quarta-feira, 21 de março de 2012

Cancros e a Fortuna que rege a História

Cancros e a Fortuna que rege a História
Sou tentado também. Claro que sou. Se Satanás tentou Jesus Cristo, por que não me tentaria? Não precisa nem ser o Príncipe dos Anjos Caídos, qualquer demoniozinho de sétima ordem me faz suar na virtude. As vezes eles levam a melhor e volto arrasado para os confessionários, desta vez de confessor a penitente, lamentando meus erros. As vezes, com a ajuda do Divino Espírito Santo, este Davi vence estes Golias angélicos e sai vitorioso.

Sou tentando a duvidar da Existência de Deus. Pela ciência! Sim, a ciência sem consciência, este arremedo de ciência, assim como o Diabo é o arremedo de Deus. Mas não é pela soberba da Fìsica, é pela sutileza da Estatística. A Estatística, meus caros, me tenta a duvidar da existência de Deus. Já abordei o poder da Estatística em outros posts, ela me fascina. Se não fosse meu estado consagrado, se fosse leigo e dono de meu nariz, derramaria meu dinheiro em Las Vegas apenas pela fascinação de ver as roletas rodarem as probabilidades.

A Probabilidade, o Acaso (um ramo da estatística) é algo tão forte na nossa vida que os gregos tinham uma deusa, Tique, e os romanos tinham dois, deusa e deusa, Fors e Fortuna. Na Carmina Burana, em seu primeiro e mais famoso verso, diz "O Acaso governa o mundo" - FORTUNA IMPERATRIX MUNDI. É inevitável pensar numa deusa cega atirando dardos a esmo na terra e mudando a História.

Alguém dirá "Frei Rojão, o senhor estava falando da ciência sem consciência e agora fala de deuses pagãos, de ídolos?" Tout le meme!!! Ciência sem consciência também é um deus pagão, também é um ídolo, também é um pecado contra o primeiro mandamento.

O acaso é omnipotente porque tudo é possível nas baixas probabilidades. A vida na Terra foi gerada sem Deus, porque foi gerada num evento de baixíssima probabilidade, mas ainda assim possível. As curas de Lourdes são inexplicáveis porque foram reações bioqúimicas de baixíssima probabilidade, mas ainda assim possíveis. Os Impérios Assírio, Persa e Romano ascenderam e caíram numa equação de probabilidades geopolíticas únicas e felizes, a despeito dos oráculos dos profetas. Vê-se que pode-se usar a Estatística para tirar Deus do universo. Pela Estatística e o efeito borboleta (combinações de acasos combinando em grandes conseqüências) pode-se descartar o Altíssimo da História. É uma tentação.

Câncer... faz parte também da roleta das probabilidades. Até hoje por mais que se estude, a maioria dos cancros são dardos da malvada Fortuna que acertam a algumas pessoas em alguns órgãos. Mesmo quem está no grupo de risco não está livre do acaso. Sim, nem todos os fumantes pagarão seus pecados num câncer de pulmão. Nem todos os não-fumantes estarão isentos de câncer de laringe. Há uma certa associação estatística entre cigarro e câncer nestes órgãos, mas não suficiente para apostar seu dinheiro nisso se houvesse uma roleta do câncer em Monte Carlo. Sendo assim, o câncer afeta bons e maus, justos e injustos, como a torre citada por Nosso Senhor que caiu e matou os galileus, justos e injustos.

As doenças mudam a História quando acertam nos líderes. Poderia Marco Aurélio governar estavelmente o Império e lutar contra os germanos se seu intempestivo irmão, Lúcio Vero, não tivesse morrido de peste? Não haveria uma guerra civil abrindo os flancos da Germânia antes? César Bórgia estava prestes a conquistar a Itália e adiantar a unificação do pais em 400 anos, se não estivesse doente e para morrer. Ninguém sabe bem do que ele estava doente, dizem até que ele e o papa Alexandre VI beberam do próprio veneno - literalmente. Assim a probabilidade da saúde mudou a História da Itália. Assim como o derrame de Stálin salvou a pele de Béria, Molotov e Mikoyan, que caíram no desagrado do comunista homicida (pleonasmo!). O câncer de Tancredo Neves, finalmente, fez a ascensão de José Sarney, um político até então inexpressivo que nunca galgaria a presidência por votos. Se João Paulo I não tivesse morrido, o cardeal Woytila poderia no papado jogar areia no comunismo polonês? A História está cheia de doenças que mudaram o mundo, ora matando em massa, ora matando quem estava no comando.

Ficou doente Lula, o titã petista. E seu partido se desarticula a olhos vistos. Ele que seria o condestável da República, o Pinheiro Machado do século XXI, que elegeu um poste presidente, que faria um ministro da educação notadamente incompetente prefeito de São Paulo... ele que tudo podia... ele que voltaria triunfante em 2014, ele que seria o novo Getúlio, o novo Stálin da República Popular do Brasil, o novo Fidel das Américas... eis prostrado por uma doença, eis o PT decapitado e se estertorando... eis a História sendo mudada pelos dardos da Fortuna e do câncer.
Fonte: Blog do Frei Clemente Rojão

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