Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 1º de junho de 2011, quarta-feira.
Todos devem ter visto, ao cair da noite, a órbita brilhante da nave Endeavour acoplada à Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 Km da Terra. Um belo espetáculo. A Endeavour, com seis astronautas a bordo, dos Estados Unidos, Rússia e Itália, se afastou nesta segunda-feira, dia 30, da Estação Espacial e iniciou seu retorno final à Terra. Foi sua última viagem. Mas, o que foi inédito, foi o fato de o Papa Bento XVI ter dialogado, por cerca de 20 minutos, com os astronautas. Os dois astronautas italianos, Roberto Vittori e Paolo Nespoli, deixaram suspensa no ar a medalha de prata que o Papa havia lhes dado antes da partida.
O Papa se referiu a esta medalha em sua pergunta a Roberto Vittori: “Os crentes contemplam com frequência os céus ilimitados e, meditando no Criador, ficam impressionados pelo mistério da sua grandeza. Por este motivo, a medalha que entreguei a Roberto, como sinal da minha participação na vossa missão, representa a Criação do homem, pintada por Michelangelo na Capela Sistina”.
"Quando temos um momento para inclinar o olhar - disse Roberto Vittori ao Papa -, a beleza, que é o efeito em três dimensões da formosura do planeta, conquista o nosso coração, conquista o meu coração. E então sim, eu rezo: rezo por mim, pelas nossas famílias, pelo nosso futuro. Carrego comigo a sua medalha e deixo que ela fique flutuando na minha frente, para demonstrar a ausência de gravidade. Quero lhe agradecer por esta oportunidade e gostaria que esta medalha flutuasse pelo meu amigo e colega Paolo: ele voltará à Terra na nave Soyuz. Eu trouxe a medalha ao espaço e ele a levará à Terra para devolvê-la ao senhor.”
Bento XVI dirigiu a última pergunta em italiano a Paolo Nespoli: “Querido Paolo, sei que, há alguns dias, sua mãe o deixou e, quando você voltar para casa, ela já não estará lá o esperando. Todos nós estamos ao seu lado; eu também rezei por você... Como você viveu esse momento de dor?”. Paolo Nespoli respondeu: “Santo Padre, eu experimentei as suas orações, suas orações chegaram até aqui. É verdade, estamos fora deste mundo, estamos em órbita ao redor da Terra e podemos ver melhor a Terra e acompanhar tudo o que nos cerca. Meus colegas aqui, a bordo da Estação - Dimitri, Kelly, Ron, Alexander e Andrei – estiveram muito perto de mim nesse momento importante para mim, muito intenso. Agradeço por tudo isso. Eu me senti longe, mas também muito perto, e certamente o pensamento de experimentar todos vocês perto de mim, unidos nesse momento, foi um enorme alívio”.
Bento XVI apresentou 5 perguntas aos astronautas, sobre sua visão da Terra do espaço e sobre o mistério do infinitamente grande, mas também sobre a oração. Como conclusão, Bento XVI declarou, antes de dar sua bênção aos astronautas: “Vós me ajudastes, a mim e a muitas outras pessoas, a refletir sobre questões importantes, que afetam o futuro da humanidade. Desejo-vos tudo de melhor para o vosso trabalho e para o êxito da vossa grande missão ao serviço da ciência, da colaboração internacional, do autêntico progresso e da paz no mundo”.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: Adapostólica
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