Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 18 de maio de 2011, quarta-feira.
A respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal quanto à união entre pessoas do mesmo sexo, a CNBB em nota oficial reafirmou o princípio da instituição familiar como projeto divino e incentivou todas as famílias a viver fiel e alegremente a sua missão, ressaltando que tão grande é a importância da família que toda a sociedade tem nela a sua base vital.
Conforme a nota, é preciso deixar claro que “a diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural. O matrimônio natural entre o homem e a mulher bem como a família monogâmica constituem um princípio fundamental do Direito Natural. As Sagradas Escrituras, por sua vez, revelam que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e os destinou a ser uma só carne (cf. Gn 1, 27; 2,24). Assim, a família é o âmbito adequado para a plena realização humana, o desenvolvimento das diversas gerações e constitui o maior bem das pessoas”.
A nota da CNBB faz referência à doutrina sobre castidade e homossexualidade, exposta no Catecismo da Igreja Católica, que assim se expressa:
“A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (cf. Gn 19,1-29; Rm 1, 24-27; I Cor 6, 9-10; I Tim 1, 10), a tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (Congregação para a Doutrina da Fé, declaração Persona Humana, 8). São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados”.
“Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de descriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (nn. 2357-2358).
A nota afirma ainda que as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo “não podem ser equiparadas à família, que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos”. A equiparação descaracteriza a sua identidade e ameaça sua estabilidade.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
domingo, 1 de janeiro de 2012
João Paulo II: Admirável sim, mas também imitável.
No dia 01 de maio passado, a Igreja toda foi tomada por uma imensa alegria com a histórica beatificação de João Paulo II. Pe. Gaspar Pelegrini
No dia 01 de maio passado, a Igreja toda foi tomada por uma imensa alegria com a histórica beatificação de João Paulo II.
Sim, histórica! Porque havia muitos séculos que um Papa não beatificava seu antecessor imediato.
Histórica, porque feita apenas seis anos após sua morte.
Histórica, porque se trata de uma pessoa que fez história, que vai ficar para a história. Um pontificado longo, fecundo, providencial, singular.
Beatificação histórica também porque a mais concorrida de toda a história.
Histórica ainda, porque foi a mais universal de todas as realizadas até hoje. A Igreja inteira esperava com ansiedade e se encheu de júbilo com seu anúncio e com sua realização. No dia primeiro de maio, a Igreja toda estava em festa, juntamente com o céu.
Tudo isso que até agora dissemos causa-nos admiração, estupefação. Acontece que os santos não foram feitos só para serem admirados. Eles nos são propostos para serem imitados, copiados, seguidos.
Não podemos aqui, na escassez de espaço que temos, mostrar todos os aspectos em que João Paulo II se mostrou exemplo. O resultado não seria um artigo, mas um livro, ou muito mais do que isso.
Como nosso boletim é vocacional, vamos nos limitar a mostrar o nosso Beato como um modelo de como se responde, se corresponde ao chamado, às iniciativas de Deus.
Por trás desta figura extraordinária, o Papa que mais escreveu, o Papa que mais viajou, o Papa que mais beatificou e mais canonizou, o Papa que mais foi amado, e que talvez mais foi odiado (como o provam as tentativas de matá-lo), o Papa que mais pessoas recebeu, etc., etc., por trás desta pessoa extraordinária, repito, existe uma história de heroísmo, de generosidade, de confiança total e abandono constante aos planos de Deus, e à ação materna de Nossa Senhora. Totus tuus...
João Paulo II não se tornou este gigante num piscar de olhos, por uma espécie de magia. Nem foi fabricado pela mídia. Não. O que aconteceu com ele, o que ele fez é o que todos nós devemos fazer, nas mais diversas circunstâncias de nossa vida, nas mais distintas vocações a que Deus chama seus filhos.
Como lembrou o Papa Bento XVI na homilia durante seus funerais, a cada momento de sua vida, Jesus ia-lhe dizendo, como a São Pedro: Segue-me. E ele, sem saber até onde Cristo o queria conduzir, foi respondendo a cada convite com seu generoso “sim”.
Foi assim que abandonou a grande paixão de sua juventude: o teatro. Foi assim que decidiu ser sacerdote num momento em que tudo desaconselharia seguir este caminho.
Foi respondendo a este chamado que aceitou ser seminarista clandestino, colocando sua vida em risco. O risco era grande, mas a certeza de que Deus estava com ele, de que a Virgem Maria não o abandonaria nunca, foi muito maior e mais forte. Foi irresistível. Talvez tenha sido profética a brincadeira que fizeram com ele quando colaram na porta de seu quarto estes dizeres: “Seminarista Woitilla, que um dia será Santo!”
Depois veio a ordenação sacerdotal, os anos de ministério. Depois Cristo o chamou para o episcopado. E ele, sempre com a mesma generosidade e confiança, ia-se abandonando nas mãos dAquele que cunduz a história.
Depois cardeal. Recebe a missão de colaborar mais de perto com o Sucessor de Pedro, a missão de escolher o próprio sucessor do Pescador da Galiléia. Assim ele esteve no conclave que elegeu João Paulo I.
Até que um dia... Deus lhe pede mais: Não só ajudar a escolher um novo Papa, mas pede-lhe que ele aceite ser o Papa.
Era um “Segue-Me” muito diferente, muito desafiador, num momento em que o rumo da Igreja dependeria muito da ação de um gigante, de um marinheiro habilidoso, como Pedro no Mar da Galiléia, um Papa que conseguisse fazer a Barca da Igreja enfrentar tempestades, ventos e ataques de fora e de dentro, como S. João Bosco viu em sonhos.
Mas isto, vamos deixar para a próxima vez, pois será uma longa e linda história.
Fonte: Adapostólica
No dia 01 de maio passado, a Igreja toda foi tomada por uma imensa alegria com a histórica beatificação de João Paulo II.
Sim, histórica! Porque havia muitos séculos que um Papa não beatificava seu antecessor imediato.
Histórica, porque feita apenas seis anos após sua morte.
Histórica, porque se trata de uma pessoa que fez história, que vai ficar para a história. Um pontificado longo, fecundo, providencial, singular.
Beatificação histórica também porque a mais concorrida de toda a história.
Histórica ainda, porque foi a mais universal de todas as realizadas até hoje. A Igreja inteira esperava com ansiedade e se encheu de júbilo com seu anúncio e com sua realização. No dia primeiro de maio, a Igreja toda estava em festa, juntamente com o céu.
Tudo isso que até agora dissemos causa-nos admiração, estupefação. Acontece que os santos não foram feitos só para serem admirados. Eles nos são propostos para serem imitados, copiados, seguidos.
Não podemos aqui, na escassez de espaço que temos, mostrar todos os aspectos em que João Paulo II se mostrou exemplo. O resultado não seria um artigo, mas um livro, ou muito mais do que isso.
Como nosso boletim é vocacional, vamos nos limitar a mostrar o nosso Beato como um modelo de como se responde, se corresponde ao chamado, às iniciativas de Deus.
Por trás desta figura extraordinária, o Papa que mais escreveu, o Papa que mais viajou, o Papa que mais beatificou e mais canonizou, o Papa que mais foi amado, e que talvez mais foi odiado (como o provam as tentativas de matá-lo), o Papa que mais pessoas recebeu, etc., etc., por trás desta pessoa extraordinária, repito, existe uma história de heroísmo, de generosidade, de confiança total e abandono constante aos planos de Deus, e à ação materna de Nossa Senhora. Totus tuus...
João Paulo II não se tornou este gigante num piscar de olhos, por uma espécie de magia. Nem foi fabricado pela mídia. Não. O que aconteceu com ele, o que ele fez é o que todos nós devemos fazer, nas mais diversas circunstâncias de nossa vida, nas mais distintas vocações a que Deus chama seus filhos.
Como lembrou o Papa Bento XVI na homilia durante seus funerais, a cada momento de sua vida, Jesus ia-lhe dizendo, como a São Pedro: Segue-me. E ele, sem saber até onde Cristo o queria conduzir, foi respondendo a cada convite com seu generoso “sim”.
Foi assim que abandonou a grande paixão de sua juventude: o teatro. Foi assim que decidiu ser sacerdote num momento em que tudo desaconselharia seguir este caminho.
Foi respondendo a este chamado que aceitou ser seminarista clandestino, colocando sua vida em risco. O risco era grande, mas a certeza de que Deus estava com ele, de que a Virgem Maria não o abandonaria nunca, foi muito maior e mais forte. Foi irresistível. Talvez tenha sido profética a brincadeira que fizeram com ele quando colaram na porta de seu quarto estes dizeres: “Seminarista Woitilla, que um dia será Santo!”
Depois veio a ordenação sacerdotal, os anos de ministério. Depois Cristo o chamou para o episcopado. E ele, sempre com a mesma generosidade e confiança, ia-se abandonando nas mãos dAquele que cunduz a história.
Depois cardeal. Recebe a missão de colaborar mais de perto com o Sucessor de Pedro, a missão de escolher o próprio sucessor do Pescador da Galiléia. Assim ele esteve no conclave que elegeu João Paulo I.
Até que um dia... Deus lhe pede mais: Não só ajudar a escolher um novo Papa, mas pede-lhe que ele aceite ser o Papa.
Era um “Segue-Me” muito diferente, muito desafiador, num momento em que o rumo da Igreja dependeria muito da ação de um gigante, de um marinheiro habilidoso, como Pedro no Mar da Galiléia, um Papa que conseguisse fazer a Barca da Igreja enfrentar tempestades, ventos e ataques de fora e de dentro, como S. João Bosco viu em sonhos.
Mas isto, vamos deixar para a próxima vez, pois será uma longa e linda história.
Fonte: Adapostólica
O Papa e os Astronautas
Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 1º de junho de 2011, quarta-feira.
Todos devem ter visto, ao cair da noite, a órbita brilhante da nave Endeavour acoplada à Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 Km da Terra. Um belo espetáculo. A Endeavour, com seis astronautas a bordo, dos Estados Unidos, Rússia e Itália, se afastou nesta segunda-feira, dia 30, da Estação Espacial e iniciou seu retorno final à Terra. Foi sua última viagem. Mas, o que foi inédito, foi o fato de o Papa Bento XVI ter dialogado, por cerca de 20 minutos, com os astronautas. Os dois astronautas italianos, Roberto Vittori e Paolo Nespoli, deixaram suspensa no ar a medalha de prata que o Papa havia lhes dado antes da partida.
O Papa se referiu a esta medalha em sua pergunta a Roberto Vittori: “Os crentes contemplam com frequência os céus ilimitados e, meditando no Criador, ficam impressionados pelo mistério da sua grandeza. Por este motivo, a medalha que entreguei a Roberto, como sinal da minha participação na vossa missão, representa a Criação do homem, pintada por Michelangelo na Capela Sistina”.
"Quando temos um momento para inclinar o olhar - disse Roberto Vittori ao Papa -, a beleza, que é o efeito em três dimensões da formosura do planeta, conquista o nosso coração, conquista o meu coração. E então sim, eu rezo: rezo por mim, pelas nossas famílias, pelo nosso futuro. Carrego comigo a sua medalha e deixo que ela fique flutuando na minha frente, para demonstrar a ausência de gravidade. Quero lhe agradecer por esta oportunidade e gostaria que esta medalha flutuasse pelo meu amigo e colega Paolo: ele voltará à Terra na nave Soyuz. Eu trouxe a medalha ao espaço e ele a levará à Terra para devolvê-la ao senhor.”
Bento XVI dirigiu a última pergunta em italiano a Paolo Nespoli: “Querido Paolo, sei que, há alguns dias, sua mãe o deixou e, quando você voltar para casa, ela já não estará lá o esperando. Todos nós estamos ao seu lado; eu também rezei por você... Como você viveu esse momento de dor?”. Paolo Nespoli respondeu: “Santo Padre, eu experimentei as suas orações, suas orações chegaram até aqui. É verdade, estamos fora deste mundo, estamos em órbita ao redor da Terra e podemos ver melhor a Terra e acompanhar tudo o que nos cerca. Meus colegas aqui, a bordo da Estação - Dimitri, Kelly, Ron, Alexander e Andrei – estiveram muito perto de mim nesse momento importante para mim, muito intenso. Agradeço por tudo isso. Eu me senti longe, mas também muito perto, e certamente o pensamento de experimentar todos vocês perto de mim, unidos nesse momento, foi um enorme alívio”.
Bento XVI apresentou 5 perguntas aos astronautas, sobre sua visão da Terra do espaço e sobre o mistério do infinitamente grande, mas também sobre a oração. Como conclusão, Bento XVI declarou, antes de dar sua bênção aos astronautas: “Vós me ajudastes, a mim e a muitas outras pessoas, a refletir sobre questões importantes, que afetam o futuro da humanidade. Desejo-vos tudo de melhor para o vosso trabalho e para o êxito da vossa grande missão ao serviço da ciência, da colaboração internacional, do autêntico progresso e da paz no mundo”.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Todos devem ter visto, ao cair da noite, a órbita brilhante da nave Endeavour acoplada à Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 Km da Terra. Um belo espetáculo. A Endeavour, com seis astronautas a bordo, dos Estados Unidos, Rússia e Itália, se afastou nesta segunda-feira, dia 30, da Estação Espacial e iniciou seu retorno final à Terra. Foi sua última viagem. Mas, o que foi inédito, foi o fato de o Papa Bento XVI ter dialogado, por cerca de 20 minutos, com os astronautas. Os dois astronautas italianos, Roberto Vittori e Paolo Nespoli, deixaram suspensa no ar a medalha de prata que o Papa havia lhes dado antes da partida.
O Papa se referiu a esta medalha em sua pergunta a Roberto Vittori: “Os crentes contemplam com frequência os céus ilimitados e, meditando no Criador, ficam impressionados pelo mistério da sua grandeza. Por este motivo, a medalha que entreguei a Roberto, como sinal da minha participação na vossa missão, representa a Criação do homem, pintada por Michelangelo na Capela Sistina”.
"Quando temos um momento para inclinar o olhar - disse Roberto Vittori ao Papa -, a beleza, que é o efeito em três dimensões da formosura do planeta, conquista o nosso coração, conquista o meu coração. E então sim, eu rezo: rezo por mim, pelas nossas famílias, pelo nosso futuro. Carrego comigo a sua medalha e deixo que ela fique flutuando na minha frente, para demonstrar a ausência de gravidade. Quero lhe agradecer por esta oportunidade e gostaria que esta medalha flutuasse pelo meu amigo e colega Paolo: ele voltará à Terra na nave Soyuz. Eu trouxe a medalha ao espaço e ele a levará à Terra para devolvê-la ao senhor.”
Bento XVI dirigiu a última pergunta em italiano a Paolo Nespoli: “Querido Paolo, sei que, há alguns dias, sua mãe o deixou e, quando você voltar para casa, ela já não estará lá o esperando. Todos nós estamos ao seu lado; eu também rezei por você... Como você viveu esse momento de dor?”. Paolo Nespoli respondeu: “Santo Padre, eu experimentei as suas orações, suas orações chegaram até aqui. É verdade, estamos fora deste mundo, estamos em órbita ao redor da Terra e podemos ver melhor a Terra e acompanhar tudo o que nos cerca. Meus colegas aqui, a bordo da Estação - Dimitri, Kelly, Ron, Alexander e Andrei – estiveram muito perto de mim nesse momento importante para mim, muito intenso. Agradeço por tudo isso. Eu me senti longe, mas também muito perto, e certamente o pensamento de experimentar todos vocês perto de mim, unidos nesse momento, foi um enorme alívio”.
Bento XVI apresentou 5 perguntas aos astronautas, sobre sua visão da Terra do espaço e sobre o mistério do infinitamente grande, mas também sobre a oração. Como conclusão, Bento XVI declarou, antes de dar sua bênção aos astronautas: “Vós me ajudastes, a mim e a muitas outras pessoas, a refletir sobre questões importantes, que afetam o futuro da humanidade. Desejo-vos tudo de melhor para o vosso trabalho e para o êxito da vossa grande missão ao serviço da ciência, da colaboração internacional, do autêntico progresso e da paz no mundo”.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Visão a partir de Cristo
Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 25 de maio de 2011, quarta-feira.
A última assembléia geral dos Bispos do Brasil traçou as diretrizes gerais para a ação evangelizadora da Igreja no Brasil para os próximos anos. O subtítulo do documento – “Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6)”, aponta sua força motriz: tudo a partir de Jesus Cristo.
De fato, toda a ação da Igreja brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e o Reino do Pai. Jesus Cristo é a nossa razão de ser, origem do nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir. Nele, com Ele e a partir d’Ele, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, construindo nossa vida pessoal e comunitária. Nisto se manifesta nosso discipulado-missionário: contemplamos Jesus Cristo presente e atuante em meio à realidade, compreendemos a realidade à sua luz e com ela nos relacionamos no firme desejo de que nosso olhar, ser e agir sejam reflexos do seguimento cada vez mais fiel ao Senhor Jesus. Não há, pois, como executar planejamentos pastorais sem antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo.
Em atitude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos convocados a responder, antes de tudo a nós mesmos: quem é Jesus Cristo? (Mc 8, 27-29). O que significa acolhê-lo, segui-lo e anunciá-lo? O que há em Jesus Cristo que desperta nosso fascínio, faz arder nosso coração (Lc 24, 32), leva-nos a tudo deixar (Lc 5, 8-11) e, mesmo diante das nossas limitações e vicissitudes, afirmar um incondicional amor a Ele (Jo 21, 9-17)?
A paixão por Jesus Cristo leva ao arrependimento, à contrição (Lc 24,47; At 2, 36ss) e à verdadeira conversão pessoal e pastoral. Por isso, devemos sempre nos perguntar: estamos convencidos de que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida? O que significa para nós, hoje, o Reino de Deus por Ele instaurado e comunicado?
A Conferência de Aparecida nos convida a olhar com atenção para Aquele que, sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer (2 Cor 8,9). O discípulo missionário, ao contemplar Jesus Cristo descobre o Verbo que veio morar entre nós, o Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade (Jo 1, 14); aquele que, sendo de condição divina, não se fecha em si mesmo, mas se esvazia até a morte e morte de cruz (cf. Filip 2,5ss) e, à diferença das aves do céu e das raposas, não tem sequer onde reclinar a cabeça (Mt 8, 20). Ele sempre precisa ir a outros locais (Lc 4, 43), para anunciar o Reino, a graça, a justiça e a reconciliação com Deus e entre os homens. Ele se preocupa com as ovelhas que não fazem parte do rebanho (Jo 10, 16), nem que seja uma única ovelha perdida, sofrida (Lc 15, 4-7), para reanimá-las diante da dor e da desesperança (Lc 24, 13-35). É este mesmo Jesus que virá, um dia, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos (Mt 25, 31-45).
Assim a Igreja pretende evangelizar: a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula do Senhor, mestra, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, para que todos tenham vida (Jo 10,10), rumo à Pátria Celeste.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
A última assembléia geral dos Bispos do Brasil traçou as diretrizes gerais para a ação evangelizadora da Igreja no Brasil para os próximos anos. O subtítulo do documento – “Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6)”, aponta sua força motriz: tudo a partir de Jesus Cristo.
De fato, toda a ação da Igreja brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e o Reino do Pai. Jesus Cristo é a nossa razão de ser, origem do nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir. Nele, com Ele e a partir d’Ele, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, construindo nossa vida pessoal e comunitária. Nisto se manifesta nosso discipulado-missionário: contemplamos Jesus Cristo presente e atuante em meio à realidade, compreendemos a realidade à sua luz e com ela nos relacionamos no firme desejo de que nosso olhar, ser e agir sejam reflexos do seguimento cada vez mais fiel ao Senhor Jesus. Não há, pois, como executar planejamentos pastorais sem antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo.
Em atitude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos convocados a responder, antes de tudo a nós mesmos: quem é Jesus Cristo? (Mc 8, 27-29). O que significa acolhê-lo, segui-lo e anunciá-lo? O que há em Jesus Cristo que desperta nosso fascínio, faz arder nosso coração (Lc 24, 32), leva-nos a tudo deixar (Lc 5, 8-11) e, mesmo diante das nossas limitações e vicissitudes, afirmar um incondicional amor a Ele (Jo 21, 9-17)?
A paixão por Jesus Cristo leva ao arrependimento, à contrição (Lc 24,47; At 2, 36ss) e à verdadeira conversão pessoal e pastoral. Por isso, devemos sempre nos perguntar: estamos convencidos de que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida? O que significa para nós, hoje, o Reino de Deus por Ele instaurado e comunicado?
A Conferência de Aparecida nos convida a olhar com atenção para Aquele que, sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer (2 Cor 8,9). O discípulo missionário, ao contemplar Jesus Cristo descobre o Verbo que veio morar entre nós, o Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade (Jo 1, 14); aquele que, sendo de condição divina, não se fecha em si mesmo, mas se esvazia até a morte e morte de cruz (cf. Filip 2,5ss) e, à diferença das aves do céu e das raposas, não tem sequer onde reclinar a cabeça (Mt 8, 20). Ele sempre precisa ir a outros locais (Lc 4, 43), para anunciar o Reino, a graça, a justiça e a reconciliação com Deus e entre os homens. Ele se preocupa com as ovelhas que não fazem parte do rebanho (Jo 10, 16), nem que seja uma única ovelha perdida, sofrida (Lc 15, 4-7), para reanimá-las diante da dor e da desesperança (Lc 24, 13-35). É este mesmo Jesus que virá, um dia, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos (Mt 25, 31-45).
Assim a Igreja pretende evangelizar: a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula do Senhor, mestra, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, para que todos tenham vida (Jo 10,10), rumo à Pátria Celeste.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Ascensão e Pentecostes
Dom Fernando Arêas Rifan Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 08de junho de 2011, quarta-feira.
Celebramos no Domingo passado a solenidade da Ascensão do Senhor, comemorando sua subida ao Céu, quarenta dias depois da sua gloriosa Ressurreição. Alguém poderia estranhar por que comemoramos uma despedida. Exatamente porque não é propriamente uma despedida, mas o encerramento de uma fase e o começo de outra.
Jesus, o Verbo de Deus feito carne, tornou-se um de nós, para nos ensinar, como o seu exemplo, como o homem devia servir a Deus. Tornou a divindade próxima e ao alcance de nós. Em Jesus habita toda a plenitude da divindade, de modo humano (Cl 2, 9). “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8). E assim conquistou a nossa redenção. Assim, Deus Pai, “quando estávamos mortos em conseqüência dos nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos! -, juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, com Cristo Jesus” (Ef 2, 5-6).
Mas Jesus, na sua vida terrena, fundara a sua Igreja, uma sociedade visível, hierárquica, que continuaria a sua missão, o seu Reino. E, ao subir ao Céu, deixou nela todos os seus poderes: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações... tudo o que vos ensinei. Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 18-20). Transmitiu aos seus Apóstolos, que ele constituiu chefes da sua Igreja, a mesma missão que ele havia recebido do Pai: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21).
Jesus, portanto, foi e ficou! Só ele mesmo, com seu poder, poderia fazer tal prodígio! Foi para o Céu e continuou aqui entre nós através da sua Igreja.
Mas, para solidificar essa missão, para fortificar os apóstolos e seus sucessores, para continuar sua presença na Igreja, ele lhes enviou o Divino Espírito Santo, cuja vinda sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo, em companhia de Maria Santíssima, a Mãe de Jesus e também agora Mãe da Igreja, aconteceu logo depois da sua Ascensão ao Céu, no dia de Pentecostes, festa que celebraremos no Domingo próximo.
O Espírito Santo, o Espírito do Pai e do Filho, é a alma da Igreja, corpo místico de Cristo. Ele conserva a infalibilidade e a indefectibilidade da Igreja, fundada por Jesus. Ele garantirá que “as portas do inferno” jamais prevaleçam sobre a Igreja. Ele assiste a Igreja para que ela nos ensine sempre a Verdade: “Ele vos ensinará toda a verdade” (Jo 16,13). Ele completará a obra de Cristo, rumo ao Reino definitivo no Céu. Ele realiza na Igreja a promessa de Jesus: “Estarei convosco sempre, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Celebramos no Domingo passado a solenidade da Ascensão do Senhor, comemorando sua subida ao Céu, quarenta dias depois da sua gloriosa Ressurreição. Alguém poderia estranhar por que comemoramos uma despedida. Exatamente porque não é propriamente uma despedida, mas o encerramento de uma fase e o começo de outra.
Jesus, o Verbo de Deus feito carne, tornou-se um de nós, para nos ensinar, como o seu exemplo, como o homem devia servir a Deus. Tornou a divindade próxima e ao alcance de nós. Em Jesus habita toda a plenitude da divindade, de modo humano (Cl 2, 9). “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8). E assim conquistou a nossa redenção. Assim, Deus Pai, “quando estávamos mortos em conseqüência dos nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos! -, juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, com Cristo Jesus” (Ef 2, 5-6).
Mas Jesus, na sua vida terrena, fundara a sua Igreja, uma sociedade visível, hierárquica, que continuaria a sua missão, o seu Reino. E, ao subir ao Céu, deixou nela todos os seus poderes: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações... tudo o que vos ensinei. Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 18-20). Transmitiu aos seus Apóstolos, que ele constituiu chefes da sua Igreja, a mesma missão que ele havia recebido do Pai: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21).
Jesus, portanto, foi e ficou! Só ele mesmo, com seu poder, poderia fazer tal prodígio! Foi para o Céu e continuou aqui entre nós através da sua Igreja.
Mas, para solidificar essa missão, para fortificar os apóstolos e seus sucessores, para continuar sua presença na Igreja, ele lhes enviou o Divino Espírito Santo, cuja vinda sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo, em companhia de Maria Santíssima, a Mãe de Jesus e também agora Mãe da Igreja, aconteceu logo depois da sua Ascensão ao Céu, no dia de Pentecostes, festa que celebraremos no Domingo próximo.
O Espírito Santo, o Espírito do Pai e do Filho, é a alma da Igreja, corpo místico de Cristo. Ele conserva a infalibilidade e a indefectibilidade da Igreja, fundada por Jesus. Ele garantirá que “as portas do inferno” jamais prevaleçam sobre a Igreja. Ele assiste a Igreja para que ela nos ensine sempre a Verdade: “Ele vos ensinará toda a verdade” (Jo 16,13). Ele completará a obra de Cristo, rumo ao Reino definitivo no Céu. Ele realiza na Igreja a promessa de Jesus: “Estarei convosco sempre, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Precisamos do Espírito Santo
Pe. Gaspar S. C. Pelegrini - Reitor do Seminário da Imaculada Conceição
Neste Domingo de Pentecostes, façamos uma visita ao Cenáculo.
Lá encontraremos os Apóstolos reunidos com Maria, a Mãe de Jesus.
Entremos no coração dos apóstolos, de Pedro, por exemplo. O que encontramos?
Uma imensa desproporção entre o muito que Deus lhe pedia e o pouco que ele julgava poder dar e fazer.
Foi esta desproporção bem comprovada, por exemplo, pela covardia que todos eles mostraram durante a Paixão de Jesus, que os levou a invocar com todo fervor o Espírito Santo. Vinde, Espírito Santo...
E Ele veio, em forma de vento, que balançou a casa e estrutura dos apóstolos; em forma de língua de fogo que iluminou suas inteligências e aqueceu seus corações.
Eles foram transformados, renovados, recriados.
O que o Espírito Santo fez com os Apóstolos, ele quer fazer também conosco.
Por isso devemos sempre permanecer em oração com a Mãe de Jesus, pois é Ela que nos consegue o Paráclito.
Não existe também uma grande desproporção em nós, entre o que somos e o que Deus espera de nós?
O Espírito Santo traz ordem, harmonia para nossa alma.
O Espírito Criador é que pôs ordem na criação, acabou com o caos.
Isso ele quer fazer em nossa alma:
- em nossa consciência confusa;
- em nossa imaginação disparatada;
- em nossas ansiedades, tristezas.
Ele quer levar-nos à ordem, à harmonia, à serenidade.
Em muitos momentos o caos quer nos assaltar: são os momentos em que sentimos a solidão, a angústia, o desânimo, a incompreensão, a desmotivação, a sensualidade, o orgulho, a frustração...
Nestes momentos devemos invocar o Espírito Criador.
A ação do Espírito Santo em nós é parecida com a ação do fogo.
Que faz o fogo? Ilumina. Move (sob a forma de vapor). Aquece. Purifica.
Assim o Espírito Santo:
Ilumina nossas trevas.
- faz-nos ver o que realmente somos;
- mostra-nos o que devemos fazer;
- mostra-nos o que devemos evitar.
Move-nos, como o vapor que movimenta uma máquina.
- Leva-nos a agir, age em nós.
- Tira o nosso medo, nossa fraqueza, nossa moleza.
Aquece nossa frieza.
-Ele nos faz amar a Deus e ao próximo;
-Ele derrete o gelo de nosso egoísmo
-Ele aquece nossa tibieza;
Purifica
-Ele quer fazer-nos santos.
-A purificação é para tirar de nós tudo o que não de Deus.
-Esta purificação nos faz sofrer (como a madeira verde colocada no fogo).
-Purifica-nos como se purifica a prata.
Três atitudes que devemos tomar
- Invocar o Espírito Santo, com freqüência;
- Ouvir o Espírito Santo;
-Ser dóceis ao Espírito Santo, como uma peninha que o vento leva. Deixemo-nos conduzir pelo Espírito Santo
“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. (Ro 8, 14)
Todo o trabalho da ascese cristã é submeter a alma à ação do Espírito Santo, pois é o Espírito Santo que opera na alma. Deus é o único autor de nossa santificação.
Fonte: Adapostólica
Neste Domingo de Pentecostes, façamos uma visita ao Cenáculo.
Lá encontraremos os Apóstolos reunidos com Maria, a Mãe de Jesus.
Entremos no coração dos apóstolos, de Pedro, por exemplo. O que encontramos?
Uma imensa desproporção entre o muito que Deus lhe pedia e o pouco que ele julgava poder dar e fazer.
Foi esta desproporção bem comprovada, por exemplo, pela covardia que todos eles mostraram durante a Paixão de Jesus, que os levou a invocar com todo fervor o Espírito Santo. Vinde, Espírito Santo...
E Ele veio, em forma de vento, que balançou a casa e estrutura dos apóstolos; em forma de língua de fogo que iluminou suas inteligências e aqueceu seus corações.
Eles foram transformados, renovados, recriados.
O que o Espírito Santo fez com os Apóstolos, ele quer fazer também conosco.
Por isso devemos sempre permanecer em oração com a Mãe de Jesus, pois é Ela que nos consegue o Paráclito.
Não existe também uma grande desproporção em nós, entre o que somos e o que Deus espera de nós?
O Espírito Santo traz ordem, harmonia para nossa alma.
O Espírito Criador é que pôs ordem na criação, acabou com o caos.
Isso ele quer fazer em nossa alma:
- em nossa consciência confusa;
- em nossa imaginação disparatada;
- em nossas ansiedades, tristezas.
Ele quer levar-nos à ordem, à harmonia, à serenidade.
Em muitos momentos o caos quer nos assaltar: são os momentos em que sentimos a solidão, a angústia, o desânimo, a incompreensão, a desmotivação, a sensualidade, o orgulho, a frustração...
Nestes momentos devemos invocar o Espírito Criador.
A ação do Espírito Santo em nós é parecida com a ação do fogo.
Que faz o fogo? Ilumina. Move (sob a forma de vapor). Aquece. Purifica.
Assim o Espírito Santo:
Ilumina nossas trevas.
- faz-nos ver o que realmente somos;
- mostra-nos o que devemos fazer;
- mostra-nos o que devemos evitar.
Move-nos, como o vapor que movimenta uma máquina.
- Leva-nos a agir, age em nós.
- Tira o nosso medo, nossa fraqueza, nossa moleza.
Aquece nossa frieza.
-Ele nos faz amar a Deus e ao próximo;
-Ele derrete o gelo de nosso egoísmo
-Ele aquece nossa tibieza;
Purifica
-Ele quer fazer-nos santos.
-A purificação é para tirar de nós tudo o que não de Deus.
-Esta purificação nos faz sofrer (como a madeira verde colocada no fogo).
-Purifica-nos como se purifica a prata.
Três atitudes que devemos tomar
- Invocar o Espírito Santo, com freqüência;
- Ouvir o Espírito Santo;
-Ser dóceis ao Espírito Santo, como uma peninha que o vento leva. Deixemo-nos conduzir pelo Espírito Santo
“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. (Ro 8, 14)
Todo o trabalho da ascese cristã é submeter a alma à ação do Espírito Santo, pois é o Espírito Santo que opera na alma. Deus é o único autor de nossa santificação.
Fonte: Adapostólica
Santos Juninos
Dom Fernando Arêas Rifan - Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 15 de junho de 2011, quarta-feira.
No mês de junho, temos as tradicionais festas juninas. Devemos nos lembrar que, ao menos originalmente, elas existem para comemorar três santos de grande importância, cuja festa se celebra neste mês: Santo Antônio, dia 13, segunda-feira passada, São João Batista, dia 24, e São Pedro, dia 29.
Santo Antônio de Pádua, também chamado, sobretudo pelos portugueses, Santo Antônio de Lisboa, nasceu em Lisboa, chamava-se Fernando, foi cônego agostiniano e entrou, pelo desejo do martírio, na Ordem Franciscana, tomando o nome de Antônio. Foi grande pregador, recebendo as alcunhas de “Doutor Evangélico” e “martelo dos hereges”, terminando a sua vida em Pádua, na Itália. É o santo dos milagres, tal a quantidade de fatos extraordinários e sobrenaturais que acompanhavam a sua pregação. Sua língua está miraculosamente conservada em Pádua, há mais de 700 anos.
São João Batista foi o precursor de Jesus, aquele que o apresentou ao povo de Israel. Filho de Zacarias e Santa Isabel, foi santificado ainda no seio materno quando da visita de Nossa Senhora, já grávida do Menino Jesus. Por isso a Igreja festeja, dia 24, o seu nascimento, ao contrário de todos os outros santos, dos quais ela só comemora a morte, ou seja, seu nascimento para o Céu. Desde criança, retirou-se para o deserto para fazer penitência e se preparar para sua futura missão. Ministrava ao povo o batismo de penitência, ao qual Jesus também acorreu, por humildade. São João Batista era o homem da verdade, sem acepção de pessoas. Por isso admoestava o Rei Herodes contra o seu pecado de infidelidade conjugal e incesto, o que atraiu a ira da amante do rei, Herodíades, que instigou o rei a metê-lo no cárcere. No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou na frente dos convivas, o que levou o rei, meio embriagado, a prometer-lhe como prêmio qualquer coisa que pedisse. A filha perguntou a mãe, que não perdeu a oportunidade de vingar-se daquele que invectivava seu pecado. Fez a filha pedir ao rei a cabeça de João Batista. João foi decapitado na prisão, merecendo o elogio de Jesus, por ser um homem firme e não uma cana agitada pelo vento: “Entre os nascidos de mulher não apareceu ninguém igual a João Batista”.
João Batista foi fiel imitador de Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, aquele que, como disse o poeta João de Deus, ensinou-nos a verdade “e morreu para mostrar/ que a gente pela verdade/ se deve deixar matar”.
São Pedro foi Apóstolo de Jesus, por ele escolhido para chefe do colégio apostólico e da sociedade hierárquica visível que ele fundaria, simbolizado isso pela entrega das chaves do Reino dos Céus, ou seja, da sua Igreja. Pescador do mar da Galiléia, foi por Jesus transformado em pescador de homens. Após ter chorado o seu pecado de negação do seu divino Mestre, foi por ele consagrado seu vigário aqui na terra. São Pedro fundou a Igreja de Roma, da qual foi o primeiro bispo. Seu sucessor é o Papa, bispo de Roma, vigário de Cristo.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
No mês de junho, temos as tradicionais festas juninas. Devemos nos lembrar que, ao menos originalmente, elas existem para comemorar três santos de grande importância, cuja festa se celebra neste mês: Santo Antônio, dia 13, segunda-feira passada, São João Batista, dia 24, e São Pedro, dia 29.
Santo Antônio de Pádua, também chamado, sobretudo pelos portugueses, Santo Antônio de Lisboa, nasceu em Lisboa, chamava-se Fernando, foi cônego agostiniano e entrou, pelo desejo do martírio, na Ordem Franciscana, tomando o nome de Antônio. Foi grande pregador, recebendo as alcunhas de “Doutor Evangélico” e “martelo dos hereges”, terminando a sua vida em Pádua, na Itália. É o santo dos milagres, tal a quantidade de fatos extraordinários e sobrenaturais que acompanhavam a sua pregação. Sua língua está miraculosamente conservada em Pádua, há mais de 700 anos.
São João Batista foi o precursor de Jesus, aquele que o apresentou ao povo de Israel. Filho de Zacarias e Santa Isabel, foi santificado ainda no seio materno quando da visita de Nossa Senhora, já grávida do Menino Jesus. Por isso a Igreja festeja, dia 24, o seu nascimento, ao contrário de todos os outros santos, dos quais ela só comemora a morte, ou seja, seu nascimento para o Céu. Desde criança, retirou-se para o deserto para fazer penitência e se preparar para sua futura missão. Ministrava ao povo o batismo de penitência, ao qual Jesus também acorreu, por humildade. São João Batista era o homem da verdade, sem acepção de pessoas. Por isso admoestava o Rei Herodes contra o seu pecado de infidelidade conjugal e incesto, o que atraiu a ira da amante do rei, Herodíades, que instigou o rei a metê-lo no cárcere. No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou na frente dos convivas, o que levou o rei, meio embriagado, a prometer-lhe como prêmio qualquer coisa que pedisse. A filha perguntou a mãe, que não perdeu a oportunidade de vingar-se daquele que invectivava seu pecado. Fez a filha pedir ao rei a cabeça de João Batista. João foi decapitado na prisão, merecendo o elogio de Jesus, por ser um homem firme e não uma cana agitada pelo vento: “Entre os nascidos de mulher não apareceu ninguém igual a João Batista”.
João Batista foi fiel imitador de Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, aquele que, como disse o poeta João de Deus, ensinou-nos a verdade “e morreu para mostrar/ que a gente pela verdade/ se deve deixar matar”.
São Pedro foi Apóstolo de Jesus, por ele escolhido para chefe do colégio apostólico e da sociedade hierárquica visível que ele fundaria, simbolizado isso pela entrega das chaves do Reino dos Céus, ou seja, da sua Igreja. Pescador do mar da Galiléia, foi por Jesus transformado em pescador de homens. Após ter chorado o seu pecado de negação do seu divino Mestre, foi por ele consagrado seu vigário aqui na terra. São Pedro fundou a Igreja de Roma, da qual foi o primeiro bispo. Seu sucessor é o Papa, bispo de Roma, vigário de Cristo.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Corpus Christi
Dom Fernando Arêas Rifan - Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 22 de junho de 2011, quarta-feira.
Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.
Diz o Direito Canônico (cân. 897): “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam”.
O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).
Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa fé e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.
O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.
Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.
Diz o Direito Canônico (cân. 897): “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam”.
O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).
Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa fé e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.
O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.
Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
NOTA SOBRE A CONCELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO NA FORMA ATUAL
NOTA SOBRE A CONCELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO NA FORMA ATUAL - Dom Fernando Arêas Rifan
NOTA SOBRE A CONCELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO NA FORMA ATUAL
Algumas pessoas têm perguntado sobre a participação ocasional e a eventual concelebração minha e de alguns dos nossos padres nas Missas celebradas no Rito de Paulo VI, isto é, na forma ordinária atual do Rito Romano.
A grande maioria dos católicos, com bom senso, compreende perfeitamente que, embora em nossa Administração Apostólica se conserve a liturgia romana no seu uso mais antigo, seja normal que, em determinadas ocasiões, o Bispo e seus sacerdotes possam concelebrar a santa Missa na forma atual, usada habitualmente pelo Papa e por toda a Igreja do rito romano; normal, correto e bom, porque demonstra que somos católicos em plena comunhão com toda a Igreja.
Alguns, no entanto, insinuam que esta presença representaria uma traição à Tradição, quase uma apostasia, uma renúncia a todas as críticas que foram feitas e que se possam fazer à Reforma Litúrgica e todas as suas conseqüências, uma aprovação de tudo que acontece hoje nas Missas, uma abertura ao “progressismo” e, pior, que isso faria parte de um “acordo” prático, não doutrinário, com a Santa Sé. Dada a maldade das suspeitas, insinuações e falsas conclusões, que vão muito além do alcance dos fatos e das intenções e que poderiam abalar pessoas desavisadas, explico a razão doutrinária do nosso proceder, segundo a doutrina católica, e renovo a nota de esclarecimento que já foi emitida em outra ocasião e as explicações já dadas à saciedade em minha Orientação Pastoral sobre o Magistério vivo da Igreja e no meu livro “Considerações sobre as formas do Rito Romano” (cf. www.adapostolica.org).
No que diz respeito à concelebração, o Magistério da Igreja ensina: “a concelebração, que manifesta bem a unidade do sacerdócio, tem sido prática constante até ao dia de hoje, quer no Oriente quer no Ocidente (Sacr. Conc., 57, § 1).
O Papa Bento XVI, na carta de 16 de junho de 2009, em que proclama o Ano Sacerdotal, recorda o ensinamento do Beato João Paulo II de que a comunhão eclesial se manifesta na concelebração eucarística. O mesmo ele repete na carta de 27 de maio de 2007 à Igreja da China, que a concelebração eucarística é sinal de comunhão na Igreja. Essa é uma das razões pelas quais é proibido concelebrar com padres e bispos que não estejam em comunhão com a Sé de Pedro (cf. João Paulo II, Enc. Ecclesia de Eucharistia, 44).
Na instrução “Eucharisticum Mysterium” (nº 47), de 25 de maio de 1967, da Sagrada Congregação dos Ritos, dada no tempo ainda da Missa na forma antiga, aprovada pelo Papa e confirmada pela sua autoridade, explica-se a razão doutrinária da concelebração: “Pela concelebração da Eucaristia manifesta-se, apropriadamente, a unidade do sacrifício e do sacerdócio... Além disso, a concelebração simboliza e estreita os vínculos fraternos entre os presbíteros, pois em virtude da comum e sagrada ordenação e missão, estão unidos entre si por íntima fraternidade... Convém que os sacerdotes celebrem a Eucaristia daquele modo sublime...”.
No decreto “Animarum bonum” de fundação da nossa Administração Apostólica, de 18 de janeiro de 2002, no inciso VI, § 1, se lê: “Os presbíteros e diáconos que até o momento pertencem à União São João Maria Vianney incardinam-se na Administração Apostólica. O Presbitério da Administração é constituído de presbíteros incardinados. Os clérigos por todas as razões pertencem ao clero secular, daí a necessidade de estreita unidade com o Presbitério Diocesano de Campos”. Esta norma, dada pela Santa Sé, foi estabelecida desde a criação da Administração Apostólica.
Segundo esses ensinamentos e o costume atual na Igreja, a concelebração vem a ser um sinal habitual de comunhão. Não é obrigatória, mas recusá-la sistematicamente, por princípio, pode ser indício de não estar em plena comunhão. Por isso, o único sinal de unidade sempre proibido (cânon 908) a um padre oriental não católico, é de concelebrar com um padre católico e reciprocamente, porque tal ato seria o sinal da plena comunhão, não somente sacramental, mas hierárquica, pois se trata de comunhão no sacramento da Ordem. Julgar que não existe nenhuma circunstância em que se pudesse concelebrar segundo o novo rito leva a crer que se pense que a concelebração no novo rito seja intrinsecamente um pecado. Mesmo no Ocidente, ao menos a partir do século XIII, a concelebração, ao menos cerimonial, foi um sinal, às vezes obrigatório, de comunhão com o Bispo local, quando se está no mesmo território que ele.
A Instrução acima citada “Eucharisticum Mysterium” (nº 43) também ensina: “Na celebração da Eucaristia, também os presbíteros, em virtude de um sacramento especial, a Ordem, sejam designados para uma função que lhes é própria. Pois também eles, “como ministros da liturgia, sobretudo no Sacrifício da Missa, representam, de maneira especial, a pessoa de Cristo. Portanto, é conveniente que, por motivo do sinal, eles tomem parte na santa Eucaristia, exercendo a função de sua ordem, isto é, celebrando ou concelebrando a santa Missa e não apenas recebendo a comunhão, como leigos”.
Lembrando a aplicação prática dessa doutrina, o Cardeal Dom Dario Castrillón Hoyos, presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, no dia 30 de maio de 2008, nos Estados Unidos, no sermão da Missa de Ordenação de padres da Fraternidade São Pedro: “Irmãos, mostrai um profundo respeito pela forma ordinária do Rito Romano concelebrando com vosso Bispo na Missa Crismal da Quinta-Feira Santa; é conveniente de modo particular este sinal de comunhão sacerdotal” (La Croix de 2 de junho de 2008).
Na homilia por ocasião da sua visita à Paróquia São Francisco de Paula de Toulon, na França, de 6 a 7 de dezembro de 2008, o mesmo Cardeal Castrillon ensina aos católicos ligados à liturgia tradicional: “... Mas os fiéis também têm um papel pessoal a desempenhar na abertura necessária da liturgia tradicional. O Papa não deseja que vós vos desligueis da vida de vossa diocese, mas que estejais aí bem inseridos e participeis, sob o impulso de vossos pastores, das grandes atividades da diocese. A concelebração em torno de vosso Bispo, do qual os padres são os primeiros colaboradores, é um dos sinais de comunhão, entre outros; o fato de que vós a pratiqueis em certas ocasiões não pode senão alegrar o Santo Padre. Eu encorajo os vossos padres a continuar neste verdadeiro espírito de caridade eclesial”.
Com relação a minha posição como Bispo, aproveito aqui a ocasião para recordar o ensinamento teológico do caráter colegial do ministério episcopal: “Esta união colegial entre os Bispos funda-se conjuntamente sobre a ordenação episcopal e a comunhão hierárquica; toca, pois a profundidade do ser de cada Bispo e pertence à estrutura da Igreja como foi querida por Jesus Cristo. De fato, ele é constituído na plenitude do ministério episcopal pela consagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a Cabeça do Colégio e com os membros, isto é, com o Colégio que sempre inclui a Cabeça. É desta forma que se torna membro do Colégio Episcopal, pelo que as três funções recebidas na ordenação episcopal – santificar, ensinar e governar – devem ser exercidas em comunhão hierárquica, embora de modo distinto pela sua diversa finalidade imediata. Isto constitui o chamado ‘afeto colegial’ ou colegialidade afetiva, de que deriva a solicitude dos Bispos pelas outras Igrejas particulares e pela Igreja universal... Esta natureza colegial do ministério apostólico é querida pelo próprio Cristo. Por isso, o afeto colegial ou colegialidade afetiva vigora sempre entre os Bispos como communio episcoporum, mas é só em alguns atos que se exprime como colegialidade efetiva... A unidade do episcopado é um dos elementos constitutivos da unidade da Igreja...” (Bem-aventurado João Paulo II, Ex. Apost. Pastores Gregis, 8).
Por tudo isso, por ser um bispo católico em situação canônica regular, membro do Episcopado católico, em comunhão com o Santo Padre o Papa, devo demonstrar na prática essa plena comunhão, especialmente em certas ocasiões, na celebração da Santa Missa. Nossa participação e concelebração, portanto, se deve a princípios doutrinários e não apenas à diplomacia, boa convivência e muito menos conivência com erros.
Em nossa Administração Apostólica, como dissemos, por faculdade a nós concedida pela Santa Sé, conservamos o rito da Missa na antiga forma ou forma extraordinária do Rito Romano. Aliás, também o conservam e utilizam muitas congregações religiosas, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo, com a diferença de que nós não somos um grupo ou uma Congregação Religiosa, mas sim uma Administração Apostólica, ou seja, uma circunscrição eclesiástica criada pela Santa Sé, equiparada a uma diocese (cânon 368), uma porção do povo de Deus, cujo cuidado pastoral foi confiado a um Bispo, Administrador Apostólico, que a governa em nome do Sumo Pontífice (cânon 371 §2). O Papa vem a ser, portanto, o real Pastor dessa porção do rebanho de Cristo, que é a Administração Apostólica.
Nós amamos, preferimos e conservamos a liturgia romana na sua forma mais antiga por ser, para nós, melhor expressão litúrgica dos dogmas eucarísticos e sólido alimento espiritual, pela sua riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das cerimônias, pelo seu senso de sacralidade (1) e reverência, pelo seu sentido de mistério, por sua maior precisão e rigor nas rubricas, apresentando assim mais segurança e proteção contra abusos, não dando espaço a “ambigüidades, liberdades, criatividades, adaptações, reduções e instrumentalizações”, como lamentava o Beato Papa João Paulo II (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10, 52, 61). Por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, exprimimos através da Missa na sua forma ritual romana mais antiga o nosso amor pela Santa Igreja e nossa comunhão com ela. Conservamos o venerável rito de São Pio V, mas “cum Petro et sub Petro”, em plena comunhão. E a Santa Sé reconhece essa nossa adesão como perfeitamente legítima, concedendo-nos essa liturgia como própria de nossa Administração Apostólica. Assim, graças a Deus e à Santa Sé, nossos sacerdotes e fiéis podem se unir à Igreja e celebrar o culto divino com esse tesouro litúrgico da Igreja, que é a forma ritual antiga do Rito Romano.
Mas há que se conservar a adesão à tradição litúrgica sem pecar contra a sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a comunhão eclesial. Como escrevi na minha primeira mensagem pastoral de 5 de janeiro de 2003: “Conservemos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo da Igreja, e não em contraposição a eles”. Jamais, pois, se pode usar a adesão à Liturgia tradicional em espírito de contestação à autoridade da Igreja ou de rompimento de comunhão.
Ensina-nos o Bem-aventurado João Paulo II: “A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum ... e à comunhão hierárquica” (2).
Não seria válido, correto nem única razão para se celebrar ou assistir à Missa no rito mais antigo o motivo de se considerar a Nova Missa, isto é, o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada pelo Papa Paulo VI, como inválida, ou ilegítima, heterodoxa e, portanto, ilícita. Os sérios e graves motivos doutrinários e práticos que demos acima são suficientes para a nossa adesão à Missa tradicional como nos concedeu a Santa Sé, sem necessitar recorrer a esse argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e a justiça devem ser a nossa norma nesta luta. Somente a verdade nos fará livres (Jo 8,32).
O fato de termos, em nossa Administração Apostólica, a liturgia de São Pio V como forma ritual própria, conforme nos concedeu a Santa Sé, não significa que não se possa nunca participar da Missa na forma atual, considerando-a assim, na prática, como se fosse inválida, ilegítima ou ilícita, isto é, pecaminosa.
Muitos teólogos e liturgistas, assim como nós, fizeram críticas e tiveram reservas à reforma litúrgica, mas sempre dentro dos limites permitidos pela doutrina católica, dogmática e canônica, e no respeito ao Magistério da Igreja. Esses limites, impostos pela teologia católica às reservas e críticas, nos impedem, assim, de dizer que a Nova Missa seja heterodoxa, ilegítima ou não católica.
Porque se, na teoria ou na prática, considerássemos a Nova Missa, em si mesma, como inválida, sacrílega, heterodoxa ou não católica, pecaminosa e, portanto, ilegítima, deveríamos tirar as lógicas conseqüências teológicas dessa posição e aplicá-la ao Papa e a todo o Episcopado residente no mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, sustentar que a Igreja oficialmente possa promulgar, tenha promulgado, conserve há décadas e ofereça todos os dias a Deus um culto ilegítimo e pecaminoso – proposição reprovada pelo Magistério - e que, portanto, as portas do Inferno tenham prevalecido contra ela, o que seria uma heresia. Ou então estaríamos adotando o princípio sectário de que só nós e os que pensam como nós somos a Igreja e que fora de nós não há salvação, o que seria outra heresia. Essas posições não podem ser aceitas por um católico, nem na teoria nem na prática. Pela teologia católica, a Igreja, pela sua infalibilidade e indefectibilidade, não pode promulgar oficial e universalmente um rito não católico ou prejudicial às almas e, por isso mesmo realmente não o fez.
Ademais uma participação da Missa celebrada na sua forma ordinária não vem significar absolutamente que estejamos aprovando abusos e profanações que ocorrem até com certa freqüência em Missas celebradas no novo rito, “deformações na Liturgia”, na expressão do Papa, “no limite do suportável” (3), lamentados por ele e por nós.
Também não arrefeceu e continua o nosso combate contra as heresias litúrgicas tais como a negação da presença real de Cristo na Eucaristia, a transformação da Missa numa simples ceia, a negação ou o encobrimento do caráter sacrifical e propiciatório da Santa Missa, a confusão entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis, a dessacralização da sagrada Liturgia, a falta de veneração, de adoração e de modéstia nos trajes no culto divino, a mundanização da Igreja, etc.
Não é nossa intenção aqui fazer a apologia da reforma litúrgica nem analisar e questionar completamente todos os seus aspectos, mas sim defender o Magistério e a indefectibilidade da Igreja, que continua perene, mesmo com os atuais desastres a que possa ter dado azo a reforma litúrgica. O nosso propósito específico aqui é combater o equívoco doutrinário dos que consideram a nova Missa, como foi promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como sendo pecaminosa e, portanto, impossível de ser assistida sem se cometer pecado, e o conseqüente erro prático dos que atacam aqueles que, em determinadas circunstâncias, por dever de ofício ou demonstração de comunhão, dela participam ou a concelebram, como se eles tivessem cometendo uma ofensa a Deus.
A Missa de Paulo VI – a chamada “Nova Missa” - é hoje a forma ritual oficial da Igreja latina, celebrado pelo Papa e por todo o Episcopado Católico. O Santo Padre o Papa Bento XVI afirma: “É preciso antes de mais afirmar que o Missal promulgado por Paulo VI e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II obviamente é e permanece a forma normal – forma ordinária – da Liturgia Eucarística” da Liturgia romana da Igreja Católica (Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum ).
A Igreja tem poder de criar e modificar os seus ritos. Assim, sobre “o poder da Igreja sobre a administração do sacramento da Eucaristia”, o Concílio de Trento declara expressamente que “a Igreja sempre teve o poder de, na administração dos sacramentos, salva a substância deles, determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente à utilidade dos que os recebem ou à veneração dos mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares” (Sessão XXI, cap. 2 – Denz-Sh 1728).
É dogma de Fé, definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, que “esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32)”. (4) Esse mesmo Concílio Ecumênico Vaticano I define que “este carisma da verdade e da fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra...” (5) .
Conforme legisla o Direito Canônico, pertence exclusivamente à autoridade da Igreja determinar o que é válido e lícito na celebração, administração e recepção dos Sacramentos, pois eles são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito divino (Cf. C.D.C. cânon 841) (6). Seria, portanto, usurpar o lugar da suprema autoridade da Igreja dizer que a Missa no rito romano atual é inválida ou ilícita ou, como alguns dizem, não serve para cumprir o preceito dominical.
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em sua Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum, afirma expressamente, como sendo algo óbvio: “Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades que aderem ao uso antigo, não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do rito a exclusão total do mesmo”.
Está claro, portanto, nas palavras do Santo Padre, que se deve reconhecer o valor e a santidade da nova liturgia, e, em conseqüência, não excluí-la totalmente. Fica, pois, esclarecido pelo Santo Padre o Papa Bento XVI que, embora tenhamos como forma ritual própria da nossa Administração Apostólica a Missa na forma antiga do rito romano, a participação dos fiéis ou concelebração de algum dos nossos sacerdotes ou de seu Bispo, em uma Missa numa forma ritual promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, por ela determinada como legítima e por ela adotada, como é a Missa celebrada na forma do Rito Romano atual, não pode ser considerado como sendo algo mau ou censurável. Nem isso significa a perda da nossa identidade litúrgica, mas sim uma demonstração de comunhão com os outros Bispos, sacerdotes e fiéis, apesar da diferença de forma ritual.
Porque ninguém pode ser católico mantendo-se numa atitude de recusa de comunhão com o Papa e com o Episcopado católico. A Igreja define como cismático aquele que recusa se submeter ao Romano Pontífice ou se manter em comunhão com os outros membros da Igreja a ele sujeitos (cânon 751). Ora, recusar-se continua e categoricamente a participar de toda e qualquer Missa no rito celebrado pelo Papa e por todos os Bispos da Igreja, pela razão de julgar esse rito, em si mesmo, incompatível com a Fé ou pecaminoso, representa uma recusa formal de comunhão com o Papa e com o Episcopado católico.
E a recente instrução “Universae Ecclesiae”, da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, publicada com aprovação e mandato do Papa Bento XVI, estabelece explicitamente: “Os fiéis que pedem a celebração da forma extraordinária não devem apoiar nem pertencer a grupos que se manifestam contrários à validade ou à legitimidade da Santa Missa ou dos Sacramentos celebrados na forma ordinária, nem ser contrários ao Romano Pontífice como Pastor Supremo da Igreja universal”.
O critério de verdade, ortodoxia e procedimento que rege nossa Administração Apostólica, como o deve ser para todo católico, é o Magistério vivo da Igreja, como nos ensina São Pio X: “o primeiro e maior critério da fé, a regra suprema e inquebrantável da ortodoxia é a obediência ao magistério sempre vivo e infalível da Igreja, estabelecido por Cristo columna et firmamentum veritatis, a coluna e o sustento da verdade.” (7) . E o Papa venerável Pio XII também ensina que “a norma próxima e universal da verdade” é o “Magistério da Igreja” (8) , explicando a razão: “Porque para explicar as coisas que estão contidas no Depósito da Fé, não foi aos julgamentos privados que o Nosso Salvador as confiou, mas sim ao Magistério Eclesiástico” (9) .
Assim, o que aqui estamos ensinando baseia-se no Magistério vivo da Igreja, nossa segurança e critério de verdade.
Os princípios que sempre defendemos, na linha do Magistério da Igreja, a adesão às verdades da nossa Fé e a rejeição aos erros condenados pela Igreja continuam os mesmos. Houve, porém, em outras circunstâncias e em outro contexto, mesmo de nossa parte, comportamentos e afirmações dissonantes das normas e ensino da Igreja. É preciso examiná-las e retificá-las à luz do Magistério perene e vivo da Igreja, que, repetimos, é o critério de verdade e comportamento para o católico. Alguns podem equivocadamente pensar que o que foi feito, dito ou vivido num período de exceção e irregularidade seja o ideal e o normal para um católico. Não! O normal para todo católico é viver de acordo com o Magistério vivo da Igreja e unido e submisso à sua hierarquia. Não se pode apelar para aqueles antigos comportamentos ou afirmações dissonantes do Magistério, como argumento de terem sido adotados ou feitas antes, como se tais atitudes ou afirmações fossem os únicos critérios de verdade, infalíveis e nunca passíveis de correção e melhor expressão.
Quantos santos, mesmo doutores da Igreja não erraram em doutrina e em comportamento! Por isso, nos ensina Santo Tomás de Aquino que “devemos nos apoiar, antes, na autoridade da Igreja do que na de Agostinho, de Jerônimo ou de qualquer outro doutor” (10).
No maior período da crise, muitos enganos de julgamentos foram provocados por afirmações e ações erradas, que víamos generalizadas, difundidas por quase toda a Igreja, muitos das quais, infelizmente, continuam. Graças a Deus, muitos esclarecimentos magisteriais nos foram dados depois. À luz destes, examinamos se houve algum erro ou exagero no passado quanto às questões acima referidas, que, uma vez reconhecidos, devem ser humildemente corrigidos. Se houve alguma falha em comportamento ou expressões, corrigir-se não é nenhum desdouro. Afinal, errar é humano, perdoar é divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é diabólico. Mas erros podem ser compreendidos e explicados, por má compreensão ou julgamento equivocado, influências, circunstâncias ou fraquezas humanas, mas não justificados. Santo Tomás de Aquino nos ensina: “Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção” (11)
Há pouco, no final de setembro passado, estive na visita “ad limina”, visita oficial do Bispo ao Papa, quando fui “conferir o meu evangelho com Pedro” (cf. Gl 1,18; 2,2), e pude ouvir o elogio e apoio do Santo Padre Bento XVI à nossa Administração Apostólica e ao nosso modo de agir e nos conduzir. E, na audiência pessoal privativa com o Santo Padre, recordei com ele que aqui conservamos a Missa na forma antiga do Rito Romano, mas que eu, em certas ocasiões, concelebro com os outros Bispos, como, por exemplo, naquela visita “ad limina”. O Papa se mostrou muito contente de que a situação entre a Administração Apostólica, a Diocese e os outros Bispos esteja em paz. E eu disse: “Santo Padre, em paz e em comunhão”, ao que ele respondeu: “Isso é muito importante!”. É o que nos importa: nosso modo de pensar e agir conferido com Pedro e apoiado por ele. E é o que nos consola, em meio a muitas incompreensões e ataques. Mas, felizmente, temos, além do Santo Padre, muitos amigos, católicos corretos e seguidores da verdadeira Tradição, que nos compreendem e apóiam.
Assim sendo, esperamos ter esclarecido os católicos de boa vontade, especialmente aqueles que nos estão confiados e querem realmente seguir a Igreja “cum Petro et sub Petro”.
Campos dos Goytacazes, 29 de junho de 2011
Festa de São Pedro e São Paulo – Dia do Papa.
+ Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Notas:
1- “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Cardeal Joseph Ratzinger, nosso atual Papa, conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13/7/1988.
2- João Paulo II, carta apostólica Vigesimus quintus annus, n. 16, 4/12/1988.
3- “Muitas pessoas, que aceitavam claramente o carácter vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao Papa e aos Bispos, desejavam contudo reaver também a forma (anterior), que lhes era cara, da sagrada Liturgia; isto sucedeu antes de mais porque, em muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da Igreja” (Bento XVI, Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum).
4- Concílio Ecum. Vaticano I, Const, Dog. “Pastor Aeternus”, sobre a Igreja de Cristo, D-S 3070 e 3071
5- Idem, ibidem.
6- Cânon 841: “Já que os sacramentos são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito divino, compete unicamente à suprema autoridade da Igreja aprovar ou definir os requisitos para sua validade, e cabe a ela ou a outra autoridade competente, de acordo com o cân. 838, §§ 3 e 4, determinar o que se refere à sua celebração, administração e recepção lícita, e à ordem a ser observada em sua celebração”.
7- Alocução “Cum vera soddisfazione”, de 10/5/1909.
8- Encíclica Humani Generis, n. 18.
9- Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, D. 3866.
10- Summa Theologica, II-II, q. 10, a.12.
11- Santo Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (apud C.I.C. 1759).
Fonte: Adapostólica
NOTA SOBRE A CONCELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO NA FORMA ATUAL
Algumas pessoas têm perguntado sobre a participação ocasional e a eventual concelebração minha e de alguns dos nossos padres nas Missas celebradas no Rito de Paulo VI, isto é, na forma ordinária atual do Rito Romano.
A grande maioria dos católicos, com bom senso, compreende perfeitamente que, embora em nossa Administração Apostólica se conserve a liturgia romana no seu uso mais antigo, seja normal que, em determinadas ocasiões, o Bispo e seus sacerdotes possam concelebrar a santa Missa na forma atual, usada habitualmente pelo Papa e por toda a Igreja do rito romano; normal, correto e bom, porque demonstra que somos católicos em plena comunhão com toda a Igreja.
Alguns, no entanto, insinuam que esta presença representaria uma traição à Tradição, quase uma apostasia, uma renúncia a todas as críticas que foram feitas e que se possam fazer à Reforma Litúrgica e todas as suas conseqüências, uma aprovação de tudo que acontece hoje nas Missas, uma abertura ao “progressismo” e, pior, que isso faria parte de um “acordo” prático, não doutrinário, com a Santa Sé. Dada a maldade das suspeitas, insinuações e falsas conclusões, que vão muito além do alcance dos fatos e das intenções e que poderiam abalar pessoas desavisadas, explico a razão doutrinária do nosso proceder, segundo a doutrina católica, e renovo a nota de esclarecimento que já foi emitida em outra ocasião e as explicações já dadas à saciedade em minha Orientação Pastoral sobre o Magistério vivo da Igreja e no meu livro “Considerações sobre as formas do Rito Romano” (cf. www.adapostolica.org).
No que diz respeito à concelebração, o Magistério da Igreja ensina: “a concelebração, que manifesta bem a unidade do sacerdócio, tem sido prática constante até ao dia de hoje, quer no Oriente quer no Ocidente (Sacr. Conc., 57, § 1).
O Papa Bento XVI, na carta de 16 de junho de 2009, em que proclama o Ano Sacerdotal, recorda o ensinamento do Beato João Paulo II de que a comunhão eclesial se manifesta na concelebração eucarística. O mesmo ele repete na carta de 27 de maio de 2007 à Igreja da China, que a concelebração eucarística é sinal de comunhão na Igreja. Essa é uma das razões pelas quais é proibido concelebrar com padres e bispos que não estejam em comunhão com a Sé de Pedro (cf. João Paulo II, Enc. Ecclesia de Eucharistia, 44).
Na instrução “Eucharisticum Mysterium” (nº 47), de 25 de maio de 1967, da Sagrada Congregação dos Ritos, dada no tempo ainda da Missa na forma antiga, aprovada pelo Papa e confirmada pela sua autoridade, explica-se a razão doutrinária da concelebração: “Pela concelebração da Eucaristia manifesta-se, apropriadamente, a unidade do sacrifício e do sacerdócio... Além disso, a concelebração simboliza e estreita os vínculos fraternos entre os presbíteros, pois em virtude da comum e sagrada ordenação e missão, estão unidos entre si por íntima fraternidade... Convém que os sacerdotes celebrem a Eucaristia daquele modo sublime...”.
No decreto “Animarum bonum” de fundação da nossa Administração Apostólica, de 18 de janeiro de 2002, no inciso VI, § 1, se lê: “Os presbíteros e diáconos que até o momento pertencem à União São João Maria Vianney incardinam-se na Administração Apostólica. O Presbitério da Administração é constituído de presbíteros incardinados. Os clérigos por todas as razões pertencem ao clero secular, daí a necessidade de estreita unidade com o Presbitério Diocesano de Campos”. Esta norma, dada pela Santa Sé, foi estabelecida desde a criação da Administração Apostólica.
Segundo esses ensinamentos e o costume atual na Igreja, a concelebração vem a ser um sinal habitual de comunhão. Não é obrigatória, mas recusá-la sistematicamente, por princípio, pode ser indício de não estar em plena comunhão. Por isso, o único sinal de unidade sempre proibido (cânon 908) a um padre oriental não católico, é de concelebrar com um padre católico e reciprocamente, porque tal ato seria o sinal da plena comunhão, não somente sacramental, mas hierárquica, pois se trata de comunhão no sacramento da Ordem. Julgar que não existe nenhuma circunstância em que se pudesse concelebrar segundo o novo rito leva a crer que se pense que a concelebração no novo rito seja intrinsecamente um pecado. Mesmo no Ocidente, ao menos a partir do século XIII, a concelebração, ao menos cerimonial, foi um sinal, às vezes obrigatório, de comunhão com o Bispo local, quando se está no mesmo território que ele.
A Instrução acima citada “Eucharisticum Mysterium” (nº 43) também ensina: “Na celebração da Eucaristia, também os presbíteros, em virtude de um sacramento especial, a Ordem, sejam designados para uma função que lhes é própria. Pois também eles, “como ministros da liturgia, sobretudo no Sacrifício da Missa, representam, de maneira especial, a pessoa de Cristo. Portanto, é conveniente que, por motivo do sinal, eles tomem parte na santa Eucaristia, exercendo a função de sua ordem, isto é, celebrando ou concelebrando a santa Missa e não apenas recebendo a comunhão, como leigos”.
Lembrando a aplicação prática dessa doutrina, o Cardeal Dom Dario Castrillón Hoyos, presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, no dia 30 de maio de 2008, nos Estados Unidos, no sermão da Missa de Ordenação de padres da Fraternidade São Pedro: “Irmãos, mostrai um profundo respeito pela forma ordinária do Rito Romano concelebrando com vosso Bispo na Missa Crismal da Quinta-Feira Santa; é conveniente de modo particular este sinal de comunhão sacerdotal” (La Croix de 2 de junho de 2008).
Na homilia por ocasião da sua visita à Paróquia São Francisco de Paula de Toulon, na França, de 6 a 7 de dezembro de 2008, o mesmo Cardeal Castrillon ensina aos católicos ligados à liturgia tradicional: “... Mas os fiéis também têm um papel pessoal a desempenhar na abertura necessária da liturgia tradicional. O Papa não deseja que vós vos desligueis da vida de vossa diocese, mas que estejais aí bem inseridos e participeis, sob o impulso de vossos pastores, das grandes atividades da diocese. A concelebração em torno de vosso Bispo, do qual os padres são os primeiros colaboradores, é um dos sinais de comunhão, entre outros; o fato de que vós a pratiqueis em certas ocasiões não pode senão alegrar o Santo Padre. Eu encorajo os vossos padres a continuar neste verdadeiro espírito de caridade eclesial”.
Com relação a minha posição como Bispo, aproveito aqui a ocasião para recordar o ensinamento teológico do caráter colegial do ministério episcopal: “Esta união colegial entre os Bispos funda-se conjuntamente sobre a ordenação episcopal e a comunhão hierárquica; toca, pois a profundidade do ser de cada Bispo e pertence à estrutura da Igreja como foi querida por Jesus Cristo. De fato, ele é constituído na plenitude do ministério episcopal pela consagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a Cabeça do Colégio e com os membros, isto é, com o Colégio que sempre inclui a Cabeça. É desta forma que se torna membro do Colégio Episcopal, pelo que as três funções recebidas na ordenação episcopal – santificar, ensinar e governar – devem ser exercidas em comunhão hierárquica, embora de modo distinto pela sua diversa finalidade imediata. Isto constitui o chamado ‘afeto colegial’ ou colegialidade afetiva, de que deriva a solicitude dos Bispos pelas outras Igrejas particulares e pela Igreja universal... Esta natureza colegial do ministério apostólico é querida pelo próprio Cristo. Por isso, o afeto colegial ou colegialidade afetiva vigora sempre entre os Bispos como communio episcoporum, mas é só em alguns atos que se exprime como colegialidade efetiva... A unidade do episcopado é um dos elementos constitutivos da unidade da Igreja...” (Bem-aventurado João Paulo II, Ex. Apost. Pastores Gregis, 8).
Por tudo isso, por ser um bispo católico em situação canônica regular, membro do Episcopado católico, em comunhão com o Santo Padre o Papa, devo demonstrar na prática essa plena comunhão, especialmente em certas ocasiões, na celebração da Santa Missa. Nossa participação e concelebração, portanto, se deve a princípios doutrinários e não apenas à diplomacia, boa convivência e muito menos conivência com erros.
Em nossa Administração Apostólica, como dissemos, por faculdade a nós concedida pela Santa Sé, conservamos o rito da Missa na antiga forma ou forma extraordinária do Rito Romano. Aliás, também o conservam e utilizam muitas congregações religiosas, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo, com a diferença de que nós não somos um grupo ou uma Congregação Religiosa, mas sim uma Administração Apostólica, ou seja, uma circunscrição eclesiástica criada pela Santa Sé, equiparada a uma diocese (cânon 368), uma porção do povo de Deus, cujo cuidado pastoral foi confiado a um Bispo, Administrador Apostólico, que a governa em nome do Sumo Pontífice (cânon 371 §2). O Papa vem a ser, portanto, o real Pastor dessa porção do rebanho de Cristo, que é a Administração Apostólica.
Nós amamos, preferimos e conservamos a liturgia romana na sua forma mais antiga por ser, para nós, melhor expressão litúrgica dos dogmas eucarísticos e sólido alimento espiritual, pela sua riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das cerimônias, pelo seu senso de sacralidade (1) e reverência, pelo seu sentido de mistério, por sua maior precisão e rigor nas rubricas, apresentando assim mais segurança e proteção contra abusos, não dando espaço a “ambigüidades, liberdades, criatividades, adaptações, reduções e instrumentalizações”, como lamentava o Beato Papa João Paulo II (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10, 52, 61). Por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, exprimimos através da Missa na sua forma ritual romana mais antiga o nosso amor pela Santa Igreja e nossa comunhão com ela. Conservamos o venerável rito de São Pio V, mas “cum Petro et sub Petro”, em plena comunhão. E a Santa Sé reconhece essa nossa adesão como perfeitamente legítima, concedendo-nos essa liturgia como própria de nossa Administração Apostólica. Assim, graças a Deus e à Santa Sé, nossos sacerdotes e fiéis podem se unir à Igreja e celebrar o culto divino com esse tesouro litúrgico da Igreja, que é a forma ritual antiga do Rito Romano.
Mas há que se conservar a adesão à tradição litúrgica sem pecar contra a sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a comunhão eclesial. Como escrevi na minha primeira mensagem pastoral de 5 de janeiro de 2003: “Conservemos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo da Igreja, e não em contraposição a eles”. Jamais, pois, se pode usar a adesão à Liturgia tradicional em espírito de contestação à autoridade da Igreja ou de rompimento de comunhão.
Ensina-nos o Bem-aventurado João Paulo II: “A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum ... e à comunhão hierárquica” (2).
Não seria válido, correto nem única razão para se celebrar ou assistir à Missa no rito mais antigo o motivo de se considerar a Nova Missa, isto é, o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada pelo Papa Paulo VI, como inválida, ou ilegítima, heterodoxa e, portanto, ilícita. Os sérios e graves motivos doutrinários e práticos que demos acima são suficientes para a nossa adesão à Missa tradicional como nos concedeu a Santa Sé, sem necessitar recorrer a esse argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e a justiça devem ser a nossa norma nesta luta. Somente a verdade nos fará livres (Jo 8,32).
O fato de termos, em nossa Administração Apostólica, a liturgia de São Pio V como forma ritual própria, conforme nos concedeu a Santa Sé, não significa que não se possa nunca participar da Missa na forma atual, considerando-a assim, na prática, como se fosse inválida, ilegítima ou ilícita, isto é, pecaminosa.
Muitos teólogos e liturgistas, assim como nós, fizeram críticas e tiveram reservas à reforma litúrgica, mas sempre dentro dos limites permitidos pela doutrina católica, dogmática e canônica, e no respeito ao Magistério da Igreja. Esses limites, impostos pela teologia católica às reservas e críticas, nos impedem, assim, de dizer que a Nova Missa seja heterodoxa, ilegítima ou não católica.
Porque se, na teoria ou na prática, considerássemos a Nova Missa, em si mesma, como inválida, sacrílega, heterodoxa ou não católica, pecaminosa e, portanto, ilegítima, deveríamos tirar as lógicas conseqüências teológicas dessa posição e aplicá-la ao Papa e a todo o Episcopado residente no mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, sustentar que a Igreja oficialmente possa promulgar, tenha promulgado, conserve há décadas e ofereça todos os dias a Deus um culto ilegítimo e pecaminoso – proposição reprovada pelo Magistério - e que, portanto, as portas do Inferno tenham prevalecido contra ela, o que seria uma heresia. Ou então estaríamos adotando o princípio sectário de que só nós e os que pensam como nós somos a Igreja e que fora de nós não há salvação, o que seria outra heresia. Essas posições não podem ser aceitas por um católico, nem na teoria nem na prática. Pela teologia católica, a Igreja, pela sua infalibilidade e indefectibilidade, não pode promulgar oficial e universalmente um rito não católico ou prejudicial às almas e, por isso mesmo realmente não o fez.
Ademais uma participação da Missa celebrada na sua forma ordinária não vem significar absolutamente que estejamos aprovando abusos e profanações que ocorrem até com certa freqüência em Missas celebradas no novo rito, “deformações na Liturgia”, na expressão do Papa, “no limite do suportável” (3), lamentados por ele e por nós.
Também não arrefeceu e continua o nosso combate contra as heresias litúrgicas tais como a negação da presença real de Cristo na Eucaristia, a transformação da Missa numa simples ceia, a negação ou o encobrimento do caráter sacrifical e propiciatório da Santa Missa, a confusão entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis, a dessacralização da sagrada Liturgia, a falta de veneração, de adoração e de modéstia nos trajes no culto divino, a mundanização da Igreja, etc.
Não é nossa intenção aqui fazer a apologia da reforma litúrgica nem analisar e questionar completamente todos os seus aspectos, mas sim defender o Magistério e a indefectibilidade da Igreja, que continua perene, mesmo com os atuais desastres a que possa ter dado azo a reforma litúrgica. O nosso propósito específico aqui é combater o equívoco doutrinário dos que consideram a nova Missa, como foi promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como sendo pecaminosa e, portanto, impossível de ser assistida sem se cometer pecado, e o conseqüente erro prático dos que atacam aqueles que, em determinadas circunstâncias, por dever de ofício ou demonstração de comunhão, dela participam ou a concelebram, como se eles tivessem cometendo uma ofensa a Deus.
A Missa de Paulo VI – a chamada “Nova Missa” - é hoje a forma ritual oficial da Igreja latina, celebrado pelo Papa e por todo o Episcopado Católico. O Santo Padre o Papa Bento XVI afirma: “É preciso antes de mais afirmar que o Missal promulgado por Paulo VI e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II obviamente é e permanece a forma normal – forma ordinária – da Liturgia Eucarística” da Liturgia romana da Igreja Católica (Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum ).
A Igreja tem poder de criar e modificar os seus ritos. Assim, sobre “o poder da Igreja sobre a administração do sacramento da Eucaristia”, o Concílio de Trento declara expressamente que “a Igreja sempre teve o poder de, na administração dos sacramentos, salva a substância deles, determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente à utilidade dos que os recebem ou à veneração dos mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares” (Sessão XXI, cap. 2 – Denz-Sh 1728).
É dogma de Fé, definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, que “esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32)”. (4) Esse mesmo Concílio Ecumênico Vaticano I define que “este carisma da verdade e da fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra...” (5) .
Conforme legisla o Direito Canônico, pertence exclusivamente à autoridade da Igreja determinar o que é válido e lícito na celebração, administração e recepção dos Sacramentos, pois eles são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito divino (Cf. C.D.C. cânon 841) (6). Seria, portanto, usurpar o lugar da suprema autoridade da Igreja dizer que a Missa no rito romano atual é inválida ou ilícita ou, como alguns dizem, não serve para cumprir o preceito dominical.
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em sua Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum, afirma expressamente, como sendo algo óbvio: “Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades que aderem ao uso antigo, não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do rito a exclusão total do mesmo”.
Está claro, portanto, nas palavras do Santo Padre, que se deve reconhecer o valor e a santidade da nova liturgia, e, em conseqüência, não excluí-la totalmente. Fica, pois, esclarecido pelo Santo Padre o Papa Bento XVI que, embora tenhamos como forma ritual própria da nossa Administração Apostólica a Missa na forma antiga do rito romano, a participação dos fiéis ou concelebração de algum dos nossos sacerdotes ou de seu Bispo, em uma Missa numa forma ritual promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, por ela determinada como legítima e por ela adotada, como é a Missa celebrada na forma do Rito Romano atual, não pode ser considerado como sendo algo mau ou censurável. Nem isso significa a perda da nossa identidade litúrgica, mas sim uma demonstração de comunhão com os outros Bispos, sacerdotes e fiéis, apesar da diferença de forma ritual.
Porque ninguém pode ser católico mantendo-se numa atitude de recusa de comunhão com o Papa e com o Episcopado católico. A Igreja define como cismático aquele que recusa se submeter ao Romano Pontífice ou se manter em comunhão com os outros membros da Igreja a ele sujeitos (cânon 751). Ora, recusar-se continua e categoricamente a participar de toda e qualquer Missa no rito celebrado pelo Papa e por todos os Bispos da Igreja, pela razão de julgar esse rito, em si mesmo, incompatível com a Fé ou pecaminoso, representa uma recusa formal de comunhão com o Papa e com o Episcopado católico.
E a recente instrução “Universae Ecclesiae”, da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, publicada com aprovação e mandato do Papa Bento XVI, estabelece explicitamente: “Os fiéis que pedem a celebração da forma extraordinária não devem apoiar nem pertencer a grupos que se manifestam contrários à validade ou à legitimidade da Santa Missa ou dos Sacramentos celebrados na forma ordinária, nem ser contrários ao Romano Pontífice como Pastor Supremo da Igreja universal”.
O critério de verdade, ortodoxia e procedimento que rege nossa Administração Apostólica, como o deve ser para todo católico, é o Magistério vivo da Igreja, como nos ensina São Pio X: “o primeiro e maior critério da fé, a regra suprema e inquebrantável da ortodoxia é a obediência ao magistério sempre vivo e infalível da Igreja, estabelecido por Cristo columna et firmamentum veritatis, a coluna e o sustento da verdade.” (7) . E o Papa venerável Pio XII também ensina que “a norma próxima e universal da verdade” é o “Magistério da Igreja” (8) , explicando a razão: “Porque para explicar as coisas que estão contidas no Depósito da Fé, não foi aos julgamentos privados que o Nosso Salvador as confiou, mas sim ao Magistério Eclesiástico” (9) .
Assim, o que aqui estamos ensinando baseia-se no Magistério vivo da Igreja, nossa segurança e critério de verdade.
Os princípios que sempre defendemos, na linha do Magistério da Igreja, a adesão às verdades da nossa Fé e a rejeição aos erros condenados pela Igreja continuam os mesmos. Houve, porém, em outras circunstâncias e em outro contexto, mesmo de nossa parte, comportamentos e afirmações dissonantes das normas e ensino da Igreja. É preciso examiná-las e retificá-las à luz do Magistério perene e vivo da Igreja, que, repetimos, é o critério de verdade e comportamento para o católico. Alguns podem equivocadamente pensar que o que foi feito, dito ou vivido num período de exceção e irregularidade seja o ideal e o normal para um católico. Não! O normal para todo católico é viver de acordo com o Magistério vivo da Igreja e unido e submisso à sua hierarquia. Não se pode apelar para aqueles antigos comportamentos ou afirmações dissonantes do Magistério, como argumento de terem sido adotados ou feitas antes, como se tais atitudes ou afirmações fossem os únicos critérios de verdade, infalíveis e nunca passíveis de correção e melhor expressão.
Quantos santos, mesmo doutores da Igreja não erraram em doutrina e em comportamento! Por isso, nos ensina Santo Tomás de Aquino que “devemos nos apoiar, antes, na autoridade da Igreja do que na de Agostinho, de Jerônimo ou de qualquer outro doutor” (10).
No maior período da crise, muitos enganos de julgamentos foram provocados por afirmações e ações erradas, que víamos generalizadas, difundidas por quase toda a Igreja, muitos das quais, infelizmente, continuam. Graças a Deus, muitos esclarecimentos magisteriais nos foram dados depois. À luz destes, examinamos se houve algum erro ou exagero no passado quanto às questões acima referidas, que, uma vez reconhecidos, devem ser humildemente corrigidos. Se houve alguma falha em comportamento ou expressões, corrigir-se não é nenhum desdouro. Afinal, errar é humano, perdoar é divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é diabólico. Mas erros podem ser compreendidos e explicados, por má compreensão ou julgamento equivocado, influências, circunstâncias ou fraquezas humanas, mas não justificados. Santo Tomás de Aquino nos ensina: “Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção” (11)
Há pouco, no final de setembro passado, estive na visita “ad limina”, visita oficial do Bispo ao Papa, quando fui “conferir o meu evangelho com Pedro” (cf. Gl 1,18; 2,2), e pude ouvir o elogio e apoio do Santo Padre Bento XVI à nossa Administração Apostólica e ao nosso modo de agir e nos conduzir. E, na audiência pessoal privativa com o Santo Padre, recordei com ele que aqui conservamos a Missa na forma antiga do Rito Romano, mas que eu, em certas ocasiões, concelebro com os outros Bispos, como, por exemplo, naquela visita “ad limina”. O Papa se mostrou muito contente de que a situação entre a Administração Apostólica, a Diocese e os outros Bispos esteja em paz. E eu disse: “Santo Padre, em paz e em comunhão”, ao que ele respondeu: “Isso é muito importante!”. É o que nos importa: nosso modo de pensar e agir conferido com Pedro e apoiado por ele. E é o que nos consola, em meio a muitas incompreensões e ataques. Mas, felizmente, temos, além do Santo Padre, muitos amigos, católicos corretos e seguidores da verdadeira Tradição, que nos compreendem e apóiam.
Assim sendo, esperamos ter esclarecido os católicos de boa vontade, especialmente aqueles que nos estão confiados e querem realmente seguir a Igreja “cum Petro et sub Petro”.
Campos dos Goytacazes, 29 de junho de 2011
Festa de São Pedro e São Paulo – Dia do Papa.
+ Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Notas:
1- “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Cardeal Joseph Ratzinger, nosso atual Papa, conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13/7/1988.
2- João Paulo II, carta apostólica Vigesimus quintus annus, n. 16, 4/12/1988.
3- “Muitas pessoas, que aceitavam claramente o carácter vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao Papa e aos Bispos, desejavam contudo reaver também a forma (anterior), que lhes era cara, da sagrada Liturgia; isto sucedeu antes de mais porque, em muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da Igreja” (Bento XVI, Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum).
4- Concílio Ecum. Vaticano I, Const, Dog. “Pastor Aeternus”, sobre a Igreja de Cristo, D-S 3070 e 3071
5- Idem, ibidem.
6- Cânon 841: “Já que os sacramentos são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito divino, compete unicamente à suprema autoridade da Igreja aprovar ou definir os requisitos para sua validade, e cabe a ela ou a outra autoridade competente, de acordo com o cân. 838, §§ 3 e 4, determinar o que se refere à sua celebração, administração e recepção lícita, e à ordem a ser observada em sua celebração”.
7- Alocução “Cum vera soddisfazione”, de 10/5/1909.
8- Encíclica Humani Generis, n. 18.
9- Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, D. 3866.
10- Summa Theologica, II-II, q. 10, a.12.
11- Santo Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (apud C.I.C. 1759).
Fonte: Adapostólica
sábado, 31 de dezembro de 2011
Catecismo - aula 5 - O Céu (Coisas invisíveis)- Anjos e Demônios - Prof. Carlos Ramalhete
Fonte: A Hora de São Jerônimo
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