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sábado, 28 de junho de 2014

São Bernardo recomenda os cavaleiros templários ao Patriarca de Jerusalém

O Patriarca de Jerusalém havia escrito várias cartas a São Bernardo cheias de manifestações de amizade. O santo lhe responde em 1135 e recomenda-lhe os cavaleiros do Templo:
Crak dos Cavaleiros, fortaleza cruzada na Síria
Crak dos Cavaleiros, fortaleza cruzada na Síria


Após ter recebido tantas cartas de Vossa Grandeza patriarcal, eu passaria como um ingrato se não vos respondesse. Mas devolvendo-vos os cumprimentos que me tendes enviado, terei eu feito tudo o que devo?

Vós me tendes alertado por meio de vossas amáveis iniciativas, tendes vos dignado a tomar a iniciativa de me escrever para além dos mares, dando-me assim a prova tanto de vossa humildade quanto de vossa amizade.

Como poderia eu responder-vos à mesma altura?

Eu não sei absolutamente o que fazer para vos retribuir convenientemente, sobretudo agora, quando concedeis uma parte do maior tesouro do mundo enviando-me um fragmento da verdadeira Cruz de Nosso Senhor.

São Bernardo de Claraval. Segundo Philippe de Champaigne. Igeja de Saint-Etienne du Mont, Paris.
São Bernardo de Claraval. Segundo Philippe de Champaigne.
Igeja de Saint-Etienne du Mont, Paris.
Mais, o que dizer! Deveria dispensar-me de responder do melhor modo possível a essas iniciativas se não pudesse fazê-lo como devo?

Eu vos manifestaria pelo menos os sentimentos e as disposições de meu coração respondendo vossas cartas. É a única coisa que posso fazer, separado de vós como estou por tal espaço de terra e mares. Feliz se eu encontro uma ocasião para vos provar que não é só nas palavras e no papel que eu vos amo, mas efetivamente e na prática.

Rogo-vos que vos mostreis propício aos cavaleiros do Templo, e de abrir em favor destes intrépidos defensores da Igreja as entranhas de vossa imensa caridade.

Protegendo esses guerreiros corajosos que expõem sua vida pela salvação de seus irmãos Vós praticareis uma obra tão agradável a Deus como digna dos homens.

Quanto ao encontro que me solicitais, o irmão André vos fará conhecer minhas intenções.

Retirado de As Cruzadas.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Natividade de São João Batista

São Lucas

Dia
24 de Junho

A Bíblia nos diz que Isabel era prima e muito amiga de Maria, e elas tinham o costume de visitarem-se. Uma dessas ocasiões foi quando já estava grávida: "Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo" (Lc 1,41). Ainda no ventre da mãe, João faz uma reverência e reconhece a presença do Cristo Jesus. Na despedida, as primas combinam que o nascimento de João seria sinalizado com uma fogueira, para que Maria pudesse ir ajudar a prima depois do parto.

Assim os evangelistas apresentam com todo rigor a figura de João como precursor do Messias, cujo dia do nascimento é também chamado de "Aurora da Salvação". É o único santo, além de Nossa Senhora, em que se festeja o nascimento, porque a Igreja vê nele a preanunciação do Natal de Cristo.

Ele era um filho muito desejado por seus pais, Isabel e Zacarias, ela estéril e ele mudo, ambos de estirpe sacerdotal e já com idade bem avançada. Isabel haveria de dar à luz um menino, o qual deveria receber o nome de João, que significa "Deus é propício". Assim foi avisado Zacarias pelo anjo Gabriel.

Conforme a indicação de Lucas, Isabel estava no sexto mês de gestação de João, que foi fixado pela Igreja três meses após a Anunciação de Maria e seis meses antes do Natal de Jesus. O sobrinho da Virgem Maria foi o último profeta e o primeiro apóstolo. "É mais que profeta, disse ainda Jesus. É dele que está escrito: eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti". Ou seja, o primo João inicia sua missão alguns anos antes de Jesus iniciar a sua própria missão terrestre.

Lucas também fala a respeito da infância de João: o menino foi crescendo e fortificando-se em espírito e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.

Com palavras firmes, pregava a conversão e a necessidade do batismo de penitência. Anunciava a vinda do messias prometido e esperado, enquanto de si mesmo deu este testemunho: "Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitarei o caminho do Senhor..." Aos que o confundiam com Jesus, afirmava com humildade: "Eu não sou o Cristo". e "Não sou digno de desatar a correia de sua sandália". Sua originalidade era o convite a receber a ablução com água no rio Jordão, prática chamada batismo. Por isso o seu apelido de Batista.

João Batista teve a grande missão de batizar o próprio Cristo. Ele apresentou oficialmente Cristo ao povo como Messias com estas palavras: "Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo... Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo".

Jesus, falando de João Batista, tece-lhe o maior elogio registrado na Bíblia: "Jamais surgiu entre os nascidos de mulher alguém maior do que João Batista. Contudo o menor no Reino de Deus é maior do que ele".

Ele morreu degolado no governo do rei Herodes Antipas, por defender a moralidade e os bons costumes. O seu martírio é celebrado em 29 de agosto, com outra veneração litúrgica.

São João Batista é um dos santos mais populares em todo o mundo cristão. A sua festa é muito alegre e até folclórica. Com muita música e danças, o ponto central é a fogueira, lembrando aquela primeira feita por seus pais para comunicar o seu nascimento: anel de ligação entre a antiga e a nova aliança.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

São José Cafasso: Exemplo para os que devem ser exemplo

 Irmã Maria Teresa Ribeiro Matos, EP - 2014/06/23
Não foi pároco, mas sim formador de párocos. Não fundou institutos religiosos, porque a sua "fundação" foi a escola de vida e de santidade sacerdotal, ilustrada com seu exemplo e ensinamento.
Irmã Maria Teresa Ribeiro Matos, EP
Dom Bosco tentava descrever aos meninos do Oratório um de seus sonhos, no qual lhe aparecera São Domingos Sao José Cafasso.jpgSávio,1 mostrando-lhe o Paraíso:
- Que belo estava ele! Parecia um... um... Anjo!
O Santo Fundador havia interrogado seu discípulo, já na glória, acerca de sua obra.
- Quanto ao passado - respondeu ele -, muito já foi feito por tua Congregação. Olha aquele número incontável de jovens.
- Sim, parecem bem contentes! - comentou Dom Bosco.
- Todos eles foram salesianos. Portanto, foram salvos por ti ou por teus sacerdotes e clérigos, ou ainda por outros que encaminhaste nas vias de sua vocação.
Grande glória é ter contribuído para a salvação de tantas almas! Entretanto, poderia também contemplar com gáudio a legião dos bem-aventurados da família salesiana um varão, a respeito do qual afirmou São João Bosco: "se fiz algo de bom, o devo a este digno eclesiástico, em cujas mãos depositei todas as deliberações, estudos e ações da minha vida".2
Quem será este? Deixemos que Dom Bosco mesmo no-lo apresente.
Uma amizade que se estreitaria ao longo dos anos
Agitado como um formigueiro encontrava-se o pequeno vilarejo de Murialdo, pertencente a Castelnuovo, no Piemonte: era a festa da Maternidade de Maria, do ano 1827. Enquanto alguns terminavam  a arrumação da igreja e os preparativos para a Santa Missa, outros participavam, na praça, dos entretidos e inocentes jogos comemorativos.
Um rapaz de 16 anos, contudo, permanecia afastado daquela movimentação e atraiu a atenção de um menino do povo, de apenas 12 anos. Pela batina percebia-se ser um seminarista, "pequeno na estatura, olhos cintilantes, ar afável, rosto angelical". 3 Cheio de vivacidade e fascinado por tal figura, o jovenzinho resolveu aproximar-se para fazer-lhe um convite:
- Senhor cura, deseja presenciar algum dos espetáculos de nossa festa? De boa vontade eu o conduzirei aonde o senhor quiser.
Cheio de bondade, o rapaz interessou-se pelos estudos e pela catequese de seu pequeno interlocutor. E como este renovou o convite, respondeu-lhe:
- Meu caro amigo, para os clérigos, os únicos espetáculos que existem são as celebrações na igreja, as quais devem ser sempre atraentes e frequentadas com assiduidade. Estou só esperando que abram as portas da igreja para entrar.
- É verdade - redarguiu o menino, empolgado -, mas há tempo para tudo: para ir à igreja e para divertir-se.
Rindo-se da réplica vivaz, o jovem seminarista treplicou com palavras próprias a consolidar naquela alma infantil a admiração inicial:
- Quem abraça o estado eclesiástico se entrega ao Senhor, e nada do mundo deve interessar-lhe tanto quanto aquilo que possa resultar em maior glória d'Ele e proveito das almas.
Maravilhado, João Bosco - assim se chamava o menino - quis saber o nome daquele homem de Deus, cujas palavras e compostura manifestavam de modo tão claro seu espírito sobrenatural. Soube, então, que seu nome era José Cafasso, seminarista de quem "muito já tinha ouvido falar, como de um espelho de virtude".4
São João Bosco.jpg
Em Castelnuovo iniciou-se uma amizade
que, no decorrer dos anos,só se 
estreitaria
Estava iniciada uma amizade que, no decorrer dos anos, só se estreitaria. Mais tarde, pouco antes de ser ordenado sacerdote e sentindo-se pouco preparado para este passo decisivo, Dom Bosco encontrou no amigo a segurança para não duvidar de seu chamado, como ele mesmo confessa: "não havendo, porém, quem cuidasse diretamente da minha vocação, aconselhei-me com o padre Cafasso, que me recomendou seguir adiante e confiar na sua palavra".5
No entanto, o grande Fundador dos Salesianos não foi o único a se beneficiar dos inspirados conselhos de São José Cafasso. Este, compreendendo bem quanto um clero santo pode fazer nascer uma sociedade santa, dedicou toda a sua vida a formar os que têm a vocação de servir de exemplo: os sacerdotes.
O Colégio Eclesiástico São Francisco de Assis
Nascido em Castelnuovo, em 1811, no seio de uma família católica, aos 14 anos José Cafasso começou o estudo das disciplinas eclesiásticas; e em 1833, tendo tão só 22 anos, obteve dispensa para ser ordenado sacerdote antes da idade canônica. A alegria desse dia a conservou perpetuamente. "Vivo feliz - repetia durante sua vida apostólica - de ser sacerdote; este é o caminho mais seguro para elevar-se muito alto, ao Paraíso, e conduzir para lá muitos outros".6
A sinceridade e radicalidade de sua entrega ao ministério manifestaram-se depois da cerimônia de ordenação, ao prostrar-se aos pés de um Crucifixo dizendo: "Senhor, Vós sois minha herança, minha delícia, a vida de meu coração para sempre. Mas, ó Senhor, não só desejo ser todo vosso, como também fazer-me santo já. Busque o mundo, se quiser, a vaidade, os prazeres e as grandezas terrenas; eu não procuro nem almejo outra coisa senão santificar-me, e seria o mais feliz dos homens se me tornasse logo um grande santo".7
Visando adestrar-se, para dignamente exercer tão alto ministério, passou a frequentar o Colégio Eclesiástico São Francisco de Assis, onde, sob orientação do padre Luís Guala, sacerdotes jovens aprofundavam sua formação antes de assumirem uma responsabilidade pastoral. O aluno logo se tornou mestre e, em pouco tempo, diretor. Lá permaneceu até sua morte, transformando o estabelecimento num foco de renovação espiritual.
Com efeito, afirmou o Papa Bento XVI em uma catequese dedicada ao nosso Santo, aquele não foi apenas um colégio onde os jovens sacerdotes "aprendiam a confessar e a pregar, mas era também uma verdadeira escola de vida sacerdotal, onde os presbíteros se formavam na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola e na teologia moral e pastoral do grande Bispo Santo Afonso Maria de Ligório. [...] Uma feliz expressão de São João Bosco resume o sentido do trabalho educativo realizado naquela comunidade: ‘No colégio aprendia-se a ser sacerdote'".8
Pastores de profundo zelo e rica vida interior
São José Cafasso empenhou-se em formar virtuosos e experimentados presbíteros que soubessem dirigir as almas no confessionário e, especialmente, edificá-las pelo exemplo de sua conduta. "Desgraçado o dia no qual o povo possa dizer: o sacerdote é como eu; nosso pároco, meu confessor é como eu... Pregai, gritai, clamai se quiserdes, todavia mais vale o exemplo do que toda a lógica do mundo".9
"O tipo de sacerdote que Cafasso encontrou no colégio" - acrescenta Bento XVI - "e que ele mesmo contribuiu para fortalecer, sobretudo como Reitor, era o do verdadeiro pastor, com uma rica vida interior e um profundo zelo no cuidado pastoral: fiel à oração, comprometido na pregação, na catequese, dedicado à celebração da Eucaristia e ao ministério da Confissão, segundo o modelo encarnado por São Carlos Borromeu e por São Francisco de Sales".10
Insistia o padre Cafasso que a alma de um sacerdote não pode permanecer indiferente ante o Sacrifício Eucarístico. E aconselhava os sacerdotes a não só celebrarem diariamente sua própria Missa, mas assistirem a uma segunda quando possível.
Inculcava-lhes também a necessidade do exame de consciência e da frequência ao Sacramento da Penitência, dos quais se nutre a vida espiritual. Para melhor estimulá-los à Confissão semanal, fazia-os notar a lição de humildade que assim davam aos fiéis, por verem ajoelhar-se como réu quem há pouco era juiz.
"Não aumentemos seu desgosto duvidando do perdão"
Naquele tempo em que o jansenismo procurava afastar as almas do Paraíso, fazendo-as ver em Deus um tirano e não um Pai, a melhor arma para combater o erro era incutir a confiança na misericórdia e na bondade divina.
Ninguém estava mais convicto destes atributos do Salvador do que São José Cafasso; de maneira suave e segura, sabia infundir em todos esta certeza: "Se ofendemos ao Senhor, não aumentemos desgosto sobre desgosto, duvidando do perdão; se injuriamos sua santidade e justiça, honremos ao menos sua misericórdia; e enquanto o mundo inteiro canta sua bondade, nosso coração seria o único que hesita em tributar-Lhe este louvor?".11
Castelnuovo.jpg
Vista atual da cidade de Castelnuovo
Para incentivar os padres a serem muito cuidadosos na prática destas virtudes, costumava contar-lhes o fato a seguir. Na véspera de sua execução, um condenado à morte negava-se a receber os auxílios da Igreja. Inquirido sobre as razões desta recusa, o infeliz explicou que, quando era jovem, ouvira um sermão no qual o pregador - comentando o Evangelho sobre a pergunta feita a Cristo se são poucos os homens que se salvam (cf. Lc 13, 23-24) - afirmara que, entre os numerosos fiéis ali presentes, provavelmente apenas dois ou três alcançariam o Céu. Vendo ao seu redor pessoas tão melhores que ele, o pobre homem sentiu-se excluído deste reduzido grupo de predestinados, e por isso se entregara às suas paixões, terminando na cadeia à espera do patíbulo, crendo-se condenado não só pelos homens, como também por Deus.
E se algum aluno objetava que, segundo as palavras de Jesus, a porta do Céu é por demais estreita e o seu caminho muito apertado (cf. Mt 7, 14), o professor lhe respondia com seu característico bom humor: "desde que possamos passar, parece-me suficiente, não há necessidade de caberem dois ao mesmo tempo".12
Virtude que se refletia no seu exterior
A fama de santidade de São José Cafasso cresceu desde a juventude e nunca foi maculada. De temperamento vivaz, soube adquirir inteiro domínio de si, a ponto de manter-se em paz em meio às contradições e tribulações da vida. A tranquilidade era o seu segredo. Não obstante, ria com gosto entre seus alunos e sabia fazer gracejos e ditos inesperados, pois a virtude em nada prejudicara seu espírito alegre, mas o sublimara.
"Se um sacerdote não é casto, de nada vale, nem para si nem para os demais".13 Exprimia assim sua convicção profunda e seu amor à virtude angélica. Nas aulas de Moral, tratava com o maior recato os pecados contra a bela virtude, deixando entrever sua repugnância até em mencioná-los.
Só uma intensa vida de oração e a devoção a Maria Santíssima podiam sustentar vida tão santa. Tinha especial fervor na recitação do Breviário, formulando uma intenção particular em cada hora litúrgica: "em Matinas, as necessidades atuais da Igreja; em Laudes, a conversão de algum pecador; em Prima, o sufrágio de alguma alma do Purgatório; em Tercia, uma grande pureza de intenção; em Sexta, uma profunda humildade; em Noa, a virtude da pureza; nas Vésperas, uma santa morte; e em Completas, a própria libertação das penas do Purgatório".14
"Durante mais de 30 anos de convívio com ele" - escreveu São João Bosco - "não me lembro de tê-lo visto passar um só instante que se pudesse chamar de ocioso. Terminado um trabalho, começava imediatamente outro. Seu único repouso consistia em trocar de ocupação quando se sentia oprimido pela fatiga. Quando, por exemplo, estava cansado de pregar, ia rezar; quando se cansava de escrever, ia visitar os enfermos, confessar nos cárceres ou em qualquer outro lugar".15 Estes eram os incontáveis "repousos" do padre Cafasso...
Tudo isto se refletia em seu exterior. Seu olhar cintilante - pelo qual tanto se sentira atraído o pequeno João Bosco - era eficaz para corrigir e animar aqueles em quem pousava. Apesar de, por uma deformidade na coluna, ter o ombro direito mais elevado que o esquerdo, seu porte era majestoso e imponente, produzindo até uma forte impressão sobrenatural.
Zelo pastoral pelos encarcerados e condenados à morte
São José Cafasso se dedicava ao ministério da Confissão muitas horas ao dia. "Procuravam-no Bispos, sacerdotes, religiosos, leigos eminentes e pessoas simples: a todos ele sabia oferecer o tempo necessário".16
Nenhuma das prisões de Turim deixou de se beneficiar da caridade de Dom Cafasso. Nem a repugnância que experimentava ao entrar nestes estabelecimentos, nem as maldições, blasfêmias e insultos com os quais era por vezes recebido, o afastavam deste meritório apostolado. Quando, em certa ocasião, avançou contra ele um feroz homicida que se encontrava preso, o santo sacerdote o deteve erguendo o Crucifixo e dizendo: "Eu nada valho, mas este merece tudo".17
São José_Cafasso..jpg
"Se um sacerdote não é casto, de nada vale,
nem para si nem para os demais"
São José Cafasso
Aos arrependidos, condenados à morte, sabia infundir a confiança na salvação eterna. Quando um destes lhe perguntou se, com tantos crimes, ainda era possível salvar sua alma, ele respondeu: "Não só possível, mas absolutamente certo. [...] Mesmo se estivesses na antecâmara do inferno e tivesses fora só um fio de cabelo, este me bastaria para livrar-te das garras do demônio e levar-te ao Paraíso".18
Ele acompanhou até o patíbulo 70 condenados à pena capital, depois de os ter confessado e de lhes ter administrado a Eucaristia, pois "nem um só deles morreu impenitente". 19 Pio XII o proclamou, por este motivo, padroeiro dos cárceres italianos.
Quem se humilhar será exaltado
Contava somente 49 anos este varão chamado a servir de exemplo para aqueles que devem servir de exemplo, quando se viu próximo da hora derradeira, sobre a qual, ao fazer o Exercício da Boa Morte, escrevera: "Estando para terminar minha missão sobre a Terra, entrego a Deus a grande vocação com que Ele quis honrar-me".20
Próximo já de render sua alma ao Criador exclamou: "Hei de morrer, mas consola-me o pensamento de que, com minha morte, haverá na Terra um ministro indigno a menos, e outro sacerdote, cheio de zelo e de fervor, virá compensar minha frieza e distração... Desejo e rogo ao Senhor que, quando tenha descido ao sepulcro, faça desaparecer da Terra minha memória; e aceito, como penitência por meus pecados, tudo quanto se diga no mundo contra mim, após o meu falecimento".21
O Divino Juiz não podia atender esta humilde oração... São José Cafasso foi elevado à honra dos altares e hoje permanece como modelo perene para todos os sacerdotes, em especial para os comprometidos na Confissão e na direção espiritual. "Ele não foi pároco como o cura d'Ars" - afirma dele Bento XVI, na já mencionada audiência -, "mas foi sobretudo formador de párocos e sacerdotes diocesanos, aliás de sacerdotes santos, entre os quais São João Bosco. Não fundou, como os outros santos sacerdotes do século XIX do Piemonte, institutos religiosos, porque a sua ‘fundação' foi a ‘escola de vida e de santidade sacerdotal' que realizou, com o exemplo e o ensinamento". (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2014, n. 150, p. 34 à 37)

Infância e Juventude de São Tomás de Aquino [1225-1245]


Roccasecca

Data de nascimento: Segundo Jean-Pierre Torrel calcula-se aproximadamente o nascimento de Tomás a partir da data de sua morte. Seu primeiro biógrafo nos informa que ele teria morrido na manhã de 7 de março de 1274, antes de completar 49 anos de idade. O mesmo autor acrescenta em seguida: "Terminando o 49° ano de sua vida, ele começou no 50º o jubileu da glória eterna". Situar-se-ia, pois seu nascimento em 1225. Bernardo Gui, que escreveu alguns anos depois, também assegura que Tomás falecera ao completar 49 anos, quando iniciava seu 50° ano. Em texto pouco anterior, Ptolomeu de Luca faz eco à incerteza: "Faleceu com a idade de 50 anos, mas alguns dizem 48”. Parece haver um acordo, hoje em dia, em torno de 1224/1225, mas outras fontes secundárias não permitem descartar 1226 ou 1227.
Lugar de nascimento: Quanto ao lugar de nascimento de Tomás, se outrora suscitou algumas dificuldades - diversas localidades disputando tal honra -, hoje os historiadores concordam em se referir ao castelo familiar de Roccasecca, na Itália meridional. Então situado no condado de Aquino e no reino das Duas Sicílias, encontra-se nos confins do Lácio e da Campânia, aproximadamente a meio caminho de Roma a Nápoles, a igual distância de Frosinone (ao Norte) e de Cassino (ao Sul), um pouco a leste da estrada do interior (antiga via Latina), que conduz de Roma a Nápoles. Essa situação geográfica está longe de ser insignificante; esteve até na origem de uma dificuldade política real: o domínio da família De Aquino se encontrava no limite dos Estados do papa e do imperador, que disputavam entre outras coisas o poder sobre a abadia de Monte Cassino, bem próxima dali. Tal situação local condenava a família de Tomás a oscilar entre o papa e o imperador, tendo se ressentido duramente do embate.
A Família de Tomás: De origem lombarda, a família aparece na história desde 887, e o castelo de Roccasecca lhe pertence desde o final do século X. Um primeiro ramo da família terá a posse do condado de Aquino até 1137; é dela que Tomás recebe seu patronímico, e não da cidade de Aquino, que não foi seu lugar de nascimento. Um segundo ramo mais tarde se fez herdeiro do condado de Acerra, cujo titular, em 1221, era Tomás I de Aquino, com poderes de vice-rei sobre a parte sul da península itálica. Landolfo, pai de Tomás, não pertencia ao ramo mais poderoso da família, e trazia simplesmente o título de miles. Partidário do imperador Frederico II a partir de 1210, foi Nomeado por ele "justiceiro" da "Terra de Trabalho", sua região, em 1220; com esse título, punha-se sob o jugo do conde de Acerra.
O Pai de Tomás: Não obstante os trabalhos dos especialistas, estamos longe de um perfeito esclarecimento no tocante ao pai de Tomás e à sua família. Para uns, Landolfo teria nascido por volta de 1160/1170, e teria se casado duas vezes; para outros, o mesmo nome recobriria duas personagens diferentes. As indicações das fontes não são unívocas e prestam-se a diversas interpretações, em especial quando se trata de determinar o número de irmãos de nosso santo. Weisheipl, retomando hipótese de Mandonnet, dá por certo que Landolfo se casou duas vezes e teve, com sua primeira mulher - da qual, de resto, nada se sabe -, três filhos: Tiago, Filipe e Adenolfo. Walz Novarina atribuem essa mesma opinião a Scandone, que porém nada disse a respeito e considera esses três nomes os dos irmãos uterinos de Tomás. Já Pelster sugere ver nesses três nomes os dos filhos de Tomás I, conde de Acerra; seriam pois primos mais ou menos distantes de Tomás. Sem condições de decidir definitivamente a respeito, esta última opinião nos parece verossímil.
Mãe de Tomás: É certo, entretanto, que Landolfo esposou em data indeterminada Senhora Teodora, que pertencia ao ramo Rossi da família napolitana dos Caracciolo, 12 e teve com ela pelo menos nove; crianças: quatro meninos e cinco meninas. Aimon, o filho mais velho, assim nomeado sem dúvida em homenagem a seu avô, participou de uma expedição à Terra Santa a mando de Frederico II, mas foi feito prisioneiro por um vassalo do rei de Chipre, Hugo I. Resgatado por intervenção de Gregório IX em 1233, permaneceu fiel ao partido do papa por toda a vida. Renaud, o segundo, inicialmente partidário de Frederico II, passou para o lado do papa quando Inocêndo IV, em 1245, depôs o imperador. Mas este último mandou executá-lo em 1246 por ter conspirado contra ele. A família então o considerava um mártir pela causa da Igreja. Ao que parece, Tomás também pensava assim, pois foi ele que teve em sonho uma visão de sua irmã Marotta, então recentemente falecida, que lhe teria informado do destino póstumo de dois de seus irmãos: Renaud se encontrava no paraíso, enquanto Landolfo estaria no purgatório, o que aliás é tudo que sabemos dele.
Irmãs de Tomás: Em contrapartida, são bem conhecidas as cinco irmãs de Tomás. Marotta, a mais velha, tomou-se superiora do convento Santa Maria de Cápua, e morreu por volta de 1259. A segunda, Teodora, tomou-se esposa de Rogério, conde de São Severino; em sua casa é que Tomás irá repousar algum tempo por ocasião de sua última doença; seu filho, Tomás, que mais tarde trabalhou pela canonização do tio, morreu vestindo o hábito dominicano. A terceira filha, Maria, desposou o mais velho dos São Severino, Guilherme; de sua filha, Catarina de Morra, Tocco obteve muitos detalhes a respeito da família de Tomás, sendo que Catarina, por sua vez, recebeu-os de sua avó, Teodora. A quarta, Adelásia, desposou Rogério de Áquila, do qual Tomás será o executor testamentário, em 1272. Ignora-se o nome da quinta irmã; morreu cedo, atingida pela cólera, enquanto o pequeno Tomás, que dormia ao lado de sua ama, foi poupado.
Oblato em Cassino: Como caçula, Tomás, segundo o costume da época, foi destinado à Igreja. A proximidade de Monte Cassino não permitia alternativa; Landolfo ofereceu seu filho como oblato no mosteiro vizinho, com a provável segunda intenção de que um dia se tomasse abade. A abadia se encontrava então em período de decadência, e constituía-se em presa disputada pelo papa e pelo imperador. No entanto, o tratado de São Germano, assinado entre eles em 23 de julho de 1230, inaugurava um período de relativa paz, e é então, entre essa data e 3 de maio de 1231, que se pode situar o ingresso de Tomás no mosteiro, sob a direção do abade Landolfo Sinibaldi. Essa última data é a de um documento pelo qual Landolfo, pai de Tomás, faz à abadia a generosa doação de 20 onças de ouro "para a remissão de seus pecados". Não é certo, mas é pelo menos verossímil, que essa doação constituísse a esmola a acompanhar a oblatura dos filhos de nobres, a que se refere São Bento em sua Regra (cap. 59). Tomás devia ter então entre 5 e 6 anos e, como o próprio Bento, foi acompanhado ao mosteiro por sua ama. Recebeu evidentemente, rudimentos de letras e uma iniciação à vida religiosa beneditina, cujos traços podem ser encontrados em suas obras. A partir de 1236, porém, a calma de que gozava o mosteiro foi novamente perturbada, e Landolfo, aconselhado pelo novo abade, Etienne de Corbario, teve de pôr seu filho a salvo de agitações facilmente previsíveis. Após refletir, os pais enviaram o adolescente a Nápoles, para ali desenvolver estudos mais aprofundados.
Estudos em Nápoles: Tomás deixou o mosteiro provavelmente na primavera de 1239. Tinha então 14 ou 15 anos, e poderia ter prestado juramento na ordo monasticus, mas nenhum documento menciona tal ato. O que não significa que Tomás não tenha sido monge. Segundo a explicação nuançada de Leccisotti, e por maior que seja a imprecisão jurídica da época, a oblatura tinha valor de um verdadeiro voto, mas condicional e temporário, comparável a nosso voto simples de hoje. Pelo fato de ser também não-pessoal, exigia ratificação do próprio sujeito, em idade adequada, pois ele permanecia livre para efetivar o compromisso assumido por seus pais ou assumir outro.
Tal singularidade explica tanto que o necrológio de Cassino possa mencionar Tomás nestes termos: "primo Casinensis monachus factus", como que esse vínculo tenha sido interrompido sem outra forma de processo no dia em que Tomás ingressou na ordem dos pregadores. O fato de o abade ter "aconselhado" a Landolfo enviar seu filho a Nápoles para ali realizar seus estudos mostra aliás, claramente, que ele não podia ter enviado por conta própria, o que por certo poderia fazer se Tomás já tivesse feito os votos. Mas é muito provável que, em sua chegada a Nápoles, Tomás tenha habitado pelo menos durante algum tempo o mosteiro de São Demétrio, quartel-general dos cassinianos naquela cidade. Ainda mais porque seus pais, provavelmente, ainda não haviam renunciado a seus projetos para ele.
Tomás pôde então se inscrever no jovem studium generale de Nápoles, no outono de 1239. Fundado em 1224 por Frederico II com o intuito de formar homens para o serviço imperial, destinava-se também a se contrapor à Universidade de Bolonha, e os súditos do imperador não eram autorizados a estudar em outro lugar. Ao chegar, Tomás devia começar pelo estudo das artes e da filosofia, passagem obrigatória antes de abordar a teologia.
O meio intelectual: Desde 1225, o conhecimento de Averróis é atestado por um mestre de artes anônimo, e, pouco depois, por Guilherme de Auxerre ou por Roberto Grosseteste, que o à ta diversas vezes em sua obra científica. Pôde, portanto, Tomás familiarizar-se desde cedo com a filosofia natural de Aristóteles e sua meta física numa época em que seu estudo ainda era oficialmente proibido em Paris. Oficialmente apenas, pois a repetição das proibições mostra que não eram respeitadas; assim como o de Averróis, o estudo de, Aristóteles ali já florescia desde 1230. Tocco nos transmitiu o nome de dois prováveis mestres de Tomás: Mestre Martino, que lhe teria ensinado a Gramática e a Lógica, e Mestre Pedro da Irlanda, responsável pelo ensino dasnaturalia. Por muito tempo, só se soube os nomes deles, mas identificaram-se posteriormente certos escritos do segundo, e ele surge um pouco mais tarde na história: por volta de 1250, num grupo de letrados, judeus e cristãos, que se dedicam ao estudo de Maimônides; entre 1258 e 1266, quando decide uma questão disputada em presença do rei Manfredo. Afirmou-se com freqüenta que os escritos de Pedro da Irlanda dão mostras de uma grande admiração por Averróis, e que Tomás teria adquirido desse mestre seu gosto pelo comentário literal de Aristóteles. Na verdade, bem reduzida é a pane do comentário literal Pedro, enquanto a primeira afirmação é totalmente infundada. Desde as primeiras linhas de seu comentário sobre o Peri hermeneias, ele se mostra ciente do erro “averroísta”, e o denuncia claramente como sofística. Como essa interpretação de Averróis só se difunde a partir de 1252, há poucas chances de que se trate de fato do curso seguido pelo jovem Tomás entre 1240 e 1244. Mas, uma vez que são apontadas diversas coincidências, das quais algumas bastante notáveis, entre seu texto e o de Pedro, podemos perguntar se Tomás não teria tido em mãos algum relato do curso deste último – a menos que utilize suas próprias notas de um curso de Pedro anterior à de - núncia de Averróis. Devemos concluir, em todo caso, que nada se sabe de exato sobre esses anos de estudo em Nápoles.
A tomada de hábito dominicano: Foi também em Nápoles que Tomás travou conhecimento com os dominicanos. Um convento da ordem ali fora fundado em 1231, onde Jordão da Saxônia, sucessor de São Domingos, esteve a pregar em 1236 para os estudantes. Em 1239, restam apenas dois religiosos, autorizados a permanecer a serviço de sua Igreja pelo mesmo Frederico II que expulsara de seu reino os religiosos mendicantes. Um deles era João de São Juliano, que esteve na origem da vocação de Tomás, apoiou-o por meio de visitas durante sua detenção, e a quem Bartolomeu de Cápua presta pungente homenagem. O outro é o prior Tomás de Lentini, personagem de resto bastante conhecido, já que se tomou bispo de Belém, legado do papa e patriarca de Jerusalém, sendo porém para nós aquele que concedeu o hábito a Tomás. Este último dado, que se acredita ser atestado somente por Bernardo Gui, é na verdade a retomada da quarta redação de Tocco, e não mais permite sustentar a hipótese de Mandonnet, segundo a qual Tomás teria recebido o hábito das mãos do mestre da ordem, João, o Teutônico. O fato ocorreu provavelmente em abril de 1244, ou pouco antes, como a seqüência dos acontecimentos permite estabelecer.
O Ingresso de Tomás nos pregadores comprometia e definitivamente os planos de seus pais no que dizia respeito a seu futuro abadiado em Monte Cassino. Se ele chegou a pensar que os pais se renderiam facilmente diante do fato, não contava com sua obstinação, em especial com a de sua mãe. Os frades de Nápoles, instruídos por um desagradável precedente (seu convento fora saqueado em 1235, em seguida à tomada de hábito de um jovem nobre, que os seus queriam anular), não tiveram essa ingenuidade e se apressaram em fazê-lo deixar a cidade. Assim, quando Teodora foi a Nápoles na esperança de dissuadi-lo, chegou tarde demais, e pôs-se a persegui-lo até Roma. Também lá chegou tarde. Tomás partira novamente no séquito do Mestre geral, João, o Teutônico, que ia a Bolonha para o capítulo geral da ordem; previsto para a festa de Pentecostes, em 22 de maio de 1244. Teodora enviou um mensageiro a seus filhos que lutavam em companhia de Frederico II, na região de Acquapendente, aproximadamente a noroeste de Orvieto (ao norte de Roma, mas fora dos Estados pontifícios), para que interceptassem o irmão e o trouxessem de volta. Todas as fontes concordam quanto à indicação de Acquapendente, e sabe-se além disso que Frederico II se encontrava na região com seus homens. O fato se situa pois na primeira quinzena de maio, data de referência que permite fixar a tomada de hábito de Tomás algumas semanas antes, em abril.
O rapto de Tomás: Da pequena tropa que procedeu à captura de Tomás, duas pessoas são nomeadas: Renaud, seu próprio irmão, ainda fiel a Frederico II, e Pedro da Vigna, o todo-poderoso conselheiro do imperador. A presença de Pedro permite supor que Frederico II dera seu assentimento à operação, segundo informam as fontes. Acompanhados por uma pequena escolta, não tiveram dificuldade em se apossar do jovem religioso, do qual tentaram em vão arrancar o hábito. Tendo-o posto sobre um cavalo, conduziram-no a Montesangiovanni, um castelo da família ao norte de Roccasecca (ali poderia ter ocorrido o episódio, sobre o qual tanto se especulou da prostituta introduzida junto a ele para tentá-lo), mas aquela era apenas uma etapa, e rapidamente conduziram-no a Roccasecca. Tocco acrescenta que os dominicanos se queixaram junto a Inocêndo IV desse ato de força; o papa teria intervindo junto ao imperador, que teria feito punir os autores; temendo o escândalo, os dominicanos não ousaram processar na justiça a família De Aquino, sabendo, além do mais, que mesmo na prisão Tomás perseverava em seu propósito.
'Preso' em Roccasecca: Em Roccasecca, toda a família se empenhou em fazê-lo mudar de idéia; mas seria um erro imaginá-lo maltratado e relegado a uma cela. Tratava-se mais de uma designação de residência forçada que de um aprisionamento. Tomás podia ir e vir, receber visitas (reiteradamente as de João de São Juliano, em especial, que lhe trouxe um novo hábito para substituir o seu, rasgado), conversar com as irmãs (ele teria então convencido Marotta a se tomar religiosa), e Tocco relata que teria dedicado seu tempo a orar, ler toda a Bíblia (perlegit), e a estudar (didicit), desde essa época, o livro das Sentenças, propiciando a suas irmãs beneficiar-se de sua jovem ciência - signo evidente de sua futura mestria.
Atribui-se a ele, na mesma época -mas é algo menos certo (ut dicitur) -, a compilação de um resumo de lógica para iniciantes, o tractatus fallaciarum. Com efeito, foram conservados dois pequenos tratados, De fallaciis e De propositionibus modalibus, até o início do século XX considerados obras de juventude de Tomás. Hoje reconhece-se sua inautenticidade; sem querer pronunciar-se muito claramente, o Pe. H.-F. Dondaine, seu editor leonino, imprimira-os em caracteres pequenos, para significar a "posição incerta dos dois opúsculos na herança literária de Santo Tomás". Ao retomar a questão alguns anos depois, Pe. Gauthier mostra com abundância de detalhes que não deve restar dúvida alguma: como dependem de vários autores, em particular do tractactus VII de Pedro da Espanha, esses pequenos tratados são forçosamente de uma data posterior, e diversas razões militam contra sua autenticidade tomista. Dado que as Fallaciis foram incluídas nas coleções de opúsculos tomistas em Avignon por volta de 1310-1320, Gauthier sugere buscar seu autor junto aos mestres de artes do sul da França, por volta do final do século XIII.
Retorno à Nápoles: Segundo certas fontes, Tomás teria conseguido evadir-se ao cabo de algum tempo (com a cumplicidade de sua mãe), descendo pela muralha com ajuda de uma corda, como São Paulo. A verdade é sem dúvida mais prosaica. Vendo que sua resolução não podia ser vencida, sua família o reconduziu ao convento de Nápoles, após um lapso de tempo de pouco mais de um ano. Se, conforme podemos pensar, a deposição de Frederico II por Inocêncio IV (17 de julho de 1245) no Concílio de Lião foi vista como sinal de que a situação política estava prestes a mudar, a liberação de Tomás poderia ser um pouco posterior a esse fato.
A despeito dessas peripécias, o vínculo de Tomás com seu meio familiar permaneceu forte e profundo. Diversos detalhes de sua biografia permitem percebê-lo. Com a súbita transformação da situação política, e a família em dificuldades em conseqüência de sua defecção da causa imperial, Tomás soube encontrar fundos eclesiásticos para ajudar os seus, com a permissão de Clemente IV. Na seqüência, durante seus deslocamentos, hospedou-se regularmente nos castelos da família: em São Severino, onde residia sua irmã Teodora, condessa de Marsico, e em Maenza, onde habitava sua sobrinha Francesca, condessa de Ceccano. Somos informados de suas freqüentes idas à casa dessa sobrinha; deteve-se lá por ocasião de sua última doença, e dela se fez transportar para Fossanova, afirmando que, se o Senhor devia visitá-lo, seria melhor que o encontrasse em casa de religiosos do que em casa de seculares. Além disso, Tomás foi escolhido executor testamentário de Rogério de Áquila, conde de Traiecto, marido de sua irmã Adelásia, tendo-se desincumbido muito bem dessa tarefa. Não cremos que tenha ficado defasado em relação a tudo isso; Tomás foi um feudal bastante ligado a seu meio e a seu tempo, e sua linguagem lembra isso sem cessar e de maneira às vezes inesperada, como quando toma emprestado seu vocabulário e suas metáforas da cavalaria e do ofício das armas.
TORRELL, J.-P. OP Iniciação a Santo Tomás de Aquino. Sua pessoa e obra. São Paulo: Loyola, 1999, pp.1-14.
Retirado de Aquinate.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

“A vida de Santa Clara de Assis motiva os jovens a descobrir a verdadeira alegria”, diz Bento XVI

“A vida de Santa Clara de Assis motiva os jovens a descobrir a verdadeira alegria”, diz Bento XVI Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 04-04-2012, Gaudium Press) O Papa Bento XVI enviou, no último domingo, 1º de abril, uma carta ao bispo de Assis, na Itália, Dom Domenico Sorrentino, por ocasião do Jubileu que comemora os 800 anos da consagração de Santa Clara. O pontífice escolheu a data por uma antiga tradição clarissa que identifica o Domingo de Ramos como o dia da Consagração da santa. A vida de Santa Clara foi destacada pelo Santo Padre como uma mensagem que atrai "também a nossa geração e tem um encanto especial para os jovens". Para o Papa, a consagração de Clara completou "de uma forma feminina" a graça da conversão de São Francisco de Assis, ocorrida um seis anos antes. Assim havia predito o nascimento e o desenvolvimento de uma ordem feminina, inclusive antes da sua própria e cultivou a vocação da jovem. Nela, segundo o Santo Padre, se escondia "o germe de uma nova fraternidade, a Ordem Clarissa, que, convertida em árvore robusta, no silêncio fecundo dos claustros continua espalhando a boa semente do Evangelho e o serviço à causa do Reino de Deus". A orientação de São Francisco a levou a conhecer, sendo uma bonita jovem, "uma beleza superior, que não se mede pelo espelho da vaidade, mas que se desenvolve em uma vida de amor genuíno, nas pegadas de Cristo crucificado", explicou Bento XVI. "Deus é a verdadeira beleza" foi o centro de seu descobrimento, que mudaria o projeto de vida da santa. "O coração de Clara se iluminou com este esplendor, e isto lhe deu a coragem para cortar seu cabelo e começar uma vida de penitência", anotou o pontífice. Bento XVI destacou a profunda significação da data escolhida pela Santa para sua entrega a Deus. Sua fuga do mundo e das comodidades de seu lar tem lugar no Domingo de Ramos e a obriga a participar da morte e da ressurreição de Cristo. "Clara, com sua eleição, revive o mistério" comentou o Santo Padre em sua missiva. "No Domingo de Ramos recebe, por assim dizer, o programa. Em seguida, entra no drama da Paixão renunciando a seu cabelo e, com isto, renunciando a si mesma para ser a esposa de Cristo na humildade e na pobreza". Nas palavras do Papa, a consagração de Santa Clara é "uma conversão ao amor" de quem já não se veste com roupas fina, mas sim com uma alma adornada pelo louvor a Deus pela profunda união eucarística. "No contexto de profunda fé e de grande humanidade, Clara é uma intérprete segura do ideal franciscano, pedindo o privilégio da pobreza, ou seja, a renúncia da propriedade dos bens, inclusive de forma comunitária, que deixou perplexo mesmo o sumo pontífice, que finalmente se rendeu ao heroísmo de sua santidade", afirmou o Santo Padre. "Como não propor Clara, como Francisco, à atenção dos jovens de hoje", exortou o Santo Padre, assinalando também que a passagem dos séculos não diminuiu o atrativo da mensagem. "Ao contrário, pode ver sua atualidade ao confrontá-lo com as ilusões e desilusões que frequentemente marcam a condição dos jovens de hoje". Para o Papa, a juventude necessita descobrir esta vocação em um entorno permissivo, onde as ânsias de felicidade se encaminham erradamente a "paraísos artificiais, como as drogas e a sensualidade desenfreada". "A história de Clara, junto com a de Francisco é um convite para refletir sobre o significado da existência e buscar em Deus o segredo da verdadeira alegria. É uma evidência concreta de que qualquer um que faça a vontade do Senhor e confie nele não só não perde nada, como encontra o verdadeiro tesouro que é capaz de dar sentido a tudo", concluiu o pontífice. Fonte: Gaudium Press

Nossa Senhora das Dores

Nossa Senhora das Dores
É impossível não sentir profunda emoção ao contemplar alguma expressiva imagem da Mater Dolorosa e meditar estas palavras do Profeta Jeremias, que a piedade católica aplica à Mãe de Deus: "Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor semelhante à minha dor" (Lm 1, 12). A esta meditação nos convida a Liturgia do dia 15 deste mês, dedicado a Nossa Senhora das Dores. Antes de fazer parte da liturgia, as dores de Maria Santíssima foram objeto de particular devoção. NOSSA SENHORA DAS DORES1.JPG Os primeiros traços deste piedosa devoção encontram-se nos escritos de Santo Anselmo e de muitos monges beneditinos e cistercienses, tendo nascido da meditação da passagem do Evangelho que nos mostra a dulcíssima Mãe de Deus e São João aos pés da Cruz do divino Salvador. Foi a compaixão da Virgem Imaculada que alimentou a piedade dos fiéis. Somente no século XIV, talvez opondo-se às cinco alegrias de Nossa Senhora, foi que apareceram as cinco dores que variariam de episódios: 1. A profecia de Simeão 2. A perda de Jesus em Jerusalém 3. A prisão de Jesus 4. A paixão 5. A morte Logo este número passou para dez, mesmo quinze, mas o número sete foi o que prevaleceu. Assim, temos as sete horas, uma meditação das penas de Nossa Senhora, durante a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: Matinas - A prisão e os ultrajes Prima - Jesus diante de Pilatos Terça - A condenação Sexta - A crucifixão Noa - A morte Vésperas - A descida da cruz Completas - O sepultamento As chamadas Sete Espadas desenvolvem-se por circunstâncias escolhidas dentre as da vida da Santíssima Virgem: Primeira Espada: Outra não é que a da profecia de Simeão. Segunda Espada: O massacre dos inocentes, a mandado de Herodes. Terceira Espada: A perda de Jesus em Jerusalém, quando o Salvador então contava doze anos de idade, feito homem. Quarta Espada: A prisão de Jesus e os julgamentos iníquos, pelos quais passou. Quinta Espada: Jesus pregado na Cruz entre os dois ladrões e a morte. Sexta Espada: A descida da Cruz. Sétima Espada: A sepultura de Jesus NOSSA SENHORA DAS DORES3.JPG As sete tristezas de Nossa Senhora formam uma série um pouco diferente: 1. A profecia de Simeão 2. A fuga para o Egito 3. A perda de Jesus Menino, depois encontrado no Templo 4. A prisão e a condenação 5. A Crucifixão e a morte 6. A descida da Cruz 7. A tristeza de Maria, ficando na terra depois da Ascensão. Este total de sete, que os simbolistas cristãos tanto amam, impunha uma escolha entre os episódios da vida da Santíssima Virgem, por isso que se explicam certas diferenças. A série que acabou por dominar é a seguinte: 1. A profecia de Simeão Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem (era) justo e temente (a Deus), e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte, sem ver primeiro Cristo (o ungido) do Senhor. Foi ao templo (conduzido) pelo Espírito de Deus. E levando os pais, o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da lei a seu respeito, ele o tomou em seus braços, e louvou a Deus, dizendo: - Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; Porque os meus olhos viram tua salvação. A qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo. Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua Mãe: - Eis que este Menino esta posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada trespassará a tua alma, a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos. (Lc. 2, 25-35) 2. A fuga para o Egito Então Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; e, enviando-os a Belém, disse: - Ide e informai-vos bem acerca do menino, e, quando o encontrardes, comunicai-mo, a fim de que também eu o vá adorar. Eles, tendo ouvido as palavras do rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente. Ia adiante deles, até que, chegando sobre onde estava o menino, parou. Vendo (novamente) a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria. E, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sai mãe e, prostrando-se o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes, ouro, incenso e mirra. E, avisados por Deus em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, e lhe disse: - Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para lhe tirar a vida. E ele, levantando-se de note, tomou o menino e sua mãe, e retirou-se para o Egito; e lá esteve até a morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor, por meio do profeta que disse: Do Egito chamei o meu Filho (Mt. 2. 7-15) 3. A perda de Jesus em Jerusalém Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o advertissem. Julgando que ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuraram-no entre os parentes e conhecidos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele. Aconteceu que, três dias depois, encontraram-no no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que ouviam, estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. Quando o viram, admiraram-se. E sua Mãe disse-lhe: - Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição. Ele lhes disse: - Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? Eles, porém, não entenderam o que lhes disse (Lc. 2, 41-50) NOSSA SENHORA DAS DORES2.JPG 4. O encontro de Jesus no caminho do Calvário Quando o iam conduzindo, agarraram um certo (homem chamado) Simão Cireneu, que voltava do campo; e puseram a cruz sobre ele, para que a levasse após Jesus. Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres as quais batiam no peito, e o lamentavam. Porém, Jesus, voltando-se para elas, disse: - Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. Porque eis que virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis, e (ditosos) os seios que não geraram, e os peitos que não amamentaram. Então começarão (os homens) a dizer aos montes: Cai sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos (Os. 10, 8): Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco: (Lc. 23, 26-31) 5. A crucifixão Então, entregou-lhe para que fosse crucificado. Tomaram, pois Jesus, o qual, levando a sua cruz, saiu para o lugar que se chama Calvário, e em hebraico Gólgota, onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de um lado, outro de outro lado, e Jesus no meio. Pilatos escreveu um título, e o pôs sobre a Cruz. Estava escrito nele: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. Muitos dos judeus leram este título, porque estava perto da cidade o lugar onde Jesus foi crucificado. Estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Diziam, porém, a Pilatos, os pontífices dos judeus: - Não escrevas reis dos Judeus, mas o que ele disse? Eu sou o Rei dos Judeus. Respondeu Pilatos: - O que escrevi, escrevi. Os soldados, pois, depois de terem crucificado Jesus tomaram os seus vestidos (e fizeram dele quatro partes, uma para cada soldado) e a túnica. A túnica, porém, não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo, Disseram, pois, uns para os outros: - Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará. Cumpriu-se deste modo a Escritura, que diz: Repartiram os meus vestidos entre si, e lançaram sortes sobre a minha túnica (S. 21, 19). Os soldados assim fizeram. Entretanto, estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas, e Maria Madalena. Jesus, vendo sua Mãe, e junto dela o discípulo que ele amava, disse a sua Mãe: - Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: - Eis aí a tua Mãe. E, desta hora por diante, levou-a o discípulo para sua casa.Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado para se cumprir a Escritura, disse: - Tenho sede. Tinha sido ali posto um vaso cheio de vinagre. Então (os soldados), ensopando no vinagre uma esponja, e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-lha à boca. Jesus tendo tomado o vinagre, disse: - Tudo está consumado. E inclinando a cabeça, rendeu o espírito (Jo 19, 16-30) 6. A descida da Cruz Então um homem chamado José, que era membro do Sinédrio, varão bom e justo, o qual não tinha concordado com a determinação dos outros, nem com os seus atos, (oriundo) de Arimatéia, cidade da Judéia, que também esperava o reino de Deus, foi ter com Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus: e, tendo-o descido (da Cruz), envolveu-o num lençol. (Lc 23, 50-53). 7. O sepultamento Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um sepulcro novo, em que ninguém ainda tinha sido sepultado. Por ser o dia da Parasceve dos Judeus, visto que o sepulcro estava perto, depositaram aí Jesus (Jo 19, 41-42) No século XV, o século que conheceu a grande cintilação da devoção a Nossa Senhora das Sete Dores, foi que surgiram os mais tocantes testemunhos daquela devoção nas artes. E os artistas, sempre a procura de episódios que mais tocassem a sensibilidade dos cristãos, acabaram por trazer, com predileção, o que deveria ser o mais doloroso da vida de nossa Mãe Bendita - o momento, pungente em que, desligado da Cruz, o Salvador, inerte, pousara sobre os puros joelhos da Senhora. (Vida dos Santos, Padre Rohbacher) Fonte: Gaudium Press

terça-feira, 3 de abril de 2012

O grande mestre de São Tomás de Aquino

O grande mestre de São Tomás de Aquino
São Tomás de Aquino Ensina-nos São Tiago na sua epístola que "se alguém necessita de sabedoria, peça-a a Deus - que a todos dá liberalmente, com simplicidade e sem recriminação - e ser-lhe-á dada" (Tg 1, 5). Assim o fez São Tomás. Seu grande e insuperável Mestre foi o Santíssimo Sacramento, diante do qual passava rezando horas inteiras, dia e noite. Frequentemente, no momento auge da celebração da Santa Missa, ou seja, na hora da Consagração do pão e do vinho, não só o milagre da transubstanciação se realizava em suas mãos, como também, sua face se transfigurava. Chegou ele a afirmar ter aprendido muito mais junto ao Santíssimo Sacramento do que em todos os seus estudos.1 Guilherme de Tocco, o seu primeiro e principal biógrafo, insiste em dizer que Tomás adquirira o hábito de rezar demoradamente quando tinha de vencer um obstáculo, de intervir num debate importante, de ensinar qualquer matéria mais árdua. Ele confessava assim encontrar a solução dos problemas que o torturavam. Quanto ao tempo que o comum dos homens costumam dedicar ao descanso, Tomás o reduziu a quase nada para prolongar este "Sacrum Convivium" com Jesus Eucarístico.2 O Padre Santiago Ramirez (1975), baseando-se no processo de canonização de Santo Tomás em Nápoles, explica na sua biografia sobre o Aquinate que "Ele era o primeiro a se levantar pela noite, e ia prosternar-se diante do Santíssimo Sacramento. E quando tocavam as Matinas, antes que os religiosos formassem fila para ir ao coro, ele voltava sigilosamente para a sua cela para que ninguém notasse".3 Por Monsenhor João S. Clá Dias, EP. __________________ 1 "Sua alma entrava num comércio íntimo com Deus. Seu corpo se tornava imóvel, suas lágrimas corriam em abundância, e diversas vezes o vimos elevado da terra vários cúbitos. Era o momento no qual São Tomás adquiria os mais altos conhecimentos, encontrava infalivelmente a solução de suas dificuldades, a compreensão dos textos da Escritura, e as decisões teológicas das quais tinha necessidade. Ele mesmo confidenciou a Frei Reginaldo, seu confessor, ter aprendido mais através de suas meditações, na igreja, diante do Santíssimo Sacramento, ou em sua cela aos pés do Crucifixo, que em todos os livros por ele consultados." JOYAU, Charles-Anatole, O. P., Saint Thomas d'Aquin, Lyon: Librairie Générale Catholique et Classique, 1895. Tradução nossa. 2 Cf. AMEAL, João. São Tomás de Aquino. Iniciação ao estudo da sua figura e da sua obra. 3ª ed. Porto: Tavares Martins, 1947, p. 131. 3 RAMÍREZ, S.: Introducción a Tomás de Aquino, Madrid, BAC. 1975­, p. 83-84­. Fonte: Gaudium Press

Santa Gemma Galgani

Santa Gemma Galgani
Nascida na cidade italiana de Lucca, em 12 de março de 1878, Gemma teve um curto, mas intenso convívio com sua piedosa mãe, que foi quem lhe transmitiu o amor a Jesus e a preparou para receber o Crisma, antes mesmo da Primeira Comunhão, conforme o costume da época. Em setembro de 1885, a senhora Galgani faleceu, deixando a filha com a tia, Elena Landi. Algum tempo depois, Gemma regressou para junto do pai e ingressou como externa no colégio das Irmãs de Santa Zita, fundado pela Beata Elena Guerra. Aos nove anos, revelando piedade incomum, a menina manifestava enorme desejo de receber a Sagrada Eucaristia. Ela suplicava: "Dai-me Jesus e vereis que serei mais sábia, não cometerei mais pecados, não serei mais a mesma!". Afinal, o sacerdote acabou por aceder e, na festa do Sagrado Coração de 1887, recebeu a Primeira Comunhão: "Jesus fez-Se sentir em minha alma de uma maneira muito forte. Compreendi, então, que as delícias do Céu não são como as da Terra". Após a morte da mãe ela passou a oferecer pequenos sacrifícios a Jesus. Era chegada, porém, a hora dos grandes sofrimentos. Em 1896, uma terrível necrose no pé, acompanhada por agudíssimas dores, obrigou-a a submeter-se a uma dolorosa cirurgia. No ano seguinte, seu pai faleceu após perder toda a fortuna, deixando a família em grande miséria. Em 1898 ela foi atingida por grave doença na espinha dorsal, ficando prostrada na cama. Um ano mais tarde os médicos lhe diagnosticaram um tumor na cabeça, dando-a por desenganada. Em meio aos sofrimentos a jovem teve uma intensa vida mística, recebendo inúmeras aparições do anjo da guarda, de Nosso Senhor e de Maria Santíssima. Em uma dessas ocasiões ela recebeu os Sagrados Estigmas de Jesus. Foi no ano de 1899 que Gemma, durante as Missões, teve o primeiro encontro com o seu futuro diretor espiritual, o religioso passionista Padre Germano Di San Stanislao. Dotado de grande talento e virtude o sacerdote passou a ser um verdadeiro pai para a santa e a conduziu nos caminhos da perfeição. Graças às cartas que trocavam, ficaram documentados os singulares favores recebidos pela angelical jovem. Com apenas 25 anos de idade, durante a Semana Santa de 1903, a seráfica virgem entregou sua alma a Deus. Por Irmã Maria Teresa Ribeiro Matos, EP Fonte: Gaudium Press

domingo, 19 de fevereiro de 2012

S. Bonifácio, bispo, +1265

S. Bonifácio, bispo, +1265


S. Bonifácio

Defensor dos pobres, especialmente dos doentes de lepra e cegueira, São Bonifácio era contra os nobres, os príncipes e os reis injustos.

Nasceu em 1188, na cidade de Bruxelas, e estudou na Universidade de Paris. Mais tarde, tornar-se-ia sacerdote e depois bispo de Lausanne. Possuidor de uma ampla visão histórica e espírito universalista, São Bonifácio era também um exímio professor e um ardoroso pregador.

De natureza humilde, conseguiu do papa Inocêncio IV a permissão para deixar o episcopado. Sempre fiel a Cristo, faleceu em 1265 e foi sepultado na Igreja de La Cambre.

Fonte: Evangelho Quotidiano

S. Conrado de Placência, confessor, +1351

S. Conrado de Placência, confessor, +1351



S. Conrado de Placência

Os ecologistas talvez não simpatizem muito com este santo, pois durante uma caçada de lebres e faisões pôs fogo a uma floresta. Os camponeses revoltaram-se porque tiveram muitos prejuízos. O governador da cidade condenou à morte o primeiro suspeito, que na ocasião estava no bosque. O verdadeiro culpado, Conrado Confalonieri, quando soube que um inocente pagaria por ele, confessou-se culpado e propôs-se pagar os prejuizos. Assim fez, tornando-se muito pobre. Mas ninguém conhece os caminhos do Senhor. O caçador incendiário ingressou na Ordem Terceira de S. Francisco. Em 1315, a esposa, Eufrosina, inflamada pelo zelo do marido, entrou para o convento franciscano de Santa Clara de Placência.

Conrado, também como frade, levou uma vida errante, mudando de mosteiro a cada momento. Mas era muito bom e piedoso. Em 1343 chegou a Siracusa, na Sicília, e estabeleceu-se na cidade de Noto. Escolheu como habitação uma cela ao lado da igreja do Crucifixo. A fama de sua santidade seguia-o como a sombra e comprometia a paz e o silêncio de que tanto gostava.

Quando percebeu que as muitas visitas perturbavam a sua vida de oração, frei Conrado levantou acampamento e foi humildemente para uma solitária gruta dos Pizzoni, que foi depois chamada de gruta de São Conrado. Aí morreu a 19 de fevereiro de 1351.

Frei Conrado foi sepultado na mais bela entre as esplêndidas igrejas de Noto: a igreja de são Nicolau que em 1844 se tornou a catedral da nova diocese. Em suma, Conrado abandonou a vida de incendiário de floresta e teve a vida toda incendiada no amor de Deus e para o bem das almas.

Fonte: Evangelho Quotidiano

domingo, 29 de janeiro de 2012

O apóstolo da juventude

O apóstolo da juventude


Você conhece São Vicente Pallotti?

O jovem sacerdote

Caros amigos! No mês que passou pudemos contemplar com grande alegria a primeira subida de São Vicente Pallotti ao altar, no dia 16 de maio de 1818, depois de um longo período de preparação para receber o sacramento da Ordem. A partir deste momento, o jovem Vicente já faz parte do clero, e sua vida apostólica já está fortemente ativa.

A Ordenação Sacerdotal deixou o padre Vicente cheio de fervor. Alguns meses depois, em 1819, reconhecia ainda que o Espírito de Deus recebido então, lhe proporcionava graças abundantes, capazes de produzir frutos para o bem do próximo. De fato, a fecundidade de um trabalho pelo Reino de Deus só pode ser efetiva na medida em que grande é a união com o próprio Deus. E assim era com Vicente.

Duas coisas suscitam grande admiração pelo jovem padre Vicente: a incansável dedicação em ser apóstolo e servir a Deus e o vivíssimo espírito sacerdotal, curador de almas. Exortava, antes de tudo, a rezar em sentido apostólico, para a glória de Deus e a salvação das almas. Recomendava aos outros sacerdotes que rezassem pela conversão dos pecadores e também dava muito valor às orações dos religiosos e religiosas. Para Vicente, era necessário rezar muito, pois as necessidades aumentavam sempre mais.

Juntamente com a profundíssima vida de oração, Vicente vivia uma vida de caridade, pois o amor é a forma de todas as virtudes. O motivo que o impelia a trabalhar pelo bem do próximo era o mesmo que invocava para o respeito e o amor para com todos: o fato de ser cada qual imagem de Deus. A sua caridade, já nos primeiros anos de sacerdote, foi heróica, disposta a morrer pelo próximo. Declarou Vicente ao companheiro Casini: “Amo-o de tal forma em Jesus Cristo, que, para salvá-lo, estou disposto até a perder a vida, creia-me!” (OCL I, 108).

Nos primeiros anos depois da ordenação sacerdotal, formou-se em torno de Pallotti um pequeno grupo de padres e clérigos, consagrados a vários ministérios, em favor dos meninos de Santa Maria del Pianto. O senso de fraternidade e de indiscutível liderança foram importantes no desenvolvimento da personalidade de Vicente Pallotti.

Entre o padre Vicente e alguns de seus colaboradores surgiu uma Liga ou União Antidemoníaca. O jovem Pallotti queria que todos os companheiros de filiassem à Pia União da Imaculada, recebendo o respectivo escapulário, para que a luta contra o demônio se desenvolvesse sob a proteção de Maria Imaculada. Queria uma guerra sem trégua contra o maligno, suprimindo as ocasiões públicas de pecado. Estava convencido de que estátuas e representações de nus podiam ser origem de inumeráveis pecados.

Em 04 de março de 1819, quase um ano e dois meses depois de sua Ordenação, foi nomeado professor suplente de Teologia na Universidade Sapienza, encarregando-o como mediador dos estudos e debates teológicos dos alunos. Conforme analisaram seus amigos, “juntavam admiravelmente no padre Vicente duas coisas não fáceis de se encontrarem juntas na mesma pessoa: uma piedade muito grande, unida a uma ciência eminente que resultava em grande utilidade”.

Todas estas atividades: rezar a Missa, atender confissões, visitar enfermos, auxiliar os jovens de Santa Maria del Pianto e ser mediador da Academia da Sapieza, pareciam pouco diante de suas energias e de sua vontade de ajudar o próximo. Em 1819, começou a pregar a noite, à gente da praça. Foi um novo modo de levar a Palavra de Deus às pessoas. Bem depressa, o padre Vicente passará a ocupar-se de outro centro de apostolado: a direção espiritual de um oratório.

Enfim, a atividade apostólica do padre Pallotti, com os anos, foi se tornando sempre maior. Parecia que nada o contentava quando o trabalho era pelo Reino de Deus. Por isso, não cessaremos de acompanhar juntos a vida sacerdotal e o trabalho apostólico do padre Vicente. A partir do nosso próximo encontro, nos contemplaremos os sofrimentos que nosso santo encontrou em seu caminho. Até lá!

Fonte: Diálogo Vivo

O apóstolo incansável

O apóstolo incansável
Você conhece São Vicente Pallotti?


Apóstolo incansável

Caros amigos de São Vicente Pallotti! Nossa caminhada junto da vida deste grande santo será feita agora a passos largos. Não que nos falte empenho ou desejo de estudar sua vida e seus feitos a fundo, mas o fato é que Pallotti jamais descansava, fazendo com que tivesse inúmeras atividades ao mesmo tempo, por anos a fio. Por isso, não se assuste com nossos avanços cronológicos, ainda assim estaremos junto de nosso santo.

A primeira impressão que temos diante dos numerosos ministérios sagrados assumidos por Pallotti é que ele não daria conta de tudo. Seu dia, nos anos que seguiram sua ordenação sacerdotal, era intenso: pela manhã atendia no confessionário, em seguida, celebrava a Eucaristia em lugares diferentes, conforme necessário. À tarde de todos os dias úteis, exceto aos sábados, orientava as discussões na Academia da Universidade Sapienza. À noite, pregava ao ar livre e dirigia o Oratório Noturno. Nos dias santos dava assistência aos meninos do Oratório do jardim. Havia, depois, as reuniões com os colaboradores; os exercícios espirituais; além de ser diretor espiritual de diversas pessoas.

Em 1824, sua mãe, Maria Madalena, ficou gravemente enferma. Os seus sofrimentos eram agudos, mas dotada de fibra vigorosa pode lutar, por muito tempo, contra a doença. Em 1827, as dores se tornaram mais fortes, quase insuportáveis. Maria Madalena lutou até o dia 19 de julho, festa de São Vicente de Paulo, quando faleceu. Seu filho Vicente estivera todo o tempo ao seu lado.

No outono de 1827, o padre Vicente foi nomeado Diretor Espiritual do Seminário Romano, o seminário da diocese de Roma. Dedicou-se com especial carinho a este serviço, convencido que estava de que daquele Seminário dependia a santificação não só do clero romano, mas também de todo o mundo católico. Tanto trabalho e a grande austeridade que impunha em sua vida alquebraram ainda mais seu organismo, que já não era demasiado forte. Parentes e amigos rogavam-lhe que diminuísse o ritmo das atividades, mas ele respondia invariavelmente: “Iremos descansar no Céu”.

Se a sua atuação no Seminário Romano o ajudou a aprofundar a espiritualidade sacerdotal e a reavaliar o sentido do ministério, o encargo exercido alguns anos mais tarde, em 1833, no Colégio Urbano da Propagação da Fé ampliou-lhe os horizontes e abriu-o às realidades missionárias da Igreja.

Com o passar dos anos, o ministério da Reconciliação tornou-se para o Pe. Vicente a ocupação principal. O padre Rafael Melia, um de seus colaboradores, declarou: “o principal ministério a que se dedicou o Servo de Deus foi o de confessar, da manhã até a alta noite”. Pouco a pouco o número de penitentes foi se ampliando. Nos anos trinta e quarenta, a cada quinze dias, confessava-se com ele o Cardeal Luigi Lambruschini, bem como o Papa Pio IX.

Na época em que, em torno do Padre Vicente, diminuía a família natural, crescia uma progênie espiritual, gerada e alimentada pelo ministério, pela pregação e pelo confessionário. Não nos referimos somente aos colaboradores, mas a um grande número de homens e mulheres que o reconheciam pai e mestre. O padre Vicente Pallotti teve, de três maneiras diversas, o dom da paternidade espiritual e do ensino. Foi, antes de tudo, pai e mestre.

Assim já vamos percebendo o dom que Vicente tinha de atrair as pessoas para Deus. Os homens que estão próximos de Deus, e que buscam sempre a santidade, não necessitam de muitos gestos, mas seu próprio testemunho fala aos corações. É impossível acompanharmos o padre Vicente sem nos sentirmos tocados e impelidos a fazer como ele fez.

Assim, continuamos nosso itinerário imerso na vida de nosso grande santo. No próximo número veremos suas características espirituais, bem como os primeiros movimentos do nascimento da União do Apostolado Católico. Mas, enquanto isso, procuremos sempre mais sermos discípulos missionários incansáveis, para a infinita glória de Deus e para a salvação das almas, a exemplo de São Vicente Pallotti. Até a próxima!

Fonte: Diálogo Vivo