostas muitas vezes por ex-membros dos governos derrubados e por políticos sem base nem representação, um silencioso mas determinado grupo ia impondo o tom: os Irmãos Muçulmanos. Dependente da organização semi-secreta dos Irmãos Muçulmanos ou Irmandade Islâmica, o fundamentalismo islâmico — cuja cabeça reside no Egito, mas que se estende por todo o mundo muçulmano — foi surgindo como a verdadeira inteligência que teleguiava os agitadores da rua, mandando atacar igrejas, interromper cerimônias cristãs e matar fiéis.

Das prometidas reformas liberalizantes muito pouco se tinha feito no fim do ano, mas a brutal sharia (lei islâmica) foi sendo por toda parte propugnada. Os sucessivos governos de transição na Tunísia e no Egito foram sendo cada vez mais contestados pela agitação de rua conduzida pelos ambíguos e misteriosos Irmãos. Como que se adiantando à revolução, no Marrocos o rei prometeu reformas democratizantes e convocou eleições. Em novembro, os fanáticos Irmãos, embora usando uma máscara moderada, saíram das urnas como a maior força organizada.

Na Líbia, o ditador Khadafi, acobertador do terrorismo nos tempos da URSS, não entregou pacificamente o poder. A oposição insurgiu-se em armas, mas logo se patenteou que ela não tinha vigor nem liderança para se impor. A intervenção militar da NATO acabou pondo em fuga o sanguinário ditador, que foi linchado e morto por opositores.

Em maio, numa bem planejada operação-comando dos EUA no Paquistão, foi morto Osama Bin Laden, o chefe terrorista islâmico mais procurado.

A “Primavera árabe” e o desaparecimento simultâneo desses dois líderes deram lugar a um new look do fanatismo maometano, tanto em sua imagem como na estratégia. Os grupelhos terroristas passaram a um segundo plano. A avançada radical passou a se fazer por vias “democráticas”, nas barbas de uma Europa absorvida pela crise econômica interna. Em dezembro, a Fraternidade Muçulmana e o partido salafista, também fundamentalista, obtiveram 65% dos votos nas eleições gerais do Egito. O Mediterrâneo tende a se tornar, pelo menos no sul, um Mare nostrum islamita radical!

Indignados espanhóis, Occupy Wall Street e congêneres

A “Primavera árabe” recrutou imitadores no próprio Ocidente. Os mais promovidos foram os “indignados”, movimento de jovens com celular na mão que acamparam notadamente na praça Puerta del Sol, em Madri, e depois — com muito menos participantes, aliás — em outras cidades da Espanha.

Eles pretendiam tão-só ser os “indignados” diante de uma democracia que perdeu a representatividade e de uma economia que dava sinais de cair aos pedaços. Diziam não professar nenhuma ideologia nem depender de qualquer partido ou corrente organizada; diziam-se apenas profundamente “indignados” e inspirados pela “Primavera árabe”. Mas esta fachada foi ruindo gradualmente. A Espanha não demorou muito a identificar neles os velhos grupos anarquistas e anticapitalistas que, sob nova fachada e aproveitando-se da crise financeira e econômica em que o país foi submerso, tentavam provocar o caos e a anarquia.

Multiplicaram-se as tentativas de imitar o exemplo dos “indignados” espanhóis, com parcos resultados. Na Inglaterra, seus êmulos partiram para a violência, depredação, saques e crimes. Apelando às redes sociais e aos celulares, eles inauguraram uma guerrilha urbana particularmente violenta e eficaz. Numerosos prédios e lojas das periferias de Londres e outras cidades inglesas foram entregues às chamas. Os agitadores — desempregados, mas jogadores assíduos de videogames e frequentadores dos ambientes do rock e da droga —, provinham em geral de famílias desfeitas não raro ricas, e eram contemplados pelos “planos sociais”.

Dentre esses grupos anarquistas e anticapitalistas, poucos foram tão contemplados pela mídia quanto a versão americana Occupy Wall Street. “A maioria das pessoas os considera um grupo de baderneiros em busca de sexo, drogas e rock’n’roll”, disse um gestor de fundo de investimentos. O acampamento americano acabou sendo proibido pela polícia por razões de higiene. Porém, nada indica que os propulsores da agitação tenham desistido de seus planos revolucionários anticapitalistas.
“Epidemia” de câncer e paralisia

Na América Latina, os populismos perderam fôlego. Uma estranha “epidemia” de câncer atingiu seus líderes mais dinâmicos. Destarte passaram a assemelhar-se ainda mais com Fidel Castro o mandatário venezuelano Hugo Chávez — gravemente adoentado — e o ex-presidente Lula, que até antes do câncer ainda exercia sua influência na política nacional. Somadas à doença conhecida dos atuais presidentes do Brasil e do Paraguai — e sem levar em conta rumores sobre a saúde da presidente da Argentina —, o certo é que não faltou quorum para o ex-presidente brasileiro propor uma reunião internacional de “presidentes com câncer”. Como seria melancólica uma reunião de líderes que tendo tomado a peito implantar o socialo-comunismo no continente, se viram de repente reduzidos a um possível encontro para troca de informações sobre o prolongamento de suas vidas...

Pior sem dúvida foi a sorte dos líderes das FARC mortos pelas Forças Armadas da Colômbia em bem-sucedidas operações militares. No Equador, Bolívia e Nicarágua, os presidentes, discípulos de Hugo Chávez, escolheram a discrição. No Peru, Ollanta Humala, eleito presidente com o auxílio do socialismo chavista e do PT, rapidamente escolheu o mesmo caminho. No fim do ano, as esquerdas populistas latino-americanas exibiam singular paralisia, esperando talvez que da crise europeia viessem estímulos ou pretextos para retomar a avançada revolucionária.

As carências de ativismo revolucionário nos poderes Executivo e Legislativo foram supridas por estarrecedoras sentenças do Poder Judiciário. Entre elas, destacou-se a decisão do STF brasileiro de equiparar as uniões homossexuais estáveis às do casal constituído por homem e mulher, bem como de legalizar as polêmicas e repudiadas “Marchas pela maconha”. A respeito desta última decisão, explicou o ministro do STF, Marco Aurélio Mello: “Vale para tudo. Para cocaína ou para qualquer outro crime”. A esse propósito, é oportuno lembrar que o consumo médio de crack é de 1 tonelada/dia, segundo a Polícia Federal. O sistema de saúde passou a atender mensalmente a 250 mil viciados, um aumento de mais de dez vezes em relação a 2003.
Ofensiva laicista e revolta progressista, aliadas contra Roma

A ofensiva contra a Igreja Católica explorando casos de pedofilia — autênticos, forjados ou inverificáveis — fez devastações. Para isso cooperaram figuras do clero progressista que durante décadas contestaram a moral sexual da Igreja e procuraram reformá-la. O padre e sociólogo belga François Houtart, 85, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial e candidato ao Prêmio Nobel da Paz, admitiu por escrito ter abusado sexualmente, nos anos 70, de um primo menor. A notícia constrangeu figuras da esquerda católica brasileira como Plinio de Arruda Sampaio, Frei Betto e Oded Grajew. Na Bélgica, o bispo de Bruges, D. Roger Vangheluwe, que renunciou por semelhante escândalo, faz declarações ao canal de TV VT4 sobre um segundo caso de sedução de que foi protagonista, desta feita em relação a um sobrinho.

Em julho, o Vaticano convocou o Núncio na Irlanda para consultas, após o primeiro-ministro Enda Kenny acusar a Igreja Católica e a Santa Sé de obstruírem as investigações sobre atos de pedofilia. A Irlanda revidou fechando sua embaixada ante a Santa Sé.

O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, membro da Comissão da Santa Sé para a Igreja Católica na China, foi um dos porta-vozes mais salientes e ouvidos dessa respeitosa reação de fiéis chineses que resistiram com vigor e espírito de fidelidade a uma política de distensão que para eles era inaceitável

Rebelião organizada no clero

Em maio, o Vaticano destituiu o bispo de Toowoomba, Austrália, Mons. William M. Morris, por pregar a ordenação sacerdotal de mulheres e a celebração da Missa por ministros protestantes. Na Áustria, por sua vez, a rebelião progressista contra a Santa Sé subiu de grau com o movimento Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos párocos), que lançou o manifesto “Apelo à desobediência”. O movimento diz contar com a adesão de mais de 300 párocos austríacos. Porém, um exame atento das assinaturas permitiu identificar muitos leigos e até o caso de religiosos cujos nomes foram incluídos falsamente para fazer número. O movimento prega objetivos convergentes com a onda anticatólica que age invocando casos de pedofilia: abolir o celibato eclesiástico; substituir as Missas — em muitos casos, aliás, de fato abolidas por uma simulação inimaginável, com as chamadas “eucaristias secas” [ou “missas secas”] presididas por leigos, homens ou mulheres; distribuição da comunhão a divorciados, hereges e cismáticos; readmissão ao uso de ordens dos sacerdotes casados, amasiados ou em situações irregulares; inclusão de mulheres e homens casados no sacerdócio. A nota dominante do apelo é a incitação à desobediência ao Direito Canônico, à ordem hierárquica da Igreja e ao próprio Decálogo.

Alguns dos signatários promoveram liturgias que são verdadeiras pantomimas, como a “Missa Harry Poter”, na qual o sacerdote se exibia a caráter; ou a “Missa do peão”, em que os participantes, sentados em torno de mesas, comiam churrasquinho, bebiam cerveja ou refrigerantes enquanto o sacerdote celebrava com vestimentas à moda cow-boy, ao som de violões e canções country. O episcopado austríaco não reagiu ante esses espetáculos blasfematórios, tentou minimizar a revolta e até explicá-la com argumentos trabalhistas. O cardeal de Viena se fez portador junto ao Vaticano de algumas dessas inaceitáveis exigências. O “Apelo à desobediência” recolheu adesões na Bélgica, na Alemanha e na França. Na maior parte dos casos tratou-se de sacerdotes idosos, outrora ativistas do chamado “espírito do Concílio”, que hoje sofrem duplamente angustiados: tanto pela falta de continuadores como pela aparição de uma nova geração de sacerdotes desejosos do retorno às formas autênticas e tradicionais na liturgia, na disciplina e nos costumes eclesiásticos.

Um fato ocorrido na arquidiocese de São Paulo revela a dimensão simbólica da penetração na Igreja do espírito permissivista, de abertura ao mundo e a seus costumes revolucionários. Um artista instalou uma escultura na Rua Apa, em pleno centro da “cracolândia” paulistana, com a invocação de “Nossa Senhora do Crack”. A iniciativa foi naturalmente considerada como ofensiva a Nossa Senhora e uma incrível exposição de uma imagem d’Ela à profanação. O Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer, elogiou o gesto e julgou que a iniciativa não representava profanação. “Vi e fiquei comovido. Nossa Senhora do Crack, rogai por eles e por nós também!”, comentou. No dia seguinte, a imagem apareceu destruída. “Crack não é de Deus e a santa é coisa divina”, disse um dos drogados que cometeram o ato de vandalismo e que parece não se ter conformado com a idéia de ligar Nossa Senhora ao crack.
A Ostpolitik vaticana e o drama dos fiéis chineses

Pouco noticiada no Brasil, a política de aproximação da diplomacia vaticana com a ditadura marxista de Pequim atingiu extremos de dramaticidade. Após beneficiar-se de pronunciados gestos de abertura e concessão da Santa Sé, o governo chinês procedeu à sagração ilegal e sacrílega de bispos. Os fiéis, já muito perplexos com as boas relações dos representantes vaticanos com os seus algozes, resistiram com vigor e espírito de fidelidade a uma política de distensão que para eles era inaceitável. O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, membro da Comissão da Santa Sé para a Igreja Católica na China, foi um dos porta-vozes mais salientes e ouvidos dessa respeitosa reação de fiéis. “Por meio da violência o governo limita as liberdades individuais; ofende a dignidade das consciências [...] e ainda ousa dizer que tem vontade sincera de diálogo. É a maior mentira do mundo! Nossos fiéis não têm medo [...] ou superarão seu medo com a fé e a oração, que lhes darão forças para imitar os mártires canonizados”, escreveu o purpurado.

Em 16 de julho, numa medida que os fiéis chineses consideravam inexplicável que não fosse tomada, a Santa Sé confirmou oficialmente a excomunhão do Pe. Joseph Huang Bingzhang, sagrado ilegal e sacrilegamente no dia 14. Aliás, tal sagração havia sido deplorada no mesmo dia pela Santa Sé. Enquanto isso, em Brasília, na noite do dia 14, o secretário geral da CNBB, D. Leonardo Ulrich Steiner, recebia, em amável audiência na sede da entidade, uma comitiva da Administração do Estado para Assuntos Religiosos do governo chinês, a qual é responsável também pelo delito canônico. Essa audiência causou indignação e pesar entre católicos.
Apetências da ordem opõem resistência

Apesar de as interpretações midiáticas da crise atual glosarem subrepticiamente a velha teoria de Karl Marx sobre uma revolta planetária que provocaria a queda do capitalismo, a opinião pública do Mundo Livre inclinou-se por governos conservadores e reforçou sua adesão aos princípios da livre iniciativa e da propriedade privada. Em abril, o partido Autênticos Finlandeses multiplicou oito vezes o seu eleitorado e emergiu como grande vencedor das eleições parlamentares, após fazer campanha contra os males da UE e as ajudas à Grécia e à Irlanda, julgadas desproporcionadas. Nisto a Finlândia acompanhou as tendências manifestadas no ano anterior na Suécia, Itália, Hungria e Holanda. Em maio, o Partido Conservador canadense obteve a maioria absoluta no Parlamento. Em junho, o Partido Socialista português foi varrido do governo. Nessa eleição, o altíssimo índice de abstenções (42,1%) foi emblemático do desinteresse crescente dos europeus por líderes de todas as tendências que impulsionam o continente para um desastre em nome da utopia.

A queda do socialismo português só não foi a pior do ano porque em novembro o socialismo espanhol sofreu a maior derrota da história espanhola. Contudo, talvez em nenhum lugar a virada conservadora de filões dinâmicos da opinião pública foi tão carregada de simbolismo quanto numa ex-república comunista de gloriosa história: a Hungria. Lá, o Parlamento aprovou uma nova Constituição que contraria a política radicalmente antifamiliar e essencialmente anticristã posta em prática pela UE, da qual a nação magiar faz parte. O preâmbulo da Carta começa rogando que “Deus abençoe os húngaros”, e afirma: “Orgulhamo-nos pelo fato de nosso rei Santo Estêvão ter criado o Estado húngaro há 1000 anos sobre base sólida e inserido nossa pátria como parte da Europa cristã”. A Constituição define o casamento como “união entre um homem e uma mulher”, “base para a sobrevivência da Nação”, e protege a vida do nascituro desde a concepção até a morte natural.
Admiração e saudades da ordem autenticamente cristã

A ausência universal de líderes e de rumos sensatos, a incerteza do presente, as ameaças potenciais de futuros próximos possíveis, a insegurança generalizada, o desfazimento da instituição familiar seguido de um agravamento generalizado dos problemas psiquiátricos foram despertando no mais íntimo das pessoas a apetência de algo profundamente diverso do que constitui hoje a rotina quotidiana.

Por ocasião do casamento do príncipe William com Kate Middleton, na Inglaterra, verificou-se uma espécie de plebiscito planetário em favor da tradição. Em todo o mundo, cerca de 2,5 bilhões de pessoas assistiram às quatro horas da boda real. Elas admiraram e até se entusiasmaram com uma cerimônia nupcial que misturava pompas monárquicas medievais e vitorianas numa catedral gótica. O príncipe e a cinderela, as carruagens douradas, reis, rainhas e princesas, regimentos de couraceiros a cavalo e guardas reais com chapéus de pele de urso, lacaios de libré em ouro e vermelho fogo: o cerimonial esplendoroso de uma Corte régia foi acompanhado até nos menores detalhes, como o tamanho de sua cauda do vestido da noiva, por multidões cansadas do espetáculo vulgar da modernidade.

Na Áustria, o enterro solene do herdeiro da coroa do Império Austro-Húngaro, Otto de Habsburgo, foi ocasião para uma explosão de saudade pelo passado imperial da Cristandade. Exprimiu essa saudade o impressionante e intérmino cortejo fúnebre com toda espécie de uniformes históricos, bandeiras e insígnias do passado. Símbolos amorosamente conservados e renovados por associações que cultivam a admiração da época do império em todas as nações outrora reunidas sob o cetro dos Habsburgos. O arquiduque Otto — ou o Dr. Otto, como preferia infelizmente ser tratado — renunciara a todos os direitos à coroa e liderara um movimento democrático para a instituição da hoje desastrada UE. Entretanto, o fabuloso desfile de saudades da era imperial parecia não considerar essa renúncia e olhava para o defunto como se fosse o arquiduque de sonhos, o herdeiro das glórias dos Habsburgos. O cortejo fúnebre depositou seu corpo na cripta da família dos imperadores, localizada na igreja dos capuchinhos de Viena. Esse verdadeiro espetáculo fúnebre evidenciou a força e a aspiração que palpitam em inúmeras almas por um futuro católico continuador das glórias da Cristandade medieval. Força que mostrou ser um elemento sem o qual não se compreenderá bem o desenrolar dos eventos nas décadas futuras.

2012: rumo à explosão do colosso?

David Cameron, Primeiro Minis tro inglês, encabeçou a recusa de ampliar os poderes da EU

O ano de 2011 encerrou-se com mais uma “cúpula da última chance” realizada em Bruxelas para tentar salvar a coesão de uma UE que os povos europeus parecem amar pouco. No final de tal “cúpula”, a Grã-Bretanha recusou a ampliação dos poderes da UE, abrindo, assim, uma rachadura de uma extensão sem precedentes e que poderá acarretar grandes consequências. O caos econômico e social disseminado sobre a Terra deixou uma impressão: o gigantismo colossal do mundo interdependente, que parecia ser adorado por todos, apareceu trincado até em suas vísceras ao termo de 2011. Até o menor de seus componentes, instalado em qualquer degrau dessa imensa estrutura, pode desencadear uma crise que precipite o desabamento final do colosso de pés de barro do século XXI.

Foi assim que a imensa, super-programada e super-complicada estrutura que deveria preparar a República Universal acabou o ano: pressagiando um desastre gigantesco mais ou menos iminente. Ela poderia se comparar a um avião nunca antes construído: estupendo, velocíssimo, agradável, com grandes poltronas, até com expressões artísticas internas que o ambiente aeronáutico não tem nenhuma preocupação em apresentar. Nesse suposto avião os diversos passageiros têm na mão uma alavanca que pode a qualquer momento fazê-lo explodir. Quem gostaria de viajar nessa colossal aeronave? Entretanto, é nela que o mundo entrou em 2012.

Mas, com confiança na Santíssima Virgem e uma certeza inabalável no triunfo prometido por Ela em Fátima, poderemos entrar neste novo ano com a alma em paz
Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

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