Por que beijar o altar?
1- Qual a origem do beijo da mesa? Presente em muitas culturas, o beijo pode ser um simples cumprimento, ou transmissão de força através do sopro (Cf. 2Rs 4,34), ou expressão de reverência, veneração, respeito, entrega espiritual, amizade, fraternidade, pertença a um determinado grupo, amor, intimidade, comunhão (Cf. Rm 16,16). Outras culturas ignoram ou até repelem o beijo como gesto social. Na Roma antiga, o beijo era muito presente no dia-a-dia, também na cultura religiosa. Era costume geral reverenciar o templo das divindades beijando o altar, ou a soleira e os umbrais da porta do templo, ou ainda beijar ou jogar beijos para as estátuas que representavam as divindades.
Será que os romanos que aderiram ao cristianismo levaram esta prática para suas liturgias? Impensável uma coisa dessas! Os cristãos das primeiras gerações evitavam confusão com os cultos pagãos; afirmavam com vigor que não tinham sacrifícios, nem sacerdotes, nem templo, nem altar. Mas um outro costume, bem familiar, pode ter sido a origem do beijo da mesa da eucaristia: em casa, beijava-se a mesa das refeições, porque era considerada sagrada. (Parece que, até pouco tempo atrás, os frades capuchinhos guardavam o costume de beijar a mesa no refeitório antes da refeição). Nada mais natural, portanto, do que beijar também a mesa da refeição eucarística. No final do século IV, este costume já se generalizou em Roma. E é encontrado também em liturgias orientais, como a bizantina, síria, armênia.
2- Que sentido tem beijar a mesa na liturgia cristã? Antes de tudo, trata-se de um sinal de veneração pela mesa comum, na qual se celebra a ceia do Senhor. Com o tempo, quando já não se via perigo de confusão com os chamados cultos ‘pagãos’, a mesa foi sendo chamada de ‘altar’ e considerado representação simbólica de Cristo que é pedra angular, rocha espiritual, único templo, altar, sacerdote e vítima da nova aliança. Assim, o beijo dado à mesa começou a ser entendido como um beijo a Cristo. Durante a Idade Média, as relíquias dos mártires incorporados no altar recebiam de certa forma mais atenção que o próprio Cristo: o beijo do altar começou então a ser entendido como veneração dos mártires cujas relíquias aí se encontravam.
Na renovação litúrgica do Concílio Vaticano II, o beijo da mesa da eucaristia na missa volta a ser considerado simplesmente como ‘sinal de veneração’ e se limita ao beijo dado no início pelo presidente da celebração e pelos presbíteros e diáconos concelebrantes. No final da missa, somente o celebrante principal e os diáconos beijam o altar outra vez. O Ceremonial dos Bispos fala explicitamente do beijo do altar dado pelo bispo também nas vésperas solenes; portanto, não se refere somente à celebração eucarística.
3- Será um gesto restrito ao ministro ordenado?
Em algumas regiões do Brasil, é costume o povo chegar na igreja e ir direto para o altar e beijar a toalha. Sinal de carinho, expressão de amor. Há relatos também do costume de levar as crianças que acabam de serem batizadas para beijar o altar.
Na celebração dominical da palavra de Deus, a presidência leiga não está agindo por conta própria: tem mandato explícito ou implícito da autoridade eclesiástica. Por isso, não poderíamos considerar que, ao beijar a mesa, está venerando-a em nome da comunidade, expressando o laço que une a comunidade a Cristo? Afinal, o mais importante é a mesa do Senhor, não a pessoa que a beija. Além disso, quem pode distribuir a comunhão eucarística, partilhar a Palavra de Deus, presidir a celebração dominical..., não poderia realizar este gesto tão simples e familiar de beijar o altar?
Fonte: Portal católico
Nenhum comentário:
Postar um comentário