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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sétimo Domingo do Tempo Comum (semana III do saltério)

Sétimo Domingo do Tempo Comum (semana III do saltério)

Sétimo Domingo do Tempo Comum




A liturgia do 7º Domingo Comum convida-nos, uma vez mais, a tomar consciência de que Deus tem um projecto de salvação para os homens e para o mundo. Esse projecto (que em Jesus se torna vivo, palpável, realmente libertador), é um dom de Deus que o homem deve acolher com fé.

A primeira leitura fala-nos de um Deus que, em todos os momentos da história, está ao lado do seu Povo, a fim de o conduzir ao encontro da liberdade e da vida verdadeira. Sugere, no entanto, que o Povo necessita de percorrer um caminho de conversão e de renovação, antes de poder acolher a salvação/libertação que Deus tem para oferecer.

O Evangelho retoma a mesma temática. Diz que, através de Jesus, Deus derrama sobre a humanidade sofredora e prisioneira do pecado a sua bondade, a sua misericórdia, o seu amor. Ao homem resta acolher o dom de Deus, ir ao encontro de Jesus e aderir a essa proposta libertadora que Jesus veio apresentar.

A segunda leitura recomenda àqueles que aderiram à proposta de Jesus que vivam com coerência, com verdade e com sinceridade o seu compromisso, sem recurso a subterfúgios ou a lógicas de oportunidade.


cf. www.ecclesia.pt
Fonte: Evangelho Quotidiano

7º Domingo do Tempo Comum - Ano B

7º Domingo do Tempo Comum - Ano B
Comentário ao Evangelho do dia feito por
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 50; PL 52, 339

«Quem pode perdoar pecados senão Deus?»

«Filho, os teus pecados estão perdoados.» Com estas palavras queria Cristo ser reconhecido como Deus, enquanto Se escondia ainda, porém, dos olhos humanos sob o aspecto de um homem. Por causa das manifestações do Seu poder e dos milagres que realizava, comparavam-n'O aos profetas; e no entanto era graças a Ele e ao Seu poder que também estes tinham realizado milagres. Não está no poder do homem perdoar os pecados; isto é a marca própria de Deus. Começava Jesus, assim, a revelar a Sua natureza divina ao coração dos homens – o que faz que os Fariseus fiquem loucos de raiva. Retorquem: «Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?»


Tu, Fariseu, crês que sabes, mas não passas de um ignorante! Crês que veneras a Deus, mas não O reconheces! Crês que dás testemunho, mas desferes golpes! Se é Deus Quem perdoa os pecados, porque não admites a natureza divina de Cristo? Porque pôde conceder o perdão de um só pecado, é pois Ele Quem aniquila o pecado do mundo inteiro: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29). Para que possas compreender a Sua natureza divina, escuta-O – pois Ele penetrou no âmago do teu ser. Olha-O: Ele alcançou os teus mais profundos pensamentos. Compreende, então, Aquele que põe a nu as intenções secretas do teu coração.
Fonte: Evangelho Quotidiano

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Evangelho segundo S. Marcos 6,1-6 e Comentário de São Josemaria Escrivá.

Evangelho segundo S. Marcos 6,1-6 e Comentário de São Josemaria Escrivá.
Jesus ajudava São José nos serviços de carpintaria. Imagem: Arautos do Evangelho
Evangelho segundo S. Marcos 6,1-6.


Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se à sua terra e os discípulos seguiam-no.
Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar.

Comentário ao Evangelho por: São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero, fundador do Opus Dei:

«Não é Ele o carpinteiro?»

José amou Jesus como um pai ama o seu filho, tratou-O dando-Lhe tudo que de melhor tinha. José, cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão: transmitiu-Lhe o seu ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus chamando-lhe indistintamente «carpinteiro» e «filho do carpinteiro» (Mt 13,55). [...]


Por isso, Jesus devia parecer-se com José no modo de trabalhar, nos traços do Seu carácter, na maneira de falar. No realismo de Jesus, no Seu espírito de observação, no Seu modo de se sentar à mesa e de partir o pão, no Seu gosto por falar dum modo concreto tomando como exemplo as coisas da vida corrente, reflecte-se o que foi a infância e a juventude de Jesus e, portanto, a Sua convivência com José. Não é possível desconhecer a sublimidade do mistério. Esse Jesus que é homem, que fala com o sotaque de uma determinada região de Israel, que Se parece com um artesão chamado José, é o Filho de Deus. E quem pode ensinar alguma coisa a Deus? Mas é realmente homem e vive normalmente: primeiro como menino; depois como rapaz que ajuda na oficina de José; finalmente, como homem maduro, na plenitude da idade. «Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2,52).


José foi, no aspecto humano, mestre de Jesus; conviveu com Ele diariamente, com carinho delicado, e cuidou d'Ele com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca no qual culmina a fé da Antiga Aliança, Mestre de vida interior?

Fonte: Evangelho Cotidiano
Retirado de Eurico Zine

Evangelho segundo S. Marcos 3,31-35 e Comentário de Santo Agostinho de Hipona.

Evangelho segundo S. Marcos 3,31-35 e Comentário de Santo Agostinho de Hipona.
Maria Mãe de Deus.


Naquele tempo, chegaram a casa onde estava Jesus, sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, O mandaram chamar.
A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.»
Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?»
E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sobre a santa virgindade, cap. 5

«Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe»

As que se consagram inteiramente ao Senhor não devem afligir-se pelo facto de, guardando a sua virgindade como Maria, não se poderem tornar mães segundo a carne. [...] Aquele que é o fruto de uma única Virgem santa é a glória e a honra de todas as outras santas virgens, pois, tal como Maria, elas são mães de Cristo, se fizerem a vontade de Seu Pai. A glória e a felicidade de Maria como Mãe de Cristo brilha sobretudo nas palavras do Senhor: «Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe.» Ele indica assim a paternidade espiritual que O liga ao povo que resgatou. Os Seus irmãos e irmãs são os santos homens e as santas mulheres que são co-herdeiros com Ele da Sua herança celeste (cf Rm 8,17).

Sua mãe é a totalidade da Igreja, pois é ela que, pela graça de Deus, dá à luz os membros de Cristo, isto é, àqueles que Lhe são fiéis. Sua mãe é ainda toda a alma santa que faz a vontade de Seu Pai e onde a caridade fecunda se manifesta naqueles que dá à luz por Ele, «até que Cristo Se forme entre vós» (Gl 4,19). [...]

Entre todas as mulheres, Maria é a única que é ao mesmo tempo virgem e mãe, não apenas pelo espírito, mas também com o corpo. Ela é Mãe segundo o espírito [...] dos membros de Cristo, isto é, de nós próprios, porque cooperou com a sua caridade para dar à luz, na Igreja, os fiéis, que são os membros desse Chefe divino, nossa cabeça (cf Ef 4,15-16), de Quem Ela é verdadeiramente Mãe segundo a carne. Era preciso, com efeito, que o nosso Chefe nascesse segundo a carne duma virgem, para nos ensinar que os Seus membros deveriam nascer, segundo o espírito, doutra virgem, que é a Igreja. Maria é, assim, a única que é Mãe e Virgem ao mesmo tempo, tanto no corpo como no espírito. Mas também a totalidade da Igreja, nos seus santos que deverão possuir o Reino de Deus, é, segundo o espírito, mãe de Cristo e virgem de Cristo.


Fonte: Evangelho Cotidiano
Retirado de Eurico Zine

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Exortação ao Matírio

Exortação ao Matírio

Evangelho Quotidiano


Naquele tempo, o rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: Este é João Batista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres; outros diziam: É Elias; outros afirmavam: É um profeta como um dos outros profetas. Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: É João, a quem eu degolei, que ressuscitou. Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. Porque João dizia a Herodes: Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão. Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: Pede-me o que quiseres e eu to darei. E acrescentou, jurando: Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino. Ela saiu e perguntou à mãe: Que hei-de pedir? A mãe respondeu: A cabeça de João Batista. Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Batista. O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro. (Mc 6,14-29)

Comentário feito por São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir

Tenho como coisa certa que os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a glória que há-de revelar-se em nós (Rom 8,18). Por conseguinte, quem não há-de trabalhar de todas as formas possíveis para obter tal glória, para se tornar amigo de Deus, para se regozijar na companhia de Jesus Cristo e receber a recompensa divina depois dos tormentos e dos suplícios desta terra?

Para os soldados deste mundo, é glorioso entrar triunfalmente na sua pátria depois de terem vencido o inimigo. Não será glória bem maior retornar triunfalmente, depois de ter vencido o demónio, ao paraíso de onde Adão tinha sido expulso por causa do seu pecado? Trazer o troféu da vitória depois de ter abatido quem o tinha enganado? Oferecer a Deus como espólio magnífico uma fé intacta, uma coragem espiritual sem falhas, uma dedicação digna de elogios? Tornar-se co-herdeiro de Cristo, ser igualizado aos anjos, desfrutar com alegria do reino celeste com os patriarcas, os apóstolos, os profetas? Que perseguição pode vencer tais pensamentos, que nos podem ajudar a superar os suplícios? [...]

A terra aprisiona-nos com as suas perseguições, mas o céu permanece aberto. [...] Que honra e que segurança sair deste mundo com alegria, sair dele em glória, transpondo provas e sofrimentos! Fechar por um instante os olhos que vêem os homens e o mundo, para os reabrir logo a seguir para verem Deus e Cristo! [...] Se a perseguição assalta um soldado assim preparado, não poderá vencer a sua coragem. Mesmo que sejamos chamados ao céu antes da luta, a fé que assim se preparou não ficará sem recompensa. [...] Na perseguição Deus coroa os seus soldados; na paz, coroa a boa consciência.

Fonte: Dominus Vobiscum

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Os filhos não são para os pai: os pais é que são para os filhos."

"Os filhos não são para os pai: os pais é que são para os filhos."


2º Domingo do Tempo Comum - B
Por: Padre Wagner Augusto Portugal

Leia as outras homilias


"Que toda a terra se prostre diante de vós, ó Deus, e cante louvores ao vosso nome, Deus Altíssimo!". (Sl 65,4)

Iniciamos, uma vez mais, o Tempo Comum, tempo das coisas cotidianas, em que a Liturgia Sagrada nos convida à reflexão sobre os mistérios da Redenção, permeando a vida dos homens e das mulheres.

Os primeiros domingos do Tempo Comum são marcados por um clima de manifestação do Senhor, da sua missão no mundo e do chamado dos discípulos. A atitude desses domingos é sugerida pela voz do Espírito que desceu sobre Jesus nas águas do Jordão: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.

Refletimos hoje o Evangelho de João(Jo 1,35-42). Este evangelista, chamado de “Evangelista existencial”, procura peneirar os problemas básicos da existência humana para iluminá-los com a luz de Jesus Cristo, essa luz que pode iluminar todo homem que vem a este mundo, tendo em vista que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Mestre Definitivo.

Somos chamados a refletir sobre a dialética do crer e do não crer, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre o sim e o não, entre a graça e a desgraça e, por fim, entre a bênção e a maldição. Temos que optar pelo lado correto, o lado do Salvador, como nos adverte Jo 3,36.

Jesus, como renovador do mundo, tem neste domingo uma apresentação de sua trajetória, que mais do que de um profeta, é a trajetória do Messias, o Cristo Senhor.

João Batista é o precursor, aquele que abre os caminhos para Jesus. João manda dois de seus discípulos em busca de Jesus, porque era o Cordeiro de Deus, o Salvador. Não há concorrência entre João e Jesus. João vivia cheio de alegria ao ver a atuação de Jesus, tendo consciência de que preparava os caminhos para o Cristo. Por isso, os discípulos de João deverão tornar-se discípulos de Jesus, aquele que tem o poder de “batizar no Espírito Santo, por ser Filho de Deus”. Contemplando-se o tempo e somente, Ele pode ser o Mestre. O ideal da vida do cristão é ter Jesus como Mestre e Senhor, por isso todos nós somos convidados a refletir sobre o seguir e o procurar a Deus, por meio de Cristo.

Cristo se serve de João Batista no Evangelho de hoje. Para seguir e procurar a Jesus nós devemos ser bons discípulos. Para seguir temos que crer e dar testemunho daquele que Seguimos. Por isso, necessitamos de uma fé constante e sólida no Salvador do gênero humano.

Ser discípulo não nasce de repente. É preciso ter uma experiência de Deus, uma receptividade para a sua palavra e, assim sendo, uma evolução pelos seus caminhos, uma procura diuturna de conhecer o rosto de Deus.

Quem é chamado tem que ir ao encontro e permanecer com o Senhor. O discípulo sai sempre para viver este encontro em comunidade e dar testemunho da permanência de Deus em sua vida: por isso, neste vale de lágrimas, somos convidados a estar com Deus. Para estar com Deus é preciso abandonar o pecado e viver a graça de Deus, pela conversão e santidade de vida.

Devemos ter isso muito bem discernido em nossas vidas, o por que e para que procuramos a Deus. O que buscamos? Para que buscamos?

O discípulo de Jesus está sempre vindo e indo. Indo a procura dos povos que ainda não crêem e dando testemunho para aqueles que crêem. Somos enamorados pelo seguimento e pela procura do Cristo Senhor. Podemos seguir Jesus e não procurá-Lo, não sermos bons discípulos. Podemos procurá-Lo e não segui-Lo, e nunca seremos discípulos.

O discipulado não nasce de repente. Exige perseverança atenta e atenciosa, bem como receptividade. Neste encontro contínuo com o Cristo devemos ter presente de que Ele é o caminho e quem anda com Ele permanece nele.

Queremos todos ver o rosto de Deus. O que buscais? Esta é a mesma pergunta. O que buscamos hoje? Não poderia ser outro, senão Cristo, o caminho que nos leva ao Pai. O discípulo vai e vem sempre.

Na prática o discípulo nunca sabe ao certo se está indo ou vindo, porque a procura contínua de Cristo coincide com a procura contínua dos irmãos, especialmente dos mais pobres.

Caros irmãos,

A procura de Jesus é contínua. A liturgia combinou o Evangelho (Jo 1,35-42) com a vocação de Samuel, da primeira leitura (1Sam 3,3-10.19). Este também mostra que o encontro com Deus não é uma coisa evidente. Samuel ouve três vezes sua voz e só pela orientação do sacerdote Heli é capaz de reconhecer seu sentido. Mas, uma vez entendendo a voz, acolhe-a com plena disponibilidade, deixando-se ensinar para ser o porta-voz de Javé. Samuel, desde o seu nascimento, em agradecimento pelo favor de Deus a sua mãe estéril, foi dedicado ao serviço de Deus, no templo de Siló. Mas este serviço não esgotou a sua missão. Antes que ele fosse capaz de o entender, Deus o chamou para a missão de profeta. “Fala, teu servo escuta”, responde Samuel. Escutar é a primeira tarefa do porta-voz de Deus, do discípulo-missionário.

A segunda leitura (1Cor 6,13-15.17-20) é uma das questões particulares, abordadas em 1Cor 5-12: a fornicação. A oposição paulina à libertinagem sexual não se deve ao desprezo do corpo, mas à sua alta estima por ele, pois reconhece que o corpo não é alheio às alturas do espírito, mas, antes, as sustenta e delas participa. Por isso, qualquer ligação vulgar avilta do homem todo. Porque o corpo é tabernáculo do Espírito Santo, devendo ser governado para este fim do homem integral, membro de Cristo e não o homem subordinado às finalidades particulares do corpo. São Paulo concorda com o senso de liberdade dos coríntios, mas não com a libertinagem. Eles dizem: “Tudo é permitido”. São Paulo responde: “Mas nem tudo faz bem”. Quando alguém se torna escravo de uma criatura, comete idolatria. Assim, também, o que se vicia nos prazeres do corpo, colocando-os acima de tudo. O homem não é feito para o corpo, mas o corpo para o homem e este para Deus, de modo que seu corpo é habitação, templo de Deus, e serve para glorificá-lo.

Irmãos e irmãs,

O apelo de Deus nos convida a “ser”através dos valores, desenrola-se num diálogo contínuo do homem com Deus. Neste confronto, toda pessoa descobre progressivamente o seu plano, aquilo que deve tornar-se. Deus não se cansa de chamar a colaborar: homens e mulheres, pobres e fracos; convida-os a deixar a família, nação, a própria vida, para se tornarem instrumentos do amor de Deus pelo homem.

A vocação se funda em dotes pessoais e na tensão que a pessoa descobre entre as necessidades da comunidade humana e o plano que a sociedade deve realizar. Nesta tensão a pessoa encontra a sua vocação. Que possamos exprimir o nosso testemunho na busca da comunhão maior que é a Santíssima Trindade.

Que possamos, pois, todos procurar a Cristo, não perguntando onde Ele Mora, mas exigindo de nós um movimento: ir e ver onde está Deus, vivificando com o creio, a experiência de fé na busca contínua do Deus da Vida, o nosso Salvador Jesus Cristo, para que o tenhamos sempre ao nosso lado. Amém!

Fonte: Catequisar

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lectio Divina - Leitura Orante: Parábola da Vinha

Lectio Divina - Leitura Orante: Parábola da Vinha

Evangelho segundo São Mateus (21,33-43)

Jesus disse:

- Escutem outra parábola: certo agricultor fez uma plantação de uvas e pôs uma cerca em volta dela. Construiu um tanque para pisar as uvas e fazer vinho e construiu uma torre para o vigia. Em seguida, arrendou a plantação para alguns lavradores e foi viajar. Quando chegou o tempo da colheita, o dono mandou alguns empregados a fim de receber a parte dele. Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outro e mataram ainda outro a pedradas. Aí o dono mandou mais empregados do qu e da primeira vez. E os lavradores fizeram a mesma coisa. Depois de tudo isso, ele mandou o seu próprio filho, pensando: "O meu filho eles vão respeitar." Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: "Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa."

- Então agarraram o filho, e o jogaram para fora da plantação, e o mataram.

Aí Jesus perguntou:

- E agora, quando o dono da plantação voltar, o que é que ele vai fazer com aqueles lavradores?

Eles responderam:

- Com certeza ele vai matar aqueles lavradores maus e vai arrendar a plantação a outros. E estes lhe darão a parte da colheita no tempo certo.

Jesus então perguntou:

- Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem? "A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas. Isso foi feito pelo Senhor e é uma coisa maravilhosa!" E Jesus terminou:

- Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino.


Leitura Orante

Preparo-me para a Oração da Palavra, com todos os internautas, com as palavras de Santo Agostinho:

Movei-me, Espírito Santo,

para que eu ame santamente!

Fortificai-me, Espírito Santo,

para que eu proteja o que é santo!

Guardai-me, Espírito Santo,

para que jamais perca o que é santo!


1. Leitura (Verdade)

- O que a Palavra diz?

Ler com calma e atentamente a passagem de Mt 21,33-43: mais uma parábola de Jesus, em que os lavradores lembram os profetas que pregavam a justiça e foram eliminados. Por fim, Deus enviou seu próprio Filho, Jesus Cristo, que também foi rejeitado e morto. Mas, ressuscitou. O resultado disso: "o Reino será tirado de vocês e dado para pessoas que produzem frutos". O último versículo faz entender que em torno de Jesus estão aqueles que não vêm para tomar posse, mas para servir.


2. Meditação (Caminho)

- O que a Palavra diz para mim?

O texto para mim é um apelo de Jesus para pertencer ao grupo que vem para servir. Em Aparecida, na V Conferência, os bispos lembraram o apelo do papa: "O Santo Padre nos recorda que a Igreja está convocada a ser "advogada da justiça e defensora dos pobres" diante das "intoleráveis desigualdades sociais e econômicas", que "clamam ao céu". Temos muito que oferecer, visto que "não há dúvida de que a Doutrina Social da Igreja é capaz de despertar esperança em meio às situações mais difíceis, porque se não há esperança para os pobres, não haverá para ninguém, nem sequer para os chamados ricos". A opção preferencial pelos pobres exige que prestemos especial atenção àqueles profissionais católicos que são responsáveis pelas finanças das nações, naqueles que fomentam o emprego, nos políticos que devem criar as condições para o desenvolvimento econômico dos países, a fim de lhes dar orientações éticas coerentes com sua fé." (DAp 395).


3. Oração (Vida)

- O que a Palavra me leva a dizer a Deus?

Rezamos com toda Igreja:

Ó Deus criador, do qual tudo nos vem,
Nós te louvamos pela beleza e perfeição de tudo que existe
como dádiva gratuita para a vida.
Ilumina, ó Deus, nossas mentes
para compreender que a boa nova que vem de ti é amor,
compromisso e partilha entre todos nós, teus filhos e filhas.
Reconhecemos nossos pecados de omissão diante das injustiças
que causam exclusão social e miséria.
Pedimos por todas as pessoas que trabalham
na promoção do bem comum
e na condução de uma economia a serviço da vida.


4. Contemplação (Vida/ Missão)

- Qual o meu novo olhar a partir da Palavra?

Meu novo olhar é para cuidar a fim de que a vida de Deus e seu Reino tenham espaço de expressão no mundo em que vivo.


Benção

O Senhor o abençoe e guarde!

O Senhor lhe mostre sua Face Luminosa e tenha piedade de você!

O Senhor lhe mostre sua Face e lhe conceda a paz!' (Nm 6,24-27).

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.


Ir. Patrícia Silva, fsp

Deus abençoe a sua caminhada neste outubro, mês das missões. - Se você quiser receber o Evangelho do Dia, acesse o seguinte endereço e preencha o formulário de cadastro:
http://www.paulinas.org.br/loja/CentralUsuarioLogin.aspx

Fonte:
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/evangelho.aspx
e Voz da Igreja

domingo, 25 de setembro de 2011

Homilia de Bento XVI no último dia de sua viagem à Alemanha

Homilia de Bento XVI no Aeroporto Turístico de Friburgo
Viagem Apostólica à Alemanha (22-25 de setembro de 2011)
25 de setembro de 2011



Amados irmãos e irmãs,

Com particular emoção volto aqui para celebrar a Eucaristia, a Ação de Graças, com tanta gente vinda de diversas partes da Alemanha e dos países limítrofes. A nossa ação de graças, queremos dirigi-la sobretudo a Deus, em Quem vivemos e nos movemos; mas quero agradecer também a todos vós pela vossa oração em favor do Sucessor de Pedro, para que ele possa continuar a desempenhar o seu ministério com alegria e segura esperança, confirmando os irmãos na fé.

"Ó Deus, que manifestais a vossa onipotência sobretudo com a misericórdia e o perdão…": rezamos na coleta de hoje. Na primeira leitura, ouvimos dizer como Deus, na história de Israel, manifestou o poder da sua misericórdia. A experiência do exílio babilonense fizera o povo cair numa crise de fé: Por que sucedera aquela desgraça? Seria Deus verdadeiramente poderoso?

Há teólogos que, à vista de todas as coisas terríveis que acontecem hoje no mundo, dizem que Deus não pode ser onipotente. Diversamente, nós professamos Deus, o Onipotente, o Criador do céu e da terra. Sentimo-nos felizes e agradecidos por Ele ser onipotente; mas devemos, ao mesmo tempo, dar-nos conta de que Ele exerce o seu poder de maneira diferente de como costumam fazer os homens. Ele próprio impôs um limite ao seu poder, ao reconhecer a liberdade das suas criaturas. Sentimo-nos felizes e agradecidos pelo dom da liberdade; mas, quando vemos as coisas tremendas que sucedem por causa dela, assustamo-nos. Mantenhamos a confiança em Deus, cujo poder se manifesta sobretudo na misericórdia e no perdão. E estejamos certos, amados fiéis, de que Deus deseja a salvação do seu povo. Deseja a nossa salvação. Sempre, mas sobretudo em tempos de perigo e transtorno, Ele está perto de nós, o seu coração comove-se por nós, inclina-se sobre nós. Para que o poder da sua misericórdia possa tocar os nossos corações, requer-se a abertura a Ele, é preciso a disponibilidade de abandonar o mal, levantar-se da indiferença e dar espaço à sua Palavra. Deus respeita a nossa liberdade; não nos constrange.

No Evangelho, Jesus retoma este tema fundamental da pregação profética. Narra a parábola dos dois filhos que são convidados pelo pai para irem trabalhar na vinha. O primeiro filho respondeu: "'Não quero'. Depois, porém, arrependeu-se e foi" (Mt 21, 29). O outro, ao contrário, disse ao pai: "'Eu vou, senhor.' Mas, de fato, não foi" (Mt 21, 30). À pergunta de Jesus sobre qual dos dois cumprira a vontade do pai, os ouvintes respondem: "O primeiro" (Mt 21, 31). A mensagem da parábola é clara: Não são as palavras que contam, mas o agir, os atos de conversão e de fé. Jesus dirige esta mensagem aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, isto é, aos peritos de religião no povo de Israel. Estes começam por dizer "sim" à vontade de Deus; mas a sua religiosidade torna-se rotineira, e Deus já não os inquieta. Por isso sentem a mensagem de João Batista e a de Jesus como um incômodo. E assim o Senhor conclui a sua parábola com estas palavras drásticas: "Os publicanos e as mulheres de má vida vão antes de vós para o Reino de Deus. João Batista veio ao vosso encontro pelo caminho que leva à justiça, e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram nele. E vós, que bem o vistes, nem depois vos arrependestes, acreditando nele" (Mt 21, 31-32). Traduzida em linguagem do nosso tempo, a frase poderia soar mais ou menos assim: agnósticos que, por causa da questão de Deus, não encontram paz e pessoas que sofrem por causa dos nossos pecados e sentem desejo dum coração puro estão mais perto do Reino de Deus de quanto o estejam os fiéis rotineiros, que na Igreja já só conseguem ver o aparato sem que o seu coração seja tocado pela fé.

Assim, a palavra de Jesus deve fazer-nos refletir; antes, deve abalar a todos nós. Isto, porém, não significa de modo algum que todos quantos vivem na Igreja e trabalham para ela se devam considerar distantes de Jesus e do Reino de Deus. Absolutamente, não! Antes, este é o momento bom para dizer uma palavra de profunda gratidão a tantos colaboradores, contratados ou voluntários, sem os quais a vida nas paróquias e na Igreja inteira seria impensável. A Igreja na Alemanha possui muitas instituições sociais e caritativas, onde se cumpre o amor do próximo de forma eficaz, mesmo socialmente e até aos confins da terra. Quero exprimir a minha gratidão e o meu apreço a todos quantos estão empenhados na Cáritas alemã ou noutras organizações, ou então que disponibilizam generosamente o seu tempo e as suas forças para tarefas de voluntariado na Igreja. Tal serviço requer, primariamente, uma competência objetiva e profissional; mas, no espírito do ensinamento de Jesus, exige-se algo mais, ou seja, o coração aberto, que se deixa tocar pelo amor de Cristo, e deste modo é prestado ao próximo, que precisa de nós, mais do que um serviço técnico: o amor, no qual se torna visível ao outro o Deus que ama, Cristo. Neste sentido, interroguemo-nos: Como é a minha relação pessoal com Deus na oração, na participação na Missa dominical, no aprofundamento da fé por meio da meditação da Sagrada Escritura e do estudo do Catecismo da Igreja Católica? Queridos amigos, em última análise, a renovação da Igreja só poderá realizar-se através da disponibilidade à conversão e duma fé renovada.

No Evangelho deste domingo, fala-se de dois filhos, mas misteriosamente por detrás deles há ainda um terceiro filho. O primeiro filho diz "não", mas depois cumpre a vontade do pai. O segundo filho diz "sim", mas não faz o que lhe foi ordenado. O terceiro filho diz "sim" e faz também o que lhe foi ordenado. Este terceiro filho é o Filho Unigênito de Deus, Jesus Cristo, que aqui nos reuniu a todos. Ao entrar no mundo, Ele disse: "Eis que venho (…) para fazer, ó Deus, a vossa vontade" (Heb 10, 7). Este "sim", Ele não se limitou a pronunciá-lo, mas cumpriu-o. Diz-se no hino cristológico da segunda leitura: "Ele, que era de condição divina, não quis ter a exigência de ser posto ao nível de Deus. Antes, a Si próprio Se despojou, tomando a condição de escravo, ficando semelhante aos homens. Tido no aspecto como simples homem, ainda mais Se humilhou a Si mesmo, obedecendo até à morte e morte na cruz" (Flp 2, 6-8). Em humildade e obediência, Jesus cumpriu a vontade do Pai, morreu na cruz pelos seus irmãos e irmãs e redimiu-nos da nossa soberba e obstinação. Agradeçamos-Lhe pelo seu sacrifício, ajoelhemos diante do seu Nome e, juntamente com os discípulos da primeira geração, proclamemos: "Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai" (Fl 2, 11).

A vida cristã deve medir-se continuamente pela de Cristo: "Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus"» (Fl 2, 5) – escreve São Paulo ao introduzir o hino cristológico. E, alguns versículos antes, exorta: "Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade; se existe alguma participação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, mantendo-vos unidos nos mesmos sentimentos: conservai a mesma caridade, uma alma comum, um mesmo e único sentir" (Fl 2, 1-2). Assim como Cristo estava totalmente unido ao Pai e era-Lhe obediente, assim também os seus discípulos devem obedecer a Deus e manter entre si um mesmo sentir. Queridos amigos, com Paulo ouso exortar-vos: Tornai plena a minha alegria, permanecendo firmemente unidos em Cristo! A Igreja na Alemanha vencerá os grandes desafios do presente e do futuro e continuará a ser fermento na sociedade, se os sacerdotes, as pessoas consagradas e os leigos que acreditam em Cristo, na fidelidade à vocação específica de cada um, colaborarem em unidade; se as paróquias, as comunidades e os movimentos se apoiarem e enriquecerem mutuamente; se os batizados e os crismados, em união com o Bispo, mantiverem alta a chama de uma fé intacta e, por ela, deixarem iluminar a riqueza dos seus conhecimentos e capacidades. A Igreja na Alemanha continuará a ser uma bênção para a comunidade católica mundial, se permanecer fielmente unida aos Sucessores de São Pedro e dos Apóstolos, se tiver a peito de variados modos a cooperação com os países de missão e se nisto se deixar "contagiar" pela alegria na fé das jovens Igrejas.

Com a exortação da unidade, Paulo associa o apelo à humildade: "Não façais nada por rivalidade, nem por vanglória; mas, por humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros" (Fl 2, 3-4). A vida cristã é uma "existência-para": um viver para o outro, um compromisso humilde a favor do próximo e do bem comum. Amados fiéis, a humildade é uma virtude que hoje não goza de grande estima. Mas os discípulos do Senhor sabem que esta virtude é, por assim dizer, o óleo que torna fecundos os processos de diálogo, fácil a colaboração e cordial a unidade. Humilitas, a palavra latina donde deriva "humildade", tem a ver com humus, isto é, com a aderência à terra, à realidade. As pessoas humildes vivem com ambos os pés na terra; mas sobretudo escutam Cristo, a Palavra de Deus, que ininterruptamente renova a Igreja e cada um dos seus membros.

Peçamos a Deus a coragem e a humildade de prosseguirmos pelo caminho da fé, de nos saciarmos na riqueza da sua misericórdia e de mantermos o olhar fixo em Cristo, a Palavra que faz novas todas as coisas, que é para nós "o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6), que é o nosso futuro. Amém.

Fonte: Canção Nova

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A homilia à luz da Sacrosanctum Concilium


A homilia à luz da Sacrosanctum Concilium


Não vou entrar na questão da evolução histórica da pregação cristã. Todos sabemos distinguir entre pregação querigmática, pregação pastoral, pregação catequética e outras formas de pregação do Evangelho. Nem é o caso de tratar da forma do discurso homilético nem da arte da oratória e da eloqüência. Tais questões são reservadas a outros momentos.

Nos últimos anos se produziu bastante sobre a pregação homilética, mas nem tanto sobre sua natureza teológica litúrgica. Aqui nos restringimos à natureza da homilia à luz da Sacrosanctum Concilium, sem considerar o seu desdobramento sobretudo na Instrução Geral sobre o Missal Romano e na Introdução Geral ao Ordo Lectionum Missae.

1. A Sacrosanctum Concilium
Em três passagens, a Sacrosanctum Concilium fala sobre a natureza da homilia.

A primeira encontra-se no contexto da importância da Sagrada Escritura na celebração litúrgica:

“Pois dela [da Sagrada Escritura] são lidas as lições e explicadas na homilia” (Ex ea enim lectiones leguntur et in homilia explicantur”) (SC, 24).

A segunda aparece, onde se trata da leitura da Sagrada Escritura, da pregação, da catequese litúrgica e da celebração da Palavra de Deus:

“Seja também anotado nas rubricas, conforme a cerimônia o permitir, o lugar mais apto para o sermão, como parte da ação litúrgica (utpote partis actionis liturgicae); e o ministério da pregação seja cumprido com muita fidelidade e exatidão. Deve a pregação, em primeiro lugar, haurir os seus temas da Sagrada Escritura e da Liturgia, sendo como que a proclamação das maravilhas divinas, na história da salvação ou no mistério de Cristo, que está sempre presente em nós e opera, sobretudo nas celebrações litúrgicas” (SC, n. 35,2).

A terceira passagem encontra-se no capítulo sobre a reforma do Sacrossanto Mistério de Eucaristia:

“Recomenda-se vivamente como parte da própria Liturgia (ut pars ipsius Liturgiae), a homilia pela qual, no decurso do ano litúrgico, são expostos os mistérios da fé e as normas da vida cristã a partir do texto sagrado”.

Realcemos algumas afirmações:
1) A homilia é parte da ação litúrgica ou parte da própria liturgia;

2) A homilia haure seus temas da Sagrada Escritura e da Liturgia;

3) A homilia é compreendida como explicação ou explanação das leituras bíblicas;

4) A homilia é como que a proclamação das maravilhas divinas, na história da salvação ou seja, no mistério de Cristo;

5) Na homilia está presente e opera em nós o mistério de Cristo.

6) A homilia constitui um ministério de pregação;

7) Em vez de homilia ainda se usa o termo sermão (sermo) como sinônimo de homilia. (Nos Padres da Igreja latinos, o sermo era praticamente sinônimo de homilia).


2. A homilia se reveste das características essenciais da Liturgia
Sendo "parte da própria Liturgia", ou "parte da ação litúrgica", a homilia tem as características da própria Sagrada Liturgia na sua compreensão teológica de Mistério do Culto de Cristo e da Igreja.

Ao celebrar os mistérios de Cristo, a Igreja os contempla, os traz à memória através da Palavra de Deus, que narra e novamente revela e atualiza a Economia divina da Salvação, manifestada e realizada na História da Salvação.

2.1. O caráter memorial da homilia. - A proclamação da Palavra de Deus em si já tem caráter litúrgico, memorial, celebrativo, sacramental. A palavra de Deus se atualiza, quando ela é proclamada em assembléia de culto:
"Nunca, depois disso, a Igreja deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo 'tudo quanto a Ele se referia em todas as Escrituras' (Lc 24, 27), celebrando a Eucaristia, na qual 'se torna novamente presente a vitória e o triunfo de sua morte' e, ao mesmo tempo, dando graças 'a Deus pelo dom inefável' (2Cor 9,15), em Jesus Cristo 'para louvor de sua glória' (Ef 1, 12), pela força do Espírito Santo" (SC, 6).

Além disso, "presente está pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja" (SC, 7).

A Palavra de Deus, o Verbo, não é apenas lida ou proclamada, mas é celebrada. Ela é atualizada no memorial da mesma. A proclamação da Palavra de Deus tem valor salvífico em si mesma.

A homilia se situa entre a proclamação da Palavra de Deus ou a Liturgia da Palavra e a assim chamada Liturgia sacramental, onde ela se realiza, formando ambas as partes um só ato de culto, uma só celebração sacramental.

Ela está a serviço tanto da Mesa da Palavra como da Mesa do Pão, sendo o elo entre ambas. Faz a transição entre a Palavra de Deus proclamada na Liturgia da Palavra e a resposta dada a ela. Situa-se entre a proposta de Deus, manifestada na Palavra e a resposta da assembléia, na Liturgia e na vida. Não é apenas elo ou transição. A homilia em si mesma é memorial, em que se renova a Aliança.

À luz das Escrituras, o Senhor Ressuscitado iluminou os fatos acontecidos a respeito do Jesus de Nazaré, fazendo-os compreender o mistério pascal na celebração, em que Jesus deu graças e partiu o pão, e na vida, transformando-os em mensageiros da boa-nova (Cf. Lc 24, 13-35).

Vale lembrar a participação de Jesus no culto sinagogal da Palavra, em Nazaré, narrada por Lucas, onde Ele mostra a atualização da palavra proclamada (cf. Lc. 4,16-30). “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”.

Na homilia, diferente do tradicional sermão, a Palavra de Deus proclamada é que orienta a pregação. Ela deixa a Palavra de Deus falar.

No sermão, como o termo foi usado após o tempo dos Padres da Igreja, quando era praticamente sinônimo de homilia, o objetivo ou o tema é central. A Sagrada Escritura é usada para fundamentar a tema a ser exposto.

A homilia não quer ser uma aula de Teologia. Não tem como primeira finalidade ensinar ou instruir na doutrina. Não é uma exposição de um assunto de Moral, de Exegese, de Psicologia ou de Pedagogia ou mesmo de Catequese, embora esses aspectos possam estar mais ou menos presentes.

Pode-se dizer que a homilia tem, como objetivo primeiro, colaborar com Deus para que sua Palavra melhor se encarne, para que sua Palavra seja melhor compreendida, encontre uma terra boa que produza muito fruto. E quer ajudar a assembléia a dar, por sua vez, uma resposta adequada à Palavra proclamada, na celebração e na vida, considerando-se sempre que a própria proclamação da Palavra de Deus já constitui um ato de culto, uma renovação da aliança entre Deus e os seres humanos em Cristo Jesus.

Em outras palavras, a homilia é o momento do confronto entre a Palavra proclamada, no contexto do mistério celebrado e a vida do cristão. Deste confronto brotará, como resposta, a conversão. Esta conversão pode adquirir a forma de arrependimento, de adoração, de intercessão, de louvor, de ação de graças e de compromisso de vida.

Resumindo, podemos dizer que a homilia tem por finalidade colaborar com Deus para que sua Palavra se encarne no hoje da vida dos fiéis; ajudar o povo fiel e ao próprio homiliasta que celebram os mistérios de Cristo, a darem uma resposta à Palavra ouvida na fé, na esperança e na caridade, na celebração e na vida; levar à conversão permanente, que consiste em voltar-se cada vez mais para Deus e para o próximo no amor; recolher os motivos de ação de graças; despertar as atitudes do sacrifício de Cristo, do seu Corpo dado e do seu Sangue derramado, na Liturgia e na vida; levar ao compromisso de viver de acordo com a Palavra ouvida e os mistérios celebrados.

2.2. O caráter contemplativo orante da homilia.
A homilia quer atingir o coração das pessoas, o ser humano em sua totalidade, em todas as suas faculdades e sentidos. Ajuda a assembléia a contemplar o mistério celebrado para lançar-se mais profundamente nele, para melhor vivenciá-lo na Liturgia celebrada e na liturgia da vida.

A Palavra de Deus celebrada, ritualmente proclamada, distingue-se por seu caráter orante. Ela é ouvida em atitude de fé, na esperança, visando sempre a caridade. Contemplando os mistérios de Cristo, a assembléia mergulha neles, é atingida por eles. Na sua escuta, a Palavra de Deus é contemplada.

Hoje em dia, fala-se muito em leitura orante da Bíblia. Certamente, a Liturgia da Palavra nas assembléias do culto da Igreja, constitui a forma mais original da lectio divina. Ela pertence à espiritualidade cristã desde as origens. Firmou-se na Celebração da Eucaristia, nas Vigílias e nos Noturnos, agora, Ofício das Leituras da Liturgia das Horas. Permaneceu viva através dos séculos entre os monges, em momento próprio fora das celebração. Hoje, está sendo resgatada. Convém que seja feita também individualmente, sobretudo pelo homiliasta.

No entanto, importa ajudar a assembléia litúrgica a realizar uma escuta orante da Palavra de Deus. As leituras e o Evangelho devem ser rezados na própria escuta, constituindo verdadeiro diálogo entre a proposta de Deus e a resposta da assembléia, onde já se renova a aliança entre Deus e a assembléia. Neste sentido, a homilia não é simples transição entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística, mas ela mesma constitui um diálogo entre Deus e a assembléia, onde se renova a Aliança em Cristo Jesus.

Esta escuta orante da Palavra de Deus, por vezes, toma a forma de oração propriamente dita. É o caso, por exemplo, do Salmo responsorial e da Aclamação ao Evangelho.

Assim também a homilia. Nela estará presente a oração sob vários aspectos. Sendo a homilia antes de tudo contemplação do mistério da fé e sua explicação, (explanação) ou explicitação, atualizando-a no aqui e agora de uma Comunidade de fé, o ministro da homilia só poderá falar na força do Espírito Santo. É no Espírito recebido em sua ordenação, que o homiliasta exerce sua missão de profeta, sacerdote e guia da grei a ele confiada. Também para a pregação no culto, o sacerdote recebeu o Espírito Santo pela imposição das mãos e para isso foi enviado. Só na luz e na força do Espírito Santo, ele poderá dar testemunho do que prega e ser fiel ao mistério de Cristo contemplado e proclamado. Não estaria aqui a razão por que o ministro ordinário e próprio da homilia é o ministro ordenado, sobretudo o Bispo? Aos Apóstolos foi confiado o tríplice poder messiânico de preta, sacerdote e rei, ou do anúncio do Evangelho, da santificação e de governo ou pastoreio.

É sobretudo na Eucaristia, que o Bispo é chamado a anunciar o Evangelho, conforme o ensinamento de São Paulo: “Trago-vos à memória, irmãos, o Evangelho que vos tenho pregado e recebestes, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos, se o conservardes como eu vos preguei. De outra forma em vão tereis abraçado a fé. Pois, na verdade eu vos transmiti, em primeiro lugar, o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu por nossos peados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a Cefas, depois aos Doze. Posteriormente apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais muitos ainda vivem, outros já morreram. Depois apareceu a Tiago, depois a todos os apóstolos. E depois de todos, como a um filho abortivo apareceu também a mim”.

Este é o mistério pascal sempre de novo comemorado e renovado na Celebração dos Sacramentos, particularmente na Eucaristia.

Repito, a finalidade primeira da homilia não é a de transmitir verdades nem a mera explicação exegética da Palavra de Deus, mas a de evocar, contemplar, proclamar, testemunhar e comunicar os mistérios de Deus revelados e realizados em Jesus Cristo e atualizados na Celebração memorial dos mesmos.

Mas, a própria homilia constitui uma forma de oração, com caráter de contemplação dos mistérios celebrados, em forma de profissão e testemunho da fé, em forma de ação de graças pelas maravilhas de Deus, manifestadas na História da Salvação. Possui o caráter de louvor e de glorificação.

Quando o homiliasta crê no que prega, reza o que contempla, também a homilia se torna uma forma de oração para toda a assembléia. Ela se reuniu para a oração, ela conseguiu entrar em íntima comunhão com Deus, por Cristo, no Espírito Santo. Então, ela não se dispersará com a impressão de não ter levado nada, pois ela carrega em si o mistério a ser vivido no dia-a-dia, na Liturgia vivida, na ação da caridade. Terá havido conversão, terá havido crescimento no amor de Deus e do próximo. É isto que entendemos por comunicação litúrgica na homilia, distinta da arte da comunicação também importante. Dá-se uma participação ativa e eficaz.

Ao fazer a homilia, o sacerdote se inclui. Ele fala também para si mesmo. Ele proclama sua fé, ele dá testemunho do mistério pascal de Cristo, núcleo central de toda pregação cristã.

O homiliasta nunca deve esquecer de que a mensagem transmitida pela Palavra de Deus é sempre maior do que o conteúdo de sua pregação. Cada fiel ouvinte, hoje, quando a Palavra de Deus é proclamada na língua do povo, captará também conteúdos da mensagem, diretamente, pela ação do Espírito Santo. Nesta acolhida da mensagem, o fiel será auxiliado, enriquecido pela homilia. Quando a Palavra era “lida” em língua desconhecida e em voz baixa, o homiliasta, tinha que se transformar em anunciador do conteúdo da fé, em catequista. A própria Palavra proclamada e rezada já é anúncio, já é mensagem. Cada ouvinte da Palavra é atingido pela ação do Espírito Santo. O homiliasta realça, explica (desdobra), ilumina o aspecto pascal do mistério pascal celebrado.

Neste sentido, o discurso homilético talvez seja mais amplo do que a homilia propriamente dita. Ele se manifesta também nas introduções à celebração e à Liturgia da Palavra como um todo, dispondo os participantes a acolherem a Palavra em atitude orante, em atitude de conversão, abertos à ação do Espírito Santo. Quem faz a homilia dispõe-se a incluir toda essa ação da Palavra nos corações dos fiéis na ação de graças e no sacrifício memorial de Cristo na Cruz.

Esta contemplação vivenciada levará a um compromisso renovado de vida. Trata-se de despertar atitudes, evocar motivos de ação de graças, exortar para o crescimento e a perseverança no seguimento de Cristo.


2.3. O caráter eucarístico ou de ação de graças da homilia
Podemos dizer também que a homilia busca recolher os motivos de ação de graças a partir de uma penetração mais profunda na mensagem da Palavra de Deus e do mistério celebrado e dispor os corações para entrarem na atitude sacrificial de Cristo, isto é, do Corpo de Cristo dado e do Sangue de Cristo derramado, na atitude do amor, da entrega total a Deus e ao próximo.
A homilia evoca, narra, proclama os benefícios de Deus em favor do ser humano, manifestados sobretudo em Jesus Cristo, razão ou motivo da ação de graças que se segue. Desperta a fé, a esperança e a caridade. Ajuda a assembléia a conformar sua vida com o plano de Deus que se torna presente na celebração. Ajudará a despertar a atitude sacrificial dos membros da assembléia, atitude que consiste em entrar na própria atitude de Cristo diante do Pai, manifestada no mistério de sua morte e ressurreição: atitude de entrega, atitude de Filho muito amado. A Assembléia, acolhendo a Palavra, deixa-se possuir por ela nas virtudes da fé, da esperança e da caridade; ela gera a Palavra e a devolve a Deus com frutos pela palavra e o testemunho de vida. Trata-se, pois, de ser ouvinte atento da palavra, de acolhê-la, de concebê-la no coração, a exemplo de Maria e restituí-la a Deus com frutos.

2.4.Dimensão pascal da homilia.
Sendo memorial dos mistérios de Cristo, do mistério do Cristo total, Cabeça e membros, a homilia tem dimensão pascal. Faz memória da Páscoa de Cristo e dos cristãos, ou das páscoas dos cristãos na Páscoa de Cristo. Os mistérios de Cristo, (páscoa de Cristo), continuam, por obra do Espírito Santo, nos cristãos. Cristo continua agindo pelo seu Espírito no serviço de salvação através dos cristãos. Estas ações pascais dos cristãos completam o mistério de Cristo. Neste sentido, a homilia possui também uma dimensão eclesial.

É próprio da expressão significativa da Liturgia, o rito, acolher e expressar o mistério do Cristo total, Cabeça e membros, em sua dimensão pascal.

Esta páscoa-fato da Igreja e da humanidade toda - mistérios de Cristo - realiza-se nas várias dimensões de sua vida. Penso que a Igreja no Brasil teve uma feliz inspiração, quando apresentou toda a sua vida e sua ação nas conhecidas seis dimensões.

O mistério pascal não se restringe à morte e ressurreição de Jesus. Ele se consuma nos cristãos, nos membros de Cristo. Esta compreensão da páscoa adquire profundo significado no despertar da dimensão sócio-transformadora da vida cristã em geral e, em especial, na experiência libertadora dos povos da América Latina, incentivada e assumida pela Igreja.

Penso aqui no ser humano nas suas diversas dimensões: o homo religiosus, o homo sapiens, o homo faber, o homo ludens, o homo solidarius, o homo patiens. Todas elas podem ser perpassadas do religioso, do sagrado, da dimensão pascal em Cristo, e todas elas deverão refletir-se no momento celebrativo de sua vida, portanto também na homilia.

O homiliasta trará todas estas ações pascais dos cristãos à memória para que os fiéis as transformem em ação de graças e oblação, com Cristo e em Cristo. Ilumina todas essas realidades à luz do Plano de Deus da Salvação, para que os cristãos as vivam no dia-a-dia em dimensão pascal.

Desse caráter da homilia se deduz a necessidade de o homiliasta, em sua pregação, levar sempre em consideração três elementos que nunca poderão faltar: O elemento exegético ou interpretação da mensagem da Sagrada Escritura proclamada na Liturgia da Palavra; o elemento vital, ou aplicação da mensagem à vida da comunidade e de cada um dos que a integram; e o elemento litúrgico ou aplicação da mensagem à celebração litúrgica e à assembléia que celebra.

Daí a necessidade de o homiliasta estar por dentro das realidades da vida humana e da sociedade onde ele vive; a necessidade de, como bom pastor, caminhar com seu rebanho, para poder captar todas as realidades vividas por ele, iluminá-las pela Palavra de Deus e trazê-las para dentro da celebração. Como escreve Reginaldo Veloso: “A homilia é a leitura pascal da vida”.

2.5 Caráter narrativo da homilia: proclamação das maravilhas divinas.
Esta característica decorre do caráter memorial da homilia. A homilia, em si mesma, não desenvolve um tema, não expõe nem defende verdades. Proclamando, ela narra a Economia Divina da Salvação, ou o Plano de Deus da Salvação, manifestado na História da Salvação, sobretudo, em Jesus Cristo.

A homilia deve expor os mistérios da fé, mas em sua dimensão salvífica, como boa-nova a se atualizar na celebração. Deve anunciar, sempre de novo, o Amor de Deus, o Deus Amor, que pede uma resposta de amor da parte do ser humano. A homilia como ação litúrgica atualiza os mistérios do amor de Deus, manifestados em seu Filho Jesus Cristo, no mistério da Encarnação e em sua Igreja através dos séculos.

Os fiéis, já iniciados na fé cristã e no seguimento de Cristo, não se reúnem em assembléia eucarística para conhecer mais, mas para amar mais. Creio que, em grande parte a pregação litúrgica adquiriu formas temáticas, doutrinárias ou catequéticas, pelo fato de a própria Liturgia, sobretudo a Palavra de Deus, em língua estranha e cristalizada, já por si mesma não ser anunciadora da boa-nova, de Jesus Cristo.

No Brasil, até hoje, sentimos esta falha, e continuamos a transformar a celebração dos mistérios de Cristo nos Sacramentos e, sobretudo, na Celebração Eucarística, em instrumento de evangelização, em ocasião de catequese, em imposição de ideologias. A ação evangelizadora deve encontrar outros momentos e lugares para o primeiro anúncio e para a Catequese que não o momento celebrativo que os supõem. Os que se reúnem para participar da Ceia do Senhor ou celebrar os mistérios de Cristo nos sacramentos, vêm porque já crêem no Cristo, já foram iniciados na vida cristã pela Catequese.


2.6 Dimensão trinitária.
Sendo que na Liturgia temos sempre a revelação e a ação da Trindade, também a homilia terá uma dimensão trinitária. A Liturgia é opus Trinitatis. O Pai revela e envia o Filho; o Filho, por sua vez, revela e envia o Espírito Santo. O Espírito Santo, por sua vez, revela, faz conhecer melhor o Filho e conduz para ele; o Filho vai levando a um conhecimento sempre maior do Pai e a ele conduz. Tudo isso acontece naquele dinamismo divino, ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, próprio da Liturgia.
A homilia, pois, contempla e revela o Pai, que age na ordem da criação e da salvação pelo Filho, no Espírito Santo. A Economia divina da salvação brota da Trindade e manifesta-se na história, realizada pelo Filho, no Espírito Santo. O homiliasta contempla e narra esta maravilhosa economia divina à luz das atribuições às Pessoas da Trindade Santa. Trata-se de um Deus Trindade na história da humanidade e na vida de cada pessoa humana. O homiliasta ajudará a trazer esta realidade ao presente na celebração da Igreja, onde o Pai continua a obra da criação, o Filho continua salvando e o Espírito Santo, santificando. Ele ajudará os fiéis a viverem esta dimensão trinitária de suas vidas particularmente na Oração eucarística.

3. A interpretação da Palavra de Deus na homilia
Não sendo a homilia uma exposição exegética da Bíblia, ela deve, contudo, ser fiel à ciência exegética, para que a mensagem da Palavra de Deus seja autêntica. Claro, sempre à luz da Teologia e fiel ao Magistério da Igreja.

Contudo, a Sagrada Liturgia tem uma hermenêutica própria no uso da Sagrada Escritura. Sendo uma ação cultual, fiel ao sentido literal das Escrituras, a Liturgia se interessa em haurir da Bíblia seu conteúdo mistérico, seu conteúdo salvífico. Toda interpretação das Sagradas Escrituras tem certamente seu fundamento na exegese literal. Mas, a exegese racional e científica apenas precede a exegese cristã dos livros sagrados e é como que seu fundamento.

Na Liturgia, a Igreja usa uma exegese espiritual. Ela consiste em reconhecer que o livro sagrado não é um documento puramente histórico, mas a Palavra de Deus. É uma palavra dirigida a pessoas e que exige hoje uma resposta pessoal. A exegese literal pode ser para o cristão somente o fundamento de uma hermenêutica litúrgica em que se atualiza a Palavra de Deus. A exegese espiritual, contudo, não se acrescenta simplesmente a uma interpretação puramente literal do texto: ela é a verdadeira, a plena interpretação duma Palavra que já para o hagiógrafo não era um simples documento humano, mas Palavra de Deus. A exegese espiritual prolonga no tempo a vida do livro sagrado. Os acontecimentos são proféticos: em cada acontecimento, cada pessoa que escuta, encontra-se a si mesma. Trata-se da Palavra de Deus que convoca e realiza a Comunidade, a Qahal Jahweh do Antigo Testamento, a Ecclesia dos cristãos, e prenuncia a Jerusalém celeste.

A Liturgia da Igreja interpreta a Palavra de Deus por aquilo que se cumpre nela mesma. A Sagrada Escritura revela um Deus que age na História, que por seu Verbo divino faz surgir a história e a conduz à consumação.

A Sagrada Liturgia, portanto, também o homiliasta, lê a Sagrada Escritura num sentido bem determinado, todo seu, sob uma luz própria, que constitui como que a sua norma de interpretação. É o princípio da unidade do mistério de Cristo e da História da Salvação.

O mistério de Cristo é um só, desde o plano eterno de Deus, passando pela criação do mundo e do ser humano, a história do povo de Deus do Antigo Testamento, o fato da encarnação do Verbo de Deus e sua expressão no tempo da Igreja até a consumação na parusia.

Nos textos bíblicos encontramos as três ou quatro dimensões do sinal litúrgico, dimensões que abrangem toda a história, toda a realidade, tornando-a atual, colocando-a, por assim dizer, acima do tempo, no mistério.

Os textos bíblicos e as fórmulas e os sinais inspirados na Bíblia, comemoram o passado e, comemorando o passado, indicam realidades presentes e anunciam o futuro. São sinais comemorativos, indicativos e proféticos, suscitando uma atitude e resposta na fé, o que chamamos de dimensão empenhativa.

4. Comunicação litúrgica homilética
Também na homilia devemos distinguir entre a comunicação litúrgica e a arte da comunicação na Liturgia.

Uma vez que a homilia tem as características essenciais da Liturgia, faz parte da Liturgia, é litúrgica, também nela deve realizar-se a comunhão ou comunicação com Deus no homiliasta e na assembléia. O homiliasta comunica Deus à assembléia e comunica a assembléia com Deus. Quem faz homilia, ajuda a Deus a comunicar, a encarnar a sua Palavra e ajuda a assembléia a responder à Palavra na celebração e na vida. Desperta a adesão à Palavra, ou seja, leva à conversão.

Por isso, o Presidente há de se incluir na comunhão com a Palavra de Deus, há de tornar-se um com a Palavra de Deus. Através da acolhida da Palavra, entrando em comunhão com a Palavra de Deus, ele entra em comunhão consigo mesmo, com Deus e com a assembléia. Procura vivenciar a mensagem ouvida e dar testemunho dela. Ajuda, enfim, a mergulhar no mistério revelado. Realiza-se uma comunicação litúrgica.

A arte da comunicação, como a oratória, a eloqüência, os instrumentos técnicos de comunicação usados, constituem meios preciosos para tornar a comunicação litúrgica mais intensa, mais eficaz.

O homiliasta dialoga consigo mesmo e comunica-se com Deus e com a assembléia com todo o seu ser. Não só pela palavra, pelo raciocínio, pelo discurso, mas como Presidente da assembléia, com todo o seu ser e agir: o olhar, a expressão da face, o gesto, a emoção. A assembléia toda comunica-se com Deus através da pessoa do homiliasta, confrontando-se com a Palavra de Deus proclamada, arrependendo-se do mal, pedindo perdão, intercedendo, adorando, bendizendo, renovando a aliança com Deus, comprometendo-se a viver segundo a Palavra proclamada, enfim, rezando. Também na homilia a assembléia reza, ou seja, entra em íntima comunhão com Deus.

Concluindo, certamente uma das prioridades na formação do homiliasta será sua introdução à compreensão teológica da Liturgia e sua iniciação na natureza litúrgica da homilia.

Fonte: Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Pequena indicação bibliográfica:

1. Gebhard Fesenmay, o. f. m., A Homilia na Celebração Eucarística, em Fr. Guilherme Baraúna, A Sagrada Liturgia Renovada pelo Concílio, Vozes, Petrópolis, 1964, p. 405-427.

2. Irineu Sansão, Aspectos Teológico-Pastorais da Pregação no culto Divino à luz do Vaticano II, Vozes, Petrópolis 1969.

3. CELAM, Homilia, Edições Paulinas, São Paulo 1983.

4. Luigi Della Torre, Homilia, em Dicionário de Liturgia, Edições Paulinas/Edições Paulistas, São Paulo 1992.

5. Lucien Deiss, A Homilia, em A Palavra de Deus Celebrada. Teologia da Celebração da Palavra de Deus, Vozes, Petrópolis 75-108.

5. Luis Maldonado, A Homilia: Pregação, liturgia, comunidade, tr. Paulus Editora, São Paulo 1997.

6. Alberto Beckhäuser, OFM, A homilia à luz da Sagrada Lituriga em Pe. Geraldo L. B. Hackmann (Org.), Sub Umbris Fideliter. Festschrift em homenagem a Frei Boaventura Kloppenburg, EDIPUCRS, Porto Alegre 1999, p.11-39.

7. Alberto Beckhäuser, OFM, Comunicação homilética, em Comunicação litúrgica: Presidência, Homilia, Meios Eletrônicos, Vozes, Petrópolis 2003, p. 35-84.

8. Frei Alberto Beckhäuser, OFM, Hermenêutica e Liturgia: REB 32 (1972) 568-580.

9. Dizionario di Omiletica, a cura di Manlio Sodi - Achille M. Triacca, Editrice Elle Di Ci - Editrice VELAR.

Fonte: Portal Católico

domingo, 11 de setembro de 2011

HOMILIA NO ENCERRAMENTO DO XXV CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL,

HOMILIA NO ENCERRAMENTO DO XXV CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL
Visita Pastoral a Ancona (Itália)
Domingo, 11 de setembro de 2011

Caríssimos irmãos e irmãs!

Há seis anos, a primeira viagem apostólica do meu pontificado na Itália conduziu-me a Bari, para o 24º Congresso Eucarístico Nacional. Hoje, venho para concluir solenemente o 25º, aqui em Ancona. Agradeço ao Senhor por esses intensos momentos eclesiais que reforçam o nosso amor à Eucaristia e nos veem unidos em torno à Eucaristia! Bari e Ancona, duas cidades às margens do mar Adriático; duas cidades ricas de história e de vida cristã; duas cidades abertas ao Oriente, à sua cultura e à sua espiritualidade; duas cidades que os temas dos Congressos Eucarísticos contribuíram para aproximar: em Bari, tínhamos feito memória de como "sem o Domingo não podemos viver"; hoje, o nosso reencontro acontece sob o lema "Eucaristia para a vida cotidiana".

Antes de oferecer-vos alguma reflexão, gostaria de agradecer-vos por essa vossa coral participação: em vós, abraço espiritualmente toda a Igreja que está na Itália. Dirijo uma agradecida saudação ao presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Angelo Bagnasco, pelas cordiais palavras que me dirigiu também em nome de todos vós; ao meu Legado a esse Congresso, Cardeal Giovanni Battista Re; ao Arcebispo de Ancona-Osimo, Dom Edoardo Menichelli, aos Bispos da Metropolìa, das Marche e àqueles inúmeros vindos de toda parte do país. Juntamente com eles, saúdo os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e as consagradas, e os fiéis leigos, entre os quais vejo muitas famílias e muitos jovens. A minha gratidão vai também às Autoridades civis e militares e a quantos, de modos diversos, contribuíram para o bom êxito desse evento.

"Essa palavra é dura! Quem o pode admitir?" (Jo 6,60). Diante do discurso de Jesus sobre o pão da vida, na Sinagoga de Cafarnaum, a reação dos discípulos, muitos dos quais abandonaram Jesus, não está muito distante das nossas resistências diante do dom total que Ele faz de si mesmo. Porque acolher verdadeiramente esse dom significa perder-se, deixar-se envolver e transformar, até ao ponto de viver d'Ele, como nos recordou o apóstolo Paulo na segunda Leitura: "Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor" (Rm 14,8).

"Essa palavra é dura!"; é dura porque muitas vezes confundimos a liberdade com a ausência de vínculos, com a convicção de podermos agir sozinhos, sem Deus, visto como um limite à liberdade. É essa uma ilusão que não demora em tornar-se uma desilusão, gerando inquietude e medo e levando, paradoxalmente, a lamentar as cadeias do passado: "Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito..." – diziam os hebreus no deserto (Êx 16,3), como escutamos. Na verdade, só na abertura a Deus, no acolhimento de seu dom, nos tornamos verdadeiramente livres, livres da escravidão do pecado, que desfigura o rosto do homem, e capazes de servir ao verdadeiro bem dos irmãos.

"Essa palavra é dura!"; é dura porque o homem cai frequentemente na ilusão de poder "transformar as pedras em pão". Após ter colocado Deus de lado, ou tê-Lo tolerado como uma escolha particular que não deve interferir na vida pública, certas ideologias tentaram organizar a sociedade com a força do poder e da economia. A história nos mostra, de forma dramática, como o objetivo de garantir a todos desenvolvimento, bem-estar material e paz prescindindo de Deus e da sua revelação resultaram em um dar aos homens pedras no lugar de pão. O pão, queridos irmãos e irmãs, é "fruto do trabalho do homem", e nessa verdade está contida toda a responsabilidade confiada às nossas mãos e à nossa inventividade; mas o pão é também, e antes disso, "fruto da terra ", que recebe do alto sol e chuva: é dom a se pedir, que tolhe toda a soberba e nos faz invocar com a confiança dos humildes: "Pai (...), dá-nos hoje o nosso pão de cada dia "(Mt 6, 11).

O homem é incapaz de se dar a vida por si mesmo, ele se compreende somente a partir de Deus: é a relação com Ele que dá consistência à nossa humanidade e torna boa e justa a nossa vida. No Pai nosso, pedimos que seja santificado o Seu nome, que venha o Seu reino, que se cumpra a Sua vontade. É antes de tudo o primado de Deus que devemos recuperar no nosso mundo e na nossa vida, porque é esse primado que nos permite reencontrarmos a verdade daquilo que somos, e é no conhecer e seguir a vontade de Deus que encontramos o nosso verdadeiro bem. Dar tempo e espaço a Deus, para que seja o centro vital da nossa existência.

De onde partir, como da fonte, para recuperar e reafirmar o primado de Deus? Da Eucaristia: aqui Deus se faz tão próximo a ponto de se fazer nosso alimento, aqui Ele se torna força no caminho muitas vezes difícil, aqui se faz presença amiga que transforma. Já a Lei dada por meio de Moisés era considerada como "pão do céu", graças ao qual Israel torna-se o povo de Deus, mas, em Jesus, a palavra última e definitiva de Deus se faz carne, nos vem ao encontro como Pessoa. Ele, Palavra eterna, é o verdadeiro maná, é o pão da vida (cf. Jo 6,32-35) e cumprir as obras de Deus é crer n'Ele (cf. Jo 6,28-29). Na Última Ceia, Jesus resume toda a sua existência em um gesto que se inscreve na grande bênção pascal a Deus, gesto que Ele vive enquanto Filho como ação de graças ao Pai pelo seu imenso amor. Jesus parte o pão e o partilha, mas com uma profundidade nova, porque Ele doa a si mesmo. Toma o cálice e o compartilha para que todos o possam beber, mas com esse gesto Ele dá a "nova aliança no seu sangue", dá a si mesmo. Jesus antecipa o ato de amor supremo, em obediência à vontade do Pai: o sacrifício da Cruz. A vida lhe será tolhida sobre a Cruz, mas já agora Ele lha oferece por si mesmo. Assim, a morte de Cristo não é reduzida a uma execução violenta, mas é transformada por Ele em um livre ato de amor, de autodoação, que atravessa vitoriosamente a própria morte e reafirma a bondade da criação nascida das mãos de Deus, humilhada pelo pecado e finalmente redimida. Esse imenso dom está a nós acessível no Sacramento da Eucaristia: Deus se dá a nós, para abrir a nossa existência a Ele, para envolvê-la no mistério de amor da Cruz, para torná-la participante do mistério eterno do qual provimos e para antecipar a nova condição da vida plena em Deus, na expectativa da qual vivemos.

Mas o que comporta para a nossa vida cotidiana esse partir da Eucaristia para reafirmar o primado de Deus? A comunhão eucarística, queridos amigos, arranca-nos do nosso individualismo, comunica-nos o espírito do Cristo morto e ressuscitado, conforma-nos a Ele; une-nos intimamente aos irmãos naquele mistério de comunhão que é a Igreja, onde o único Pão faz de muitos um só corpo (cf. 1 Cor 10,17), realizando a oração da comunidade cristã das origens reportada no livro da Didaché: "Como esse pão partido era espalhado sobre as colinas e recolhido tornava-se uma coisa só, assim a tua Igreja dos confins da Terra é reunida no teu Reino" (IX, 4). A Eucaristia sustenta e transforma toda a vida cotidiana. Como recordei na minha primeira Encíclica, na comunhão eucarística, está contido o ser amado e o amar, por sua vez, os outros. Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido é, em si mesma, fragmentária" (Deus caritas est, 14).

A bimilenária história da Igreja é constelada de santos e santas, cuja existência é sinal eloquente de como exatamente da comunhão com o Senhor, da Eucaristia nasce um novo e intenso assumir de responsabilidade em todos os níveis da vida comunitária, nasce portanto um desenvolvimento social positivo, que tem ao centro a pessoa, especialmente aquela pobre, doente ou marginalizada. Nutrir-se de Cristo é o caminho para não permanecer estranhos ou indiferentes às sortes dos irmãos, mas entrar na mesma lógica do amor e de dom do sacrifício da Cruz; que sabe ajoelhar-se diante da Eucaristia, quem recebe o corpo do Senhor não pode não ser atento, na trama ordinária dos dias, às situações indignas do homem, e sabe chorar em primeira pessoa pelo necessitado, sabe partilhar o próprio pão com o faminto, partilhar a água com o sedento, revestir quem está nu, visitar o doente e o encarcerado (cf. Mt 25,34-36). Em cada pessoa saberá ver aquele mesmo Senhor, que não hesitou em dar completamente a si mesmo por nós e para a nossa salvação. Uma espiritualidade eucarística, portanto, é o verdadeiro antídoto ao individualismo e ao egoísmo que frequentemente caracterizam a vida cotidiana, leva à redescoberta da gratuidade, da centralidade das relações, a partir da família, com particular atenção a curar as feridas dos desgregados. Uma espiritualidade eucarística é alma de uma comunidade eclesial que supera divisões e contraposições e valoriza a diversidade de carismas e ministérios, colocando-os a serviço da unidade da Igreja, da sua vitalidade e da sua missão. Uma espiritualidade eucarística é caminho para restituir dignidade aos dias do homem e, portanto, ao seu trabalho, na busca da sua conciliação com os tempos de descanso e da família e no compromisso em superar a incerteza da insegurança e o problema do desemprego. Uma espiritualidade eucarística nos ajudará também a abordar as diferentes formas de fragilidade humana, conscientes de que não ofuscam o valor da pessoa, mas requerem proximidade, acolhida e auxílio. Do Pão da vida buscará vigor uma renovada capacidade educativa, atenta a testemunhar os valores fundamentais da existência, do saber, do patrimônio espiritual e cultural; a sua vitalidade nos fará habitar na cidade dos homens com a disponibilidade de gastar-nos no horizonte do bem comum para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Queridos amigos, repartamos desta terra marchigiana com a força da Eucaristia em uma constante osmose entre o mistério que celebramos e os âmbitos do nosso cotidiano. Não há nada de autenticamente humano que não encontre na Eucaristia a forma adequada para ser vivido em plenitude: a vida cotidiana torna-se, portanto, lugar do culto espiritual, para viver em todas as circunstâncias o primado de Deus, no interior da relação com Cristo e como oferta ao Pai (cf. Exort. ap. postsin. Sacramentum caritatis, 71). Sim, "não só de pão vive o homem, mas de cada palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4): nós vivemos da obediência a essa palavra, que é pão vivo, até entregarmo-nos, como Pedro, com a inteligência do amor: "Senhor, a quem iremos? E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!" (Jo 6,68-69).

Como a Virgem Maria, tornemo-nos também nós "ventre" disponível para oferecer Jesus ao homem do nosso tempo, revelando o desejo profundo daquela salvação que vem somente d'Ele. Bom caminho, com Cristo Pão da vida, a toda a Igreja que está na Itália!

Fonte: Canção Nova