sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não duvidar daquilo que a Igreja ensina

Não duvidar daquilo que a Igreja ensina
Pois o Espírito Santo 'ensinar-vos-á todas as coisas'

"O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordará tudo o que vos tenho dito" (João 14,25).

Antes de Jesus sofrer a Sua Paixão, na noite da despedida, naquela última Santa Ceia memorável, deixou bem claro aos apóstolos que eles teriam a assistência permanente do Espírito Santo. Sinta-se um instante naquela Ceia e ouça-O falar naquela noite memorável da despedida: "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paráclito (Defensor), para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós" (João 14, 15-17).

Ora, como poderia a Igreja Católica se desviar do caminho de Deus se o Espírito da Verdade está nela e, com ela, desde o começo, e nela “permanece” sempre? Será que essa Promessa de Jesus não se cumpriu? Será que o Senhor mentiu naquela noite memorável? Não! Jesus foi enfático, o Espírito Santo não só “permanecerá convosco”, mais ainda: “estará em vós”, eternamente.

Na mesma noite da despedida, Jesus ainda disse aos apóstolos: "Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordará tudo o que vos tenho dito" (João 14,25).

Ora, como pode a Igreja se enganar na sua missão de levar os homens a Deus se o Senhor lhe prometeu na última noite: o Espírito Santo "ensinar-vos-á todas as coisas"? Observe que Cristo colocou o verbo no futuro: “ensinar-vos-á”; quer dizer: todos os dias daquele dia em diante, até Ele voltar. Ele continua a ensinar a Igreja, e a Igreja aos homens.

Nem tudo que a Igreja acredita está na Bíblia, muitas coisas o Espírito Santo ensinou para ela [Igreja] no decorrer dos séculos: é a Sagrada Tradição. É por isso que cremos nos dogmas ensinados pela Igreja hoje e sempre.

Aqueles homens simples da Galileia não tinham condições de assimilar todas as verdades da fé, toda a teologia que hoje a Igreja conhece (dogmática, cristologia, liturgia, mariologia, pneumatologia, escatologia, exegese bíblica...), depois de muito estudo e reflexão. Jesus, então, lhes explicou que o Espírito Santo de Deus, o Espírito da Verdade, os guiaria à verdade no futuro. Como poderá, então, a Igreja errar se o Senhor lhe prometeu que o Seu Santo Espírito da Verdade “ensinar-vos-á toda a verdade”, desde o começo? Note que o verbo está no futuro.

Uma grande prova de que a Igreja Católica não erra, no essencial, é que, em toda a sua longa história de 2 mil anos, nunca um Papa revogou um ensinamento sobre a fé ou a moral de um antecessor seu. O mesmo aconteceu com os 21 Concílios ecumênicos (universais) que a Igreja já realizou; nunca um Concílio revogou um ensinamento de fé de outro anterior. Esta é a marca do Espírito Santo na Igreja: não há contradição.

"Fora da Igreja não há salvação", diziam os Santos Padres dos primeiros séculos da Igreja. E o Catecismo da Igreja Católica (CIC) explica o que isso significa: "Toda salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu Corpo" (CIC § 846). Logo, sem a Igreja não pode haver salvação. Mesmo os não cristãos, sem culpa, podem se salvar se viverem de acordo com sua consciência, são salvos por meio da graça concedida à Igreja. Aqueles que, conscientemente, rejeitarem a Igreja, rejeitarão também a salvação. Jesus afirmou aos apóstolos, hoje nossos bispos: "Quem vos ouve, a Mim ouve, quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita aquele que Me enviou" (Lc 10,16).

Só a eles o Senhor confiou o encargo de ensinar, sem erro, com a assistência do Espírito Santo. Por isso a Igreja é essencial.

A Igreja que Jesus fundou é a que “subsiste na Igreja Católica”, que tem 2 mil anos e nunca ficou sem um chefe, Sucessor de Pedro, que o Senhor escolheu.

Foto

Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

Fonte: Canção Nova

Precisamos aprender a conviver

Precisamos aprender a conviver
Os princípios morais são aprendidos na familia

O comportamento humano é bastante imprevisível. Ora se conduz pela razão, ora pelos sentimentos, ou até pelas paixões e maus instintos. Com tal variedade de reações, apresenta-se como ser equilibrado num tempo, mas logo depois pode entrar em cena como um ser profundamente desequilibrado e dominado por paixões. E o que é pior: pode ser levado para a maldade e para atos absolutamente indignos de um filho de Deus.

Lembremos apenas alguns exemplos: Assustar um tranquilo motorista com um buzinaço; dar carne misturada com vidro a um cachorro; gritar assustadoramente com uma criança porque quebrou um brinquedo; torturar física ou psicologicamente um semelhante; abandonar um faminto à sua sorte; dar orientações falsas para um perdido na estrada. Isso é ser mau. É deliciar-se com o malfeito. É rir da desgraça dos outros. Mostra que a pessoa não sabe que temos um Pai, que ama a todos os Seus filhos e filhas. Esqueceu um princípio primordial de Jesus: “Não faça aos outros o que não quer que lhe façam”.

A convivência humana precisa ser aprendida, antes de tudo, na família. É lá que, desde criança, a raça humana deve aprender a conviver. Certos princípios morais, caso não sejam aprendidos no lar, jamais serão aprendidos no decorrer da vida. É por isso que dizemos de pessoa honesta e bem formada: “ela tem berço”. É muito bom ter pais que ensinam: Não faça os outros sofrer; não deve roubar nada do que pertence aos outros; não engane o semelhante; seja sempre uma pessoa asseada; pague as suas dívidas; procure colaborar com as pessoas boas...

Nos dias atuais, mesmo em meio a dificuldades conhecidas, a escola deve ajudar nesta formação humana. Mas não podemos deixar de seguir o Mestre por excelência. “Ele passou pela vida fazendo o bem”. A motivação religiosa costuma ser uma das inspirações mais fortes que podem existir. Basta olhar para Ele, ver Seu exemplo de não prejudicar ninguém, sobretudo, Seus gestos positivos em favor de todos, para nos convencermos de que este é o caminho da felicidade.

Dom Aloísio R Oppermann scj - Arcebispo de Uberaba
domroqueopp@terra.com.br

Fonte: Canção Nova.

Precisamos aprender a conviver

Precisamos aprender a conviver
Os princípios morais são aprendidos na familia

O comportamento humano é bastante imprevisível. Ora se conduz pela razão, ora pelos sentimentos, ou até pelas paixões e maus instintos. Com tal variedade de reações, apresenta-se como ser equilibrado num tempo, mas logo depois pode entrar em cena como um ser profundamente desequilibrado e dominado por paixões. E o que é pior: pode ser levado para a maldade e para atos absolutamente indignos de um filho de Deus.

Lembremos apenas alguns exemplos: Assustar um tranquilo motorista com um buzinaço; dar carne misturada com vidro a um cachorro; gritar assustadoramente com uma criança porque quebrou um brinquedo; torturar física ou psicologicamente um semelhante; abandonar um faminto à sua sorte; dar orientações falsas para um perdido na estrada. Isso é ser mau. É deliciar-se com o malfeito. É rir da desgraça dos outros. Mostra que a pessoa não sabe que temos um Pai, que ama a todos os Seus filhos e filhas. Esqueceu um princípio primordial de Jesus: “Não faça aos outros o que não quer que lhe façam”.

A convivência humana precisa ser aprendida, antes de tudo, na família. É lá que, desde criança, a raça humana deve aprender a conviver. Certos princípios morais, caso não sejam aprendidos no lar, jamais serão aprendidos no decorrer da vida. É por isso que dizemos de pessoa honesta e bem formada: “ela tem berço”. É muito bom ter pais que ensinam: Não faça os outros sofrer; não deve roubar nada do que pertence aos outros; não engane o semelhante; seja sempre uma pessoa asseada; pague as suas dívidas; procure colaborar com as pessoas boas...

Nos dias atuais, mesmo em meio a dificuldades conhecidas, a escola deve ajudar nesta formação humana. Mas não podemos deixar de seguir o Mestre por excelência. “Ele passou pela vida fazendo o bem”. A motivação religiosa costuma ser uma das inspirações mais fortes que podem existir. Basta olhar para Ele, ver Seu exemplo de não prejudicar ninguém, sobretudo, Seus gestos positivos em favor de todos, para nos convencermos de que este é o caminho da felicidade.

Dom Aloísio R Oppermann scj - Arcebispo de Uberaba
domroqueopp@terra.com.br

Fonte: Canção Nova.

Intenções do Papa para o mês de Outubro

Intenções do Papa para o mês de Outubro

Neste mês de outubro, a intenção geral de oração do Papa Bento XVI é “pelos doentes terminais, para que os seus sofrimentos sejam aliviados pela fé em Deus e pelo amor dos seus irmãos.

E a intenção missionário é pelo Dia Mundial das Missões, que será celebrado neste sábado, 1º, “para que a celebração do Dia Mundial das Missões faça crescer no povo de Deus a paixão da evangelização assim como o apoio a toda a atividade missionária, pela oração e pela ajuda econômica às Igrejas mais pobres”.

Todos os meses, o Santo Padre confia suas intenções ao Apostolado da Oração, uma iniciativa que é seguida por milhões de pessoas em todo mundo.

Fonte: Canção Nova.

Reflexão do Evangelho

Santos do Dia

30 de setembro

São Jerônimo



É incontestável o grande débito que a cultura e os cristãos, de todos os tempos, têm com este santo de inteligência brilhante e temperamento intratável. Jerônimo nasceu em uma família muito rica na Dalmácia, hoje Croácia, no ano 347. Com a morte dos pais, herdou uma boa fortuna, que aplicou na realização de sua vocação para os estudos, pois tinha uma inteligência privilegiada. Viajou para Roma, onde procurou os melhores mestres de retórica e desfrutou a juventude com uma certa liberdade. Jerônimo estudou por toda a vida, viajando da Europa ao Oriente com sua biblioteca dos clássicos antigos, nos quais era formado e graduado doutor.

Ele foi batizado pelo papa Libério, já com 25 anos de idade. Passando pela França, conheceu um monastério e decidiu retirar-se para vivenciar a experiência espiritual. Uma de suas características era o gosto pelas entregas radicais. Ficou muitos anos no deserto da Síria, praticando rigorosos jejuns e penitências, que quase o levaram à morte. Em 375, depois de uma doença, Jerônimo passou ao estudo da Bíblia com renovada paixão. Foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino, na Antioquia, em 379. Mas Jerônimo não tinha vocação pastoral e decidiu que seria um monge dedicado à reflexão, ao estudo e divulgação do cristianismo.

Voltou para Roma em 382, chamado pelo papa Dâmaso, para ser seu secretário particular. Jerônimo foi incumbido de traduzir a Bíblia, do grego e do hebraico, para o latim. Nesse trabalho, dedicou quase toda sua vida. O conjunto final de sua tradução da Bíblia em latim chamou-se "Vulgata" e tornou-se oficial no Concílo de Trento.

Romano de formação, Jerônimo era um enciclopédico. Sua obra literária revelou o filósofo, o retórico, o gramático, o dialético, capaz de escrever e pensar em latim, em grego, em hebraico, escritor de estilo rico, puro e eloqüente ao mesmo tempo. Dono de personalidade e temperamento fortíssimo, sua passagem despertava polêmicas ou entusiasmos.

Devido a certas intrigas do meio romano, retirou-se para Belém, onde viveu como um monge, continuando seus estudos e trabalhos bíblicos. Para não ser esquecido, reaparecia, de vez em quando, com um novo livro. Suas violências verbais não perdoavam ninguém. Teve palavras duras para Ambrósio, Basílio e para com o próprio Agostinho. Mas sempre amenizava as intemperanças do seu caráter para que prevalecesse o direito espiritual.

Jerônimo era fantástico, consciente de suas próprias culpas e de seus limites, tinha total clareza de seus merecimentos. Ao escrever o livro "Homens ilustres", concluiu-o com um capítulo dedicado a ele mesmo. Morreu de velhice no ano 420, em 30 de setembro, em Belém. Foi declarado padroeiro dos estudos bíblicos e é celebrado no dia de sua morte.

Fonte: Paulinas

São Gregório, o iluminador


Gregório nasceu na cidade de Valarxabad, na Armênia, por volta do ano 257. Seu pai matou o rei da Armênia, seu parente, numa conspiração com o reino da Pérsia, que assumiu o poder. Os soldados armênios encontraram o assassino do monarca e o executaram com toda a família, exceto o filho de um ano de idade, Gregório.

O rei persa assumiu o trono da Armênia, não sem antes matar toda a família real. Entretanto o príncipe sucessor, Tirídates, e sua irmã, ainda crianças, conseguiram ser poupados, sendo enviados para Roma, onde receberam uma educação pagã digna da nobreza da época. O pequeno monarca recebeu, também, esmerada formação militar, destacando-se pela valentia.

Ao mesmo tempo, Gregório foi enviado para a Cesarea da Capadócia, onde recebeu educação e formação cristã. Aos vinte e dois anos, casou-se com uma jovem também cristã e teve dois filhos, Vertanes e Aristakes. Depois de sete anos, o casal, de comum acordo, interrompeu a vida matrimonial. Ela foi viver retirada num convento, mas sem vestir o hábito. Ele se ordenou sacerdote e partiu da Cesarea.

Em 287, por interesse do Império Romano, que desejava tirar a Armênia do poder dos persas, Tirídates foi enviado, com soldados romanos, para retomar o trono que era seu por direito. Curiosamente, nesse exército estava também Gregório, que era seu colaborador e conselheiro particular.

Vitorioso, tornou-se Tirídates III, rei da Armênia. Para agradecer a reconquista, mandou que Gregório fosse, pessoalmente, oferecer flores e incenso aos deuses no templo pagão. Como se negou a obedecer à ordem por ser cristão, o rei mandou torturá-lo. Mas a situação de Gregório ficou muito pior ao ser denunciado como o filho do assassino do pai do rei. Revoltado, o monarca mandou intensificar as torturas e depois jogá-lo no fundo da masmorra mais profunda da Armênia, onde ficou no esquecimento.

Quinze anos mais tarde, Tirídates III contraiu uma doença contagiosa incurável e sofria muitas dores. Nessa ocasião, a princesa sua irmã teve dois sonhos reveladores: neles, uma voz dizia-lhe que a única pessoa capaz de curar o rei era Gregório. Assustada, mesmo acreditando que ele já havia morrido, enviou um mensageiro à masmorra, que o descobriu ainda vivo.

Gregório foi libertado e curou, milagrosamente, o rei da doença contagiosa, por meio das orações cristãs. Tocado pela fé, Tirídates III fez-se batizar, juntamente com toda a sua família, sua Corte e seu povo. Assim, a Armênia, que fora evangelizada, segundo a tradição, pelos apóstolos Bartolomeu e Tadeu, tornou-se a primeira nação oficialmente cristã em 301, por obra de Gregório, o iluminador, como passou a ser chamado.

Ele se tornou o bispo da Capadócia e um dos maiores líderes da Igreja armênia, cuja sede apostólica, a catedral de Etchmiadzin, construiu em 303. Mandou chamar seus dois filhos para auxiliá-lo. Depois, já cansado e com a sensação do dever cumprido, foi sucedido, como chefe supremo dos cristãos, pelo seu filho Aristakes, que morreu antes do pai. Então, quem assumiu o comando da sede episcopal foi o outro filho, Vertanes. Dessa maneira, Gregório pôde, enfim, realizar seu grande sonho, que era o de retirar-se para um lugar solitário e viver apenas de oração e penitência, até a morte, em 332.

São Gregório, o iluminador, é venerado não somente como o apóstolo e padroeiro da Armênia, mas também como evangelizador das igrejas síria e greco-ortodoxa. Na masmorra onde ficou preso e esquecido, foi construído o mosteiro de Khor Virap, que significa "poço profundo", para preservar o local original a quarenta metros de profundidade.

Fonte: Paulinas

Santas Sofia, Fé, Esperança e Caridade

Nada se sabe sobre os primeiros anos de Santa Sofia. Casou-se com um dos primeiros senadores de Milão. Passados alguns anos, ficou viúva com três filhas, das quais a mais velha tinha apenas doze anos. Distribuiu os seus bens pelos pobres e partiu para Roma, a fim de prestar aos mártires daquela capital os serviços que pudesse. Levou consigo suas três filhas: Fé, Esperança e Caridade. Ia com elas visitar os cristãos prisioneiros, levando-lhes o Sagrado Viático. Depois de martirizados, sepultava-os. Suas filhas, instruídas por exemplo tão nobre, tomaram-se dentro em breve verdadeiros apóstolos e, por mais que uma vez, com suas palavras inflamadas, reanimaram irmãos desfalecidos.

Tanto heroísmo mereceu-lhes serem chamadas ao tribunal de Décio (249-251), que as interrogou, mandando-as em seguida para o cárcere, visto permanecerem fiéis a Jesus. Passado algum tempo foram novamente interrogadas e ameaçadas.

Santa Fé respondeu: «o meu desejo é sofrer e morrer por confessar a Cristo». Fizeram-lhe a vontade, açoutando-a e degolando-a. Santa Esperança, depois de muitas torturas, foi degolada no mesmo lugar que sua irmã. Santa Caridade, depois de lhe deslocarem todos os membros, foi condenada ao mesmo suplício, sendo acompanhada por sua mãe, Santa Sofia, que a exortava a permanecer constante na fé.

Esta mãe heróica preparava-se para ser também imolada, a fim de se juntar a suas filhas no céu. Mas Décio, levado por suma crueldade, preferiu deixar-lhe a vida, pois sabia que lhe era mais custosa que a morte. Ordenou que levassem a Sofia os cadáveres mutilados de suas filhas. A generosa mãe sepultou-os ao lado dos outros mártires, não se afastando mais desta sepultura e pedindo constantemente a Deus que lhe concedesse a graça de se ir juntar àquelas que tinha perdido por amor d'Ele. Por último, depois de um martírio de dois meses, entregou sua alma ao Criador sobre o túmulo de suas filhas.

Fonte: Portal Católico

Beato Frederico Albert

Fundador das Vicentinas de Maria Imaculada, nasceu em Turim (Itália), a 16 de Outubro de 1820, e morreu em Lanzo Torinese, a 30 de Setembro de 1876. Foi beatificado no dia 30 de Outubro de 1984.

Filho de um alto oficial do exército, estava para entrar na Academia militar quando se sentiu repentinamente chamado à vida sacerdotal. Ordenou-se no dia 10 de Junho de 1843 e foi designado capelão militar. Depois de algum tempo, renunciou a esse posto para se consagrar ao múnus de pastor da paróquia de S. Carlos. Em 1852 transferiram-no para a paróquia de Lanzo Torinese, onde permanecerá até à morte.

O P. Frederico conheceu S. José B. Cottolengo, que lhe chamou a atenção para a situação miserável de tantos pobres. Conheceu igualmente S. José Cafasso, apóstolo dos presos e condenados à morte; S. Leonardo Murialdo, criador da ação social em Turim; S. João Bosco, apóstolo da juventude, que o convidou para pregar os exercícios aos jovens do Oratório de Valdocco. Todos estes Santos influíram no espírito do P. Frederico Albert, levando-o também ele a criar obras dignas de menção. Em 1859, abriu um asilo para órfãs abandonadas. Em 1866, acrescentou-lhe uma escola de pedagogia, a fim de as raparigas se prepararem para professoras. Três anos depois, fundou a Congregação das Irmãs de S. Vicente da Imaculada Conceição, que mais tarde tomaram o nome de Irmãs Albertinas, para se encarregarem das diversas obras por ele criadas. Elas, por sua vez, posteriormente, alargaram o seu âmbito de ação. Segundo o espírito do Fundador, abriram hospitais, escolas, asilos para órfãos e idosos.

Em 1873, foi eleito Bispo, mas renunciou a essa dignidade e continuou a empenhar-se em obras de caráter social, como colônias agrícolas para proporcionar aos jovens melhores conhecimentos técnicos e, assim, travar o êxodo rural para as cidades.

Morreu tragicamente, caindo de um andaime. Por ocasião da sua morte, o Arcebispo de Turim, falando ao clero a respeito do Servo de Deus, afirmou:

«Não é fácil saber que mais admirar neste Pastor de almas: se a piedade, a fé, a humildade, a paciência, a mortificação do corpo e do espírito, o desprendimento, o zelo, a inteligência, a prudência, a doutrina e sobretudo a caridade».

Um ano depois da sua morte, um milagre atribuído à valiosa intercessão do bem-aventurado era sinal evidente que Deus o queria glorificar. Todavia, por motivos vários, o processo só pôde iniciar-se em 1926.

Fonte: Portal Católico.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A ideia de Pecado Original por Lutero

Agradecimento do Papa aos cidadãos de Castel Gandolfo

Agradecimento do Papa aos cidadãos de Castel Gandolfo

Queridos irmãos e irmãs,

Está para se concluir o período de verão deste ano que habitualmente passo neste gentil e acolhedor lugar, a mim sempre mais querido. Castel Gandolfo, também neste ano, abriu suas portas aos muitos peregrinos e visitantes vindos para se encontrar com o Papa e rezar junto dele, especialmente nos domingos para o encontro do Angelus e tantas vezes às quartas-feiras para a Audiência Geral.

Nesses meses admirei, mais uma vez, a solicitude e a generosidades de tantas pessoas empenhadas para garantir a necessária assistência a mim e aos meus colaboradores, como também aos hospedes e peregrinos que vêm me visitar. Por tudo isso, desejo expressar o meu profundo reconhecimento a cada um de vocês, que fizeram possível a minha serena permanência aqui.

Saúdo com afeto primeiramente o irmão Bispo de Albano Laziale, Dom Marcello Semeraro, e lhe sou grato pela bondade que sempre teve comigo. Saúdo o pároco e a comunidade paroquiana de Castel Gandolfo, juntamente às comunidades religiosas e leigas, masculinas e femininas, presentes neste território.

Neste meses senti a proximidade espiritual deles e lhes agradeço de coração, desejando que todos possam corresponder com renovada generosidade ao chamado de Deus, gastando as próprias energias a serviço do Evangelho.

Uma saudação especial dirijo ao senhor prefeito e aos componentes da Administração Municipal. Obrigado por vossa atenção e por tudo aquilo que fizeram por mim e por meus colaboradores durante estes meses. Por meio de vocês, queridos administradores públicos, agradeço e saúdo todos os cidadãos, com um pensamento especial às pessoas anciãs e enfermas, as quais asseguro com afeto as minhas recordações em minhas orações.

Dirijo-me, agora, aos dirigentes e funcionários dos diversos serviços governamentais: seguranças, os jardineiros, os servidores técnicos, sanitários, bem como a Guarda Suíça Pontifícia. Queridos amigos, expresso sincera estima e grande apreço pelo trabalho que cotidianamente realizaram, garantindo assistência e segurança a todo Palácio Apostólico e à Vila Pontifícia.

Agradeço, depois, os funcionários e os agentes das diversas Forças da Ordem italiana, por vossa assídua colaboração, como também os oficiais e aviadores da 31° Batalhão da Aeronáutica. Se tudo transcorreu com tranquilidade e serenidade, se deve, sem dúvida, a vossa presença e vosso qualificado serviço.

Caros irmãos e irmãs, a todos expresso o reconhecimento mais sincero. Obrigado ainda por vossa presença neste encontro, de modo especial, àqueles que expressaram seus sentimentos. Asseguro, da minha parte, que não deixarei de rezar por cada um de vocês e por todas as vossas intenções e vos peço que recodem de mim em vossas orações.

O Senhor, rico de bondade e de misericórdia, que não deixa faltar ajuda àqueles que confiam Nele, seja sempre vosso sustento. Sobre vocês venha a proteção materna da Virgem Maria, que no mês de outubro invocaremos de modo especial com a recitação do santo Rosário. Seja ela a acompanhar-vos e vossas família em cada momento. Com todo sentimento, lhes abençoo com afeto, vossos familiares e todos as pessoas a vos são queridas. Obrigado.

Fonte: Canção Nova

Reflexão do Evangelho

Onde há Deus, há futuro


Onde há Deus, há futuro



Dias atrás, antes de deixar Roma para a terceira visita que faria a seu país natal, o Papa Bento XVI falou ao povo alemão pela televisão. Disse-lhe que o sentido de sua visita estava sintetizado no lema que nortearia seus encontros: “Onde há Deus, há futuro”. Em outras palavras: é necessário que Deus volte ao horizonte da vida de todos, já que, embora tenhamos necessidade dele, muitos o ignoram. Mesmo os que não o ignoram, por vezes se perguntam: Será que Deus existe realmente? E se existe, se ocupa realmente de nós? Podemos atingi-lo?

Há os que dizem que só acreditariam em Deus se pudessem encontrá-lo, tocá-lo e tomá-lo nas mãos como se pode fazer com qualquer objeto. “Temos que desenvolver de novo a capacidade de percepção de Deus, capacidade que existe em nós. Podemos intuir algo da grandeza de Deus na grandeza do cosmos.” Sim, “na grande racionalidade do mundo podemos intuir o espírito criador do qual esse espírito provém; na beleza da criação podemos intuir alguma coisa da beleza, da grandeza e da bondade de Deus. Na Palavra das Sagradas Escrituras podemos ouvir palavras de vida eterna, que não vêm simplesmente de homens, mas do Senhor”, afirmou Bento XVI.

Há um outro tipo de experiência de Deus que poderemos fazer: no encontro com pessoas que foram transformadas por Ele. Pensemos, por exemplo, no apóstolo Paulo ou em Francisco de Assis, em Madre Teresa de Calcutá, em Irmã Dulce ou em Irmã Lindalva. Podemos pensar igualmente em pessoas simples, desconhecidas do povo em geral e ignoradas pelos meios de comunicação social. Quando as encontramos, sentimos que delas nasce uma força que nos emociona, uma bondade que toca nosso coração, uma alegria que nos contagia. Temos certeza de que nelas Deus está presente. “Por isso, nestes dias desejamos empenhar-nos para tornar a ver Deus, para fazer com que nós mesmos sejamos pessoas através das quais entre no mundo a luz de esperança - luz que vem de Deus e que nos ajuda a viver” (Bento XVI).

Poderíamos pensar que a questão do ateísmo não seja um problema nosso, brasileiro, ao menos a ponto de nos preocupar. Ledo engano. A Fundação Getúlio Vargas apresentou, semanas atrás, um mapa das religiões aqui no Brasil, destacando que cresceu entre nós o número de ateus: atualmente, são 6,7% da população. Não é uma cifra desprezível: tendo nosso pais 190 milhões de habitantes, o número de ateus deve girar, pois, em torno de treze milhões de pessoas.

Saramago, famoso escritor português, prêmio Nobel de Literatura, falecido há pouco mais de um ano, declarava-se ateu. Dada a sua fama, era frequentemente entrevistado sobre isso. Numa dessas entrevistas, observou que “ Bento XVI jamais viu Deus e nunca se sentou para tomar um café com ele”. Se tivesse me conhecido (e haveria razão para isso?...), o mesmo ele poderia ter dito de mim. Sou cristão desde o nascimento; trabalho na Igreja desde criança e também nunca vi Deus. No entanto, alegro-me em poder servi-lo. Não que ele precise de mim; eu é que me realizo colocando minha vida a serviço do Evangelho de Seu Filho.

Um Evangelho que nada tem em comum com aquele que o próprio Saramago escreveu, no começo da década de noventa.
Identifico-me com a definição que o apóstolo e evangelista João apresentou de Deus, fruto de sua longa caminhada de fé: “Deus é amor”. Se Saramago ou qualquer pessoa me pedisse explicações sobre essa afirmação, me sentiria tentado a escrever um livro ou, então, a repetir o que Teresa de Calcutá disse a um repórter que lhe perguntou o que é rezar. Ela lhe disse: “É falar com Deus”. Quando o repórter lhe perguntou: “E o que Ele lhe diz, quando a senhora fala com Ele?” Ela lhe respondeu: “Ele não me fala; Ele me escuta. E se o senhor não for capaz de entender isso, nem eu serei capaz de lhe explicar”.

Também não saberei explicar quem é Deus. Sei, apenas, que não saberia viver sem Ele. Encontro-o na Igreja, na Bíblia, no próximo, na alegria e na dor. E, simplesmente, o amo. Sei que Ele me amou por primeiro. Como diria Santo Anselmo: “Eu creio para compreender”...

Fonte: Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

Fonte: Portal católico

As 17 citações centrais da visita do Papa à Alemanha


As 17 citações centrais da visita do Papa à Alemanha


Apresentamos, a seguir, uma seleção de 17 das frases mais significativas pronunciadas pelo Papa Bento XVI durante a sua viagem à Alemanha, recopiladas pelo blog Il Sismógrafo (http://ilsismografo.blogspot.com).

* * *

Liberdade e solidariedade

1. A liberdade precisa duma ligação primordial a uma instância superior. O facto de haver valores que não são de modo algum manipuláveis, é a verdadeira garantia da nossa liberdade. O homem que se sente vinculado à verdade e ao bem, estará imediatamente de acordo com isto: a liberdade só se desenvolve na responsabilidade face a um bem maior. Um tal bem só existe para todos juntos; por conseguinte, devo interessar-me sempre também dos meus vizinhos. A liberdade não pode ser vivida na ausência de relações.Na convivência humana, a liberdade não é possível sem a solidariedade. Aquilo que faço a dano dos outros, não é liberdade, mas uma ação culpável que prejudica aos outros e deste modo, no fim de contas, também a mim mesmo. Só usando também as minhas forças para o bem dos outros é que posso verdadeiramente realizar-me como pessoa livre. E isto vale não só no âmbito privado mas também na sociedade.

Berlim, 22 de setembro de 2011.

Direito razão e natura

2. Servir o direito e combater o domínio da injustiça é e permanece a tarefa fundamental do político. Num momento histórico em que o homem adquiriu um poder até agora impensável, esta tarefa torna-se particularmente urgente(…)Foi na base da convicção sobre a existência de um Deus criador que se desenvolveram a ideia dos direitos humanos, a ideia da igualdade de todos os homens perante a lei, o conhecimento da inviolabilidade da dignidade humana em cada pessoa e a consciência da responsabilidade dos homens pelo seu agir. Estes conhecimentos da razão constituem a nossa memória cultural. Ignorá-la ou considerá-la como mero passado seria uma amputação da nossa cultura no seu todo e privá-la-ia da sua integralidade. A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico.

Berlim, 22 de setembro de 2011.

O horror nacional-socialista

3. Neste lugar, é igualmente necessário trazer à memória o pogrom da «noite dos cristais», de 9 para 10 de Novembro de 1938. Poucas foram as pessoas que perceberam toda a dimensão daquele acto de desprezo humano como o percebeu o arcipreste da Catedral de Berlim, Bernhard Lichtenberg, que, do púlpito da Catedral de Santa Edvige, gritou: «Fora o Templo está em chamas; também isso é uma casa de Deus». O regime de terror do nacional-socialismo baseava-se num mito racista, do qual fazia parte a rejeição do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, do Deus de Jesus Cristo e das pessoas que acreditavam n’Ele. (...) A mensagem de esperança, que os livros da Bíblia hebraica e do Antigo Testamento cristão transmitem, foi assimilada e desenvolvida de modo diverso por judeus e cristãos. «Depois de séculos de contraposição, reconhecemos como nossa tarefa fazer com que estes dois modos de nova leitura dos escritos bíblicos – o cristão e o judaico – dialoguem entre si, para se compreender retamente a vontade e a Palavra de Deus» (Jesus de Nazaré – Parte II: Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, p. 38). Numa sociedade cada vez mais secularizada, este diálogo deve reforçar a esperança comum em Deus. Sem tal esperança, a sociedade perde a sua humanidade.

Berlim, 22 de setembro de 2011.

Permanecer em Cristo

4. Alguns olham para Igreja, detendo-se no seu aspecto exterior. Então ela aparece-lhes apenas como uma das muitas organizações presentes numa sociedade democrática; e, segundo as normas e leis desta, se deve depois avaliar e tratar inclusive uma figura tão difícil de compreender como é a «Igreja». Se depois se vem juntar ainda a experiência dolorosa de que, na Igreja, há peixes bons e maus, trigo e joio, e se o olhar se fixa nas realidades negativas, então nunca mais se desvenda o mistério grande e belo da Igreja.

(…)Permanecer em Cristo significa, como já vimos, permanecer na Igreja. A comunidade inteira dos crentes está firmemente unida em Cristo, a videira. Em Cristo, todos nós estamos conjuntamente unidos. Nesta comunidade, Ele sustenta-nos e, ao mesmo tempo, todos os membros se sustentam uns aos outros. Juntos resistimos às tempestades e oferecemos proteção uns aos outros. Não cremos sozinhos, cremos com toda a Igreja.

Berlim, 22 de setembro de 2011.

A dimensão pública da religião

5. Muitos muçulmanos atribuem grande importância à dimensão religiosa. Às vezes, isto é interpretado como uma provocação, numa sociedade que tende a marginalizar este aspecto ou, quando muito, admiti-lo na esfera das opções privadas dos indivíduos.

A Igreja Católica empenha-se, firmemente, para que seja dado o justo reconhecimento à dimensão pública da pertença religiosa. Trata-se de uma exigência que não se torna irrelevante pelo facto de aparecer no contexto duma sociedade maioritariamente pluralista. Nisso, há que estar atento para que se mantenha sempre o respeito do outro. Este respeito recíproco cresce somente na base de um entendimento sobre alguns valores inalienáveis, próprios da natureza humana, sobretudo a dignidade inviolável de cada pessoa como criatura de Deus. Tal entendimento não limita a expressão das diversas religiões; pelo contrário, permite a cada um testemunhar e propor aquilo em que crê, não se subtraindo ao confronto com o outro.

Berlim, 22 de setembro de 2011.

As coisas importantes para o verdadeiro ecumenismo

6. A coisa mais necessária para o ecumenismo é primariamente que, sob a pressão da secularização, não percamos, quase sem dar por isso, as grandes coisas que temos em comum, que por si mesmas nos tornam cristãos e que nos ficaram como dom e tarefa. O erro do período confessional foi ter visto, na maior parte das coisas, apenas aquilo que separa, e não ter percebido de modo existencial o que temos em comum nas grandes diretrizes da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do cristianismo antigo. Para mim, isto constitui o grande progresso ecumênico dos últimos decênios: termo-nos dado conta desta comunhão e, no rezar e cantar juntos, no compromisso comum em prol da ética cristã face ao mundo, no testemunho comum do Deus de Jesus Cristo neste mundo, reconhecermos tal comunhão como o nosso comum e imorredouro alicerce.É certo que o perigo de a perder não é irreal.

Erfurt, 23 de setembro de 2011.

O ecumenismo não se baseia em vantagens e desvantagens

7. Nas vésperas da minha visita, falou-se diversas vezes de um dom ecumênico do hóspede que se esperava da visita em questão. Não é preciso especificar os dons mencionados em tal contexto. A propósito, quero dizer que isto – como na maioria dos casos se apresentava – constitui um equívoco político da fé e do ecumenismo. Quando um Chefe de Estado visita um país amigo, geralmente a sua vinda é antecedida por contatos das devidas instâncias que preparam a estipulação de um ou mesmo vários acordos entre os dois Estados: ponderando vantagens e desvantagens chega-se a um compromisso que, em última análise, aparece vantajoso para ambas as partes, de tal modo que depois o tratado pode ser assinado. Mas a fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens e desvantagens. Uma fé construída por nós próprios não tem valor. A fé não é algo que nós esquadrinhamos e concordamos.

Erfurt, 23 de setembro de 2011.

No coração de Maria

8. Uma particularidade da imagem miraculosa de Etzelsbach é a posição do Crucificado. Na maior parte das representações da Pietà, Jesus morto jaz com a cabeça virada para a esquerda. Deste modo, o observador pode ver a ferida no lado do Crucificado; aqui em Etzelsbach, ao contrário, a ferida está escondida, justamente porque o cadáver está virado para o outro lado. Parece-me que, em tal representação, se esconde um profundo significado, que só se desvenda numa atenta contemplação: na imagem miraculosa de Etzelsbach, os corações de Jesus e da sua Mãe estão voltados um para o outro; estão junto um do outro. Trocam entre si o seu amor. Sabemos que o coração é também o órgão de uma sensibilidade mais delicada pelo outro, bem como o órgão da compaixão íntima. No coração de Maria, há o espaço para o amor que o seu divino Filho quer dar ao mundo.

Erfurt - Etzelsbach, 23 de setembro de 2011.

Crer junto aos outros

9. Essencialmente, a fé é sempre também um acreditar junto com os outros. Ninguém pode crer sozinho. Recebemos a fé, diz-nos Paulo, através da escuta. E a escuta é um processo que requer o estar juntos de modo espiritual e físico. Somente na grande comunhão dos fiéis de todos os tempos que encontraram a Cristo e foram encontrados por Ele, posso crer. O fato de poder crer devo-o, antes de mais nada, a Deus que Se dirige a mim e, por assim dizer, «acende» a minha fé. Mas, de um modo muito concreto, devo a minha fé àqueles que vivem ao meu redor e que acreditaram antes de mim e acreditam juntamente comigo. Este grande «com», sem o qual não pode haver qualquer fé pessoal, é a Igreja. E esta Igreja não se detém diante das fronteiras dos países; demonstra-o as nacionalidades dos Santos que mencionei: Hungria, Inglaterra, Irlanda e Itália. Daqui se vê como é importante a permuta espiritual, que se dilata através da Igreja inteira. Sim, para o desenvolvimento da Igreja no nosso País foi, e continua a ser, fundamental que acreditemos juntos em todos os Continentes e aprendamos uns dos outros a acreditar. Se nos abrirmos à fé integral ao longo de toda a história e nos seus testemunhos em toda a Igreja, então a fé católica tem um futuro, mesmo como força pública na Alemanha. Ao mesmo tempo as figuras dos Santos, de que falei, mostram-nos a grande fecundidade de uma vida com Deus, a fecundidade deste amor radical a Deus e ao próximo. Os Santos, mesmo onde são poucos, mudam o mundo.

Erfurt, 23 de setembro de 2011.

Deus e o futuro do homem

10. «Onde há Deus, há futuro»: assim diz o lema destas jornadas. Como Sucessor do Apóstolo Pedro, a quem o Senhor – no Cenáculo – precisamente deu o encargo de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32), de boa vontade vim ter convosco, nesta bela cidade, para rezarmos juntos, proclamar a palavra de Deus e celebrarmos juntos a Eucaristia. Peço a vossa oração para que estes dias sejam frutuosos, para que Deus confirme a nossa fé, revigore a nossa esperança e aumente o nosso amor. Oxalá nos tornemos de novo, nestes dias, cientes de quanto Deus nos ama e que Ele é verdadeiramente bom. E assim, devemos ser colmados pela confiança de que Ele é bom para connosco, que tem um poder benévolo e que Ele nos leva, com tudo o que faz mover o nosso coração e é importante para nós, nas suas mãos. E queremos nos colocar conscientemente nas suas mãos. N’Ele, o nosso futuro está assegurado; Ele dá sentido à nossa vida e pode levá-la à plenitude. Que o Senhor vos acompanhe na paz e torne a nós todos mensageiros da sua paz!

Freiburg, 24 de setembro de 2011.

Ortodoxos: nossa proximidade

11. Sinto grande alegria por nos encontrarmos hoje aqui juntos. De coração vos agradeço a todos pela presença e a possibilidade desta partilha amiga. De modo particular, agradeço-lhe, caro Metropolita Augoustinos, pelas suas palavras profundas. Chamou-me a atenção particularmente o que o senhor disse sobre a Mãe de Deus e sobre os Santos que abraçam e unem todos os séculos. E, neste contexto, apraz-me repetir aqui o que disse noutro lugar: sem dúvida, de entre as Igrejas e as Comunidades cristãs, a Ortodoxia é teologicamente a que está mais próxima de nós; católicos e ortodoxos conservaram a mesma estrutura da Igreja dos primórdios. Neste sentido, todos nós somos «Igreja dos primórdios», que entretanto está sempre presente e sempre é nova. E deste modo, não obstante as dificuldades que de um ponto de vista humano não cessam de aparecer, ousamos esperar que não esteja demasiado longe o dia em que poderemos de novo celebrar juntos a Eucaristia (cf. Luz do Mundo. Uma conversa com Peter Seewald, pp. 91-92).Com interesse e simpatia, a Igreja Católica – e eu pessoalmente – acompanhamos o desenvolvimento das comunidades ortodoxas na Europa ocidental, que têm registado um crescimento notável.

Freiburg, 24 de setembro de 2011.

Conjugar fé e razão

12. A preparação para o sacerdócio, o caminho para ele requer, antes de mais, também o estudo. Não se trata de uma eventualidade académica que se deu na Igreja ocidental, mas é algo de essencial. Todos conhecemos estas palavras de São Pedro: «Estai sempre prontos a dar, em resposta a todo aquele que vo-lo peça, o logos da vossa fé» (cf. 1 Ped 3, 15). Hoje, o nosso mundo é um mundo racionalista e condicionado pelo carácter científico, embora este seja muitas vezes só aparente. Mas este espírito científico de querer compreender, explicar, de poder saber, da rejeição de tudo o que não seja racional é predominante no nosso tempo. Nisto há também algo de grande, apesar de frequentemente se esconder por detrás muita presunção e insensatez. A fé não é um mundo paralelo do sentimento, que possamos permitir-nos como um extra, mas é aquilo que abraça o todo, que lhe dá sentido, interpreta-o e lhe dá também as orientações éticas interiores, para que seja compreendido e vivido apontando para Deus e a partir de Deus. Por isso é importante estar informados, compreender, manter a mente aberta, aprender.

Freiburg, 24 de setembro de 2011.

Insídias do relativismo subliminar

13. Vivemos num tempo caracterizado em grande parte por um relativismo subliminar que penetra todos os âmbitos da vida. Às vezes, este relativismo torna-se combativo, lançando-se contra pessoas que dizem saber onde se encontra a verdade ou o sentido da vida.

E notamos como este relativismo exerce uma influência cada vez maior sobre as relações humanas e a sociedade. Isto exprime-se também na inconstância e descontinuidade de vida de muitas pessoas e num individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem capazes de renunciar de modo algum a determinada coisa ou de fazer um sacrifício pelos outros. Também o compromisso altruísta pelo bem comum nos campos sociais e culturais ou então pelos necessitados está a diminuir. Outros já não são capazes de se unir de forma incondicional a um consorte. Quase já não se encontra a coragem de prometer ser fiel a vida toda; a coragem de decidir-se e dizer: agora pertenço totalmente a ti, ou então, de comprometer-se resolutamente com a fidelidade e a veracidade, e de procurar sinceramente as soluções dos problemas.

Freiburg, 24 de setembro de 2011.

Cristo, a luz verdadeira

14. Ao nosso redor pode haver a escuridão e as trevas, e todavia vemos uma luz: uma chama pequena, minúscula, que é mais forte do que a escuridão, aparentemente tão poderosa e insuperável. Cristo, que ressuscitou dos mortos, brilha neste mundo, e fá-lo de modo mais claro precisamente onde tudo, segundo o juízo humano, parece lúgubre e sem esperança. Ele venceu a morte – Ele vive – e a fé n’Ele penetra, como uma pequena luz, tudo o que é escuro e ameaçador. Certamente quem acredita em Jesus não é que vê sempre só o sol na vida, como se fosse possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades, mas há sempre uma luz clara que lhe indica um caminho, o caminho que conduz à vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Os olhos de quem acredita em Cristo vislumbram, mesmo na noite mais escura, uma luz e vêem já o fulgor dum novo dia.

Freiburg, 24 de setembro de 2011.

O coração aberto

15. A Igreja na Alemanha possui muitas instituições sociais e caritativas, onde se cumpre o amor do próximo de forma eficaz, mesmo socialmente e até aos confins da terra. Quero exprimir, neste momento, a minha gratidão e o meu apreço a todos quantos estão empenhados na Cáritas alemã ou noutras organizações, ou então que disponibilizam generosamente o seu tempo e as suas forças para tarefas de voluntariado na Igreja. Tal serviço requer, primariamente, uma competência objectiva e profissional; mas, no espírito do ensinamento de Jesus, exige-se algo mais, ou seja, o coração aberto, que se deixa tocar pelo amor de Cristo, e deste modo é prestado ao próximo, que precisa de nós, mais do que um serviço técnico: o amor, no qual se torna visível ao outro o Deus que ama, Cristo.

Freiburg, 25 de setembro de 2011.

Como, quando e por que transformar a Igreja

16. Uma vez alguém instou a beata Madre Teresa a dizer qual seria, segundo ela, a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi: tu e eu!

Este pequeno episódio evidencia-nos duas coisas: por um lado, a Religiosa pretendeu dizer ao seu interlocutor que a Igreja não são apenas os outros, não é apenas a hierarquia, o Papa e os Bispos; a Igreja somos nós todos, os baptizados. Por outro lado, Madre Teresa parte efetivamente do pressuposto de que há motivos para uma mudança. Há uma necessidade de mudança. Cada cristão e a comunidade dos crentes no seu todo são chamados a uma contínua conversão.

E esta mudança, concretamente como se deve configurar? Trata-se porventura de uma renovação parecida com a que realiza, por exemplo, um proprietário de casa mediante uma reestruturação ou a pintura do seu imóvel? Ou então trata-se de uma correção para retomar a rota e percorrer, de modo mais ágil e direto, um caminho? Certamente estes e outros aspectos são importantes, mas aqui não podemos tratar de todos eles. Mas, cingindo-nos ao motivo fundamental da mudança, este é a missão apostólica dos discípulos e da própria Igreja(…)Por outras palavras, podemos dizer: a fé cristã constitui sempre, e não apenas no nosso tempo, um escândalo para o homem. Que o Deus eterno se preocupe connosco, seres humanos, e nos conheça; que o Inatingível, num determinado momento e num determinado lugar, se tenha colocado ao nosso alcance; que o Imortal tenha sofrido e morrido na cruz; que nos sejam prometidas a nós, seres mortais, a ressurreição e a vida eterna – crer em tudo isto não passa, aos olhos dos homens, de uma real presunção.

Este escândalo, que não pode ser abolido se não se quer abolir o cristianismo, foi infelizmente encoberto, mesmo recentemente, por outros tristes escândalos dos anunciadores da fé. Cria-se uma situação perigosa, quando estes escândalos ocupam o lugar do skandalon primordial da Cruz tornando-o assim inacessível, isto é, quando escondem a verdadeira exigência cristã por trás da incongruência dos seus mensageiros.

Freiburg, 25 de setembro de 2011.

Rezo pela Alemanha

17. Desejo encorajar a Igreja na Alemanha a continuar, com força e confiança, o caminho da fé, que faz as pessoas voltarem às raízes, ao núcleo essencial da Boa Nova de Cristo. Haverá – e já existem – comunidades pequenas de crentes que, com o seu entusiasmo, difundem raios de luz na sociedade pluralista, fazendo a outros curiosos de procurar a luz que dá vida em abundância. «Não há nada de mais belo que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele» (Homilia no início solene do Ministério Petrino, 24 de Abril de 2005). A partir desta experiência, cresce a certeza: «Onde há Deus, há futuro». Onde Deus está presente, há esperança e abrem-se perspectivas novas e, frequentemente, inesperadas que vão para além do hoje e das coisas efémeras. Neste sentido, acompanho em pensamento e na oração o caminho da Igreja na Alemanha.

Freiburg, 25 de setembro de 2011.

Fonte: Zenit/Portal Católico

Santos do Dia

29 de setembro

Arcanjos são Miguel, são Gabriel e são Rafael



O mês de setembro tornou-se o mais festivo para os cristãos, pois a Igreja unificou a celebração dos três arcanjos mais famosos da história do catolicismo e das religiões - Miguel, Gabriel e Rafael - para o dia 29 de setembro, data em que se comemorava apenas o primeiro.

Esses três arcanjos representam a alta hierarquia dos anjos-chefes, o seleto grupo dos sete espíritos puros que atendem ao trono de Deus e são seus "mensageiros dos decretos divinos" aqui na terra.

Miguel, que significa "ninguém é como Deus", ou "semelhança de Deus", é considerado o príncipe guardião e guerreiro, defensor do trono celeste e do Povo de Deus. Fiel escudeiro do Pai Eterno, chefe supremo do exército celeste e dos anjos fiéis a Deus, Miguel é o arcanjo da justiça e do arrependimento, padroeiro da Igreja Católica. Costuma ser de grande ajuda no combate contra as forças maléficas. É citado três vezes na Sagrada Escritura, que narramos na sua página. O seu culto é um dos mais antigos da Igreja.

Gabriel significa "Deus é meu protetor" ou "homem de Deus". É o arcanjo anunciador, por excelência, das revelações de Deus e é, talvez, aquele que esteve perto de Jesus na agonia entre as oliveiras. Padroeiro da diplomacia, dos trabalhadores dos correios e dos operadores dos telefones, comumente está associado a uma trombeta, indicando que é aquele que transmite a Voz de Deus, o portador das notícias. Na sua página, descrevemos com detalhes as suas aparições citadas na Bíblia . Além da missão mais importante e jamais dada a uma criatura, que o Senhor confiou a ele: o anúncio da encarnação do Filho de Deus. Motivo que o fez ser venerado, até mesmo no islamismo.

Rafael, cujo significado é "Deus te cura" ou "cura de Deus", teve a função de acompanhar o jovem Tobias, personagem central do livro Tobit, no Antigo Testamento, em sua viagem, como seu segurança e guia. Foi o único que habitou entre nós, passagem que pode ser lida na página dedicada a ele. Guardião da saúde e da cura física e espiritual, é considerado, também, o chefe da ordem das virtudes. É o padroeiro dos cegos, médicos, sacerdotes e, também, dos viajantes, soldados e escoteiros.

A Igreja Católica considera esses três arcanjos poderosos intercessores dos eleitos ao trono do Altíssimo. Durante as atribulações do cotidiano, eles costumam aconselhar-nos e auxiliar, além, é claro, de levar as nossas orações ao Senhor, trazendo as mensagens da Providência Divina. Preste atenção, ouça e não deixe de rezar para eles.

Fonte: Paulinas

São Rafael, arcanjo



O nome deste arcanjo vem do hebraico Rafa, sinônimo de cura, e El, que significa Deus. "Cura de Deus" ou "Curador divino", este é o arcanjo Rafael, que é o chefe dos anjos da guarda, considerado o anjo da Providência, que vela por toda a humanidade. Este arcanjo cura todos os ferimentos da alma e do corpo e defende igualmente as criaturas, de qualquer raça ou classe social, perante Deus.

Rafael é um dos sete arcanjos que fazem parte do círculo mais próximo do Senhor, um de seus mensageiros. Foi o único, segundo as Escrituras, que assumiu a forma humana e viveu entre os seres humanos durante alguns meses.

Segundo o Antigo Testamento, no livro de Tobit, foi o arcanjo que acompanhou o jovem filho deste, como guia conhecedor da região, na longa e perigosa viagem que fez à Média, no Egito. Ele protegeu Tobias durante esse período e inspirou-o a casar-se com Sara, sua parenta, a qual curou de uma obsessão, além da cegueira de seu pai, Tobit. Depois disso, apresentou-se:

[...] chamou-os à parte e disse-lhes: "Bendizei a Deus e proclamai entre todos os viventes os bens que ele vos concedeu [...] Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre presentes e tem acesso junto à glória do Senhor [...]" Pai e filho, cheios de espanto caíram com a face em terra, com grande temor. Mas ele lhes disse: "Não tenhais medo [...] Se estive convosco, não foi por pura benevolência minha para convosco, mas por vontade de Deus [...] E agora, bendizei ao Senhor sobre a terra e daí graças a Deus. Vou voltar para aquele que me enviou. Ponde por escrito tudo quanto vos aconteceu [...]" (Tb 5-12).

Rafael arcanjo é o portador da virtude da cura, do dom da transformação, da beleza curativa que é sua função no mundo. Conduz a humanidade ensinando-lhe o caminho da defesa contra os males físicos e espirituais que a possa ameaçar. Motivo que o tornou padroeiro dos sacerdotes e dos médicos, embora não deixem de pedir-lhe amparo os viajantes, soldados e escoteiros. Pleno de misericórdia, suas virtudes espirituais estão sempre direcionadas para hospitais, instituições e lares, onde esses dons são necessários.

Entretanto ele tem um especial cuidado com os peregrinos, mas não só os que viajam, também aqueles que estão em peregrinação rumo a Deus. Rafael arcanjo protege-os e guia pelo caminho reto e seguro da vida, que é a Paixão de Cristo, onde encontramos a verdadeira felicidade e salvação eterna, cura completa do corpo e da alma. A Igreja celebrava-o, especialmente, no dia 24 de outubro. Desde 1969, sua festa passou para 29 de setembro, mas os devotos de todo o mundo veneram-no todos os dias, durante suas orações.

Fonte: Paulinas

São Gabriel, arcanjo


Segundo o evangelho de são João, são sete os espíritos que atendem ao trono de Deus, tratando diretamente com ele e executando suas missões no universo. Gabriel é o arcanjo da Anunciação, aquele que usa a trombeta para levar as notícias. O seu nome significa "emissário do Senhor" e é o mais ligado aos acontecimentos da terra.

A maior preocupação deste arcanjo é desfazer conflitos e proporcionar aos seres humanos a capacidade de adaptação a todas as circunstâncias. É enviado à terra sempre com o objetivo de transmitir a luz divina e sensibilizar os adultos em relação às crianças e à própria humanidade. Este espírito puro do trono celeste é visto, citado e repetido tanto no Velho quanto no Novo Testamento.

Gabriel arcanjo foi o escolhido por Deus para acompanhar todo o advento da salvação, desde a revelação das profecias à anunciação da chegada do Messias, acompanhando-o durante toda a sua vida terrena, Paixão e Ressurreição. Além disso, é o portador da oração mais popular e mais querida do cristianismo: a ave-maria.

Vejamos algumas passagens do Evangelho de suas missões no evento que mudou a humanidade. Foi Gabriel arcanjo quem explicou ao profeta Daniel sua freqüente visão do carneiro e do bode. Foi ele, também, quem anunciou, ao mesmo profeta, a trajetória destinada a sua nação; a chegada do Messias, até a negação do mesmo por parte de seu povo, e sua morte na Terra.

Ele também apareceu ao sacerdote Zacarias, anunciando que sua mulher lhe daria um filho profeta, chamado João Batista, o precursor do Cristo. E como Zacarias duvidou, por ser velho e a mulher estéril, castigou-o com a perda da voz até que tudo se cumprisse.

O seu apogeu ocorreu na Anunciação à Virgem Maria sobre a encarnação do Filho de Deus. Suas primeiras palavras tornaram-se uma oração, aquela que todos recorrem para pedir a proteção, a bênção ou a intervenção de Nossa Senhora: "Alegra-te, Maria, cheia de graça. O senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres". Contou-lhe, então, o que a esperava, a missão que lhe era confiada, preparou-a espiritualmente para entender a intervenção do Espírito Santo. Fazendo o mesmo com o justo José, seu esposo, que, graças à aparição de Gabriel, compreendeu o que se passava, entregando-se de corpo e alma àquela missão.

Os teólogos e a Igreja entendem que foi também missão deste arcanjo avisar aos pastores de Belém sobre a chegada do Messias; alertar os reis magos para que não voltassem a Jerusalém; dar a José a ordem de fugir para o Egito e, depois, retornar a Nazaré; consolar Jesus no horto das Oliveiras e anunciar às santas mulheres a Ressurreição do Cristo.

Gabriel arcanjo e seus anjos são os mensageiros das boas notícias, ajudam-nos a dar bom rumo e direção à nossa vida, dão-nos compreensão e sabedoria. É a ele que recorremos quando necessitamos desses dons. Por isso devemos, sempre, agradecer por sua colaboração com nossas sinceras orações, em especial nos dias 24 de março e 29 de setembro, quando é festejado por todo o Povo de Deus, a Igreja de Cristo.

Fonte: Paulinas

São Miguel, arcanjo


O nome Miguel tem o significado de uma pergunta: "Quem é um com Deus?". Uma alusão bem clara do alto grau de convicção e fidelidade que este arcanjo tem no Altíssimo, ao qual atende diretamente no seu trono, comandando o seu exército de anjos. Por isso podemos traduzir seu nome como "semelhança de Deus", já que semelhante não é um sinônimo de igual. Este espírito puro é também chamado e reconhecido como príncipe do céu e ministro de Deus. Seu nome é citado três vezes no Evangelho: no capítulo 12 do livro de Daniel, no capítulo 12 do livro do Apocalipse e na carta de são Judas.

Segundo a Bíblia, é um dos sete espíritos que assistem ao trono do Altíssimo. O profeta Daniel nomeia este arcanjo chamando-o de príncipe protetor dos judeus e depositário das profecias do Antigo Testamento. Sendo assim, Miguel torna-se, também, protetor especial de todos nós, filhos de Deus, pois a Igreja e o seu povo são herdeiros definitivos das revelações e dos mistérios divinos. Por isso Miguel arcanjo assumiu a posição de padroeiro da Igreja Católica.

Miguel arcanjo, protetor dos justos, é assim lembrado na passagem bíblica do Apocalipse. Pois nela se vê que houve uma batalha no céu e Miguel, com seu exército de anjos, teve de combater e vencer a primitiva serpente, chamada de satanás. A partir daquele momento, satanás não tinha mais lugar no céu e foi expulso para a terra, juntamente com seus anjos maus, os demônios. Assim começou a antiga batalha do bem contra o mal.

Espírito vigoroso, atravessa céus e terras inundando os seres humanos com os sentimentos de justiça e arrependimento. Ele intercede pelo nosso livre-arbítrio, defende-nos, pisando nos dragões da indecisão e da dúvida. E quando o invocamos, ele nos defende, com o grande poder que Deus lhe concedeu, para mantermos a serenidade, a fé e para perseverarmos na nossa missão dentro dos preceitos da Igreja de Cristo, até entrarmos na vida eterna.

Na carta de são Judas, lê-se: "O arcanjo Miguel, quando enfrentou o diabo, disse: 'Que o Senhor o condene'". Por isso Miguel arcanjo é representado nas artes vestindo armadura e atacando o dragão infernal. Segundo a tradição, foi este arcanjo quem libertou o apóstolo Pedro da prisão e o conduziu entre os guardas. A Igreja Católica tem uma grande devoção pelo arcanjo Miguel, e o comemora no dia 29 de setembro.

Fonte: Paulinas

Beato Nicolau de Forca Palena

Diz-se que Bramante, o destruidor, propôs a S. Pedro, para levar ao paraíso, a construção duma bela e larga estrada em vez do difícil caminho velho. Bramante, o grande arquiteto, nascido em 1444 e falecido em 1514, é o Renascimento com todas as suas audácias; mas o nosso Nicolau, falecido em 1449, era a velha escola, e para ir para o céu seguiu o caminho velho, lento e custoso. Gastou um século para chegar ao fim.

Nicolau de Forca Palena nasceu na antiga região dos Pelinhianos, na Itália: lá se encontra a grande encruzilhada de Sulmona (a pátria do poeta latino Ovídio), redemoinho das estradas da Itália central nos Abrusos.

Depois de receber o sacerdócio, Nicolau veio a Roma, onde um solitário da região do Campo de Marte o iniciou numa vida mais perfeita. Por 1425, o beato Pedro Gambacorta, fundador dos Eremitas de S. Jerônimo ou Jerónimos, empreendeu uma peregrinação a Roma e contraiu amizade com Nicolau. Quando Pedro morreu, em Veneza, em 1435, depois de várias fundações, Nicolau tinha já saído do centro da cidade para se fixar, não longe do Vaticano, na extremidade setentrional do monte Janículo, onde construiu, concorrendo o papa Nicolau V, a igreja e o mosteiro de Santo Onófrio. Foi lá que ele morreu em 1449, com cem anos.

Fundara em 1417 um eremitério em Nápoles. O papa Eugenio IV deu-lhe um mosteiro perto de Florença. A união oficial de Santo Onófrio e dos Jerônimo foi assinada somente em 1446.
A multidão pôde honrar por três dias o corpo do beato, exposto à veneração. Em 1606 foi colocado em Santo Onófrio um monumento que imitava um altar. Em 1640 foram publicadas imagens de Nicolau aureolado. Em 1648, a Sagrada Congregação dos Ritos permitiu que fossem dadas e expostas relíquias suas. Em 1712 foi colocado, o que se conservava, debaixo do altar-mor. Em 1648, a terra chamada Forca Palena obteve licença para o festejar utilizando o comum dos confessores não pontífices. Na igreja de Santo Onófrio continua ainda hoje a ser venerado.

Fonte: Portal Católico

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

São Pio de Pietrelcina

Catequese de Bento XVI sobre a viagem apostólica à Alemanha

CATEQUESE
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 28 de setembro de 2011


Queridos irmãos e irmãs!

Como sabeis, de quinta-feira e domingo passados, realizei uma Visita Pastoral à Alemanha; estou feliz, portanto, como de costume, por aproveitar a ocasião da Audiência de hoje para percorrer convosco as intensas e estupendas jornadas transcorridas no meu País de origem. Atravessei a Alemanha de norte a sul, do leste ao oeste: da capital Berlim a Erfurt e a Eichsfeld e, enfim, a Friburgo, cidade próxima à fronteira com a França e a Suíça. Agradeço, antes de tudo, ao Senhor pela possibilidade que me ofereceu de me encontrar com as pessoas e falar de Deus, de rezarmos juntos e confirmar os irmãos e as irmãs na fé, segundo o particular mandato que o Senhor confiou a Pedro e aos seus sucessores. Essa visita, desenvolvida sob o tema "Onde há Deus, há futuro", foi verdadeiramente uma grande festa da fé: nos vários encontros e colóquios, nas celebrações, especialmente nas Missas solenes com o povo de Deus. Esses momentos foram um precioso presente que nos fizeram perceber novamente como é Deus quem dá à nossa vida o sentido mais profundo, a verdadeira plenitude, antes, que somente Ele dá a nós, dá a todos um futuro.

Com profunda gratidão, recordo a acolhida calorosa e entusiasta, bem como a atenção e o afeto a mim demonstrados nos vários lugares que visitei. Agradeço de coração aos Bispos alemães, especialmente aqueles das Dioceses que me hospedaram, pelo convite por quanto fizeram, juntamente com tantos colaboradores, para preparar esta viagem. Um vivo agradecimento dirijo igualmente ao Presidente Federal e a todas as autoridades políticas e civis a nível federal e regional. Sou profundamente grato a quantos contribuíram, de diversos modos, com o bom êxito da Visita, sobretudo aos numerosos voluntários. Assim, essa foi um grande dom para mim e para todos nós e suscitou alegria, esperança e um novo impulso de fé e de compromisso pelo futuro.

Na capital federal, Berlim, o Presidente Federal acolheu-me na sua residência e me deu as boas-vindas, em seu nome e de todos os seus conterrâneos, expressando a estima e o afeto por um Papa nativo da terra alemã. De minha parte, pude esboçar um breve pensamento sobre o relacionamento recíproco entre religião e liberdade, recordando uma frase do grande Bispo e reformador social Wilhelm von Ketteler: "Da mesma forma como a religião precisa da liberdade, assim também a liberdade precisa da religião".

De bom grado, acolhi o convite a dirigir-me ao Bundestag (Parlamento), aquele que foi certamente um dos grandes momentos de minha viagem. Pela primeira vez, um Papa pronunciou um discurso diante dos membros de um Parlamento alemão. Em tal ocasião, quis expor o fundamento do direito e do livre Estado de direito, isto é, a medida de todo o direito, inscrito pelo Criador no ser mesmo da sua criação. É necessário, por isso, alargar o nosso conceito de natureza, compreendendo-a não somente como um conjunto de funções, mas, mais do que isso, como linguagem do Criador para auxiliar-nos a discernir o bem do mal. Sucessivamente, houve também um encontro com alguns representantes da comunidade judaica na Alemanha. Recordando as nossas comuns raízes na fé no Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, evidenciamos os frutos obtidos até agora no diálogo entre a Igreja Católica e o Judaísmo na Alemanha. Tive também a oportunidade de encontrar-me com alguns membros da comunidade muçulmana, concordando com eles acerca da importância da liberdade religiosa para um desenvolvimento pacífico da humanidade.

A Santa Missa no estádio olímpico, em Berlim, na conclusão do primeiro dia da Visita, foi uma das grandes celebrações litúrgicas que me deram a possibilidade de rezar juntamente com os fiéis e de encorajá-los na fé. Fiquei muito contente com a numerosa participação das pessoas! Naquele momento festivo e impressionante, meditamos sobre a imagem evangélica das videiras e dos ramos, isto é, sobre a importância de estarmos unidos a Cristo para a nossa vida pessoal de fiéis e para o nosso ser Igreja, seu corpo místico.

A segunda etapa da minha Visita foi na Turíngia. A Alemanha, e a Turíngia, de modo particular, é a terra da reforma protestante. Portanto, desde o início, quis ardentemente dar particular destaque ao ecumenismo no quadro desta viagem, e foi meu forte desejo viver um momento ecumênico em Erfurt, porque exatamente em tal cidade Martinho Lutero entrou na comunidade dos Agostinianos e ali foi ordenado sacerdote. Por isso, fiquei muito contente pelo encontro com os membros do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha e pelo ato ecumênico no ex-Convento dos Agostinianos: um encontro cordial que, no diálogo e na oração, levou-nos de modo mais profundo a Cristo. Vimos novamente o quanto seja importante o nosso comum testemunho da fé em Jesus Cristo no mundo de hoje, que frequentemente ignora a Deus ou não se interessa por Ele. É necessário o nosso esforço comum no caminho rumo a uma plena unidade, mas sempre somos bem conscientes de que não podemos "fazer" seja a fé, seja a unidade tão desejada. Uma fé criada por nós mesmos não tem nenhum valor, e a verdadeira unidade é, mais do que tudo, um dom do Senhor, o qual rezou e reza sempre pela unidade dos seus discípulos. Somente Cristo pode dar-nos essa unidade, e seremos sempre mais unidos na medida em que voltarmos a Ele e nos deixamos transformar por Ele.

Um momento particularmente emocionante foi, para mim, a celebração das Vésperas marianas diante do Santuário de Etzelsbach, onde me acolheu uma multidão de peregrinos. Desde jovem, tinha ouvido falar da região de Eichsfeld – porção de terra que permaneceu sempre católica em meio às várias vicissitudes da história – e dos seus habitantes que se opuseram corajosamente ás ditaduras do nazismo e do comunismo. Assim, fiquei muito contente por visitar essa Eichsfeld e o seu povo em uma peregrinação à imagem milagrosa da Virgem Dolorosa de Etzelsbach, onde, por séculos, os fiéis confiaram a Maria as próprias necessidades, preocupações, sofrimentos, recebendo conforto, graças e bênçãos. Além disso, foi tocante a Missa celebrada na magnífica Piazza del Duomo em Erfurt. Recordando os santos patronos da Turíngia – Santa Elisabete, São Bonifácio e São Kilian – e o exemplo luminoso dos fiéis que testemunharam o Evangelho durante os sistemas totalitários, convidei os fiéis a serem os santos de hoje, válidos testemunhos de Cristo, e a contribuir para construir a nossa sociedade. Sempre, de fato, foram os santos e as pessoas permeadas pelo amor de Cristo a transformar verdadeiramente o mundo. Comovente foi também o breve encontro com monsenhor Hermann Scheipers, o último sacerdote alemão vivo sobrevivente ao campo de concentração de Dachau. Em Erfurt, tive também a ocasião de encontrar algumas vítimas de abuso sexual por parte dos religiosos, aos quais quis assegurar a minha dor e minha proximidade em seus sofrimentos.

A última etapa da minha viagem levou-me ao sudoeste da Alemanha, na Arquidiocese de Friburgo. Os habitantes desta bela cidade, os fiéis da Arquidiocese e os numerosos peregrinos vindos das vizinhas Suíça e França e de outros Países reservaram-me uma acolhida particularmente festiva. Pude experimentá-lo também na Vigília de oração com milhares de jovens. Fiquei feliz ao ver que a fé na minha pátria alemã tem um rosto jovem, que é viva e tem um futuro. No sugestivo rito da luz, transmiti aos jovens a chama do círio pascal, símbolo da luz que é Cristo, exortando-os: "Vós sois a luz do mundo". Repeti a eles que o Papa confia na colaboração ativa dos jovens: com a graça de Cristo, são capazes de levar ao mundo o fogo do amor de Deus.

Um momento singular foi o encontro com os seminaristas no Seminário de Friburgo. Respondendo em um certo sentido à tocante carta que me enviaram algumas semanas antes, quis mostrar àqueles jovens a beleza e a grandeza do seu chamado por parte do Senhor e oferecer a eles algum auxílio para prosseguir o caminho de seguimento com alegria e em profunda comunhão com Cristo. Também no Seminário, pude encontrar-me, em uma atmosfera fraterna, com alguns representantes das Igrejas ortodoxas e ortodoxas orientais, dos quais nós, católicos, nos sentimos muito próximos. Exatamente desta ampla semelhança deriva também a missão comum de ser fermento para a renovação da nossa sociedade. Um amigável encontro com representantes do laicato católico alemão concluiu a série de eventos no Seminário.

A grande celebração eucarística dominical no aeroporto turístico de Friburgo foi um outro momento culminante da Visita pastoral, e a ocasião para agradecer a quantos se empenham nos vários âmbitos da vida eclesial, sobretudo os numerosos voluntários e colaboradores das iniciativas caritativas. São esses que tornam possíveis os múltiplos auxílios que a Igreja alemã oferece à Igreja universal, especialmente nas terras de missão. Recordei também que o seu precioso serviço será sempre fecundo, quando deriva de uma fé autêntica e viva, em união com os Bispos e o Papa, em união com a Igreja. Enfim, antes do meu retorno, falei com milhares de católicos comprometidos na Igreja e na sociedade, sugerindo algumas reflexões sobre a ação da Igreja em uma sociedade secularizada, com o convite de ser mais livre de fardos materiais e políticos para ser mais transparente a Deus.

Queridos irmãos e irmãs, esta Viagem Apostólica à Alemanha ofereceu-me uma ocasião propícia para encontrar os fiéis da minha pátria alemã, para confirmá-los na fé, na esperança e no amor, e compartilhar com eles a alegria de serem católicos. Mas a minha mensagem era destinada a todo o povo alemão, para convidas a todos a olhar o futuro com confiança. É verdade, "Onde há Deus, há futuro". Agradeço, mais uma vez, a todos aqueles que tornaram possível esta Visita e a quantos me acompanharam com a oração. O Senhor abençoe o Povo de Deus na Alemanha e abençoe a todos vós. Obrigado.


Ao final da Catequese, o Papa dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa a seguinte saudação:

Amados peregrinos de língua portuguesa,

cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Piracicaba e Belo Horizonte, de Bauru e Apucarana: convido-vos a olhar com confiança o vosso futuro em Deus. Com a graça de Cristo, sois capazes de levar ao mundo o fogo do amor de Deus. Sobre vós e vossas famílias desça a minha Bênção.

Fonte: Canção Nova

A Jurisdição Episcopal e a Sé Romana

A Jurisdição Episcopal e a Sé Romana
Mons. Joseph Clifford FENTON


Uma das contribuições mais importantes à sagrada teologia em anos recentes encontra-se no ensinamento do Santo Padre sobre a fonte imediata da jurisdição episcopal no interior da Igreja Católica. Na esplêndida carta encíclica Mystici corporis, publicada a 29 de junho de 1943, o Papa Pio XII falou do poder ordinário de jurisdição dos demais bispos católicos como algo “comunicado a eles imediatamente” pelo Soberano Pontífice. (1) Mais de um ano antes da publicação da Mystici corporis, o Santo Padre divulgara a mesma verdade na alocução pastoral aos párocos e pregadores quaresmais de Roma. Nesse discurso, ele ensinou que é do Vigário de Cristo na terra que todos os outros pastores na Igreja Católica “recebem imediatamente a jurisdição deles e a missão deles.” (2)

Na última edição de sua obra clássica, Institutiones juris publici ecclesiastici, Mons. Alfredo Ottaviani declara que esse ensinamento, que fora previamente considerado probabilior ou mesmo communis, deve agora ser sustentado como inteiramente certo em razão do que disse o Papa Pio XII. (3) A tese que deve ser aceita e ensinada como certa é um elemento extremamente valioso no ensinamento cristão sobre a natureza da verdadeira Igreja. Negar ou mesmo ignorar essa tese impedirá, inevitavelmente, até de chegar perto da compreensão teológica precisa e adequada da função de Nosso Senhor como o Cabeça da Igreja e da unidade visível do reino de Deus na terra. Assim, ao dar a esta doutrina o status de proposição definitivamente certa, o Santo Padre beneficiou enormemente o trabalho da sacra teologia.

A tese de que os bispos derivam seu poder de jurisdição imediatamente do Soberano Pontífice não é, de modo algum, ensinamento novo. No breve Super soliditate, publicado a 28 de novembro de 1786, e dirigido contra os ensinamentos do canonista José Valentino Eybel, o Papa Pio VI censurou acerbamente Eybel pelos ataques insolentes desse escritor aos homens que ensinavam que o Romano Pontífice é aquele “de quem os bispos mesmos recebem a autoridade deles”. (4) O Papa Leão XIII, na encíclica Satis cognitum, datada de 29 de junho de 1896, expôs um ponto fundamental desse ensinamento ao reiterar, acerca dos poderes que os demais dirigentes da Igreja têm em comum com São Pedro, o ensinamento do Papa São Leão I de que tudo o que Deus deu a esses outros, Ele o deu através do Príncipe dos Apóstolos. (5)

Esse ensinamento fora enunciado explicitamente num comunicado da Igreja Romana pelo Papa Santo Inocêncio I, na carta dele aos bispos africanos, emitida em 27 de janeiro de 417. Esse grande Pontífice declarou que “o episcopado mesmo e todo o poder que recebe esse nome” vêm de São Pedro. (6) A doutrina apresentada pelo Papa Santo Inocêncio I era bastante familiar à hierarquia africana. Havia sido desenvolvida e ensinada pelos predecessores dos homens a quem ele escrevia, na primeira explicação sistemática e ampla do episcopado no interior da Igreja Católica. Perto da metade do século III, São Cipriano, o Bispo Mártir de Cartago, elaborara o ensinamento dele sobre a função de São Pedro e da Cátedra deste como base da unidade da Igreja. (7) Santo Optato, Bispo de Mileve e excepcional defensor da Igreja contra os ataques dos donatistas, escrevera, em torno do ano 370, que a Cátedra de Pedro era aquela Sé com que “a unidade deve ser mantida por todos”, (8) e que, depois de cair, Pedro havia “recebido sozinho as chaves do reino do céu, que deveriam ser transmitidas também (communicandas) aos demais”. (9)

Durante os últimos anos do século IV, o Papa São Sirício afirmara a origem petrina do episcopado na carta Cum in unum, na qual referiu-se ele ao Príncipe dos Apóstolos como aquele “Do qual tanto o apostolado quanto o episcopado em Cristo derivavam sua origem”. (10) Ele introduziu esse conceito em seu escrito como algo com que os destinatários de sua epístola já estavam perfeitamente familiarizados. Era e continuou sendo o ensinamento tradicional e comum da Igreja Católica.

A tese de que os bispos derivam seu poder de jurisdição imediatamente do Romano Pontífice, em vez de imediatamente de Nosso Senhor Mesmo, tivera longa história, e tremendamente interessante, no campo da teologia escolástica. Santo Tomás de Aquino apresentou-a em seus escritos, sem contudo alongar-se no tratamento dela. (11) Dois outros escolásticos medievais de grande destaque, Ricardo de Mediavila (12) e Durando, (13) seguiram o exemplo dele. O estupendo tratado teológico pré-tridentino sobre a Igreja de Cristo, a Summa de ecclesia do Cardeal João de Turrecremata, aprofundou-se na questão com riqueza de minúcias. (14) Turrecremata elaborou a maioria dos argumentos que teólogos posteriores empregaram para demonstrar a tese. Tomás de Vio, Cardeal Caetano, contribuiu muito para o desenvolvimento do ensinamento no período imediatamente anterior ao Concílio de Trento. (15)

Durante o Concílio de Trento, a tese foi debatida pelos próprios Padres. (16) De longe a mais incisiva apresentação da doutrina que mais tarde seria proposta pelo Papa Pio XII foi feita no Concílio de Trento pelo grande teólogo jesuíta Diego Laynez. (17) Sob muitos aspectos, as quaestiones de Laynez De origine jurisdictionis episcoporum e De modo quo jurisdictio a summo pontifice in episcopos derivatur continuam sendo até hoje as melhores fontes de informação teológica sobre as relações dos outros bispos na Igreja Católica com o Romano Pontífice.

Durante o século posterior ao Concílio de Trento, três dos teólogos escolásticos clássicos escreveram magníficas explicações e provas da tese de que a autoridade episcopal na Igreja de Deus é derivada imediatamente do Vigário de Cristo na terra. São Roberto Belarmino tratou da questão com a costumeira clareza e segurança, (18) usando abordagem um tanto diferente daquela empregada por Turrecremata e Laynez e mais próxima da de Caetano. Francisco Suarez tratou da tese in extenso em seu Tractatus de legibus, e apresentou certas explicações que completaram o ensinamento do próprio Laynez. (19) Francisco Sylvius, em suas Controvérsias, resumiu as descobertas de seus grandes predecessores neste campo e nos deu a que provavelmente continua sendo até hoje a mais eficaz apresentação breve do ensinamento em toda a literatura escolástica. (20) Durante o mesmo período, a matéria recebeu tratamento brevíssimo, mas teologicamente acertado, pelo franciscano português Francisco Macedo em De clavibus Petri. (21) Dois dos principais teólogos tomistas do século XVI, Domingos Soto e Domingo Bañez, (23) igualmente, incluíram este ensinamento em seus Comentários.

O Papa Bento XIV incluiu tratamento excelente dessa tese em sua magnífica obra De synodo diocesana. (24) Dentre as autoridades mais recentes que se ocuparam da questão de modo mais meritório estão os dois teólogos jesuítas Domingos Palmieri (25) e o Cardeal Ludovico Billot. (26) O Cardeal Joseph Hergenroether tratou do tópico com eficácia e exatidão em sua grande obra Catholic Church and Christian State [A Igreja Católica e o Estado Cristão]. (27)

A oposição mais importante à tese, como já se podia esperar, veio dos teólogos galicanos. Bossuet (28) e Regnier (29) defenderam a causa galicana nessa questão. Outros, embora, não infectados pelo vírus galicano, opuseram-se a esse ensinamento no passado. Dignos de nota entre esses oponentes foram Francisco de Vitória e Gabriel Vasquez. Vitória, embora exímio teólogo, parece ter interpretado mal a questão em pauta, e ter imaginado que de algum modo o ensinamento tradicional envolvia a implicação de que todos os bispos houvessem sido postos em suas sés por nomeação de Roma. (30) Vasquez, por outro lado, sentiu-se atraído pela teoria hoje caduca de que a jurisdição episcopal seria absolutamente inseparável do caráter episcopal, e de que a autoridade do Santo Padre sobre seus irmãos bispos na Igreja de Cristo deveria explicar-se pelo poder dele de remover ou alterar a matéria ou os súditos sobre os quais essa jurisdição há de ser exercida. (31)

O ensinamento do Papa Pio XII sobre a origem da jurisdição episcopal não é alegação de que São Pedro e seus sucessores na Sé Romana sempre nomearam diretamente cada um dos bispos no interior da Igreja de Jesus Cristo. Mas significa, sim, que cada um dos bispos que seja o ordinário de uma diocese detém sua posição pelo consentimento e ao menos a aprovação tácita da Santa Sé. Ademais, significa que o Bispo de Roma pode, conforme a constituição divina da Igreja mesma, remover casos particulares da jurisdição dos bispos e transferi-los para a jurisdição dele. Finalmente, significa que todo e qualquer bispo que não esteja em união com o Santo Padre não tem autoridade alguma sobre os fiéis.

Este ensinamento não envolve, de maneira alguma, negação do fato de que a Igreja Católica é essencialmente hierárquica assim como monárquica em sua estrutura. Não entra em conflito com a verdade de que os bispos residenciais têm jurisdição ordinária, e não jurisdição meramente delegada, em suas próprias igrejas. Na realidade, trata-se de explicação certamente verdadeira da origem dessa jurisdição ordinária nos homens consagrados que governam cada uma das comunidades individuais de fiéis como sucessores dos apóstolos e como súditos do cabeça do colégio apostólico. Significa que o poder de jurisdição desses homens vem a eles de Nosso Senhor, mas através de Seu Vigário na terra, unicamente no qual a Igreja encontra seu centro visível de unidade neste mundo.

Joseph Clifford Fenton

Universidade Católica dos E.U.A.
Washington, Capital

1. Cf. a edição da N.C.W.C. [National Catholic Welfare Council, embrião da C.N.B. dos E.U.A. (ndt)], n. 42.
2. Cf. Osservatore Romano, 18 de fevereiro de 1942.
3. Cf. Institutiones iuris publici ecclesiastici, 3.ª edição (Typis Polyglottis Vaticanis, 1948), I, 413.
4. Cf. DB, 1500.
5. Cf. Codicis iuris canonici fontes, editadas pelo Cardeal Pietro Gasparri (Typis Polyglottis Vaticanis, 1933), III, 489 ss. A declaração do Papa São Leão I encontra-se em seu quarto sermão, o do segundo aniversário de sua elevação ao pontificado.
6. DB, 100.
7. Cf. Adhemar D’Ales, La theologie de Saint Cyprien [A teologia de São Cipriano] (Paris: Beauchesne, 1922), pp. 130 ss.
8. Cf. Libri sex contra Parmenianum Donatistam, II, 2.
9. Cf. ibid., VII, 3.
10. Cf. Ep.V.
11. Santo Tomás ensinou na Summa contra gentiles, Lib. IV, cap. 76, que, para conservar a unidade da Igreja, o poder das chaves deve ser transmitido, por intermédio de Pedro, aos outros pastores da Igreja. Escritores subsequentes também recorreram ao ensinamento dele na Summa theologica, IIa-IIae, q. 39, art. 3, em seu Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo, IV, dist. 20, art. 4, e em seu Comentário ao Evangelho segundo São Mateus, no cap. 16, n. 2, em apoio da tese de que os bispos derivam seu poder de jurisdição imediatamente do Soberano Pontífice.
12. Cf. o Comentário às Sentenças, por Ricardo, Lib. IV, dist. 24.
13. Cf. D. Durandi a Sancto Porciano Ord. Praed. et Meldensis Episcopi in Petri Lombardi sententias theologicas libri IIII (Veneza, 1586), Lib. IV, dist. 20, q. 5, n. 5, p. 354.
14. Cf. Summa de ecclesia (Veneza, 1561), Lib. II, capítulos 54-64, pp. 169-188. A tese de Turrecremata é idêntica àquela ensinada pelo Papa Pio XII, embora a terminologia dele seja diferente. O Santo Padre fala dos bispos recebendo o poder de jurisdição deles imediatamente da Santa Sé, i.e., de Nosso Senhor através do Soberano Pontífice, já Turrecremata fala dos bispos recebendo o poder deles de jurisdição mediatamente ou imediatamente do Santo Padre, i.e., dele diretamente ou de algum outro autorizado a agir em nome dele.
15. Cf. De comparatione auctoritatis Papae et concilii, de Caetano, cap. 3, na edição de Frei Vincent Pollet dos Scripta theologica (Roma: Angelicum, 1935), I, 26 s.
16. Cf. Sforza Pallavicini, Histoire du concile de Trente [História do Concílio de Trento] (Montrouge: Migne, 1844), Lib. XVIII, capítulos 14 ss.; Lib. XXI, capítulos 11 e 13, II, 1347 ss.; III, 363ss.; Hefele-Leclercq, Histoire des conciles [História dos Concílios] (Paris: Letouzey et Ane, 1907 ss.), IX, 747 ss.; 776 ss.
17. Na edição de Hartmann Grisar das Disputationes Tridentinae de Laynez (Innsbruck, 1886), I, 97-318.
18. Cf. De Romano Pontifice, Lib. IV, capítulos 24 e 25.
19. Cf. Lib. IV, cap. 4, in: Migne, Theologicae cursus completus (MTCC) XII, 596 ss. Suarez toca nessa questão em seu tratado De Romano Pontifice na Opus de triplici virtute theologica, De fide, tract. X, seção 1.
20. Cf. Lib. IV, q. 2, art. 5, na Opera omnia (Antuérpia, 1698), V, 302 ss.
21. Cf. De clavibus Petri (Rome, 1560), Lib. I, cap. 3, pp. 36 ss.
22. Cf. In quartam sententiarum (Veneza, 1569), dist. 20, q. 1, art. 2, conclusão 4, I, 991.
23. Cf. Scholastica commentaria in secundam secundae Angelici Doctoris D. Thomae (Veneza, 1587), in q. 1, art. 10, dub. 5, concl. 5, colunas 497 ss.
24. Cf. In Lib. I, cap. 4, n. 2 ss., in MTCC, XXV, 816 ss.
25. Cf. Tractatus de Romano Pontifice (Roma, 1878), 373 ss.
26. Cf. Tractatus de ecclesia Christi, 5.ª edição (Roma: Universidade Gregoriana, 1927) I, 563 ss.
27. Cf. Catholic Church and Christian State (Londres, 1876), I, 168 ss.
28. Cf. Defensio declarationis cleri Gallicani, Lib. VIII, capítulos 11-15, nas Oeuvres complètes (Paris, 1828), XLII, 182-202.
29. Cf. Tractatus de ecclesia Christi, pars. II, sect. 1, in MTCC, IV, 1043 ss.
30. Cf. Relectiones undecim, in Rel. II, De potestate ecclesiae, (Salamanca, 1565), pp. 63 ss.
31. Cf. In primam secundae Sancti Thomae (Lião, 1631), II, 31.

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PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:

Mons. Joseph Clifford FENTON, A Jurisdição Episcopal e a Sé Romana, trad. br. por F. Coelho, São Paulo, abril de 2010, blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-o7

de: “Episcopal Jurisdiction and the Roman See”, The American Ecclesiastical Review, vol. CXX, n.º 4, abril de 1949, pp. 337-342.

(Cf. o original transcrito em:
http://www.strobertbellarmine.net/forums/viewtopic.php?f=2&t=207)

Fonte: Tradição Católica

Concílio de Trento - Sessão VI - Decreto sobre a justificação

Concílio de Trento - Sessão VI - Decreto sobre a justificação
Concílio de Trento

Sessão VI (13-01-1547)

Decreto sobre a justificação

792 a. Em vista da doutrina errada que nestes tempos se tem espalhado não sem dano para muitas almas e grave detrimento para a unidade da Igreja, para louvor e glória de Deus Onipotente, para tranqüilidade da Igreja e salvação das almas, o sacrossanto Concílio Ecumênico e Geral de Trento, legitimamente congregado no Espírito Santo…, tem a intenção de expor a todos os fiéis de Cristo a sã e verdadeira doutrina da justificação, ensinada pelo sol de justiça (Mal 4, 2), Cristo Jesus, autor e consumador de nossa fé (Hb 12, 2), transmitida pelos Apóstolos e sempre retida pela Igreja Católica sob a direção do Espírito Santo e manda mui severamente que para o futuro ninguém ouse crer, pregar ou ensinar de outro modo do que está determinado e declarado no presente decreto.

Cap. 1 – A insuficiência da natureza e da lei para justificar os homens

793. Declara em primeiro lugar o santo Concílio que, para se entender de modo correto e puro a doutrina da justificação, é necessário cada um reconheça e confesse que, tendo todos os homens pela prevaricação de Adão, perdido a inocência (Rom 5, 12; 1 Cor 15, 22) e se tornado imundos (Is 64, 6) e (como diz o Apóstolo) por natureza filhos da ira (Ef 2, 3), conforme [o Concílio] expôs no decreto sobre o pecado original, de tal forma eram servos do pecado (Rom 6, 20) e sujeitos ao poder do demônio e da morte, que não só os gentios por força da natureza [cân. 1], mas também os judeus pela força da letra da lei de Moisés não podiam livrar-se ou levantar-se [daquele estado], posto que neles o livre arbítrio de modo algum fosse extinto [cân. 5], [tiveram] contudo as suas forças atenuadas e inclinadas [ao mal].

Cap. 2 – O mistério da vinda de Cristo

794. Assim o Pai celestial, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação (2 Cor 1, 3), quando veio aquela feliz plenitude dos tempos (Ef 1, 10), enviou aos homens Jesus Cristo, seu Filho, que foram anunciado e prometido a muitos Santos Padres antes da Lei e sob a Lei, a fim de remir os judeus que viviam sob a lei e [para] que os povos, que não seguiam a justiça, alcançassem a justiça (Rom 9, 30) e todos recebessem a adoção de filhos (Gal 4, 5). A este propôs Deus como propiciação pela fé no seu sangue pelos nossos pecados (Rom 3, 25), não só pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1 Jo 2, 2).

Cap. 3 – Quem é justificado por Cristo

795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão. Porque assim como os homens de fato não haveriam de nascer na injustiça, se não tivessem tido origem em Adão – pois, por meio dele e em conseqüência desta origem contraem na conceição a injustiça que lhes é própria – assim também jamais seriam justificados, se não renascessem em Cristo [cân. 2 e 10]. Pois é por este renascimento, em virtude do mérito da Paixão, que a graça, por meio da qual são justificados, lhes é concedida. Por este benefício o Apóstolo exorta a rendermos sempre graças ao Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz (Col 1, 12) e nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao reino de seu amado Filho, no qual temos redenção e remissão dos pecados (Col 1, 13 s).

Cap. 4 – A justificação do pecador

796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como sendo uma passagem daquele estado em que o homem, nascido filho do primeiro Adão, [passa] para o estado de graça e de adoção de filhos (Rom 8, 15) de Deus por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso. – Esta transladação, depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração [cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).

Cap. 5 – A necessidade de os adultos se prepararem para a justificação

797. Declara ainda [o Santo Concílio]: o início da justificação dos adultos deve brotar da graça proveniente de Deus [cân. 3] por Jesus Cristo, a saber, de sua vocação, pela qual são chamados, sem qualquer merecimento da parte deles. Assim, aqueles que estavam afastados de Deus pelos pecados, se dispõem [amparados] pela sua graça, que excita e auxilia (per eius excitantem atque adiuvantem gratiam), a alcançarem a conversão e a própria justificação, consentindo livremente nesta graça e livremente cooperando com ela [cân. 4 e 5]; de forma que, tocando Deus o coração do homem com a iluminação do Espírito Santo, fica o homem por um lado não totalmente inativo, recebendo aquela inspiração, que poderia também rejeitá-la; por outro lado, não pode ele de sua livre vontade, sem a graça de Deus, elevar-se à justificação [cân. 3] diante de Deus. Por isso, quando nas Sagradas Escrituras se diz: Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós (Zac 1, 3), somos lembrados de nossa liberdade; quando, porém, respondemos: Convertei-nos, Senhor a vós, e seremos convertidos (Lam. Jer 5, 21), confessamos que a graça de Deus nos previne.

Cap. 6 – O modo de preparação

798. A preparação para a justificação se efetua do seguinte modo: excitados e favorecidos pela graça divina, recebem a fé pelo ouvido (Rom 10, 17) e erguem-se livremente paras Deus, crendo ser verdadeiro o que foi revelado e prometido por Deus [cân. 12-14] especialmente, que o pecador é justificado por meio da graça de Deus, pela redenção, que está em Jesus Cristo (Rom 3, 24). Quando eles então, reconhecendo-se pecadores, são abalados proveitosamente pelo medo da justiça divina [cân. 8], lembram-se da misericórdia de Deus e firmam-se confiantes na esperança de que Deus lhes há de ser propício por amor de Cristo. Então começam a amá-lo como fonte de toda a justiça e a se insurgir por isso contra os pecados com ódio e detestação [cân. 9], isto é, pela penitência, que se deve fazer antes do Batismo (At 2, 38); finalmente, se propõem a receber o Batismo, a começar uma nova vida e a cumprir os mandamentos de Deus. Sobre esta disposição está escrito: Quem se achega de Deus, deve crer que ele existe e que é remunerador dos que o buscam (Heb 11, 6); e: confia, filho, os teus pecados te são perdoados (Mt 9, 2; Mc 2, 5); e: o temor de Deus expulsa o pecado (Ec 1, 27) e mais: fazei penitência e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo (At 2, 38) e ainda: Ide, pois, ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Padre, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos tenho mandado (Mt 28, 19) e finalmente: Preparai ao Senhor os vossos corações (1 Rs 7, 3).

Cap. 7 – A essência da justificação do pecador e suas causas

799. A esta disposição ou preparação se segue a própria justificação. Ela é não somente a remissão dos pecados [cân. 11], mas ao mesmo tempo a santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graça e dos dons. Por este meio, o homem de injusto se torna justo e de inimigo, amigo, de modo a ser herdeiro da vida eterna segundo a esperança (Tit 3, 7). As causas desta justificação são as seguintes: a [causa] final: a glória de Deus e a de Cristo, bem como a vida eterna; a eficiente: o misericordioso Deus, que sem merecimento nosso lava e santifica (1 Cor 6, 11), assinalando e ungindo com o Espírito Santo da promessa que é o penhor de nossa herança (Ef 1, 13 ss). A [causa] meritória, porém, é seu muito amado Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo nós inimigos (Rom 5, 10), pela nímia caridade com que nos amou (Ef 2, 4), nos mereceu a justificação e satisfez por nós ao Eterno Pai, com sua santíssima Paixão no lenho da cruz [cân. 10]. A [causa] instrumental é o sacramento do Batismo, isto é, o "sacramento da fé"1, sem o qual jamais alguém alcançou a justificação. Enfim, a causa única formal é "a justiça de Deus, não enquanto ele mesmo é justo, mas enquanto nos torna justos"2 [cân. 10 e 11], quer dizer, enquanto por ele enriquecidos, fica a nossa alma espiritualmente renovada, e não só passamos por justos, mas verdadeiramente nós nos denominamos e somos justos. Pois recebemos em nós a justiça, cada qual a sua, conforme a medida que o Espírito Santo distribui a cada um como ele quer (1 Cor 12, 11) e segundo a disposição e cooperação de cada qual.

800. Assim, ninguém pode ser justo, senão aquele a quem se comunicam os merecimentos da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isto assim sucede nesta justificação do pecador, precisamente pelo fato de o amor de Deus se difundir pelo Espírito Santo, por força dos merecimentos desta sagrada Paixão, nos corações (Rom 5, 5) dos que são justificados, aderindo-lhes intimamente [cân. 11]. Por isso, na justificação é infundido no homem por Jesus Cristo, a quem está unido, ao mesmo tempo, tudo isto: fé, esperança e caridade. Porque a fé nem une perfeitamente com Cristo, nem faz membro vivo de seu corpo, se não se lhe ajuntarem a esperança e a caridade. Daí a razão de se dizer com toda a verdade: a fé, sem obras, é morta (Tgo 2, 17 ss) e ociosa [cân. 19]; e em Jesus Cristo nem a circuncisão nem o prepúcio valem coisa alguma, mas a fé que obra pela caridade (Gal 5, 6; 6, 15). Esta é a fé que os catecúmenos, segundo a Tradição apostólica, suplicam à Igreja cantes do batismo, quando pede a "fé que lhes outorga a vida eterna"3, [mas] que, sem a esperança e a caridade, a fé não pode conceder. Por isso ouvem logo em resposta as palavras de Cristo: Se queres entrar para a vida, guarda os mandamentos (Mt 19, 17) [cân. 18-20]. E após terem os neófitos recebido a justificação verdadeira e cristã, exige-se deles que guardem branca e imaculada esta [veste], como sua veste mais preciosa (Luc 15, 22), que lhes foi concedida por Cristo em vez daquela, que pela desobediência de Adão for a perdida para si e para nós, a fim de chegar com ela ante o tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo e obter a vida eterna.

(1) S. Ambrósio, De Spiritu Sancto, 1, 3, 42 (PL 16, 714); S. Agostinho, Ep. 98, ad Bonif. 9 s (PL 33, 36, 4).
(2) "Iustitia Dei, non qua ipse iustus est, se qua nos justus facit". Cfr. S. Agostinho, De Trin. 14, 12, 15 (PL 42, 1048).
(3) Rit. Rom. Ordo Baptismi, n. I s.

Cap. 8 – Como se deve entender a justificação gratuita do pecador pela fé

801. O Apóstolo diz que o homem é justificado pela fé e sem merecimento (Rom 3, 22. 24). Estas palavras devem ser entendidas tais como sempre concordemente a Igreja Católica as manteve e explicou. "Nós somos justificados pela fé": assim dizemos, porque "a fé é o princípio da salvação humana"4, o fundamento e a raiz de toda justificação, sem a qual é impossível agradar a Deus (Heb 11, 6) e alcançar a companhia de seus filhos. Assim, pois, se diz que somos justificados gratuitamente, porque nada do que precede à justificação, nem a fé, nem as obras, merece a graça da justificação. Porque se ela é graça, já não procede das obras; do contrário a graça, como diz o Apóstolo, já não seria graça (Rom 11, 6).

(4) S. Fulgêncio, De fide, ad Petrum n. 1 (PL 65, 671).

Cap. 9 – Refutação da falsa confiança dos hereges

802. É necessário crer que não se perdoam pecados nem jamais foram perdoados, senão pela misericórdia divina, por causa de Cristo e sem merecimento próprio. Não obstante, a ninguém é lícito dizer que se perdoam ou foram perdoados os pecados àqueles que presume confiada e seguramente de perdão dos pecados e tão somente com isto se tranqüiliza. Pois, [também] nos hereges e cismáticos pode encontrar-se esta confiança vã e alheia a toda a piedade [cân. 12]. Sim, ela aí existe em nossos dias e com grande empenho é pregada contra a Igreja Católica. Também não se deve afirmar que os verdadeiramente justificados devem estar firmemente, sem sombra de qualquer dúvida, convencidos de sua justificação, e que ninguém é absolvido e justificado, a não ser aquele que seguramente crer que foi absolvido e justificado, e que somente por esta fé se efetua a absolvição e a justificação [cân. 14], como se aquele que não cresse nisto, duvidasse das promessas de Deus, da eficácia da morte e da ressurreição de Cristo. Porque, assim como nenhum [homem] pio deve duvidar da misericórdia de Deus, dos merecimentos de Cristo, bem como da virtude e eficácia dos sacramentos, assim também, quando cada qual olha para si mesmo e para sua fraqueza e falta de preparação, pode recear e temer pela sua remissão [cân. 13], visto ninguém poder saber com certeza de fé, a qual não pode estar sujeita a erro algum, que sele conseguiu a graça de Deus.

Cap. 10 – O aumento da justificação recebida

803. Justificados deste modo e feitos amigos e familiares de Deus (Jo 15, 15; Ef 2, 19), indo de virtude em virtude (Sl 83, 8), são renovados (como diz o Apóstolo) de dia para dia (2 Cor 4, 16), isto é, mortificando os membros da própria carne (Col 3, 5), tornando-os armas de justiça (Rom 6, 13. 19) para santificação por meio da observância dos mandamentos de Deus e da Igreja, crescem nesta justificação recebida pela graça de cristo, cooperando na fé com a boas obras (Tg 2, 22), são justificados ainda mais [cân. 24 e 32], como está escrito: O que é justo, seja justificado ainda mais (At 22, 11); e outra vez: Não receies justificar-te até a morte (Ecli 18, 22); e de novo: Vedes, pois, que o homem é justificado pelas obras, e não pela fé somente (Tgo 2, 24). Este aumento de justiça pede-o a Igreja quando reza: Dai-nos, Senhor, aumento de fé, esperança e caridade (XIII domingo depois de Pentecostes).

Cap. 11 – A observância dos mandamentos de Deus, sua necessidade e possibilidade

804. Mas ninguém, posto que justificado, se deve julgar eximido da observância dos mandamentos [cân. 20]. Ninguém deve pronunciar estas palavras temerárias, condenadas pelos Padres com anátema: é impossível ao homem justificado observar os preceitos de Deus [cân. 18 e 22]. "Porque Deus não manda coisas impossíveis, mas quando manda, adverte que faças o que possas e peças o que não possas, e ajuda a poder"5. Os seus mandamentos não são pesados (1 Jo 5, 3), o seu jugo é suave e o seu peso é leve (Mt 11, 30), pois os que são filhos de Deus, amam a Cristo, mas os que o amam guardam (como ele testifica) as suas palavras (Jo 14, 23), e podem seguramente executar isso com o auxílio de Deus. Pois, também eles nesta vida mortal, por mas santos e justos que sejam, caem às vezes pelo menos em pecados leves e quotidianos, chamados também "veniais" [cân. 23], mas com isto não deixam de ser justos. Pois é verdadeira e humilde aquela oração dos justos: Perdoai-nos as nossas dívidas (Mt 6, 12). E assim acontece que os justos tanto mais se sentem obrigados a andar pelo caminho da justiça, quanto estando já livres do pecado e feitos servos de Deus (Rom 6, 22), vivendo sóbria, justa e piedosamente (Tit 2, 12), podem progredir por meio de Jesus Cristo, por quem tiveram acesso a esta graça (Rom 5, 2). Porque Deus, os que uma vez foram justificados pela sua graça, "não os desampara a não ser que seja primeiro abandonado por eles"6. Assim, portanto, ninguém deve lisonjear-se com a fé somente [cân. 9, 19, 20], julgando estar pela fé somente constituído herdeiro e que conseguirá a herança ainda que não padeça com Cristo para ser glorificado com ele (Rom 8, 17). Pois o mesmo Cristo, (como diz o Apóstolo), embora fosse Filho de Deus, praticou, contudo, obediência pelo sofrimento, e depois de consumado, se tornou para todos os que lhe obedecem autor da salvação (Hb 5, 8 s). Por isso o mesmo Apóstolo admoesta os justificados, dizendo: Não sabeis que os que correm no estádio, correm, sim, todos, mas um só é que alcança o prêmio? Correi, pois, de modo que o alcanceis. Quanto a mim, corro, não como quem não tem meta certa, combato não como quem açoita o ar, mas castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que não suceda que, tendo eu pregado aos outros, venha eu mesmo a ser réprobo (1 Cor 9, 24 ss). De modo semelhante, fala o Príncipe dos Apóstolos, S. Pedro: Ponde cada vez mais cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio do boas obras, porque fazendo isto, não pecareis jamais (2 Ped 1, 10). Donde se infere que impugnam a doutrina da religião ortodoxa aqueles que dizem que o justo em todas as obras boas peca ao menos venialmente [cân. 25] ou, (o que é ainda mais intolerável), merece penas eternas; e [erram] também os que afirmam que os justos pecam em todas as obras, se, despertando de sua indolência e animando-se a correr no estádio, pondo seu intento primeiramente na glória de Deus, olham também para o prêmio eterno [cân. 26, 31], como está escrito: inclinei o meu coração para executar as vossas justificações, por amor da retribuição (Sl 118, 112); e de Moisés diz o Apóstolo: que olhava para a remuneração (Hb 11, 26).

(5) "Nam Deus imposibilia non iubet, sed iubendo monet, et facere quod possis, et petere quod non possis" Cfr. S. Agostinho, De nat. et gratia, c. 43, n. 50 (PL 44, 271).
(6) Deus "non deserit, nisi ab eis prius deseratur". Cfr. S. Agostinho, Op. Cit. C. 26, n. 29 (PL 44, 261).

Cap. 12 – Presunção temerária de ser predestinado

805. Ninguém, enquanto peregrina por esta vida mortal, deve querer penetrar tanto no mistério oculta da predestinação divina, que possa afirmar com segurança ser ele, sem dúvida alguma, do número de predestinados [cân. 15], como se o justo não pudesse mais pecar [cân. 23] ou, que se tiver pecado, poderá com certeza prometer-se a si mesmo uma nova conversão. Pois, sem uma revelação toda especial de Deus, não se pode saber quais os que Deus escolheu para si [cân. 16].

Cap. 13 – O dom da perseverança

806. O mesmo se deve entender a respeito do dom da perseverança [cân. 16], do qual está escrito: O que perseverar até o fim, este será salvo (Mt 10, 22. 24. 13). Este dom não pode ser obtido senão daquele que é poderoso para sustentar o que está de pé (Rom 14,4) a fim de que continue de pé até o fim, e para erguer novamente aquele que cai. Ninguém se prometa coisa alguma com certeza absoluta, posto que todos devem por e colocar a sua firmíssima esperança no auxílio de Deus. Porque Deus – a não ser que eles mesmos faltem à sua graça – assim como iniciou a obra boa, também a levará a bom termo, operando o querer e o executar (Filip 2, 13) [cân. 22]7. Porém, os que julgam estar de pé, vejam que não caiam (1 Cor 10, 12) e trabalhem em sua salvação com temor e tremor (Filip 2, 12) nos trabalhos, vigílias, esmolas, orações, oblações, jejuns e na castidade (cfr. 2 Cor 6, 3 ss). Sabendo que renasceram na esperança (1 Ped 1, 3) da glória, e não na glória, devem temer a peleja que lhes resta com a carne, com o mundo e com o demônio, peleja da qual não podem sair vencedores, se não obedecerem, com a graça de Deus, à palavra do Apóstolo: Não somos devedores à carne, para que vivamos segundo a carne. Pois, se viverdes segundo a carne, morrereis. Se, porém, com o espírito mortificardes as obras da carne, vivereis (Rom 8, 12 s).

(7) Cfr. A oração da Igreja "Actiones nostras, quaesumus Domine, aspirando praeveni et adiuvando prosequere, ut cuncta nostra oratio et operatio a te semper incipiat et per te coepta finiatur".

Cap. 14 – A queda no pecado e a sua reparação

807. Aqueles que pelo pecado perderam a graça da justificação, que haviam recebido, poderão novamente ser justificados [cân. 29] se, excitados por Deus, procurarem recuperar a graça perdida por meio do sacramento da Penitência, em virtude do merecimento de Cristo. Este modo de justificação é a reparação do que caiu, sendo com muito acerto denominada pelos Santos Padres de "segunda tábua depois do naufrágio da graça perdida"8. Pois, para os que depois do Batismo caem em pecados, instituiu Jesus Cristo o sacramento da Penitência com as palavras Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos (Jo 20, 22-23). Por onde se deve ensinar que a Penitência do cristão depois da queda muito se distingue do Batismo, e que nela está contida não só a renúncia e a detestação dos pecados, ou o coração contrito e humilhado (Sl 50, 19), mas também a confissão sacramental dos mesmos, ao menos em desejo [in voto], que se há de cumprir a seu tempo, a absolvição sacerdotal e anda a satisfação por jejuns, orações, esmolas e outros piedosos exercícios da vida espiritual, não em lugar do castigo eterno, que é com a culpa perdoado pela recepção do sacramento ou pelo desejo de recebê-lo, mas em lugar do castigo temporal [cân. 30], que, como ensinam as Sagradas Letras, nem sempre é perdoado todo – como sucede no Batismo – àqueles que, ingratos à graça de Deus, contristaram o Espírito Santo (Ef 4, 30) e não recearam violar o templo de Deus (1 Cor 3, 17). Desta Penitência está escrito: Lembra-te donde caíste, faze penitência e volta às tuas primeiras obras (Apoc 2, 5); e noutro lugar: A tristeza que é segundo Deus produz uma penitência estável para a salvação (2 Cor 7, 10); e outra parte: Fazei penitência (Mt 3, 2; 4, 17), e ainda: Fazei dignos frutos de penitência (Mt 3, 8).

(8) Cfr. Tertuliano, De poenit. 4. 7. 9. 12 (PL 1, 1238 ss); S. Jerônimo, Ad Demetrium ep. 130, 9 (PL 22, 1115); In Isaiam 2, 3, 56 (PL 24, 65 D); S. Paciano, Ep. 1, 5 (PL 13, 1056 A); De lapsu virg. Consecr. 8, 38 (PL 16, 379 A).

Cap. 15 – A graça, e não a fé, se perde com qualquer pecado mortal

808. Também contra fraudulentos espíritos de certos homens, que com doces palavras e benção seduzem os corações dos inocentes (Rom 16, 18), se deve assegurar que a graça da justificação, uma vez recebida, não se perde só pela infidelidade [cân. 27], por meio da qual se perde a própria fé, mas também por qualquer outro pecado mortal, mesmo quando não se perca a fé [cân. 28]. Por ali se deve defender a doutrina da lei divina que exclui do reino de Deus não só os infiéis, mas também os fiéis fornicadores, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, beberrões, maldizentes, gatunos (1 Cor 6, 9 s) e todos os que cometem pecados mortais, dos quais se podem abster com o auxílio da graça divina, e pelos quais se separam da graça de Cristo [cân. 27].

Cap. 16 — O fruto da justificação, isto é, o merecimento das boas obras e a razão do merecimento

809. Deste modo, portanto, devem ser propostas aos homens justificados, quer tenham conservado a graça recebida, quer a tenham recuperado depois de perdida, as palavras do Apóstolo: Sede ricos em todas as boas obras, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor (l Cor 15, 58), pois não é Deus injusto para se esquecer da vossa obra e do amor que mostrastes ao seu nome (Hb 6, 10). E estas outras: Não queirais perder a vossa confiança, que tem uma grande remuneração (Hb 10, 35). E por isso aos que trabalham fielmente até ao fim (Mt 10, 22) e esperam em Deus, se há de propor a vida eterna como graça misericordiosamente prometida por Cristo aos filhos de Deus, e "como recompensa"9 que, segundo a promessa do próprio Deus, será fielmente concedida pelas suas obras e merecimentos [cân. 26 e 32]. Esta é, pois, aquela coroa de Justiça que — como dizia o Apóstolo — lhe estava reservada para depois de seu combate e carreira e que lhe seria dada pelo justo juiz, não só para si, mas também a todos que, amorosos, anseiam pelo seu advento (2 Tim 4, 7 s). Porquanto Jesus Cristo mesmo dá a sua força aos justificados como a cabeça aos membros (Ef 4, 15) e a vide aos ramos (Jo 15, 5). Esta força sempre antecede às suas boas obras, acompanha-as e as segue, e sem ela de modo nenhum poderiam ser agradáveis a Deus e meritórias [cân. 2]. Deve-se, por isso, crer que nada mais falta a estes justificados a fim de, com as ditas obras que foram feitas em Deus, poderem plenamente, segundo o estado de vida, satisfazer à lei divina e a seu tempo (morrendo em estado de graça) conseguir a vida eterna. Porquanto Cristo Nosso Salvador diz: Se alguém beber da água que eu lhe der, não terá sede eternamente, mas brotará dele uma fonte de água que corre para a vida eterna (Jo 4, 13 s). Assim, portanto, a nossa própria justiça não se estabelece como própria, como se de nós decorresse, e também não se ignora ou se repudia a justiça de Deus (Rom 10, 3). Esta Justiça é denominada a nossa, porque somos justificados por ela, que inere intimamente em nós [cân. 10 e 11]. E esta mesma é a de Deus, em vista dos merecimentos de Cristo infundida em nós.

810. Não se deve, todavia, omitir o seguinte: Embora na Sagrada Escritura se atribua tão grande valor às boas obras, que Cristo prometeu: Quem oferecer um copo de água fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua recompensa (Mt 10, 14); e o Apóstolo testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso de glória (2 Cor 4, 17); contudo, longe esteja o cristão de confiar ou se gloriar em si mesmo e não no Senhor (l Cor l, 31; 2 Cor 10, 17), cuja bondade é tanta para com todos os homens, que ele quer que estes seus próprios dons se tornem merecimentos deles [cân. 32]. E porque todos nós pecamos em muitas coisas (Tgo 3, 2) [cân. 23], cada qual deve ter diante dos olhos tanto a misericórdia e bondade de Deus, como a sua severidade e juízo, e não se julgar a si mesmo, embora nada lhe pese na consciência, porque a vida do homem há de ser toda examinada e julgada, não pelo tribunal humano, mas pelo de Deus, que há de alumiar as trevas mais recônditas e manifestar os desígnios dos corações, e então cada um receberá de Deus o louvor (l Cor 4, 4), que — como está escrito — dará a cada um conforme as suas obras (Rom 2, 6).

Depois desta doutrina católica da justificação [cân. 33], que cada qual deverá aceitar fiel e firmemente, se quiser ser Justificado, o santo Concilio resolveu ajuntar os seguintes cânones, para que todos saibam, não só o que devem aceitar e seguir, mas também o que evitar e fugir.

(9) Cfr. S. Agostinho, De gr. et lib. arb. c. 8, n. 20 (PL 44, 893).

Fonte: Tradição Católica