terça-feira, 27 de março de 2012

A voz dos cristãos no Twitter

A voz dos cristãos no Twitter

O Twitter entrou na História e os cristãos já constroem sua própria história nessa rede social. A seguir, relembramos cinco momentos em que a cristandade brasileira recorreu a ela para mostrar o que pensam - e, no final do post, um convite para o próximo "twittaço"!

Recordações
Alguns exemplos de campanhas e movimentos cristãos na Twittosfera.

1. Uma grande movimentação cristã brasileira no Twitter ocorreu em 2010, ano das eleições para presidente da república. A onda de protestos contra o PT e sua candidata Dilma Rousseff, principalmente por causa de seus envolvimentos com a promoção do aborto no Brasil, usou, entre outras, a ousada tag #bandodecovardes, tirada de uma pregação em que o Pe. José Augusto, da TV Canção Nova, se dirigia aos que não tinham coragem de contradizer o partido. Os protestos online ganharam visibilidade na grande imprensa e seus responsáveis ficaram conhecidos como os seres dos "porões da internet".


2. Em fevereiro de 2011, o site Teísmo.Net, em parceria com o blog Quebrando o Encanto do Neo-Atéismo, lançou a campanha "Ciência não é contra religião!". Banners apresentavam cientistas que tiveram grande importância para a história da ciência e eram religiosos. O jornalista adventista Michelson Borges levou a ideia para o Twitter: a etiqueta da campanha era #religiaoeciencia.

Saiba mais: Religião não é contra ciência (e vice versa)


3. Diz o Wagner Moura, em O Possível e O Extraordinário, as "pessoas castas são as que mais facilmente viram assunto na roda de amigos (e nem tão amigos assim). Todo mundo dá palpite na vida de quem NÃO faz sexo. Muito mais do que dá palpite na vida de quem faz".
No 4 de julho de 2011, dia do bem-aventurado Pier Giorgio Frassati, cristãos de todo o País resolveram sair do armário e ir ao Twitter dizer: "quero ser virgem até o casamento", "#EuEscolhiEsperar em Deus". A explosão de mensagens teve origem evangélica, mas defendia algo que todos os cristãos (sérios) concordam: a responsabilidade sobre nossa sexualidade, que é um dom nos dado por Deus.

Confira reportagem da Revista Galileu sobre o movimento.

4. 20 de novembro: era um domingo. Eu acabara de chegar da Missa quando me deparei com uma movimentação diferente na minha timeline. Eram católicos falando justamente sobre ela, a #Missa. Com muito bom humor, eles reprovavam os abusos litúrgicos, a falta de respeito e a visão distorcida que muitas vezes temos para com as celebrações eucarísticas. Os tweets não chegaram aos Trending Topics (os tópicos mais comentados do serviço de microblogging) - até porque provavelmente não havia essa intenção - e se desenvolveu de maneira bastante espontânea.


5. Já no final de 2011, católicos alavancaram uma campanha que foi aderida até pelos torcedores do Corinthians. Revoltados com a imparcialidade travestida de diversas matérias da emissora de Edir Macedo - destacando essa aqui -, brasileiros tuittam que talvez fosse melhor um #BrasilsemTVRecord.

Saiba mais: Sobre o twittaço #BrasilsemTVRecord

Aqui só consultei minha memória e certamente esta lista não está completa. Comente e diga o que faltou!

ATUALIZAÇÃO (16/01/2012): @mino_neto10 relembrou o twittaço #CançãoNovaSemPT, que conseguiu tirar os petistas Edinho Silva e Gabriel Chalita da TV Canção Nova. Veja o comentário dele.

Próximo twittaço: #JMJ2013EuApoio !

Carlos Eduardo, do blog Dominus Vobiscum, está confiante de que a Jornada Mundial da Juventude do Brasil, em 2013, vai superar as primeiras expectativas, mas para isso é preciso divulgá-la e motivar cada vez mais os católicos, em especial os jovens, a participar desse grande encontro:

"dia 16/01/2012 queremos fazer o primeiro twittaço convocando os católicos a apoiar a JMJ usando a tag #JMJ2013EuApoio. Fazendo isso, vamos mostrar as pessoas que teremos um evento único no nosso país e que todos são convidados. Se você tem um site católico ou blog, quero te convidar a neste mesmo dia fazer um texto sobre a JMJ e postar no seu blog. Use sua criatividade! Você pode falar das suas expectativas, pode entrevistar alguém que já esteve uma JMJ, pode fazer uma charge, pode postar músicas… A Idéia é que neste dia, possamos invadir a rede com a Jornada Mundial da Juventude."

Em resumo, a campanha propõe que, no dia 16 deste mês:

Se você tem um blog, crie um texto sobre a JMJ;
Se você tem twitter, entre no twittaço #JMJ2013EuApoio, às 14h.

Para mais informações, leia o texto completo. Vamos participar, irmãos, pois esse será um evento histórico!

Entenda o que está rolando no Twitter: desenvolvendo este post acabei descobrindo o TTBr.info, um site em que os usuários do Twitter podem explicar as hashtags que chegam aos Trending Topics - que muitas vezes são incompreensíveis a primeira vista.

Fonte: Fé, Ciência e etc...

A blogosfera católica brasileira em 2011

A blogosfera católica brasileira em 2011

Achei importante fazer uma rápida retrospectiva sobre dois fatos importantíssimos para a blogosfera católica brasileira em 2011, sendo que o primeiro foi importante para blogueiros católicos de todo o mundo: o Vatican Meeting Blog e o Top Blog 2011.

Vatican Meeting Blog
Pela primeira vez, o Vaticano reuniu blogueiros católicos do mundo inteiro. O Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais convidou 150 blogueiros, de países diversos, para participar do evento em Roma, no dia 02 de maio de 2011. Foram selecionados três blogs do Brasil: Medidas de Fé, Jovens Sem Fronteiras e O Possível e O Extraordinário.
A partir da esquerda: Thaisson Santarém e João Alves, do blog Jovens Sem Fronteiras, e Wagner Moura, do blog O Possível e O Extraordinário.

Apenas os autores dos dois últimos, estiveram no encontro. No blog O Possível e O Extraordinário, de Wanger Moura, há uma página inteiramente dedicada ao encontro, onde se registrou "tudo que pude reunir a respeito do Vatican Blog Meeting [...]: vídeos, links de posts, backup de tweets sobre o encontro, entrevistas e muito mais", nas palavras do blogueiro. Aqui, veja os posts que ele escreveu sobre o VMB.

Lembram? Ajude blogueiro a participar de encontro no Vaticano

Top Blog 2011
Desde 2008, o portal Top Blog premia todos os anos blogs brasileiros das mais diversas categorias. Eles são escolhidos por júri popular (voto eletrônico) e júri acadêmico. Os três primeiros lugares (tanto os do júri popular como os do acadêmico) recebem o certificado e um selo eletrônico; o primeiro, além disso, recebe o troféu de melhor blog.
Entre os vencedores da categoria "Religião", seis são católicos: Leitura Orante, Tem Jeito (dos apresentadores da TV Canção Nova Cleto Coelho e Carla Astuti), Catecismo Jovem e os já conhecidos por aqui Tubo de Ensaio (sobre ciência e religião), Dominus Vobiscum (notícias e catequese) e Deus lo Vult! (finalista tanto pelo júri acadêmico quanto pelo popular).

A partir da esquerda: Edson Carlos de Oliveira, do blog Sou Conservador sim, e daí?, Jorge Ferraz, do Deus lo Vult!, Marcio Antônio Campos, do Tubo de Ensaio, e Cadú (Carlos Eduardo), do Dominus Vobiscum recebendo a premiação.
Fonte: Fé, Ciência e Etc...

domingo, 25 de março de 2012

Menosprezo pela vida tem aspecto diabólico

Menosprezo pela vida tem aspecto diabólico

Suicídio promovido via Internet e atentados inexplicáveis contra a vida demonstram urgência de se difundir a Mensagem de Maria Santíssima.


Não é sem razão que Nossa Senhora das Graças pisa a cabeça de uma serpente. O diabo existe, sim e é perigoso se não for combatido.

A Doutrina Católica ensina que belzebu é impotente contra Deus, mas que pode se voltar contra a humanidade, que é imagem e semelhança do Criador.

Acontecimentos trágicos, ocorridos recentemente, demonstram a importância de se buscar proteção espiritual, aproximando-se de Deus e combatendo com energia as ações maléficas do demônio

Site macabro

A revista Época (edição de 11 de fevereiro), relata a história triste de um jovem que pôs fim à própria vida, durante um surto, após ser incitado ao suicídio em conversas pela Internet.

Diálogos registrados no computador revelam que pessoas de diversas partes do mundo incentivavam o adolescente a se matar, dando-lhe sugestões de como proceder para ceifar a própria vida.

As expressões de riso utilizadas pelos interlocutores do jovem que suicidou parecem traduzir o regozijo macabro de satanás, naquele momento em que a criatura humana, tão amada pelo Criador, era levada a abandonar Deus rejeitando o dom da vida e desprezando o sacrifício de Cristo que viveu, morreu e ressuscitou por amor a ela.


Atitudes sem explicação

Essa semana os jornais divulgaram imagens aterrorizantes de um motorista que, sem nenhuma explicação, acelerou seu carro na contramão de uma movimentada rodovia, até colidir de forma letal com uma carreta.

Com freqüência a imprensa noticia chacinas horrendas, praticadas por jovens estudantes em escolas nos Estados Unidos.

Esses atentados contra a vida, humanamente inexplicáveis e que dão tanta satisfação a satanás precisam ser combatidos pelo cristão, com as armas que a Igreja recomenda.

Armas do cristão contra o mal

O cristão pode combater o diabo com armas eficazes. Ao longo da história a Igreja Católica criou devocionários capazes de afastar a má influência de espíritos imundos.

São Bento, por exemplo, era conhecido por seu poder de afugentar demônios. Até hoje a Medalha dedicada a esse Santo é utilizada para neutralizar ações diabólicas.

Também é importante lembrar que Nossa Senhora é Mãe extremosa e que Ela quer a Salvação para cada um de seus filhos.

Por isso Ela revelou a Medalha Milagrosa, e pediu enfaticamente a reza do Terço.

Fique do lado de Deus e de Nossa Senhora

Reze o Terço todos os dias, se possível com sua família e com seus amigos. Você atenderá a um pedido da Virgem Maria e impedirá que a maldade se instale em seu lar.

Use a Medalha Milagrosa e procure conhecer mais sobre a história de São Bento, o Santo que afugenta demônios.

Lembre-se que o mal existe e é preciso combatê-lo!
Fonte: Fátima em Foco On-line

Um Conto de Natal: Alma aflita, parte 2

Um Conto de Natal: Alma aflita, parte 2

Do fundo dos anos de indiferença, as palavras esquecidas há tanto tempo foram pouco a pouco emergindo em sua memória:

Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência, reclamado vosso socorro, fosse por Vós desamparado.

Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho, e gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a vossos pés.

Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Assim seja.

Num primeiro movimento de orgulho amargo, a alma se perguntou: Serei eu a primeira a dizer que Nossa Senhora não veio em meu socorro? Depois percebeu claramente que não havia se dado ao trabalho de pedir uma só vez esse socorro...

E caminhando por ruas vazias e frias, ela repetia as palavras da oração de sua infância: Gemendo sob o peso de meus pecados [...] nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção [...] fosse por Vós desamparado! Animado eu, pois, com igual confiança [...] como a Mãe recorro, de Vós me valho...

Uma grande dor invadiu então essa alma atormentada, ao tomar consciência do lamentável estado em que se encontrava. Do mais fundo de seu ser, subia-lhe um desejo de reconquistar a amizade de Deus e os perfumes primaveris de sua vida espiritual, de restaurar a inocência perdida.

— Será ainda possível? –– perguntava-se ela.

— Nunca se ouviu dizer... –– respondia-lhe uma voz interior.

Movida pela graça, repetiu ainda, com toda sinceridade, as palavras do Lembrai-Vos e pediu a Nossa Senhora que viesse em seu socorro.

— Vamos ver o que sucederá –– pensou ela com uma ponta de incredulidade. E virou a esquina.

* * *

A luz interior da igreja iluminava os vitrais. A porta estava aberta. Hesitante e surpresa, entrou. Estava para começar a vigília de Natal. Pela nave lateral, avançou até o altar de Nossa Senhora.

Uma melodia natalina partiu do órgão. A alma desmanchou-se em prantos. Depois de tantos anos de secura no egoísmo, ela se afogava em soluços de arrependimento.

As lágrimas escorriam-lhe pela face em abundância, e seu tronco sacudia ao ritmo convulsivo do pranto em soluços, como o de uma criança...

Lá havia um padre para ouvir confissões. E este não foi o menor dos milagres, para os tempos em que vivemos. A alma foi acusar-se como pôde, um tanto confusamente, de sua triste vida afastada de Deus. E recebeu a absolvição de suas faltas.

* * *

Deixo ao leitor o cuidado de pensar na alegria que, naquela noite, causou ao Coração de Jesus Infante a volta ao rebanho de sua pequena ovelha transviada.

O Menino Jesus veio sobretudo para os pecadores. Não recusa jamais o seu perdão. Acolhe com bondade e misericórdia toda humilde contrição. Ontem, hoje, sempre, Jesus Cristo é a solução para o mundo, que afunda na noite do neopaganismo.

No maior drama de nossa vida, recorramos com confiança a nosso Salvador, por intermédio da Santíssima Virgem, a quem Ele nada recusa.

(Por Benoît Bemelmans, extraído de Catolicismo)
Fonte: Fátima em Foco On-line

sábado, 24 de março de 2012

Sucessão no Reino da Infâmia

Sucessão no Reino da Infâmia


27/2/2012

Valdis Grinsteins

Era uma vez um país cujo poder era transmitido de pai para filho de uma mesma família, a qual mantinha seus súditos na mais espantosa miséria através de sangrenta tirania. Enquanto o governante desfrutava das mais requintadas gastronomias, de exuberante luxo e viajava levando centenas de garrafas de vinhos raros,1 a população morria de fome aos milhões.2 Às vezes o tirano começava a comer à meia-noite e só terminava ao amanhecer, 3 enquanto as crianças pobres comiam cachorros mortos e carne podre.4 Pior ainda, o tirano se julgava dono da verdade e todos deviam crer firmemente na sua religião, sob pena de execução de toda a família do culpado. Ele decidia desde o tipo de roupa que os adultos podiam usar, aos lugares em que eles podiam ir e o que podiam ver. O absurdo chegou a ponto de não ser permitido aos anões viver na capital de seu Reino, para não causarem má impressão estética.5 Um regime abominável e antinatural, não é verdade?


Onde tais horrores ocorrem?

Algum leitor influenciado pelas detrações e falsidades da “legenda negra” talvez tenha pensado que tais absurdos aconteceram em algum país católico acusado pela imprensa e pela literatura laica e agnóstica de “medieval”, “dominado pela Inquisição” e por um monarca tirano. Não. Não se trata nem da França do século XII nem da Espanha do século XVI... Todos os horrores citados ocorreram e continuam a acontecer na Coréia do Norte comunista de nossos dias.

Com a morte do ditador Kim Jong-il, esse país ocupou lugar de destaque em todos os jornais do mundo, que apresentaram cenas de pessoas “chorando” aquela morte. Ai daqueles que não chorassem — ao menos como carpideiras — pois poderiam ser severamente castigados! Diante da enorme quantidade de absurdos e mentiras que acontecem diariamente naquela ditadura, é raro um artigo de jornal que não comente um, dois ou mais casos chocantes.

Que a mentira seja apanágio dos comunistas, todos o sabem. O que as pessoas parecem desconhecer é até que ponto eles mentem e como os regimes comunistas não reduzem à mentira, sem nada de positivo. Não é que eles desejam algo de bom e que por equívoco resulta em mal. Não. É o mal deliberado, a infâmia, o crime e a mentira que são institucionalizados.

Para começar, os comunistas odeiam a família tradicional. A Rússia foi o primeiro país do mundo a permitir o amor livre. O marido podia ser mandado trabalhar numa cidade e a esposa em outra. Apesar de odiar também a instituição familiar, a estabilidade da ditadura norte-coreana está baseada na família...

Ao criticarem o novo ditador norte-coreano porque não houve sucessão democrática, muitos jornais “se esquecem” de apontar a contradição solar: destruir a instituição da família e manter a estabilidade do Estado através da hereditariedade familiar. O regime norte-coreano tampouco é de tipo constitucional como os do Ocidente, em que o papel do chefe de Estado ou é apenas protocolar, ou é limitado por uma Constituição. Não. O chefe de Estado ali tem poder absoluto, exercido por um ditador que dispõe discricionariamente até mesmo da vida dos 23 milhões de seus desditosos súditos.
Culto obrigatório ao ditador

Nunca na História algum regime político prometeu tanta liberdade como os regimes marxistas. Contudo, a tirania norte-coreana chega ao extremo de decidir não apenas sobre o modo de as pessoas se vestirem, mas até que músicas elas devem ou não ouvir. Por exemplo, composições de Mozart, Beethoven e Chopin estão proibidas na Coréia do Norte.6 Para reforçar a propaganda, a tirania instalou alto-falantes por todos os lados, especialmente nos cruzamentos de ruas e parques, usando-os até para despertar as pessoas.7 Eles existem até mesmo dentro das casas,8 para obrigar a população a ouvir as notícias oficiais.

No universo comunista abundam o ridículo e a contradição. Na Coréia do Norte eles chegam ao clímax quanto ao culto à personalidade do ditador e de seu pai. Segundo a biografia oficial de Kim Jong-il, ele aprendeu a andar na terceira semana, a falar na oitava,9 e teria escrito 1500 livros durante seus estudos universitários. As crianças norte-coreanas não celebram o próprio aniversário, mas os de Kim il-sung e Kim Jong-il,10 sendo todos os cidadãos obrigados a chamar seus ditadores de “patriota inigualável”, “pensador engenhoso”, “sol da nação”, “sol vermelho dos oprimidos do mundo”.11 O Partido Comunista distribui à população retratos dos ditadores e um paninho branco para limpá-los, o qual deve ser guardado dentro de uma caixinha. Uma vez por mês a polícia averigua o estado de limpeza dos retratos.12 As pessoas são obrigadas a se prostrar até 50 vezes por dia diante dos retratos ou das estátuas dos retratados.13 Existem no país cerca de 34 mil estátuas de Kim il-sung.14
Kim Jong-Um (esq.) promete continuar a obra nefasta de seu pai Kim Jong-il (dir.)

Fome, prisões e execuções


Existem no país cerca de 34 mil estátuas de Kim il-sung

São inúmeros e bem documentados os relatos sobre a fome crônica reinante nesse escravizado país. Ela é tão grande que as pessoas comem tudo quanto se move, sendo necessários até dois anos para que a vida animal se recupere um pouco após elas terem passado por determinado lugar.15 Os campos são pastos e não bosques, porque estes quase não existem, de tal modo foram devastados. A madeira é utilizada na cozinha e para aquecer as casas.

Cifras espantosas da Coréia do Norte: 400 mil pessoas mortas em prisões nos últimos 30 anos16 e mais de 200 mil homens, mulheres e até crianças mantidos em campos de concentração.17

Como sempre, há ingênuos esperando que a recente substituição do ditador por seu filho, o gorducho Kim Jong-Um, venha a provocar uma mudança no sistema. Apesar de King Jong-il ter negado taxativamente essa hipótese, tais ingênuos parecem nada ter aprendido com a transferência de poder ocorrida em Cuba, de Fidel Castro para seu irmão Raul Castro. Não nos iludamos: houve uma sucessão no Reino da infâmia e do crime, a qual não cessará enquanto houver regimes marxistas estruturados com base na negação da Lei divina e da Lei natural.

________
Notas:
1. Cfr. “La Nación”, Buenos Aires, 20-12-11.
2. Cfr. “El País”, Madrid, 20-12-11.
3. Cfr. “La Nación”, 20-12-11.
4. Cfr. “The Economist”, Londres, 17-9-11.
5. Cfr. Barbara Demick, Per mano nel buio, Ed. Piemme, Milão, 2010, p. 171.
6. Cfr. This is paradise! Hyok Kang, Ed. Abacus, Londres, 2007, p. 46.
7. Cfr. “El Mundo”, Madrid, 20-12-11.
8. Cfr. This is paradise! Hyok Kang, Ed. Abacus, Londres, 2007, p. 3.
9. Cfr. “The Telegraph”, UK, 31-1-11.
10. Cfr. Barbara Demick, Per mano nel buio, Ed. Piemme, 2010, p. 69.
11. Cfr. Marcelo Abreu, Viva o grande líder! 1ª edición, Geração Editorial, São Paulo, 2002, p.37.
12. Cfr. Barbara Demick, Per mano nel buio, Ed. Piemme, 2010, p. 68.
13. Cfr. “El Mundo”, 20-12-11.
14. Cfr. “Le Monde”, Paris, 19-12-11.
15. Cfr. “The aquariums of Pyongyang”, Kang Chol-Hwan, Ed. Atlantic books, Londres, p. 104.
16. Cfr. “El País”, 20-12-11.
17. Cfr. “Dailymail”, UK, 20-9-11.

Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

Mensagem de Fátima atrai cada vez mais

Mensagem de Fátima atrai cada vez mais


30/1/2012

Abel de Oliveira Campos


Fotos: Pedro de Alcântara

A coordenadoria de campanhas da Associação Devotos de Fátima (ADF), em coalizão com a Liga do Santo Rosário, promoveu com grande sucesso, entre 23 de outubro e 27 de novembro, dia em que se comemora a festa de Nossa Senhora das Graças, uma tournée de conferências pelo interior dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

As palestras, proferidas pelo coordenador das campanhas, Marcos Luiz Garcia, tiveram como tema central uma análise dos acontecimentos atuais do ponto de vista religioso, político-social e cultural sob o prisma do cumprimento paulatino da Mensagem de Fátima. Esta Mensagem previu o rolar do mundo, caso este não fizesse penitência e oração, para os abismos da corrupção moral, até chegar a um domínio geraneralizado do comunismo como castigo para a humanidade.

O enorme interesse despertado por essas conferências confirmou o crescimento do conservadorismo católico no Brasil, constituído em geral pelos que estão sendo “agredidos pela realidade”. As pessoas sentem-se ansiosas por um esclarecimento a respeito do caos que as envolve. E quando se deparam com o conteúdo da Mensagem de Fátima, compreendem seu alcance para a explicação dos acontecimentos religiosos, políticos e sociais que têm diante de si.

* * *

Nessa tournée, Marcos Garcia visitou mais de 20 cidades, percorrendo cerca de oito mil quilômetros. Além das palestras, ele entrou em contato com grupos e famílias de aderentes de ambas campanhas.

Merece especial destaque a calorosa recepção à Imagem Peregrina promovida pelo Padre Cesarino Pietra Maffi, pároco do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em São José do Rio Preto (SP). Os fieis de sua paróquia se revezaram em vigília diante da imagem durante toda a noite de 26 para 27 de novembro.

Com relação aos contatos mantidos, o coordenador constatou em vários lugares uma crescente apetência pela volta do rito tridentina da Santa Missa. Torna-se cada vez mais evidente, em diversos locais do Brasil, o surto de um conservadorismo desejoso de uma espiritualidade mais profunda e recolhida, mais sobrenatural. Aspectos esses que a Missa tridentina oferece de forma ideal, com seu ritual solene e elevado, seus cânticos gregorianos, os fiéis usando trajes recatados, condizentes com o respeito devido ao lugar sagrado, e outros aspectos mais que favorecem a piedade e a recepção dos sacramentos.

Aspecto marcante nesses contatos foi constatar a procura das pessoas por uma explicação que as faça compreender como chegamos à crise moral e religiosa que assola o País e o mundo inteiro. Diante da Mensagem de Fátima, elas sentem verdadeira alegria por verem que essa crise já havia sido prevista por Nossa Senhora, bem como o triunfo futuro da Igreja e da civilização cristã. Tal constatação configura a situação ideal para a compreensão, em todo seu aspecto profético, da Mensagem de Fátima, evidenciando sua plena atualidade.

* * *

Em Lavras (MG), por iniciativa dos professores João José Marques e Geovanni Németh-Torres, a palestra foi realizada na própria Matriz de Santana. O interesse dos ouvintes e a acolhida dispensada foram edificantes.


Os vereadores João Batista Magalhães e José Elias de Moraes introduzem a Imagem Peregrina na Câmara Municipal de Olímpia

O mesmo ocorreu em Cardoso Moreira (RJ), no salão da escola da Igreja do Imaculado Coração de Maria, com a presença do Revmo. Padre David Francisquini e da elite religiosa dos seus fiéis.

Na cidade de Montes Claros (MG), sob a coordenação dos participantes locais da ADF e da Liga do Santo Rosário, os Srs. Paulo Roberto Gonçalves e Waldomiro Gualberto da Silva, a palestra realizou-se no Hotel Nobre. E na cidade de Teófilo Otoni (MG), no Hotel Real, por iniciativa da família da Sra. Maria Eugênia Fiuza, ativista local da ADF e da Liga do Santo Rosário.

Em Olímpia (SP), a palestra realizou-se no auditório da Câmara Municipal, pelo empenho do Sr. Valdemar Pinhata, tendo os vereadores João Batista Magalhães e José Elias de Morais marcado sua presença. Compareceram cerca de 230 pessoas.

* * *

Marcos Garcia, nessa mesma tournée, teve conhecimento de uma insigne graça, alcançada através de uma imagem que peregrina de casa em casa nesta cidade do oeste paulista, graça esta que — ressalvado um pronunciamento oficial, que só à Igreja cabe fazer — pode ser considerada verdadeiro milagre e que vale a pena levar ao conhecimento dos leitores de Catolicismo.
Ana Luiza Caponegri

Trata-se do caso da menina Ana Luiza, filha do casal Luís Henrique e Sandra Caponegri. Aos quatro anos de idade, essa menina foi acometida de uma doença estranha que nenhum médico conseguia diagnosticar.

O quadro foi-se agravando e a criança entrou em franco processo de definhamento e deformação física, com uma paralisia progressiva tomando conta de seus membros inferiores. Ela já não conseguia nem andar, apenas arrastar-se pelo chão. Tudo fazia temer sua morte.

Submetida por vários médicos de reconhecida competência a uma série de exames segundo as mais modernas técnicas, nenhum deles conseguiu definir a doença. A única coisa que conseguiram foi constatar, por um dos exames, a presença de pequenos pontos estranhos junto à sua coluna vertebral.

Certo dia, literalmente arrastando-se até uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima que visita as famílias, Ana Luiza, na inocência de seus quatro anos, implorou à Virgem Santíssima que a curasse. Sua fé de batizada inocente alcançou-lhe a graça pedida.

Poucos dias depois, apareceram nas costas da menina pontos protuberantes. Em seguida, vermes começaram a ser expelidos por toda a superfície lombar. E assim ela ficou livre dessa misteriosa doença. Ana Luiza foi retomando a saúde e hoje está inteiramente sã.

A família dispõe de todos os exames realizados, os quais comprovam a misteriosa doença, bem como a cura alcançada através de uma ajuda sobrenatural.

Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida

II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida


23/12/2011

Edson Carlos de Oliveira



Pe. Paulo Ricardo

Fotos: Diogo Waki

A Human Life International (HLI) promoveu em São Paulo, de 3 a 6 de novembro, no auditório do Colégio de São Bento, o II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida, que reuniu oradores pró-vida de diversas partes do mundo.

Após a abertura, feita pelo Prof. Felipe Néri, do Colégio São Bento, o Pe. Shenan Boquet, presidente da HLI, alertou os participantes do evento para o fato de que a questão-chave por detrás da “cultura da morte” é a rejeição de Deus e a falta de prática dos Mandamentos. Numa clara referência ao aborto de anencefálicos e à eutanásia, disse que muitas pessoas não são militantes conscientes dessa cultura anti-vida, mas de alguma forma participam dela ao utilizar métodos anticoncepcionais ou ter uma falsa compaixão ao pensar que se pode tirar a vida de quem sofre.

O Pe. Shenan destacou que o controle de natalidade é contrário ao sacramento do matrimônio, tema este que outro conferencista, Matthew Hoffman, correspondente para a América Latina da agência de notícias LifeSiteNews, tratou com mais detalhes. Para Hoffman, a origem do movimento homossexual se encontra no estilo de vida promíscuo entre aqueles que não o são e que excluem da prática sexual a procriação como finalidade primeira. Esse desregramento facilitou o êxito da propaganda homossexual.

A palestra de Mons. Dr. Juan Carlos Sanahuja, formado em jornalismo pela Universidade de Navarra e doutor em Teologia, versou sobre a nova “Religião Universal”, de fundo ecológico, a qual tenta impor uma uniformização política e um mesmo regime de pensamento para todas as nações. “A ética judeu-cristã não poderá ser aplicada no futuro”, diz um documento da OMS (Organização Mundial da Saúde) aludido por Mons. Sanahuja, que surpreendeu o público presente com diversas outras citações extraídas de textos oficiais de órgãos ligados à ONU.

O conhecido Pe. Luis Carlos Lodi, presidente da associação Pró-Vida, de Anápolis (GO), pronunciou excelente conferência sobre os principais erros a serem evitados por aqueles que lutam contra o aborto. Destacou a importância do uso de uma linguagem correta, não utilizando termos próprios aos abortistas. Ele se referiu também às principais armas que devemos utilizar nesse apostolado em defesa da família.

A exiguidade de espaço não permite infelizmente dar o merecido destaque aos demais ilustres oradores. O Dr. Jorge Scala abordou a “ideologia de gênero”; o Dr. Piero Tozzi ressaltou que o termo aborto nunca foi citado em Tratados Internacionais; o Pe. Paulo Ricardo explicou como o marxismo cultural se infiltrou na Igreja; o Sr. Raymond de Souza discorreu sobre os três pontos fundamentais de combate à “cultura da morte”: “rezar, estudar e agir”; e finalmente o Dr. Mario Rojas alertou para a assustadora queda demográfica mundial.

O II Congresso Internacional pela Verdade e Pela Vida atingiu assim seus objetivos de apresentar um panorama completo da “cultura da morte”, salientando como tal “cultura” está ao nosso lado em muitos aspectos e esclarecendo como combatê-la eficazmente.

Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

Catolicismo e Contra-Revolução no Brasil dos séculos XIX e XX

Catolicismo e Contra-Revolução no Brasil dos séculos XIX e XX


Sergio Bértoli

Magníficos frutos do autêntico catolicismo no Brasil, baseado nos ensinamentos do Concílio de Trento, revigorado em meio a muitas provações e ataques anticlericais

O século XIX foi marcado pelo florescimento do catolicismo ultramontano, que fortaleceu a influência e o prestígio da Santa Igreja. Além de afirmarem as verdades eternas, os católicos se opunham decididamente aos inimigos da fé.

Inspirado nos perversos ideais da Revolução Francesa, expandia-se na época o chamado liberalismo católico, o qual pregava a “democratização” da Igreja e o distanciamento em relação à autoridade papal. Os católicos ultramontanos se levantaram então com ufania para defender a autoridade do Sumo Pontífice e a ortodoxia, gerando ao mesmo tempo grande dinamismo nas instituições e movimentos católicos.


Bem-aventurado Papa Pio IX

Na Europa, esse renouveau teve como figuras proeminentes contra-revolucionários do porte de Donoso Cortes, Joseph de Maistre, De Bonald, São Clemente Maria Hofbauer e, principalmente, o Bem-aventurado Papa Pio IX.

Muitos outros poderiam ser aqui citados. Catolicismo, na década de 1960, através da pena de seu saudoso colaborador, Prof. Fernando Furquim de Almeida, abordou com maestria a luta ultramontana e contra-revolucionária desenvolvida na Europa durante o século XIX.

No Brasil, este mesmo combate se travou com enorme vivacidade, envolvendo altas personalidades: a) de um lado, os defensores da fidelidade a um catolicismo genuíno; b) de outro, os propugnadores do dito catolicismo liberal, o “progressismo” da época.
Visão da História sob o prisma católico

Analisada a História sob o prisma católico, ela não se apresenta como uma sucessão de fatos caóticos e desarticulados entre si, mas sim orientados e influenciados por uma série de fatores naturais e sobrenaturais, que variam de acordo com o momento e a situação histórica. Um desses fatores negativos foi descrito pelo Papa Pio XII como sendo um sutil e misterioso inimigo da Igreja: “Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo”.1

Foi sob esse prisma que analisamos em nossos artigos anteriores o embate entre forças antagônicas no Brasil, a partir do século XIX, no tocante à educação, ao verdadeiro papel da mulher e em especial à influência da família na boa formação da sociedade.
Provações inerentes a toda obra de apostolado

D. Antônio Joaquim de Melo, primeiro bispo brasileiro a assumir a diocese de São Paulo, elaborou sólido plano de recuperação do catolicismo autêntico no Brasil, fundamentado nos ensinamentos do Concilio de Trento e nas orientações do Bem-aventurado Papa Pio IX. Entre suas metas principais figurava a constituição de seminários para a formação de um clero instruído e pleno de vida interior. Além disso, o prelado percebia bem quanto valor tinha a instrução católica da juventude, em especial a feminina, que levaria a boa seiva para suas famílias como filhas, irmãs, esposas e mães.

O plano do fervoroso bispo constava de uma instrução religiosa e cultural exímia. Exemplo disso foram as seis irmãs de São José de Chambéry, Sabóia (França), enviadas a Itu, no estado de São Paulo. Essa congregação tivera a glória de ser dispersa pela Revolução Francesa e ter suas primeiras mártires executadas na Praça de Martouret, na cidade de Puy, por não aceitarem a constituição civil do clero e as idéias iluministas desse movimento anticristão. A congregação felizmente não sucumbiu, e se reorganizou durante o século XIX.

A maioria de suas religiosas aqui aportadas era constituída por jovens entre 19 e 30 anos de idade, cuja chegada não deixou de causar, de um lado entusiasmos contagiantes, e de outro provações enormes, o que não é raro nas grandes obras de apostolado.

Assim, a indicada para superiora – Madre Maria Basília –, logo ao sair da Europa contraiu um resfriado, que se agravou a ponto de levá-la à morte em plena viagem. O Revmo. Pe. Terrier, dirigindo-se ao cardeal Billet, assim descreve o ocorrido: “Apesar da dedicação do médico, o mal se agravou, uma febre violenta a fez perder completamente o conhecimento de tudo, mantendo-a em delírio durante cinco dias. Pela tarde de 26 de julho, depois de ter repetido duas ou três vezes os nomes de Jesus, Maria e José, ela morreu como os justos, chorada por todos e a dois dias da chegada à terra, na altura do Cabo Frio, diante do Brasil onde ela tanto desejava chegar. Ó Eminência, que terrível golpe para nós; mas aos olhos da fé, que linda morte! Era mister uma vítima para atrair as bênçãos celestes sobre o nosso empreendimento: Deus escolheu a mais pura, a melhor preparada, a mais agradável aos seus olhos.

“Como não se podia conservar a bordo um cadáver além de 12 horas, foi preciso proceder-se à sua imersão, na madrugada seguinte. A cerimônia foi realizada com a maior solenidade possível. Celebrei a missa de corpo presente, e, bem assim, o Revmo. cônego Goud e o padre capuchinho: todos os católicos de bordo assistiram ao Santo Sacrifício. Findo este, o corpo, revestido do seu habito religioso, foi transportado para o convés e aí se cantou a Absolvição em meio dos soluços de todos os assistentes. Depois do último Requiescat in pace, suas Irmãs aproximaram-se para o derradeiro adeus, em seguida lhe ataram aos pés um saco de areia e escorregaram-na suavemente para o mar”.2


Madre Teodora de Voiron

x Deixamos para futuro artigo a narração das peripécias da viagem entre Rio, Santos, São Paulo e Itu. Pode-se bem imaginar as dificuldades sentidas por religiosas ainda muito jovens, vindas de uma sociedade europeia, sendo transportadas em liteiras, carroças e animais do mundo agreste de então. Entretanto, logo no primeiro instante, perceberam a cordialidade e a hospitalidade do brasileiro, características de nosso povo que foram objeto de elogios das religiosas.

Com a morte de Madre Basília, que superiora escolher? Foi indicada a Madre Maria Teodora de Voiron, de apenas 24 anos. D. Joaquim se opôs: “Mas é uma criança! Uma criança! Que faremos com uma criança?!”

Com o passar dos dias e observando-a atentamente, ele mudou o seu parecer: “Concluí que sua sensatez, sua discrição e sua prudência triunfariam de todos os obstáculos. Pareceu-me ver nela bom senso e condescendência, qualidades indispensáveis a uma superiora. Tudo me convenceu que ela devia governar”.

Madre Teodora, escrevendo à sua superiora na Europa, registrou: “O Sr. Bispo acaba de me enviar, por escrito, a confirmação do meu nome para superiora. Nunca senti tão vivamente minha fraqueza e profunda miséria. Minha única esperança está no Divino Salvador. Conto com a assistência de sua graça e com os conselhos de minha boa Mãe”. Logo em seguida acrescenta “Fazem-nos um pouco de guerra: nossa mudança excitou a raiva dos maus; eles não se conformam com a idéia de que a mais rica e bela Igreja, não somente da cidade, mas da Província, passe para mãos estrangeiras. Vêem que nossa obra prospera, que gozamos das simpatias de um grande número e não nos podem perdoar”.

Madre Teodora enfrentou provações múltiplas: contra a fé, contra a esperança, de desânimo, e muitas outras. Já com mais idade, contava sorrindo que certo dia, quando ainda jovem superiora, foi chamada ao locutório por um senhor de meia idade que, sem mais preâmbulos, exprimiu-lhe profunda admiração por sua brilhante inteligência, seu espírito de iniciativa e demais prendas. Acabou pedindo-a em casamento. Agradecendo-lhe a homenagem e os cumprimentos, Madre Teodora explicou-lhe: “Se fosse esse meu ideal, por certo eu não deixaria a França, onde recusei ótimos partidos”.

Esta é usualmente, diga-se de passagem, uma arma dos inimigos da Igreja contra sacerdotes e religiosas. E quantos apostatam! Mas era tal o desinteresse da Madre pelo assunto, que jamais cogitou da identidade do cavalheiro...


Oposição dos inimigos da Igreja

Interessa-nos realçar principalmente aqui em que consistiu a oposição a esta obra por parte de forças anticlericais de então, com seus métodos de ataques explícitos à Igreja. Hoje o lobo mudou de pele, embora tenha conservado e até requintado seu ódio à fé.

O jornal “A Gazeta de Campinas” publicou, no período de 1878 a 1880, uma série de artigos assinados por um L.L. (morador de Itu), sob o título O conventinho, os jesuítas e o Patrocínio de Itu. Entre sarcasmos, afirma-se nessa série (mantemos a ortografia do original): “Até quando ficaremos expostos aos effeitos funestissimos dessas cazas jesuíticas, que não escrupolizam em dar educação por ‘tais metas’[...]. Dezenas e dezenas de meninas costumam vir educar-se no Patrocínio, seria este cúmplice naqueles desmandos, caso não se viesse pela imprensa, abrir dos olhos aos ingênuos pais de famílias que, na boa fé, são aludidos pelos saltimbancos de roupeta”.

O alvo prioritário dos ataques eram os jesuítas. As Irmãs de São José também se tornam objeto das investidas, em virtude de sua ligação com os filhos de Santo Inácio. A congregação foi alvo de inúmeras crônicas, às vezes rudes, furibundas, fantasiosas e infundadas.

Um artigo no mesmo jornal, assinado por Ollem Sopmac — que, se lido na ordem inversa, pode significar Campos Mello — comenta: “Entretanto, a menina de que fallamos, que não teve tempo para estudar nem sequer a historia pátria, nem somente a provincial, sabia de cor inteiramente sem faltar uma linha, um volume inteiro da Historia Sagrada! [...] Nem um só dia deixa de repetir Cathecismo e Historia Sagrada [...], única cousa que se ensina com desvelo é o que lhe chamam religião, e que seria, se não estivesse enxertada das mesmas superstições dos jesuítas. Não vale a pena tão pouca cultura intellectual em troca de tanto fetichismo. [...] Em breve, os observadores conheceram que o beatíssimo começava a ressurgir de suas cinzas. Novas e desconhecidas praticas religiosas appareceram. As festas do mez de Maria de que nunca se fallou em Itu, foram instituídas; as solemnidades da Primeira Comunhão, um verdadeiro melodrama, que deslumbra as mulheres ignorantes e até alguns não muito ignorantes, celebram-se em grande concurso”.3

Expressões como “fanatizado pelos jesuítas”, “enorme turba de beatos”, “medrosos”, “multiplicaram-se as superstições”, “asqueroso fetichismo” etc., não cessavam de aparecer em tais escritos cheios de fel e anticlericalismo.

Resultado de uma grande obra de apostolado


Madre Teodora foi superiora da congregação por quase 66 anos. Apesar de todas as investidas, a obra foi adiante. A partir daquela semente nasceram numerosos frutos. Só no estado de São Paulo, até 1919, a congregação já mantinha 31 casas sob sua direção.

De acordo com o registro dos livros de matrículas que se encontra no Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, de 1859 a 1919 foram matriculadas 2.275 alunas. Considerando o número de inscritas ano a ano, a tabela fala por si, demonstrando que o prestígio do colégio se mantinha equilibrado no decurso de 60 anos – caso inusitado, se comparado a outras instituições de educação que tentaram se firmar nesse mesmo período.

A sociedade paulista ficou marcada durante essas décadas pela moralidade católica tradicional. Moralidade esta combatida hoje ao extremo pelos fautores do hedonismo como “sociedade hipócrita, cheia de falso moralismo e tabus” e toda sorte de slogans injustos e superficiais. É a manifestação do mundo com seus ódios, falsos atrativos e falsas máximas, a que se refere São Paulo Apóstolo.

Em próximo artigo pretendemos expor o método e o programa de ensino das Madres de São José de Chambéry, tão amadas e queridas por várias gerações de formandas.

____________
Nota:
1. Alocução à União dos Homens da A. C. Italiana de 12-10-1952 – “Discorsi e Radiomessaggi”, vol XIV p. 359.
2. Uma alma de Fé, Olivia Sebastiana Silva, Ave Maria, São Paulo, 1985, p. 55 e 56.
3. “Educação Feminina numa Instituição total confessional Católica Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, Maria Iza Gerth da Cunha. Tese apresentada do Departamento de Historia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de SP (USP), 1999.



Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

Fra Angélico, luz sobre o dogma e a França

Fra Angélico, luz sobre o dogma e a França


27/2/2012

Nelson Ribeiro Fragelli

Admirável exposição de quadros do “pintor angélico” em Paris deslumbra nossos contemporâneos, despertando-lhes o desejo de evadir dos horrores atuais e antegozar as belezas do Céu.




“A França deveria ser para o conjunto das nações católicas a terra da harmonia, da bondade, do sorriso, da generosidade de alma, do dom total de si mesma à vossa pessoa e, por vosso intermédio, a vosso divino Filho; a terra cuja alma se exprime na Sainte Chapelle, em Notre-Dame e em tantos outros monumentos que cantam a vossa glória”.

Ao final deste fragmento de uma oração, dirigida por Plinio Corrêa de Oliveira a Nossa Senhora enquanto Rainha da França, nós poderíamos acrescentar Fra Angélico entre as expressões da alma francesa, embora ele fosse italiano. A harmonia e a doçura que emanam das linhas e das cores de suas configurações da História Sagrada e das verdades de fé são representações pictóricas inteiramente afins com a sacralidade daqueles monumentos arquitetônicos franceses.

O público francês confirma nestes dias essa atração: desde o final de setembro, todos os dias da semana, as salas de exposição do Museu Jacquemart-André, em Paris, estão continuamente cheias. Elas expõem uma coleção de numerosas pinturas de Fra Angélico.

Sob a chuva fina e gélida deste inverno europeu, as filas de espera à porta do Museu são ininterruptas. Não é fácil entrar, pois a administração não permite excesso de pessoas junto às obras, a fim de proporcionar ao público a calma para se deter diante dos mistérios sagrados ali representados. O estilo é preciso e singelo: ora radioso e terno quando se trata da gruta de Belém, ora trágico e dolente ao reproduzir a Crucifixão ou martírios, ora manifestando profeticamente a visão do mestre a respeito das verdades contidas no Credo, como a ressurreição dos corpos, a felicidade celeste dos bem-aventurados e o castigo dos condenados. Verdades há muito desaparecidas da quase totalidade dos sermões dominicais de nossas igrejas — como também nas da França —, verdades que trazem consigo, entretanto, perene atração.
“Angélico pintor” que transcendeu seu tempo

Crucifixão, convento de São Marcos, Florença

Fra Angélico é o nome com o qual o frade dominicano Giovanni da Fiesole, beatificado por suas virtudes insignes, entrou na legenda como um dos maiores mestres da pintura sacra. Ele viveu na primeira metade do século XV (1410-1455), foi religioso do convento de São Marcos, em Florença. Pouco depois de sua morte, outro frade, Domenico di Giovanni, admirando cenas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo pintadas num armário para conservar ex-votos doados ao santuário mariano florentino da Santíssima Annunziata, exclamou: “Angelicus Pictor”. A exclamação bem traduzia o estilo e a linguagem pictórica usados por Fra Angélico. Os contemporâneos viram naquela exclamação uma explicitação do sentimento de todos. A partir de então, ele foi assim conhecido.

De angélico tinham suas obras o espírito da Filosofia Escolástica de Santo Tomás de Aquino — “Doctor Angelicus” —, bem como o do estilo gótico, denominado por muitos de “escolástica de pedra”. A obra de Fra Angélico se une assim, indissociavelmente, a grandes florões da Idade Média, apesar de ele ter vivido no início da época renascentista. Mas seu estilo transcende os parâmetros artísticos de seu tempo, conciliando-se com o espírito que impregnou o apogeu da civilização cristã medieval.

O juízo da Igreja sobre suas virtudes ao declará-lo Beato não se formou a partir da análise de eventuais escritos por ele deixados, mas firmou-se sobre a perfeição de alma revelada em suas pinturas.
Veneração pelo dogma movia seus pincéis

O Beato concebeu suas obras, segundo a tradição medieval, como instrumento de apostolado. Ele quis que elas trouxessem ao mundo reflexos da Beleza divina e de sua Igreja — reflexos tão perfeitos quanto seu pincel fosse capaz de representar. Sua visão do Belo deveria instruir, mover as almas à oração e à contemplação. Foi o que fez na cela dos frades ao receber ordem de seu superior de orná-las com afrescos, no convento de São Marcos. Nelas deixou pinturas cujos traços revelam, em sua pureza e simplicidade, intensa vida interior do artista.

Antigos autores sustentam a hipótese de que ele teria tido visões durante as orações preparatórias para a execução de seus trabalhos de pintor. Assim como os monges-construtores das primeiras catedrais góticas no século XII tinham em vista exclusivamente a edificação espiritual dos fieis, Fra Angélico apresentou, sob seus traços e suas cores, a verdade e o dogma. Sob as suaves aparências de seu estilo ele sensibilizou as almas e assim as moveu rumo à aceitação gaudiosa das verdades eternas. Ele sofria ao ver a crescente negação dessas verdades pelo espírito da Renascença, cuja virulência já em seus primórdios contaminava seus contemporâneos, pintores e religiosos como ele. A suavidade de seus personagens não nos deve iludir. Se os gestos e feições deles não polemizam é porque ao serem pintados os grandes dogmas da Cristandade — ainda não tinham sido negados pelo ímpio Lutero —, o foram sob o influxo de alegria vinda da profunda paz da qual gozam as consciências retas. Tais gestos e afeições invariavelmente denotam inabalável firmeza de princípios. A firmeza dos traços desperta o sentimento de coerência e de veracidade. A veneração pelo dogma movia seus pincéis.
Representações de perfeições espirituais

Em suas cenas são características as representações de largos espaços nos quais nenhuma ação se desenvolve. Esses espaços, imperceptivelmente, descansam o observador e permitem a meditação. Ele preferia levar o observador à meditação em vez de provocar aplauso para a obra. Pouco tempo depois, com o advento da plena Renascença, seriam suprimidos esses espaços nas concepções artísticas, sobrecarregando-as de elementos geométricos ou alegóricos, excitando assim a imaginação em detrimento da composição lógica. Estas execuções renascentistas introduziam a artificialidade, colhiam aplausos dos espíritos e os louvores faziam rejubilar seus autores voltados à glória terrena.

A singeleza das composições de Fra Angélico torna-as facilmente inteligíveis, os detalhes são subsidiários da idéia central e sua perspicácia psicológica enriquece agradavelmente o conhecimento. Suas obras ensinam. As fisionomias, ao exprimir densidade de pensamento ou de sentimentos, comunicam a certeza de terem sido aquelas mesmas as cogitações do personagem representado. Ele tornou presente a vocação de cada figura através de seus traços fisionômicos. Suas cenas são, portanto, repletas de um sentido histórico superior. Sua simbologia não é enigmática nem requer uma chave de interpretação para que o pensamento seja inteligível. Ela é de um entendimento simples e imediato, embora, uma vez compreendida, desperte o agradável sentimento de se atingir uma superior percepção de um mistério divino.

Nesses quadros, paradoxalmente, o mistério nada tem de obscuro, mas é apresentado sob a luz da razão. Eles reproduzem assim, de algum modo, os ensinamentos da Revelação. O encanto pelo mistério não é despertado por um astucioso jogo de cores, mas provém de aspectos sublimes da santidade delicadamente apresentados. Tal como nas catedrais, é a luz e seus matizes que elevam os corações. “Ad lucem per crucem”, diz-se na Igreja. O sofrimento é apresentado pelo frade pintor como sendo um caminho rumo a revelações superiores. Mesmo nas cenas de martírio as fisionomias permanecem inabaláveis, fixas em suas certezas e em sua determinação. No quadro “São Lourenço ajuda os pobres”, as feições dos mendigos traduzem tanta calma e segurança quanto a de São Lourenço, portador da bolsa de moedas. Esplendorosamente vestido, São Lourenço jejuava a fim de dar aos pobres mais virtudes do que dinheiro, e o modo com o qual eles o fitam mostra que pediam do santo, sobretudo gestos e palavras de vida eterna. Assim eram os espíritos naquela época de fé. Na cena inteira ressuma o desejo do pintor de inspirar virtudes sublimes. “Fra Angélico teve o carisma de exprimir em suas obras a perfeição espiritual — expressão tão mais excelente quanto mais elevado era o objeto da obra” (Plinio Corrêa de Oliveira).
Fra Angélico e artistas contemporâneos

Apresentação de Nosso Senhor no Templo, convento de São Marcos, Florença

O Beato foi praticamente o único pintor em seu gênero. Seus contemporâneos já estavam contaminados pelo ideal terreno, eminentemente emocional, que dentro em pouco dominaria a Renascença em plena realização. Zanobi Strozzi, um de seus primeiros discípulos, é um triste exemplo da solidão na qual os contemporâneos deixaram o mestre dominicano. Em seu célebre quadro sobre Nossa Senhora, o Menino Jesus aparece despido (em todas as eras da Humanidade não se conhece exemplo de mãe que deixe seu bebê despido) enquanto Maria tem o olhar frio e vago, parecendo ignorar o Filho. Dois anjos músicos ornam a parte inferior do quadro; um deles, o anjo da esquerda, melancólico e sensual, tem semelhança com certas figuras vistas nas ruas de nossas atuais cidades. Strozzi pintou também o “Cristo do Apocalipse”, cuja expressão dura e impessoal da face e do gesto de mão, imprópria à majestade, contrasta com a mesma cena pintada por Fra Angélico no “Juízo Final”. Giovanni di Francesco Ravezzano pertenceu à escola de Fra Angélico, embora tardiamente. Também ele quis representar Nossa Senhora com o Menino Jesus, mas sua concepção opõe-se à sutil sensibilidade do Beato. Seus personagens já não exprimem nem pensamento nem elevação de sentimentos, quando não são sentimentais. Pinturas como as de Ravezzano contribuíram poderosamente para desviar a fervorosa piedade mariana medieval.

Alguns quadros ou afrescos atribuídos a Fra Angélico por reconhecidos especialistas foram influenciados e até mesmo completados por seus “discípulos”, podendo assim apresentar detalhes contraditórios com o vulto geral de sua obra. Seu estilo apresenta uma “linguagem pictórica” forjada por intensa vida espiritual e pelo desejo santo de retratar Deus, seus anjos e seus santos de modo a serem mais bem conhecidos e amados. Seu inconfundível estilo pode ser apreciado particularmente na “Crucifixão”, na representação de “Nossa Senhora no trono”, no afresco sobre a “Anunciação” e no magistral afresco “Apresentação no Templo”, pintado em uma das celas do convento. A “alma” de seus personagens pode ainda ser percebida numa simples iluminura de um saltério. Trata-se da letra inicial do Salmo 52: “Disse o néscio em seu coração: Não há Deus. Perverteram-se, tornaram-se abomináveis...” Com riqueza de detalhes a iluminura retrata o néscio — espírito precipitado e temerário —, voltado para os aspectos terrenos da existência, carente de elevação moral. Um olhar mesmo fugaz desta iluminura despertaria imediatamente, em quem tinha o saltério nas mãos recitando os Salmos, uma santa repulsa por essa posição do espírito.
Pinturas de sobrenaturais virtudes da alma

Durante a visita ao Museu Jacquemart-André aprende-se que na biografia do Beato escrita pelo célebre Giorgio Vasari, o autor “insiste na particularidade de que o pintor parece ‘sair do paraíso’”. A afirmação deste especialista se compagina a outra, de Plinio Corrêa de Oliveira, segundo a qual Deus, ao criar as maravilhas da natureza, deu-nos a tarefa de as completar. Assim, muitas obras dos homens podem ser mais belas do que as da natureza, pois enquanto filhos de Deus os homens podem comunicar à sua obra algo de sua alma, a qual tem belezas inexistentes no mundo da natureza irracional. A obra-prima de um pintor consiste em tomar aspectos da natureza — ou cenas da História Sagrada, no caso de Fra Angélico — comunicando a ela reflexos de sua alma habitada pelo sobrenatural.

Vê-se que o Beato Angélico uniu aspectos superiores de sua alma ao objeto de suas pinturas. Ele mesmo fabricava suas tintas com safiras e rubis triturados, óleos especiais, resinas de utilização até então desconhecida. E assim ele trouxe à luz aspectos recônditos da natureza e das almas, da felicidade temporal e dos vislumbres da glória eterna. Suas tintas impregnaram telas e painéis de sobrenaturais virtudes de sua alma. Quem contempla seus quadros tem a agradável sensação de estar em presença de realidades evidentes, conhecidas de todos, mas que convidam a um aprofundamento na medida em que uma luz suave emanando daquelas cores sugere traços transcendentais cujo conhecimento seria uma descoberta. Em certo momento não se sabe o que mais atrai, se é a pintura ou a alma do Beato. Pode-se distinguir uma da outra?
Visitantes “transportados” à Idade Média

Seria esta a sensação da multidão de franceses cujos olhos se colavam às obras ali expostas, como que para se liberar de uma névoa que os impedia de ver tanta virtude? A cortesia expressa por aqueles personagens e a elegância dos anjos, a suavidade dos reis e o recolhimento dos monges constituiriam uma pausa na vulgaridade de seus dias? Sentiriam eles falta da certeza tão presente nos gestos humanos e angélicos daqueles quadros? Entre o relativismo balofo dos atuais dias e aqueles semblantes modelados pela decisão da vontade não optavam os expectadores pela prolongada permanência junto ao Beato? Por três horas ou mais, silenciosos, recolhidos, eles se deixavam transportar aos tempos da “doce primavera de Fé”. Se Fra Angélico pudesse observá-los através de um de seus personagens intensamente fixados pelo olhar do público, talvez ele — perspicaz psicólogo — chegasse a imaginar uma fisionomia única do homem padronizado de nossos dias. E se o Beato devesse fixar essa singular fisionomia em uma de suas pinturas, talvez ele a comporia misturando aos lineamentos fisionômicos do néscio, traços da saudade do que lhes foi negado, de compunção e de aspiração a um retorno...

A exposição apresenta obras de outros pintores, contemporâneos do Beato. Alguns franceses exercitavam seu senso artístico perguntando-se, diante de cada pintura, se aquela vinha das mãos de Fra Angélico. Era quase um jogo de discernimento de seu carisma. Atentos, eles procuravam nas pinturas “a marca da beatitude”. O que é essa “marca”? Certo é que ninguém descreveria tão bem seus quadros quanto ele mesmo. Mas talvez nem ele próprio pudesse dizer como pode exprimir na face da Mãe de Deus, não só a virgindade, mas também o apreço que Ela tinha por sua condição de Mãe, temperando essas expressões com a recusa de tudo o que não é imaculado! Rainha dos Anjos, deles Ela é verdadeiramente o arquétipo, superando-os em virtude. Aos poucos a observação atenta familiariza o observador com aquilo que — mais do que uma técnica ou uma habilidade — é o dom de uma alma santa. A 556 anos de sua morte, Fra Angélico brilha no firmamento da Igreja como das figuras mais perfeitas que pintou.

Que espanto ao soar inopinadamente a musiquinha sintética de um estridente celular! Maior espanto em ouvir a resposta da pessoa chamada. De maior desvario daria provas somente alguém que lançasse tinta sobre as asas de um daqueles anjos. Protestos se levantaram contra aquela ofensa ruidosa ao sagrado. Alívio ao verem o celular fugir da sala. Olhares indignados se alternaram com observações picantes — tudo à francesa — a respeito da incúria. Serenou aos poucos o exasperado redemoinho e os espíritos repousaram novamente no século XV, em pleno convento dominicano. Estávamos nesse momento em frente ao “Juízo Final”. Termina a exposição. Ficam nas almas sementes da eternidade.

Veja:
Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores

sexta-feira, 23 de março de 2012

As estruturas do mundo ameaçam ruir, enquanto crescem as saudades da Cristandade

As estruturas do mundo ameaçam ruir, enquanto crescem as saudades da Cristandade


30/1/2012

Luis Dufaur

A interdependência universal das economias, das políticas e das sociedades ao longo de várias décadas deu início ao maior colosso de origem humana da História. Mas ele continha fissuras que em 2011 se agigantaram e ficaram expostas, ameaçando um desabamento também universal.

Nos períodos pobres em acontecimentos o tempo parece não passar, e todo o ocorrido no seu decurso parece ter-se dado há pouco. Mas quando a sucessão dos fatos é vertiginosa, os eventos próximos parecem de há muito transcorridos. O ano de 2011 foi destes.

Em janeiro passado o Brasil sofria a mais mortífera catástrofe natural de sua história e uma das dez piores do mundo no último século. Contaram-se pelo menos 902 mortos e 400 desaparecidos. Na região serrana fluminense, chuvas incomuns provocaram deslizamentos de toneladas de terra, quedas de pedras gigantescas e enxurradas de lama comparadas a tsunamis, que atingiram 100 km/h. Não só prédios, mas bairros inteiros foram inundados ou sepultados em segundos, em um cenário semelhante ao provocado pelo furacão Katrina que em 2005 devastou Nova Orleans. Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis foram algumas das 15 localidades mais afetadas.

O engenheiro Ícaro Moreno Júnior, presidente da Empresa de Obras Públicas (Emop), avaliou: “Era impossível prever algo daquela dimensão. Foi como se a natureza decidisse despejar toda sua força de uma vez só”. Dez dias depois da tragédia, 130 geólogos de todo o Brasil que haviam se apresentado como voluntários não tinham uma explicação para o fenômeno.

Num contexto geográfico inteiramente diverso, na Austrália, chuvas torrenciais fizeram transbordar o rio Brisbane, também com a força e a extensão de um tsunami.
Japão: tsunami, terremoto e crise nuclear

No Japão, um tsunami provocado pelo sexto terremoto mais violento da História engoliu 26.466 pessoas, entre mortos e desaparecidos

Porém, o tsunami — não metaforicamente falando, mas o real, provocado pelo sexto terremoto mais violento da História — veio pouco depois, no Japão, tragando 26.466 pessoas, entre mortos e desaparecidos. As fotos das pavorosas ruínas da cidade de Sendai e vizinhanças estão em todos os jornais, TVs e sites da Internet.

O terremoto interrompeu a produção de automóveis, chips de computador e diversos outros bens. Fábricas estratégicas foram obrigadas a fechar prolongadamente as portas, criando um ponto de estrangulamento na economia global. Até no Brasil as montadoras japonesas dependentes de peças da matriz acusaram o golpe.

Entre os imensos estragos, a situação da antiga central atômica de Fukushima — que em parte derreteu e espalhou relevante radiação nas redondezas — inspirou graves temores. Embora muitíssimo menos grave que a da usina soviética de Chernobyl, o acidente de Fukushima foi intensamente explorado pela mídia e pelo ambientalismo para promover o desmantelamento de toda e qualquer central nuclear e até mesmo do sistema industrial moderno, o qual é acusado sem matizes de pôr em risco a vida na Terra.

De um lado, o caso de Fukushima ajudou a perceber a existência de como que tumores cancerígenos industriais instalados em vários pontos-chave de um mundo tornado quase totalmente interdependente. De outro, a manipulação demagógica dos fatos distorceu sua focalização e os “verdes” capitalizaram a onda de pânico, servindo-se para isso do sensacionalismo midiático. Na Alemanha, por exemplo, eles “surfaram” nas ondas de Fukushima e no estado de Baden-Würtemberg infligiram considerável derrota eleitoral ao CDU, partido democrata-cristão ao qual pertence a chanceler Angela Merkel.
Avisos e proteções de Nossa Senhora

Mas o tsunami trouxe outras recordações. Em 1973, no convento das Servas da Santíssima Eucaristia, em Yuzawadai, perto de Akita — a região mais atingida pelo terremoto — Nossa Senhora se manifestara à Irmã Agnes Katsuko Sasagawa, então com 42 anos de idade.

Akita está situada na mesma latitude do epicentro do colossal abalo sísmico, a 150 km de Sendai, a cidade mais atingida. As aparições de Akita haviam sido analisadas e aprovadas pela Hierarquia eclesiástica. Naquela data, Nossa Senhora preanunciou que castigos ainda mais terríveis do que aquele enorme terremoto e tsunami viriam, caso o clero católico e o mundo não se arrependessem e mudassem de vida. “Se os homens não se arrependerem e melhorarem, o Pai infligirá um terrível castigo para a humanidade. Será uma punição maior que a do dilúvio, nunca vista antes. Fogo cairá do céu e destruirá grande parte da humanidade, tanto os bons quanto os maus, não poupando nem sequer os sacerdotes ou fiéis”, advertiu Nossa Senhora.

“A obra do demônio se infiltrará até mesmo dentro da Igreja, de tal modo que veremos cardeais se opondo a cardeais, bispos contra bispos. Os padres que Me veneram serão escarnecidos, menosprezados e combatidos pelos seus confrades [outros padres]. Igrejas e altares serão pilhados. A Igreja estará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio afligirá muitos padres e almas consagradas para que deixem o serviço do Senhor. Se os pecados aumentarem em número e gravidade, em breve não haverá perdão para eles. Aqueles que colocam sua confiança em Mim serão salvos”, concluiu o aviso maternal.

Também na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro a Santíssima Virgem quis deixar claro que sua presença protetora ali estava para os que ouvem a sua voz. No meio de grandes pedras e troncos de árvores arrastados pela enxurrada podia-se contemplar, incólume, uma frágil imagenzinha de gesso de Nossa Senhora das Graças que, em seu oratório de madeira exposto às intempéries, soube resistir a estas de modo surpreendente. Arrebatadora, a aluvião a envolveu, pareceu engoli-la, mas nada pôde contra a Imaculada!

Numerosas reuniões de cúpula, promessas de decisões transcendentais e aumentos eletrizantes do poder da UE foram encabeçadas pelos dois “grandes” da UE, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, poderosa dupla apelidada de Merkozy.

Tsunami financeiro: crise do euro e da União Europeia

No início do ano, a utopia da República Universal, encarnada a seu modo pela União Europeia (UE), afigurava-se quase morta nos espíritos. Porém ainda resistia, exibindo sua formidável organização material. Já no fim do ano, na ordem concreta dos fatos, a UE entrava em ebulição, com governos e empresas preparando-se para o impensável: a ruptura da união monetária, acompanhada por abalos financeiros e desordens sociais imprevisíveis. O descontentamento e a discórdia estendem-se a outros pontos nevrálgicos, como a moeda comum, o euro.

Em janeiro do ano passado, na reunião dos máximos representantes do mundo econômico e financeiro, realizada em Davos, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, garantiu: “Quem apostar contra o euro vai queimar os dedos”. Porém, pelo fim do ano, aconteceu o oposto: não eram os dedos dos eurocéticos (contrários à União Europeia) que se queimavam, mas todo o corpo da união monetária, crucial para haver união política. Numerosas reuniões de cúpula, promessas de decisões transcendentais e aumentos eletrizantes do poder da UE foram então encabeçadas pelos dois “grandes” da UE, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, poderosa dupla apelidada de Merkozy.

As medidas de salvação do euro, anunciadas estrepitosamente na UE, tiveram até o momento resultados pífios, e seu futuro é incerto. Pelo fim do ano, cada novo anúncio de mais uma reforma profunda das finanças e dos tratados fundacionais da UE para conjurar a crise era “mais do mesmo”, sem qualquer resultado sério.
“Merkozy” contra a opinião pública europeia

Numa desesperada tentativa de salvar os países da eurozona em crise, a chanceler da Alemanha foi ao Parlamento de Berlim para impor um aumento da participação de seu país no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Embora tal ideia fosse repelida pela maioria do povo e dos deputados alemães — cansados de financiar outros países que pouco ou nada faziam para pagar suas dívidas e racionalizar seus orçamentos — Angela Merkel conseguiu obter dos parlamentares a aprovação desejada. Constatou-se, porém, poucas semanas depois, que o fundo salvador era fantasmagórico, porque os capitais indispensáveis não afluíam.

Se nadar contra a correnteza é árduo, muito mais o é governar contra a opinião pública. E esta não foi somente a grande ignorada na crise, mas até mesmo a grande repelida. Bastou o premier socialista grego, Papandreou, anunciar um plebiscito a fim de auscultar o povo sobre as medidas de arrocho econômico, para ser em seguida deposto de modo ditatorial pela troika composta pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em seu lugar foi nomeado Lucas Papademos, considerado um técnico ao gosto da troika que se arrogou a tarefa de direção da UE.

De chibata na mão, observada por Portugal, Grécia e Itália algemados, Angela Merkel diz ao Banco Central Europeu (ECB), que leva dinheiro para salvá-los: Mais dinheiro não, mais disciplina!

A crise derrubou sete governos, entre eles o quase inabalável “reinado” de Silvio Berlusconi, na Itália. Em seu lugar a troika impôs um primeiro ministro de seu gosto: Mario Monti. Este apresentou em dezembro mais um plano de arrocho — a lei Salva Itália — dizendo: “Os mercados são um animal feroz e hoje estão bravos: nós temos que domá-los”. Frase por certo prenunciadora de maiores atritos.

Dos EUA, onde a crise financeira também produzira anteriormente sérios problemas, chegaram durante o ano notícias menos alarmantes, mescladas com sinais debilmente positivos.

Mais obscuro e enigmático, contudo, ficou o panorama econômico chinês. A potência comunista — que não produz suficiente comida para alimentar seu sofrido povo — depende em tudo de suas exportações ao Ocidente e do dinheiro que recebe em troca. Mas o esfriamento das economias ocidentais acarretou-lhe diminuição de atividades e grande número de revoltas operárias. As famosas reservas chinesas de dólar mostraram-se exíguas, incapazes de tampar sequer o buraco da eventual falência da Itália. O que então dizer desse claudicante dragão chinês no tocante à crise da Europa? De eventual “salvador” a China passou a ser imenso espectro desestabilizador. As esquerdas laicas e católicas, apologistas da UE e do euro, insistiram como remédio um aumento dos poderes absorventes da própria UE e do Banco Central Europeu (BCE), em detrimento da soberania das nações. Precisamente aquilo que para largos setores da opinião pública europeia é a própria essência do mal presente, ou seja, o socialismo crescente. A chanceler da Alemanha teve que assumir a contragosto o papel de “Lady No”, ao negar a emissão de mais dinheiro pelo BCE; dinheiro este que acabaria sendo fornecido pela Alemanha. A opinião pública germânica não suporta mais financiar governos estrangeiros.

Tida como o bastião que segurava a economia europeia, a Alemanha deu, nos últimos meses do ano findo, graves sinais de contágio do mesmo mal que aflige os demais governos. Durante todo o ano Merkel exigira insistentemente, dos países europeus com problemas, mais disciplina e menos despesas. Em vista disso, não causou espanto o crescimento nesses países de um sentimento germanofóbico, pois afinal Berlim cometera os mesmos abusos que, de látego na mão, queria extinguir nos outros.
Horizontes aterradores impensáveis

No final do ano, economistas, sociólogos e especialistas de diversas áreas trabalhavam com hipóteses que incluíam o surgimento de desordens sociais, decorrentes de desabamentos até há pouco tempo impensáveis nas economias mundiais: corridas aos bancos, evaporação da poupança de milhões de cidadãos, empobrecimento de nações inteiras, “corralitos”, desvalorizações devoradoras, migrações, saques e revoluções. Nas combalidas esquerdas, a perspectiva de um colapso do capitalismo privado — baseado na propriedade particular e na livre iniciativa — afigurava-se como a realização das obscuras profecias de Karl Marx, um equivalente ocidental da derrubada, nas décadas de 80 e 90, do capitalismo de Estado socialista e anticristão simbolizado pela URSS.

Nas minorias radicais anarquistas, ambientalistas e comuno-tribalistas, a crise era comemorada como um passo rumo à utopia eco-tribalista de uma humanidade diminuída que “retornava” à vida na selva. Porém, ecologia e ambientalismo radicais tiveram pouca ressonância na opinião pública, como ficou evidenciado no esvaziamento das exageradas profecias de um “aquecimento global”, como também no desinteresse pela Conferência de Durban.

Fugitivos das revoltas e guerras civis do norte da África chegavam ilegalmente em barcos à ilha de Lampedusa, no Mediterrâneo, pertencente à Itália

Crise migratória racha a Europa

A União Europeia sonhou constituir uma sociedade imensa, “célula-mater” da República Universal, na qual a multiplicação das vias de comunicação e a fusão das economias dos diversos países gerariam um todo cada vez mais interdependente amalgamando povos das mais diversas culturas e etnias. Sua opulência e seu laxismo alfandegário atraíam multidões de todos os recantos do mundo. Porém, receosos de ficarem sujeitos — a exemplo do império romano — à pressão de imensas e incontroladas levas de estrangeiros, os povos do continente ficaram dominados pelo pavor.

No início do ano, a contragosto de Bruxelas, a Grécia anunciou a construção de uma fossa aquática de 120 quilômetros de comprimento ao longo de toda a sua fronteira transitável com a Turquia. A fronteira seria ladeada por um muro de três metros de altura, 30 de largura e sete de profundidade, bem como cercada por arame farpado, câmeras térmicas e sensores de movimento. Por essa fronteira entraram, só em 2010, 180 mil pessoas, o equivalente a 90% dos imigrantes ilegais na UE.

Poucos meses depois, mais de 35 mil magrebinos — fugitivos das revoltas e guerras civis do norte da África — chegavam ilegalmente em barcos à ilha de Lampedusa, no Mediterrâneo, pertencente à Itália. Muitos outros milhares sucumbiram naquele mar, durante a mesma tentativa desesperada. Incapaz de sustentar essa multidão, a Itália concedeu um visto temporário aos recém-chegados e os encaminhou aos países vizinhos. Esse grande fluxo obrigou as autoridades francesas a barrar as linhas férreas provenientes da Itália e devolver os imigrantes dotados de vistos legais. Paris pediu então — e obteve — a reforma do tratado de Schengen, que garante a livre circulação nas fronteiras sem controle de identidade.

Em outro lance, com argumentos e pretextos polêmicos, a Dinamarca restabeleceu os controles fronteiriços para se defender da imigração descontrolada e do crime. A Comissão Europeia de Bruxelas, máximo órgão executivo da União Europeia, ameaçou processar o país “dissidente”. A decisão foi verberada como sendo um “presente” intolerável do Partido do Povo Dinamarquês, rotulado de “extrema-direita” e por isso mesmo tido como indigno de ser ouvido no debate democrático.

Na França, Marine Le Pen comemorou a decisão dinamarquesa que acabara “com o bla-bla-blá permanente e inação total do governo”. Para ela, o exemplo deveria ser seguido por outros países. Na Suíça, Christoph Blocher, líder da União Democrática de Centro (UCD), partido governante, propôs restabelecer os controles policiais nas fronteiras e abandonar o tratado de Schengen para limitar a imigração ilegal.

Em face desse gênero de reações, reveladoras de um crescimento da direita na juventude europeia, o mau humor e o temor foram crescendo nos ambientes favoráveis à UE, dominados pelas esquerdas e pelo progressismo católico. Por exemplo, o jornal sueco de tendência socialista “Aftonbladet”, o maior da Escandinávia, levantou o espantalho de que “nos armários de sapatos da Europa, as botas estão guardadas e prontas para serem usadas”.

O fato é que largos setores da opinião pública europeia já estão enojados com os abusos totalitários praticados pela UE, notadamente na questão relativa à maciça imigração islâmica, vista por eles como uma “invasão”. Porém, os “europeístas” se recusaram a renunciar à utopia igualitária de “um continente sem fronteiras”.

O fundamentalismo islâmico — cuja cabeça reside no Egito, mas que se estende por todo o mundo muçulmano — foi surgindo como a verdadeira inteligência que teleguiava os agitadores da rua, mandando atacar igrejas, interromper cerimônias cristãs e matar fiéis.

“Primavera árabe” ou “primavera fundamentalista”

Na Líbia, o ditador Khadafi, acobertador do terrorismo nos tempos da URSS, não entregou pacificamente o poder

Batizado como “Primavera árabe”, um tsunami de revoluções percorria o mundo muçulmano, desde o Marrocos, nas costas do Atlântico, passando pela Tunísia, o Egito e a Síria no Oriente Médio, atingindo o Bahrein e o Kuwait no Golfo Pérsico, o Iêmen e a Arábia Saudita no Mar Vermelho. A imprensa mundial ressaltava as aparências liberais e democráticas dessas revoluções simultâneas em vários países tão diversos. Dizia-se que as revoltas populares eram ateadas pelos anseios de liberdade e democracia entre as novas gerações criadas e organizadas por meio de Internet e dos celulares. Tudo começou na Tunísia, quando um ambulante ateou fogo em seu corpo como protesto. Manifestações em série, que exigiam a queda do regime socialista e altamente corrompido do país, espocaram imediatamente.

O incêndio propagou-se aos países vizinhos segundo um esquema estranhamente similar. Enquanto a ditadura socialista tunisiana ruía e Zine el Abidine Ben Ali renunciava, no coração do Cairo, no Egito, as agora famosas manifestações na Praça Tahrir atingiam grande dimensão e duração. Elas exigiam a queda do presidente socialista Hosni Mubarak, sustentado pelo exército e por um esquema de governo também marcado pela corrupção. Após muitos enfrentamentos de rua, o ditador egípcio acabou renunciando.

A “Primavera árabe” ensejou a instalação no poder de coalizões de grupos oposicionistas que deveriam preparar a transição para regimes genuinamente livres e democráticos. Mas nessas coalizões, compostas muitas vezes por ex-membros dos governos derrubados e por políticos sem base nem representação, um silencioso mas determinado grupo ia impondo o tom: os Irmãos Muçulmanos. Dependente da organização semi-secreta dos Irmãos Muçulmanos ou Irmandade Islâmica, o fundamentalismo islâmico — cuja cabeça reside no Egito, mas que se estende por todo o mundo muçulmano — foi surgindo como a verdadeira inteligência que teleguiava os agitadores da rua, mandando atacar igrejas, interromper cerimônias cristãs e matar fiéis.

Das prometidas reformas liberalizantes muito pouco se tinha feito no fim do ano, mas a brutal sharia (lei islâmica) foi sendo por toda parte propugnada. Os sucessivos governos de transição na Tunísia e no Egito foram sendo cada vez mais contestados pela agitação de rua conduzida pelos ambíguos e misteriosos Irmãos. Como que se adiantando à revolução, no Marrocos o rei prometeu reformas democratizantes e convocou eleições. Em novembro, os fanáticos Irmãos, embora usando uma máscara moderada, saíram das urnas como a maior força organizada.

Na Líbia, o ditador Khadafi, acobertador do terrorismo nos tempos da URSS, não entregou pacificamente o poder. A oposição insurgiu-se em armas, mas logo se patenteou que ela não tinha vigor nem liderança para se impor. A intervenção militar da NATO acabou pondo em fuga o sanguinário ditador, que foi linchado e morto por opositores.

Em maio, numa bem planejada operação-comando dos EUA no Paquistão, foi morto Osama Bin Laden, o chefe terrorista islâmico mais procurado.

A “Primavera árabe” e o desaparecimento simultâneo desses dois líderes deram lugar a um new look do fanatismo maometano, tanto em sua imagem como na estratégia. Os grupelhos terroristas passaram a um segundo plano. A avançada radical passou a se fazer por vias “democráticas”, nas barbas de uma Europa absorvida pela crise econômica interna. Em dezembro, a Fraternidade Muçulmana e o partido salafista, também fundamentalista, obtiveram 65% dos votos nas eleições gerais do Egito. O Mediterrâneo tende a se tornar, pelo menos no sul, um Mare nostrum islamita radical!

Indignados espanhóis, Occupy Wall Street e congêneres

A “Primavera árabe” recrutou imitadores no próprio Ocidente. Os mais promovidos foram os “indignados”, movimento de jovens com celular na mão que acamparam notadamente na praça Puerta del Sol, em Madri, e depois — com muito menos participantes, aliás — em outras cidades da Espanha.

Eles pretendiam tão-só ser os “indignados” diante de uma democracia que perdeu a representatividade e de uma economia que dava sinais de cair aos pedaços. Diziam não professar nenhuma ideologia nem depender de qualquer partido ou corrente organizada; diziam-se apenas profundamente “indignados” e inspirados pela “Primavera árabe”. Mas esta fachada foi ruindo gradualmente. A Espanha não demorou muito a identificar neles os velhos grupos anarquistas e anticapitalistas que, sob nova fachada e aproveitando-se da crise financeira e econômica em que o país foi submerso, tentavam provocar o caos e a anarquia.

Multiplicaram-se as tentativas de imitar o exemplo dos “indignados” espanhóis, com parcos resultados. Na Inglaterra, seus êmulos partiram para a violência, depredação, saques e crimes. Apelando às redes sociais e aos celulares, eles inauguraram uma guerrilha urbana particularmente violenta e eficaz. Numerosos prédios e lojas das periferias de Londres e outras cidades inglesas foram entregues às chamas. Os agitadores — desempregados, mas jogadores assíduos de videogames e frequentadores dos ambientes do rock e da droga —, provinham em geral de famílias desfeitas não raro ricas, e eram contemplados pelos “planos sociais”.

Dentre esses grupos anarquistas e anticapitalistas, poucos foram tão contemplados pela mídia quanto a versão americana Occupy Wall Street. “A maioria das pessoas os considera um grupo de baderneiros em busca de sexo, drogas e rock’n’roll”, disse um gestor de fundo de investimentos. O acampamento americano acabou sendo proibido pela polícia por razões de higiene. Porém, nada indica que os propulsores da agitação tenham desistido de seus planos revolucionários anticapitalistas.
“Epidemia” de câncer e paralisia

Na América Latina, os populismos perderam fôlego. Uma estranha “epidemia” de câncer atingiu seus líderes mais dinâmicos. Destarte passaram a assemelhar-se ainda mais com Fidel Castro o mandatário venezuelano Hugo Chávez — gravemente adoentado — e o ex-presidente Lula, que até antes do câncer ainda exercia sua influência na política nacional. Somadas à doença conhecida dos atuais presidentes do Brasil e do Paraguai — e sem levar em conta rumores sobre a saúde da presidente da Argentina —, o certo é que não faltou quorum para o ex-presidente brasileiro propor uma reunião internacional de “presidentes com câncer”. Como seria melancólica uma reunião de líderes que tendo tomado a peito implantar o socialo-comunismo no continente, se viram de repente reduzidos a um possível encontro para troca de informações sobre o prolongamento de suas vidas...

Pior sem dúvida foi a sorte dos líderes das FARC mortos pelas Forças Armadas da Colômbia em bem-sucedidas operações militares. No Equador, Bolívia e Nicarágua, os presidentes, discípulos de Hugo Chávez, escolheram a discrição. No Peru, Ollanta Humala, eleito presidente com o auxílio do socialismo chavista e do PT, rapidamente escolheu o mesmo caminho. No fim do ano, as esquerdas populistas latino-americanas exibiam singular paralisia, esperando talvez que da crise europeia viessem estímulos ou pretextos para retomar a avançada revolucionária.

As carências de ativismo revolucionário nos poderes Executivo e Legislativo foram supridas por estarrecedoras sentenças do Poder Judiciário. Entre elas, destacou-se a decisão do STF brasileiro de equiparar as uniões homossexuais estáveis às do casal constituído por homem e mulher, bem como de legalizar as polêmicas e repudiadas “Marchas pela maconha”. A respeito desta última decisão, explicou o ministro do STF, Marco Aurélio Mello: “Vale para tudo. Para cocaína ou para qualquer outro crime”. A esse propósito, é oportuno lembrar que o consumo médio de crack é de 1 tonelada/dia, segundo a Polícia Federal. O sistema de saúde passou a atender mensalmente a 250 mil viciados, um aumento de mais de dez vezes em relação a 2003.
Ofensiva laicista e revolta progressista, aliadas contra Roma

A ofensiva contra a Igreja Católica explorando casos de pedofilia — autênticos, forjados ou inverificáveis — fez devastações. Para isso cooperaram figuras do clero progressista que durante décadas contestaram a moral sexual da Igreja e procuraram reformá-la. O padre e sociólogo belga François Houtart, 85, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial e candidato ao Prêmio Nobel da Paz, admitiu por escrito ter abusado sexualmente, nos anos 70, de um primo menor. A notícia constrangeu figuras da esquerda católica brasileira como Plinio de Arruda Sampaio, Frei Betto e Oded Grajew. Na Bélgica, o bispo de Bruges, D. Roger Vangheluwe, que renunciou por semelhante escândalo, faz declarações ao canal de TV VT4 sobre um segundo caso de sedução de que foi protagonista, desta feita em relação a um sobrinho.

Em julho, o Vaticano convocou o Núncio na Irlanda para consultas, após o primeiro-ministro Enda Kenny acusar a Igreja Católica e a Santa Sé de obstruírem as investigações sobre atos de pedofilia. A Irlanda revidou fechando sua embaixada ante a Santa Sé.

O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, membro da Comissão da Santa Sé para a Igreja Católica na China, foi um dos porta-vozes mais salientes e ouvidos dessa respeitosa reação de fiéis chineses que resistiram com vigor e espírito de fidelidade a uma política de distensão que para eles era inaceitável

Rebelião organizada no clero

Em maio, o Vaticano destituiu o bispo de Toowoomba, Austrália, Mons. William M. Morris, por pregar a ordenação sacerdotal de mulheres e a celebração da Missa por ministros protestantes. Na Áustria, por sua vez, a rebelião progressista contra a Santa Sé subiu de grau com o movimento Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos párocos), que lançou o manifesto “Apelo à desobediência”. O movimento diz contar com a adesão de mais de 300 párocos austríacos. Porém, um exame atento das assinaturas permitiu identificar muitos leigos e até o caso de religiosos cujos nomes foram incluídos falsamente para fazer número. O movimento prega objetivos convergentes com a onda anticatólica que age invocando casos de pedofilia: abolir o celibato eclesiástico; substituir as Missas — em muitos casos, aliás, de fato abolidas por uma simulação inimaginável, com as chamadas “eucaristias secas” [ou “missas secas”] presididas por leigos, homens ou mulheres; distribuição da comunhão a divorciados, hereges e cismáticos; readmissão ao uso de ordens dos sacerdotes casados, amasiados ou em situações irregulares; inclusão de mulheres e homens casados no sacerdócio. A nota dominante do apelo é a incitação à desobediência ao Direito Canônico, à ordem hierárquica da Igreja e ao próprio Decálogo.

Alguns dos signatários promoveram liturgias que são verdadeiras pantomimas, como a “Missa Harry Poter”, na qual o sacerdote se exibia a caráter; ou a “Missa do peão”, em que os participantes, sentados em torno de mesas, comiam churrasquinho, bebiam cerveja ou refrigerantes enquanto o sacerdote celebrava com vestimentas à moda cow-boy, ao som de violões e canções country. O episcopado austríaco não reagiu ante esses espetáculos blasfematórios, tentou minimizar a revolta e até explicá-la com argumentos trabalhistas. O cardeal de Viena se fez portador junto ao Vaticano de algumas dessas inaceitáveis exigências. O “Apelo à desobediência” recolheu adesões na Bélgica, na Alemanha e na França. Na maior parte dos casos tratou-se de sacerdotes idosos, outrora ativistas do chamado “espírito do Concílio”, que hoje sofrem duplamente angustiados: tanto pela falta de continuadores como pela aparição de uma nova geração de sacerdotes desejosos do retorno às formas autênticas e tradicionais na liturgia, na disciplina e nos costumes eclesiásticos.

Um fato ocorrido na arquidiocese de São Paulo revela a dimensão simbólica da penetração na Igreja do espírito permissivista, de abertura ao mundo e a seus costumes revolucionários. Um artista instalou uma escultura na Rua Apa, em pleno centro da “cracolândia” paulistana, com a invocação de “Nossa Senhora do Crack”. A iniciativa foi naturalmente considerada como ofensiva a Nossa Senhora e uma incrível exposição de uma imagem d’Ela à profanação. O Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer, elogiou o gesto e julgou que a iniciativa não representava profanação. “Vi e fiquei comovido. Nossa Senhora do Crack, rogai por eles e por nós também!”, comentou. No dia seguinte, a imagem apareceu destruída. “Crack não é de Deus e a santa é coisa divina”, disse um dos drogados que cometeram o ato de vandalismo e que parece não se ter conformado com a idéia de ligar Nossa Senhora ao crack.
A Ostpolitik vaticana e o drama dos fiéis chineses

Pouco noticiada no Brasil, a política de aproximação da diplomacia vaticana com a ditadura marxista de Pequim atingiu extremos de dramaticidade. Após beneficiar-se de pronunciados gestos de abertura e concessão da Santa Sé, o governo chinês procedeu à sagração ilegal e sacrílega de bispos. Os fiéis, já muito perplexos com as boas relações dos representantes vaticanos com os seus algozes, resistiram com vigor e espírito de fidelidade a uma política de distensão que para eles era inaceitável. O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, membro da Comissão da Santa Sé para a Igreja Católica na China, foi um dos porta-vozes mais salientes e ouvidos dessa respeitosa reação de fiéis. “Por meio da violência o governo limita as liberdades individuais; ofende a dignidade das consciências [...] e ainda ousa dizer que tem vontade sincera de diálogo. É a maior mentira do mundo! Nossos fiéis não têm medo [...] ou superarão seu medo com a fé e a oração, que lhes darão forças para imitar os mártires canonizados”, escreveu o purpurado.

Em 16 de julho, numa medida que os fiéis chineses consideravam inexplicável que não fosse tomada, a Santa Sé confirmou oficialmente a excomunhão do Pe. Joseph Huang Bingzhang, sagrado ilegal e sacrilegamente no dia 14. Aliás, tal sagração havia sido deplorada no mesmo dia pela Santa Sé. Enquanto isso, em Brasília, na noite do dia 14, o secretário geral da CNBB, D. Leonardo Ulrich Steiner, recebia, em amável audiência na sede da entidade, uma comitiva da Administração do Estado para Assuntos Religiosos do governo chinês, a qual é responsável também pelo delito canônico. Essa audiência causou indignação e pesar entre católicos.
Apetências da ordem opõem resistência

Apesar de as interpretações midiáticas da crise atual glosarem subrepticiamente a velha teoria de Karl Marx sobre uma revolta planetária que provocaria a queda do capitalismo, a opinião pública do Mundo Livre inclinou-se por governos conservadores e reforçou sua adesão aos princípios da livre iniciativa e da propriedade privada. Em abril, o partido Autênticos Finlandeses multiplicou oito vezes o seu eleitorado e emergiu como grande vencedor das eleições parlamentares, após fazer campanha contra os males da UE e as ajudas à Grécia e à Irlanda, julgadas desproporcionadas. Nisto a Finlândia acompanhou as tendências manifestadas no ano anterior na Suécia, Itália, Hungria e Holanda. Em maio, o Partido Conservador canadense obteve a maioria absoluta no Parlamento. Em junho, o Partido Socialista português foi varrido do governo. Nessa eleição, o altíssimo índice de abstenções (42,1%) foi emblemático do desinteresse crescente dos europeus por líderes de todas as tendências que impulsionam o continente para um desastre em nome da utopia.

A queda do socialismo português só não foi a pior do ano porque em novembro o socialismo espanhol sofreu a maior derrota da história espanhola. Contudo, talvez em nenhum lugar a virada conservadora de filões dinâmicos da opinião pública foi tão carregada de simbolismo quanto numa ex-república comunista de gloriosa história: a Hungria. Lá, o Parlamento aprovou uma nova Constituição que contraria a política radicalmente antifamiliar e essencialmente anticristã posta em prática pela UE, da qual a nação magiar faz parte. O preâmbulo da Carta começa rogando que “Deus abençoe os húngaros”, e afirma: “Orgulhamo-nos pelo fato de nosso rei Santo Estêvão ter criado o Estado húngaro há 1000 anos sobre base sólida e inserido nossa pátria como parte da Europa cristã”. A Constituição define o casamento como “união entre um homem e uma mulher”, “base para a sobrevivência da Nação”, e protege a vida do nascituro desde a concepção até a morte natural.
Admiração e saudades da ordem autenticamente cristã

A ausência universal de líderes e de rumos sensatos, a incerteza do presente, as ameaças potenciais de futuros próximos possíveis, a insegurança generalizada, o desfazimento da instituição familiar seguido de um agravamento generalizado dos problemas psiquiátricos foram despertando no mais íntimo das pessoas a apetência de algo profundamente diverso do que constitui hoje a rotina quotidiana.

Por ocasião do casamento do príncipe William com Kate Middleton, na Inglaterra, verificou-se uma espécie de plebiscito planetário em favor da tradição. Em todo o mundo, cerca de 2,5 bilhões de pessoas assistiram às quatro horas da boda real. Elas admiraram e até se entusiasmaram com uma cerimônia nupcial que misturava pompas monárquicas medievais e vitorianas numa catedral gótica. O príncipe e a cinderela, as carruagens douradas, reis, rainhas e princesas, regimentos de couraceiros a cavalo e guardas reais com chapéus de pele de urso, lacaios de libré em ouro e vermelho fogo: o cerimonial esplendoroso de uma Corte régia foi acompanhado até nos menores detalhes, como o tamanho de sua cauda do vestido da noiva, por multidões cansadas do espetáculo vulgar da modernidade.

Na Áustria, o enterro solene do herdeiro da coroa do Império Austro-Húngaro, Otto de Habsburgo, foi ocasião para uma explosão de saudade pelo passado imperial da Cristandade. Exprimiu essa saudade o impressionante e intérmino cortejo fúnebre com toda espécie de uniformes históricos, bandeiras e insígnias do passado. Símbolos amorosamente conservados e renovados por associações que cultivam a admiração da época do império em todas as nações outrora reunidas sob o cetro dos Habsburgos. O arquiduque Otto — ou o Dr. Otto, como preferia infelizmente ser tratado — renunciara a todos os direitos à coroa e liderara um movimento democrático para a instituição da hoje desastrada UE. Entretanto, o fabuloso desfile de saudades da era imperial parecia não considerar essa renúncia e olhava para o defunto como se fosse o arquiduque de sonhos, o herdeiro das glórias dos Habsburgos. O cortejo fúnebre depositou seu corpo na cripta da família dos imperadores, localizada na igreja dos capuchinhos de Viena. Esse verdadeiro espetáculo fúnebre evidenciou a força e a aspiração que palpitam em inúmeras almas por um futuro católico continuador das glórias da Cristandade medieval. Força que mostrou ser um elemento sem o qual não se compreenderá bem o desenrolar dos eventos nas décadas futuras.

2012: rumo à explosão do colosso?

David Cameron, Primeiro Minis tro inglês, encabeçou a recusa de ampliar os poderes da EU

O ano de 2011 encerrou-se com mais uma “cúpula da última chance” realizada em Bruxelas para tentar salvar a coesão de uma UE que os povos europeus parecem amar pouco. No final de tal “cúpula”, a Grã-Bretanha recusou a ampliação dos poderes da UE, abrindo, assim, uma rachadura de uma extensão sem precedentes e que poderá acarretar grandes consequências. O caos econômico e social disseminado sobre a Terra deixou uma impressão: o gigantismo colossal do mundo interdependente, que parecia ser adorado por todos, apareceu trincado até em suas vísceras ao termo de 2011. Até o menor de seus componentes, instalado em qualquer degrau dessa imensa estrutura, pode desencadear uma crise que precipite o desabamento final do colosso de pés de barro do século XXI.

Foi assim que a imensa, super-programada e super-complicada estrutura que deveria preparar a República Universal acabou o ano: pressagiando um desastre gigantesco mais ou menos iminente. Ela poderia se comparar a um avião nunca antes construído: estupendo, velocíssimo, agradável, com grandes poltronas, até com expressões artísticas internas que o ambiente aeronáutico não tem nenhuma preocupação em apresentar. Nesse suposto avião os diversos passageiros têm na mão uma alavanca que pode a qualquer momento fazê-lo explodir. Quem gostaria de viajar nessa colossal aeronave? Entretanto, é nela que o mundo entrou em 2012.

Mas, com confiança na Santíssima Virgem e uma certeza inabalável no triunfo prometido por Ela em Fátima, poderemos entrar neste novo ano com a alma em paz
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Revista Catolicismo
Fonte: Fundadores