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segunda-feira, 2 de abril de 2012

As diferentes cruzes

As diferentes cruzes "Se alguém quer seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a vida por amor de Mim e do Evangelho, salva-la-á" (Mc 8, 35).
Pela cruz se chega a luz! Esta afirmação tão categórica exige de nossa parte uma especial análise e degustação, por ser repetida, ademais, nos outros Evangelhos (cf. Mt 10, 38-39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). Aqui se encontram as condições para sermos verdadeiros discípulos de Cristo. 1. "Se alguém quer..." - Depende de nossa livre vontade. Esperar por uma graça que realize em nós a plenitude de nossa salvação, sem o menor concurso de nossa vontade, é confundir Redenção com Criação, ou a vida eterna com a natural. Esse convite, evidentemente, deve receber uma resposta afirmativa de nossa parte. E é indispensável que seja fervorosa, pertinaz e contínua. Ou, por outra, não podemos nos esquecer um só segundo dessa determinação. 2. "...negue-se a si mesmo..." - A origem de todos os pecados encontra-se no amor desordenado a nós mesmos, em detrimento da verdadeira caridade. E o melhor remédio para essa terrível enfermidade é essa renúncia a nós mesmos, para encontrar-nos em Deus. Seu primeiro grau consiste no horror ao pecado mortal, preferindo morrer a consentir nessa aversão a Deus. O segundo diz respeito ao pecado venial consciente e deliberado. O terceiro incide sobre as imperfeições e o amor próprio, tão sorrateiro em imiscuir-se até na prática das virtudes. Ao se progredir neste último grau, maior se torna nossa liberdade interior, como também o gozo da paz e de consolações. Quem vive no oposto a esses três graus, ou não entendeu a grandeza deste convite, ou conscientemente o recusou. 3. "...tome sua cruz ..." - Há cruzes e cruzes! As extraordinárias se apresentam diante de nós em épocas de perseguição religiosa. São os suplícios e a própria morte. Devemos enfrentá-los tal qual o fizeram Jesus e todos os mártires, jamais renegando a nossa fé. Outras haverá que são comuns a todos os tempos. Boa parte delas não são procuradas por nós, mas indesejadas, como por exemplo, as doenças, as debilidades da ancianidade, os rigores do clima, etc. Outras, ainda, são oriundas do acaso: as perdas financeiras, as desgraças, os contratempos, a pobreza, a incompreensão e o ódio gratuito da parte dos outros, perseguições, injustiças. Às vezes, são os efeitos do nosso próprio caráter, temperamento, inclinações, etc. Como são numerosas as cruzes que surgem ao longo de nossa vida!... Não as podemos evitar; pelo contrário, temos obrigação de carregá-las. E a experiência nos mostra como elas se tornam mais pesadas sobre nossos ombros quando as conduzimos entre choramingos e lamúrias, ou, pior ainda, se contra elas nos revoltamos. Ademais, nestes casos diminuímos, ou até perdemos, os correspondentes méritos. Por fim, há também as cruzes escolhidas livremente por nós. Abraçar a via do matrimônio, ou a de uma comunidade religiosa, ou ainda a de leigo solteiro vivendo cristãmente no mundo, significa compreender e desejar todos os sofrimentos que são correlatos a cada situação. O cumprimento perfeito de cada uma das exigências do respectivo estado de vida, a subordinação das paixões, o freio dos caprichos, a privação destas ou daquelas comodidades, etc., constituem um campo florido de cruzes, inerentes ao caminho eleito por nossa deliberação. Sem contar a aridez, o tédio, o desgosto que de tempos em tempos nos assaltam ao longo da estrada percorrida por nós, e sem volta atrás. Mas se nossa decisão foi consciente e, sobretudo, se teve origem num sopro do Espírito Santo, jamais devemos nos arrepender. Muito pelo contrário, enchamo-nos de ânimo e até de entusiasmo, dando passos firmes rumo à meta final de nossa salvação. 4. "... e siga-Me" - Se empregássemos o melhor de nossos esforços, praticando os maiores sacrifícios para carregar nossa cruz, mas num caminho diferente do traçado por Jesus, não bastaria! É preciso abraçar a própria cruz, "por Ele, com Ele e n'Ele". Na contemplação dos padecimentos da Paixão de Cristo, encontrarei as energias para carregar minha própria cruz. Quanto a perder ou salvar a vida, comenta o Pe. Andrés Fernández Truyols SJ: "O que o Mestre quer gravar no coração de seus ouvintes é que devemos estar dispostos a passar por tudo, até mesmo a morte, desde que seja para salvar a alma. Porque de nada adianta ao homem ganhar o mundo todo se, no fim, vier a perder a sua alma, ou seja, se não alcançar a salvação eterna" (1). Por Monsenhor João S. Clá Dias, EP. 1) Vida de Nuestro Señor Jesucristo, BAC, Madrid, 1954, vol. III, p. 369. Fonte: Gaudium Press

terça-feira, 27 de março de 2012

O Sentido da Cruz

O Sentido da Cruz
Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa.
O que significa a cruz para você?
Que sentido ela tem na sua vida?
Padre Pio de Pietrelcina sabiamente dizia que "o sofrer é de todos", mas "o saber sofrer é de poucos". Todos sofremos, todo ser humano tem algum sofrimento em sua vida, mas é muito comum pensarmos que somos a pessoa que mais sofre no mundo ou até agirmos como se só nós sofrêssemos. Temos a mania, na hora da dor, de pensar que todas as maldições do mundo estão apontadas para "eu" e que a grama do vizinho é sempre mais verde. Quando mais atentos e sinceros, no entanto, percebemos que todos sofrem, inclusive seu vizinho do jardim bonito - e certamente há alguém sofrendo mais do que você, que agora pode ler este texto.


Os jardins bonitos sempre estão nos programas de TV: as câmeras invadem as casas dos "famosos" e milionários para mostrar como a vida deles parece ser é legal. Quando você vê depois, na revista de fofoca, que um deles foi preso ou internado por causa de depressão, você pensa: "ah! Mas se fosse eu no lugar dele, seria diferente"...

Nas estradas da vida, conheci pessoas que têm a semana lotada de festas, estão a quase toda hora sorrindo e dançando; mas, quando chegam em casa, tomam o remédio controlado e se trancam no quarto para chorar.

O paganismo diz que você tem que buscar as criaturas que lhe fazem feliz, o que quer dizer que a felicidade está nas criaturas. O cara se mata de trabalhar para juntar dinheiro para um final de semana em Fernando de Noronha porque ele acha que vai ser feliz nesse momento. O romântico faz de tudo para agradar a sua paixão, mas, se um dia ele a perde - ou descobre que nunca poderá conquistá-la -, ele perde (também) o rumo da vida. O Cristianismo, porém, me ensinou - me guiando nas primeiras estações de minha própria via crucis - que, para nos relacionarmos com as criaturas, nós já deveríamos estar felizes. Você não deveria ir ao trabalho para buscar, nele próprio ou em seu salário, a alegria: você deveria ir ao trabalho porque já está alegre. É uma felicidade que vem de dentro...


Mas como chego a essa felicidade? Qual é a sua fonte? Só há um ser que pode nos dar essa verdadeira felicidade: Deus. Para a criatura ser feliz é preciso que ela esteja em comunhão com o Criador. Assim, ela estará em Deus, e Deus estará nela. Nessa condição, a criatura encontra em seus semelhantes um meio de encontrar o Criador, e ela própria é um canal da bondade e da felicidade de Deus para as outras criaturas.

Tudo que está de errado no mundo se deve justamente às pessoas buscarem a felicidade no mundo, ao invés de encontrá-la em Deus e trazê-la para o mundo.

Mas o que fazer para alcançar a comunhão com Deus? Depois do pecado original, de toda essa bagunça que a gente já fez, só há um caminho: o único caminho que nos leva de volta para Deus é a Cruz. O próprio Deus, infinitamente misericordioso, veio, como ser humano, ao nosso meio onde foi pregado, literalmente, a uma cruz e, assim, foi o primeiro homem a mostrar o que os outros deveriam fazer para voltar a seu Criador. Aquilo que para os judeus era escândalo e para os pagãos era loucura (I Coríntios 1,18), aquilo que parece ser o fim, ou a própria perdição, para os descrentes, tornou-se, para os cristãos, não somente um símbolo, mas o seu meio de salvação.

Qual o significado da cruz na sua vida? O que significa a cruz para você?


Aquela doença para qual não se descobre cura, aquele tratamento doloroso e incomodo que tem de ser feito; aquele trabalho degastante; aquela gravidez indesejada, aquele filho especial ou aquele idoso que você tem de cuidar; aquele pai alcoólatra que bate em você e na sua mãe; aquela falta de dinheiro ou mesmo de alimento; o "bullying", os preconceitos que as pessoas tem contra você, aquele irmão que se mete demais na sua vida; a garota que não te quer ou aquele garoto com quem você tanto quer "fazer amor", mas não deveria...

Tudo isso e muito mais pode ser a sua cruz. Através dessas coisas Deus pode derramar graças na sua vida; Deus não permitiria esses amargos "limões" se não nos permitisse ser capazes de transformá-los em saborosas "limonadas". Através desses sofrimentos, dos menores aos maiores, poderemos encontrar o próprio Deus, fonte da Verdadeira Felicidade, a Verdadeira Alegria dos homens. Mas para isso é preciso "abraçar a cruz"; ao invés de inevitavelmente fugir do sofrimento, é preciso aceitá-lo como uma missão.

Serei capaz disso? Existem histórias reais de pessoas que provaram ser possível, a exemplo de Cristo, passar pela cruz. A vida dos santos é a prova concreta. Não estou falando aqui do "testemunho" que você pode ter ouvido hoje a tarde ou de madrugada (ou a qualquer hora!) no programa de algum "apóstolo", estou falando da vida histórica e documentada de homens e mulheres que tiveram a presença de Deus, da verdadeira felicidade, na sua vida.

Você pode não acreditar nos milagres do Padre Pio ou de Santa Rita, mas de uma coisa você pode ter certeza: os santos foram (e hoje são muito mais) bem mais felizes que tantos desses "famosos" e milionários; eles, que aceitaram sua cruz, os sofrimentos que chegavam em suas vidas - dos quais extraiam o bem e sua própria santidade.

Criou-se em nosso tempo o estereótipo de que os santos são tristes - talvez por causa de seus sofrimentos e sua atitude em aceitá-los. Mas o que acontece é justamente o contrário! Conheça-os (e para os católicos isso vai além de ler sobre eles) e descobrirá que era uma virtuosa e misteriosa alegria interior que os ajudava a alcançar seus heroísmos. Santos são os imitadores de Cristo, portanto não poderiam deixar de passar pela cruz.

Infelizmente, em certas "igrejas" nem se fala em santos, enquanto se busca, a todo custo e dízimo, fugir da cruz. Diria que buscam a Cristo sem a cruz, mas sequer buscam a Cristo: buscam somente seus milagres...

Não podemos ir à igreja pelo mesmo motivo que os pagãos vão às loterias! A igreja é um lugar especial para pedirmos a Deus a força e o dom dessa misteriosa alegria, que nos ajudarão a carregar a nossa cruz de cada dia até quando Ele quiser. Num encontro cristão de jovens, de casais, de dependentes químicos é possível ver que todos sofremos, embora os sofrimentos sejam diferentes; e assim poderemos nos ajudar, uns aos outros, em nossos calvários.



Essa é a resposta para você que pergunta o porque dessa dor; essa a resposta para você que está em depressão; a resposta para você que não é capaz de olhar ao lado e ver que o outro também sofre (a diferença dele talvez seja a atitude ante o sofrimento); está aqui a resposta para você que acha que sua vida não vale nada e quer acabar com ela. Olhem para Cristo! Olhem para a Cruz! Olhem, e encontrarão o sentido de suas vidas.

Meu irmão, minha irmã, você não está só. Há bilhões de pessoas que sofrem, como você - umas mais, umas muito mais, outras menos, outras igualmente. Todos sofrem. O próprio Deus, quando veio ao mundo, sofreu. Você é chamado agora a dar um sentido ao seu sofrimento. Há, entre esses bilhões, uma multidão de pessoas que decidiu abraçar seu sofrimento como uma missão, o meio de encontrar a tão almejada felicidade.

Desde a década de 80, circula pelos diversos países do mundo uma cruz de madeira de 3,8 metros de comprimento. Junto dela vem a imagem de uma mãe ternurosa: a Mãe que o Crucificado deu aos seus irmãos, para que aqueles que também se dispuserem a carregar a própria cruz tivessem um alento nas horas de dor e cansaço.

Carregando uma cruz visível, jovens do mundo inteiro lembram que também deveríamos carregar as nossas cruzes invisíveis. Essa cruz fortalece os laços entre os que abraçaram seu calvário; ela une os católicos - assim como une quem a enviou. Essa cruz esteve em minha cidade nos dias 11 e 12 de janeiro de 2012. Sobre essa experiência escreverei em breve.


Que significa a cruz na sua vida? Qual é a sua cruz?
Fonte: Fé, Ciência e Etc...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Exaltação da Santa Cruz

Exaltação da Santa Cruz
Por: Pe. Candido Ap. Mariano
Pároco da Paróquia Santa Cruz e São Dimas - Piracicaba Sp


A Festa da Exaltação da Santa Cruz, que celebramos hoje, 14 de setembro, é a Festa da Exaltação do Cristo vencedor. Para nós cristãos, a cruz é o maior símbolo de nossa fé, cujos traços nós nos persignamos desde o início do dia, quando levantamos, até o fim da noite ao deitarmos. Quando somos apresentados à comunidade cristã, na cerimônia batismal, o primeiro sinal de acolhida é o sinal da cruz traçado em nossa fronte pelo padre, pais e padrinhos, sinalando-nos para sempre com Cristo.

A Cruz recorda o Cristo crucificado, o seu sacrifício, o seu martírio que nos trouxe a salvação. Assim sendo, a Igreja há muito tempo passou a celebrar, exaltar e venerar a Cruz, inclusive como símbolo da árvore da vida que se contrapõe à árvore do pecado no paraíso, quando a serpente do paraíso trouxe a morte, a infelicidade a este mundo, incitando os pais a provarem o fruto da árvore proibida. (Gn 3,17-19)

No deserto, a serpente também provocou a morte dos filhos de Israel, que reclamavam contra Deus e contra Moisés (Nm 21,4-6). Arrependendo-se do seu pecado, o povo pediu a Moisés que intercedesse junto ao Senhor para livrá-los das serpentes. Assim, o Senhor, com sua bondade infinita, ordenou a Moisés que erguesse no centro do acampamento um poste de madeira com uma serpente de bronze pendurada no alto, dizendo que todo aquele que dirigisse seu olhar para a serpente de bronze se curaria. (Nm 21,8-9)

Esses símbolos do passado, muito conhecidos pelo povo (serpente, árvore, pecado, morte), nos dizem que na Festa da Exaltação da Santa Cruz, no lugar da serpente de bronze pendurado no alto de um poste de madeira, encontramos o próprio Jesus levantado no lenho da Cruz. Se o pecado e a morte tiveram sua entrada neste mundo através do demônio (serpente do paraíso) e do deserto, a bênção, a salvação e a vida eterna vêm do Cristo levantado no alto da Cruz, de onde Ele atrai para si os olhares de toda a humanidade. Assim, a Igreja canta na Liturgia Eucarística de Festa: “Santa Cruz adorável, de onde a vida brotou, nós, por Ti redimidos, te cantamos louvor!”

A Cruz não é uma divindade, um ídolo feito de madeira, barro ou bronze, mas sim, santa e sagrada, onde pendeu o Salvador do mundo. Traçando o sinal da cruz em nossa fronte, a todo o momento nós louvamos e bendizemos a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, agradecendo o tão grande bem e amor que, pela CRUZ, o Senhor continua a derramar sobre nós.

Fonte: Catequisar

Por que a Cruz é o Sinal do Cristão?

Porque a Cruz é o sinal do cristão?

Por Padre Luizinho

Algumas pessoas não católicas dizem que a cruz é um símbolo pagão ou que é um símbolo de morte e que não deve ser usada e em alguns paises foi proibida nos lugares públicos, aqui no Brasil pode ser também. Mas esta afirmação não está de acordo com o que a Igreja Católica sempre viveu e ensinou desde os seus primórdios e também não concorda com os textos bíblicos, que louvam e exaltam a Cruz de Cristo, ou pior, dizem sem conhecimento que nós idolatramos a santa cruz. Celebrar a Exaltação da Santa Cruz é celebrar a Páscoa, a vida e a salvação que Jesus Cristo conquistou por este instrumento de suplicio da época, que hoje para nós cristãos é símbolo de vitória e salvação. Senão vejamos:

Mt 10, 38 – Jesus disse: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”.

Mt 16, 24 – “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.

Lc 14, 27 –“E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo”.

Gl 2, 19 – “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo”.

Gl 6, 12.14 – “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.

1Cor 1,18: “A linguagem da Cruz… para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus”.

1Cor 1, 17: “… anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a Cruz de Cristo”.

Quando o imperador Constantino o Grande, enfrentou seu rival Maxêncio sobre a ponte Milvia, próximo do ano 300, viu nos céus uma cruz luminosa acompanhada dos dizeres: “In hoc signo vinces!” (Por este sinal vencerás). Constantino, então, colocou a sua pessoa e o seu exército sob a proteção do sinal da cruz e venceu Maxêncio, tornando-se imperador supremo de Roma, proibindo em seguida a perseguição aos cristãos pelo Edito de Milão, em 313.

O símbolo resultante da sobreposição das letras gregas X e P, iniciais de Cristo em grego, lembrava Cristo e a Cruz e foi representado no estandarte de Constantino. No fim do século IV, tomou a forma que lembrava a Cruz.

Após a conversão de Constantino († 337) a cruz deixou de ser usada para o suplício dos condenados e tornou-se o símbolo da vitória de Cristo e o sinal dos cristãos, como mostram de muitas maneiras a arte, a Liturgia, a piedade particular e a literatura cristã. A cruz tornou-se, então, sinal da Paixão vitoriosa do Senhor. Conscientes deste seu valor, os cristãos ornamentavam a cruz com palmas e pedras preciosas.

Os Padres da Igreja como Tertuliano de Cartago e Hipólito de Roma, já nos séculos II e III, afirmavam que os cristãos se benziam com o sinal da Cruz. Os mártires tomavam a cruz antes de enfrentar a morte e os santos não se separavam da cruz. As Atas dos Mártires mostra isso.

No entanto, muito antes de Constantino, Tertuliano (†202) já escrevera: “Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas as nossas demais atividades persignamo-nos a testa o sinal da Cruz” (De corona militis 30). *

S. Hipólito de Roma († 235), descrevendo as práticas dos cristãos do século III, escreveu: “Marcai com respeito as vossas cabeças com o sinal da Cruz. Este sinal da Paixão opõe-se ao diabo e protege contra o diabo, se é feito com fé, não por ostentação, mas em virtude da convicção de que é um escudo protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o sinal da Cruz na fronte e sobre os olhos, rechaçamos aquele que nos espreita para nos condenar” (Tradição dos Apóstolos 42). *

No Novo Testamento a Cruz é símbolo da virtude da penitência, domínio das paixões desregradas e do sofrer por amor de Cristo e da Igreja pelas salvação do mundo. Seria preciso apagar muitos versículos do Novo Testamento para dizer que a Cruz é um símbolo introduzido no século IV na vida dos cristãos. O sinal da Cruz é o sinal dos cristãos ou o sinal do Deus vivo, de que fala Ap 7, 2, fazendo eco a Ez 9,4: “Um anjo gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: “Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus”.

São Clemente de Alexandria, no século III, chamava a letra T (tau), símbolo da cruz, de “figura do sinal do Senhor” (Stromateis VI 11). *

Por tudo isso, a vivência e a iconografia dos cristãos, desde o século I, deram à cruz sagrada um lugar especial entre as expressões da fé cristã. Daí podemos ver que é totalmente errônea a teoria de que a Cruz é um símbolo pagão introduzido por influência do paganismo na Igreja e destinado a ser eliminado do uso dos cristãos. Rejeitar a Cruz de Cristo é o mesmo que rejeitar o símbolo da Redenção e da esperança dos cristãos.

Oração: A cruz sagrada seja minha luz, não seja o dragão o meu guia retira-te satanás nunca me aconselhes coisas vãs, bebes tu mesmo o teu veneno. Amém.

Minha benção fraterna.

Padre Luizinho, Com. Canção Nova.
twitter.com/padreluizinho

* Este artigo foi baseado no de D. Estevão Bettencourt, da revista “Pergunte e Responderemos”, Nº. 351 – Ano 1991 – Pág. 364. Professor Felipe Aquino: blog.cancaonova.com/felipeaquino

Fonte: Canção Nova

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Santos do Dia

14 de setembro

Exaltação da Santa Cruz


Esta festa é também chamada da Cruz Gloriosa. E os Orientais denominam-na «da preciosa Cruz Portadora de Vida». É uma das mais antigas solenidades litúrgicas da Igreja; celebrava-se já em Jerusalém no tempo de Constantino (337). A Cruz que «se exaltava» neste dia era menos a de Jesus a sofrer no Calvário que a de Cristo glorioso subindo para o seu Pai, depois de vencer a morte e salvar o mundo. O que se recorda na festa de hoje é portanto o triunfo de Cristo e a mudança por ele causada na condição humana; isto tinha-o Jesus anunciado repetidamente. Por exemplo, quando dizia: «Quando elevardes o Filho do Homem, então sabereis quem sou» (Jo 8, 28); e ainda: «Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n 'Ele crer tenha a vida eterna» (Jo 3, 14); e por fim: «Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32).

Começou a celebrar-se o aniversário da invenção ou encontro da Santa Cruz (cf. Santa Helena) e a dedicação da Basílica do Santo Sepulcro na primeira metade do século IV, no dia 14 de Setembro.

Eusébio de Cesaréia conta-nos, na Vida que escreveu do primeiro Imperador cristão, as festas celebradas em sua honra, ao completar treze anos de reinado. Durante esse período realizou-se a dedicação da Basílica do Salvador, em Jerusalém.

Era um conjunto de Santuários destinados a perpetuar a memória dos fatos mais importantes da Paixão e da Ressurreição do Senhor. Sobressaíam o Martyrium, grande átrio central com o seu oratório adjacente, e a Anástasis ou Santuário da Ressurreição, o Santo Sepulcro. A dedicação desta imponente Basílica cristã realizou-se a 14 de Setembro de 335, na presença de tudo quanto havia de maior na corte e de centenas de bispos.

A peregrina Etéria, do Ocidente ibérico, descreve-nos a cidade de Jerusalém no dia e na noite de dedicação do Santo Sepulcro. Para lá convergem multidões de monges de toda a parte, da Mesopotâmia e da Síria, do Egito e da Tebaida. Vão leigos de todas as províncias, homens e mulheres de alma fiel e devota. Os bispos com o seu clero atingem sempre número muito alto, considerando-se serem pouquíssimos quando não passam de 40 ou 50.

A festa de 14 de Setembro passou de Jerusalém a todo o Oriente; e depois ao Ocidente. Roma recebeu-a no século VII. E, tirando-lhe todo o caráter local palestinense, reduziu-a à festa do triunfo e Exaltação da Santa Cruz. Tinha a sua razão. O mais característico da dedicação da Basílica de Jerusalém era a apresentação solene da verdadeira cruz. Esta manifestação da cruz autêntica, em que morrera o Salvador, era o que arrebatava e levava a Jerusalém as multidões. Santa Maria Egipcíaca foi vê-Ia por curiosidade e com isso curou a sua vida desregrada e converteu-se. Por todo o mundo cristão depressa se espalharam relíquias da verdadeira cruz e as Igrejas particulares gostavam de reproduzir a solenidade de Jerusalém, mostrando ao povo fiel a parte que elas possuíam da cruz, bandeira triunfal da salvação humana.

No Ocidente confundiu-se mais tarde esta primeira festa da Dedicação da Basílica de Jerusalém, ou da Exaltação da Santa Cruz, com a invenção ou encontro da mesma, quando o Imperador Heráclio a recuperou dos Persas, que a tinham furtado. O Imperador em pessoa levou-a às costas desde Tiberíades até Jerusalém, onde a entregou ao Patriarca Zacarias, a 3 de Maio de 630.

A recuperação da Cruz encheu de alegria os corações cristãos, sobretudo ocidentais. Por isso, ao mesmo tempo que os Orientais continuaram a celebrar com grande esplendor a Dedicação da Basílica do Salvador em Jerusalém, a 14 de Setembro, no Ocidente deu-se maior atenção à festa de 3 de Maio ou à invenção, que recebeu o título de dia da Santa Cruz ou Invenção da Santa Cruz. A festa de 14 de Setembro conservou-se nos documentos, mas na prática litúrgica andou muito lentamente, sobretudo porque o dia 14 estava já ocupado pelos santos mártires Cipriano e Comélio. A reforma litúrgica pós-conciliar restabeleceu a importância do dia de hoje, que é festa, suprimindo a de três de Maio; isto no calendário universal.

O trono a que Jesus quer ser elevado, para triunfar da soberba e da sensualidade, é a Cruz, selo de inramia para Ele, mas sede de misericórdia para nós. Nesse trono O sentaram um dia os Judeus por malícia, e nele se senta cada dia a fé cristã, que no Crucifixo adora o seu Deus e Redentor.

Num túmulo do cemitério de Ciríaca, encontrou Pio IX uma cruz antiga de ouro, na qual estava gravada esta inscrição:

CRUX EST VITA MIHI (a cruz é vida para mim),

MORS INIMICE TIBI (e morte para ti, ó inimigo).

Esta preciosa inscrição conserva-se hoje na Biblioteca Vaticana.

Formosa e densa de sentido é também a seguinte inscrição beneditina, expoente de grande fé e devoção:

Crux saneta sit mihi lux (a Santa Cruz seja para mim luz),

Numquam Daemon sit mihi dux (e o demônio nunca seja o meu guia).

Com grande concisão, expressaram os antigos a eficácia da Cruz de Cristo, sinal triunfal da nossa redenção, no anagrama grego que significa: A Cruz é luz e é vida (fôs-zôê).

Fonte: Portal Católico

São Materno de Colônia


É conhecido apenas como o primeiro bispo da história cristã da cidade de Colônia, na Alemanha. Desde o século IV, criou-se uma tradição cristã, na cidade de Trier, na Alemanha, segundo a qual Materno teria vindo da Palestina. E não é só isso: o próprio apóstolo Pedro é que o teria enviado para divulgar o Evangelho ao mundo germânico.
Essa tradição fazia de Trier a primeira sede episcopal cristã da Alemanha, portanto dotada de jurisprudência sobre as demais, por uma questão de antigüidade.

A figura de Materno, o bispo de Colônia, é, de fato, muito importante para a história da Igreja, que já estava liberta das perseguições externas, graças ao imperador Constantino. Mas a Igreja continuava exposta às divisões internas dos cristãos, que, insistentemente, prejudicavam a si próprios.

Materno é um de seus pacificadores, convocado a deixar a Alemanha para resolver um grande conflito nascido no norte da África: o cisma donatista. Liderados pelo bispo Donato, esse grupo de radicais tinha uma visão extremamente elitista, era totalmente contrário às indulgências e pregava a segregação dos bons cristãos daqueles infiéis e traidores. Os donatistas consideravam traidores os cristãos que, por medo, durante a perseguição do imperador Diocleciano, haviam renegado a fé e entregado os livros sagrados às autoridades romanas. Até mesmo negavam-se a aceitar a re-inclusão dos sacerdotes que haviam agido dessa maneira, bom como a inclusão de novos sacerdotes, caso também tivessem sido considerados, anteriormente, indignos. E por isso os donatistas de Cartago não reconheciam o novo bispo, Ceciliano, porque um dos bispos que o consagraram havia renegado à fé, durante as perseguições.

Chamado para arbitrar, o imperador Constantino, em 313, escreve ao papa Melquior, de origem africana, para convocar o bispo Ceciliano, bem como outros, favoráveis ou não à sua questão, para uma decisão final, imparcial. E ainda o informa que os bispos Materno, da Alemanha, Retício e Martino, da França, já estavam a caminho de Roma. O imperador Constantino, obedecendo às suas conveniências políticas, promoveu um ato incisivo no colegiado eclesiástico, afiançando o caso africano também aos bispos da Alemanha e da França.

Mais nada se sabe de Materno depois dessa importante missão em Roma, que se concluiu com a sentença favorável ao bispo Ceciliano. Mas o cisma não terminou, mesmo contando, também, com a notável presença de santo Agostinho, bispo de Hipona.

Entretanto, em Trier, a fama de santidade de seu primeiro bispo fez a figura de Materno tomar vulto e a população começa a venerá-lo. Ao longo dos séculos, a catedral de Trier, que abriga as relíquias de são Materno, foi reconstruída e, hoje, podemos ver o grau de devoção dos fiéis estampado nos vitrais desse templo. Seu culto foi autorizado pelo Vaticano, em conseqüência dessa devoção secular e ainda presente nos fiéis. A data de sua tradicional festa litúrgica, no dia 14 de setembro, foi mantida.

Fonte: Paulinas

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pode-se Adorar a Santa Cruz?

Pode-se Adorar a Santa Cruz?


Sempre me deixou impressionado as palavras que a Liturgia da sexta-feira santa usa ao referir-se ao culto à Cruz: "solene adoração da santa Cruz", deixando inclusive a possibilidade de dobrar o joelho diante dela. Penso que essas palavras calaram no coração de mais de um cristão deixando-o pensativo. A reflexão teológica que segue é - aceitando com alegria e admiração o que a Igreja em sua liturgia nos traz - uma tentativa de entender melhor a fé expressada na oração da Igreja, e espero não confundir mais a cabeça do leitor. Pode-se adorar a Cruz? Em que sentido? Parece-me ver uma explicação bastante satisfatória numas palavras de um teólogo muito recomendado pela mesma Igreja.

Santo Tomás de Aquino estuda a "adoração" na terceira parte da Suma de Teologia, na questão 25. Vamos segui-lo passo a passo. Ao chegar no quarto artigo dessa questão encontramo-nos com uma excelente definição de adoração, tal como é entendido no sentido comum atual. Santo Tomás diz que adoração é colocar nossa esperança de salvação em alguém. A Deus damos adoração por que é o nosso Criador, daí que a adoração só se deve dar ao Deus Uno e Trino, esse é um principio claro que devemos ter conosco durante todo esse estudo: só a Deus se deve a adoração, porque Ele é o nosso Criador, nós somos suas criaturas, e nEle pomos nossa esperança de salvação. Salvadas essas preliminares, vamos à nossa questão. Procurarei fazer acessível o pensamento de Santo Tomás sabendo que não é tarefa fácil. É preciso fazer esse estudo com muita concentração.

Em primeiro lugar, a fé cristã diz que em Cristo há uma única Pessoa, a Segunda da Trindade, que é divina, e duas naturezas, a humana e a divina, que estão unidas nessa única Pessoa divina (Concilio de Calcedônia, ano 451). No primeiro artigo Santo Tomás se pergunta se a adoração que se dá à Humanidade de Cristo é a mesma que se dá à sua Divindade. E como objeção se poderia dizer que a Humanidade de Cristo não é comum a Ele e ao Pai, como o é a Divindade. Tomás de Aquino começa por dizer que na honra que se dar a uma determinada realidade há que considerar duas coisas: a realidade honrada e a causa dessa honra. Quanto à primeira, é preciso dizer que a honra que se deve, por exemplo a uma pessoa, é devida a toda a pessoa, não só à sua mão ou ao seu pé, a uma parte; se por algum motivo alguém dissesse que honra a mão ou outra parte de alguém só o faria em razão de toda a pessoa, in istis partibus honoratur totum, nessas partes se honraria toda a realidade. Quando à segunda, a causa da honra encontra sua justificação na excelência da pessoa honrada. E conclui o nosso teólogo: como em Cristo há uma única Pessoa, a divina, na qual estão unidas a natureza humana e a natureza divina, a Cristo se dá uma única adoração em razão de sua única Pessoa e, por tanto, ao adorar uma parte de Cristo, adoramos todo o Cristo.

No artigo segundo, Tomás de Aquino dá um passo a mais. Já sabemos que à Humanidade e à Divindade de Cristo se dá uma mesma adoração e glória em razão da única Pessoa de Cristo. Mas, será que se pode dizer que a adoração que se dá à Humanidade de Cristo é adoração de "latria", isto é, a adoração devida só a Deus, ao qual o homem se entrega colocando sua esperança de salvação? Considerando que a Encarnação é para sempre, ou seja, a Humanidade e a Divindade em Cristo desde a Encarnação nunca se separaram e jamais se separarão (nem mesmo na morte de Cristo, já que a morte é a separação de corpo e alma, o que se deu em Cristo, não da Humanidade e da Divindade, o que não se deu em Cristo), a pergunta pareceria sem sentido. No entanto, na hipótese de uma consideração separada, diz Santo Tomás de Aquino que se deve considerar a adoração à Humanidade de Cristo de duas maneiras. Em primeiro lugar: a adoração que se dá à Humanidade de Cristo em razão de sua união à Pessoa divina; nesse caso, se trata de uma verdadeira adoração de "latria" à sua Santíssima Humanidade já que ao adorá-la estamos adorando o mesmo Verbo de Deus encarnado. Nesse sentido, diz São João Damasceno que se adora a carne de Cristo não por causa da carne em si mesma, mas por que está unida à pessoa do Verbo de Deus. A segunda consideração é a respeito da adoração que se deve à Humanidade de Cristo por causa das perfeições dessa Humanidade em quanto cheia de todos os dons da graça; nesse sentido se deve adorá-la "adoratione duliae", com uma adoração de dulia, ou seja com a adoração que se dá às criaturas (a Humanidade de Cristo foi criada); na resposta à primeira objeção, Santo Tomás dirá com mais precisão que à Humanidade de Cristo considerada separadamente se deve dar uma adoração de "hiperdulia".

Chegados aqui o leitor poderia assustar-se: Santo Tomás de Aquino diz que se deve adorar às criaturas? Não. Tomás de Aquino simplesmente mostra que na sua época a palavra adoração não tinha a mesma carga que tem nos nossos dias. Para ele adoração é o mesmo que "honra", nesse sentido o determinante nessa questão não é a adoração, mas a "latria", que é a o tipo de adoração que se deve só a Deus; a adoração de "dulia" é para ele o que nós hoje em dia conhecemos como "veneração"; finalmente a adoração de "hiperdulia", que seria uma "veneração especial". Um exemplo: cantamos no Hino Nacional referindo-no ao Brasil as seguintes palavras: "Ó terra amada, idolatrada". Será que estamos idolatrando a nossa Pátria? Claro que não. Quando dizemos "terra idolatrada" referindo-nos ao Brasil queremos dizer simplesmente que o nosso País é-nos muito querido, estamos simplesmente cumprindo com o quarto mandamento que inclui a amor à Pátria. Que perigo seria ficar só nas palavras sem dar-nos conta do sentido que elas nos trazem! Cada palavra quer significar uma realidade e não podemos simplesmente ficar preso à palavra em si, mas procurar chegar à realidade que essa palavra nos quer transmitir.

Continuemos com Santo Tomás. Nesse terceiro momento (art.3) nos aproximamos mais da nossa questão. A pergunta agora é se um cristão pode adorar com adoração de latria as imagens de Cristo. Tomás de Aquino, como bom cristão, tem horror à idolatria. A resposta do Santo Doutor se compreende ao olhar tanto a Cristo, Verbo de Deus encarnado, quanto ao movimento da nossa alma ao adorá-lo. Tomás de Aquino diz claramente que a reverência é algo devido apenas às criaturas racionais, não às coisas. No entanto, fixando-nos nesse movimento da nossa alma quando olha uma imagem, percebemos que olhamos a imagem não só como uma coisa, um pedaço de madeira por exemplo, mas também como imagem de outra realidade. Quando olhamos uma imagem de Cristo, o movimento da nossa alma é aquele que vê a imagem em quanto imagem, ou seja, em quanto imagem de uma outra realidade. Diz Santo Tomás que esse movimento de ver a imagem de Cristo em quanto imagem da Pessoa de Cristo faz com que estejamos voltados ao mesmo Cristo, de tal maneira que à imagem em quanto imagem se deve a mesma adoração que se dá à realidade, já que esse movimento da nossa alma vê na imagem a realidade, não o pedaço de madeira, por exemplo. Não acontece o mesmo se olhamos a imagem em quanto um pedaço de madeira, nesse caso não se deve dar-lhe nenhuma reverência, já que a reverência é dada tão somente às criaturas racionais. Conclusão: às imagens de Cristo em quanto "imagens" de Cristo devemos dar adoração de latria, pois essa adoração não fica na imagem, mas se dirige à realidade, que é Cristo mesmo.

Mas alguém poderia dizer que essa é uma doutrina estranha e que não está na Escritura Santa. Em primeiro lugar, a Igreja Católica não tem como único veículo da Divina Revelação apenas a Escritura (esse é um principio protestante, a sola Scriptura), mas também da Tradição. Diz Tomás de Aquino na resposta à quarta objeção: "por um instinto familiar do Espírito Santo, certas Igrejas conservaram tradições que não estão escritas, mas colocadas para serem observadas pelos fiéis. O mesmo São Paulo diz aos Tessalonicenses: "ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa" (2,15). E entre essas tradições se encontra a adoração das imagens de Cristo".

Santo Tomás de Aquino vai descendo a questões mais concretas e se pergunta se à Cruz de Cristo se deve adorar com adoração de latria. O leitor perceberá que no fundo a nossa pergunta inicial já foi respondida. Esqueceu-se da pergunta? Pode-se adorar a Santa Cruz? Mas talvez passou despercebida a resposta. Temos a oportunidade de tratá-la agora diretamente.

Já ficou claro que apenas aos seres racionais se dá alguma reverência; às coisas, nenhuma, a não ser em razão da natureza racional, nesse sentido, diz Tomás de Aquino, que quando os homens veneravam as vestes do rei queriam simbolizar através desse ato uma veneração ao mesmo rei. Existe um segundo tipo de veneração que se pode dar a uma coisa: aquela que se dá em razão da união que guarda com a realidade em quanto que a realidade entrou em contato (físico) com a imagem. Se nos referimos à mesma Cruz na qual Cristo foi crucificado, pensamos no Cristo nela estendido, a Cruz entrou em contato com os membros santíssimos de Cristo, nela o seu Sangue preciosíssimo foi derramado. Por tanto, à Cruz na qual Cristo foi crucificado devemos dar adoração de latria. O que acontece é que, em quanto às outras imagens de Cristo crucificado, adoramos com adoração de latria somente em razão desse movimento segundo o qual a nossa alma não fica parada na imagem, mas se dirige à mesma realidade, que é a Pessoa de Cristo, a Cruz na qual Cristo foi crucificado tem também um significado todo especial a causa do contato com os membros santíssimos do único Redendor dos homens, Jesus Cristo. Penso que com isso a nossa pergunta inicial recebe resposta pela segunda vez: realmente a Igreja adora a Santa Cruz porque vê nela não o objeto material em si, mas o que ela significa, Jesus Cristo crucificado, nosso único Salvador.

E se alguém se escandaliza ainda com essa expressão, talvez bastaria citar a São Paulo: "mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus" (1 Cor 1,23-24). Por outro lado, não o nego, ver uma imagem em quanto imagem e vê-la apenas em quanto um pedaço de pau são movimentos espontâneos da nossa alma, mas à hora de fazer uma reflexão sobre isso encontramo-nos com verdadeiras dificuldades de compreensão. Mas, sejamos honestos: quando nós não entendemos uma coisa não podemos dizer que essa coisa não é assim só porque nós não a entendemos, simplesmente não entendemos. Isso parece-me de bom senso!

Com os princípios a postos, o artigo quinto e o sexto desta questão responderão que à Mãe de Deus, Maria, e aos outros Santos e suas relíquias, jamais se deve adorar com adoração de latria, isso seria idolatria, mas apenas com o que nós chamamos hoje em dia de veneração e que Santo Tomás chamaria de "adoração de hiperdulia" para Nossa Senhora e "adoração de dulia" para os Santos. Penso que não seria demasiado recordar que a palavra "adoração" para Santo Tomás significa "honra, veneração, respeito", o que determina é se essa honra é de latria ou de hiperdulia ou de dulia.

Sinto muito se a leitura desse pequeno artigo o deixou mais confuso. Acho que com uma segunda ou terceira leitura se poderia entender melhor. Se não, remito à questão da Suma de Teologia, III parte, questão 25. Para terminar, baste o que a Igreja nos diz e que expressa a sua fé: "Crucem tuam adoramus, Domine, et sanctam ressurrectionem tuam laudamus et glorificamus: ecce enim propter lignum venit gaudium in universo mundo" : adoramos, Senhor, a tua Cruz, e louvamos e glorificamos a tua santa ressurreição: por causa do lenho da Cruz vem a todo o mundo o gozo (Ant.1ª para ser cantada enquanto se adora a Santa Cruz).

Por Pe. Francoá Costa
Fonte: http://www.presbiteros.com.br, Cléofas