domingo, 8 de janeiro de 2012

Co-educação: respondendo a um questionamento

11 set 2011 2 Comentários

por lucianalachance em Uncategorized Tags:educação, pais



Após a leitura de nosso artigo sobre a co-educação a leitora Graziela levantou a seguinte questão:



Se a Igreja é contrária a co-educação, por que ela permite que suas instituições tenham co-educação? Hoje, se você for procurar uma escola católica para colocar os seus filhos, praticamente todas tem meninos e meninas juntas (eu não conheço nenhuma que não tenham). Cite-se: as escolas que são administradas pelos jesuítas, por religiosas, pelos salesianos, etc… Onde encontramos escola católica (ou não) que seja só de meninas? Ou só de meninos? PS: Até o Colégio Militar (e dos Bombeiros) que era só para meninos há alguns anos vem aceitando meninas.

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De fato, causa certa incompreensão quando de um lado vemos o que a doutrina da Igreja diz sobre a co-educação e de outro vemos o que está acontecendo na prática na maioria das escolas católicas. Até onde pudemos investigar, apenas duas escolas católicas no Brasil se mantêm não-mista: o Colégio São Bento no Rio de Janeiro – com mais de cem anos de existência, considerada a melhor escola do Brasil e que só atende a meninos – e a Escola do Bosque no Paraná (esta relativamente recente e que atende meninos e meninas em prédios separados).



Não é fácil explicar porque a maior parte das escolas católicas foram deixando de educar do modo como a Igreja propõe, pois em cada uma delas as coisas podem ter se dado de modo diferente, mas podemos assinalar em linhas gerais alguns dos principais motivos para isto ter ocorrido (pesquisando o assunto vimos que normalmente estes pontos costumam se repetir):



1 – Pressão do Ministério da Educação, a partir da década de 70, quando foi implantado o sistema de co-educação para as escolas. O MEC assinala que este sistema é opcional, sendo livre a adesão a ele ou não; mas na prática, na educação pública – que é diretamente administrada por este Ministério – todas as escolas se tornaram mistas. Esta mudança de orientação das escolas públicas criou uma espécie de abismo moral e educacional entre o setor público e o privado: os estudantes de escola pública tendo já uma educação moral muito laxa, onde a promiscuidade imperava, e os estudantes de escola particular católica, com a educação moral de sempre e vivendo uma separação sádia entre os sexos.



2 – Este estado de coisas fez a situação das escolas não-mistas mudar bruscamente de forma normal de educação, para uma forma muito restrita de educar às crianças e adolescentes. Sabe-se que, geralmente, quando um modelo educacional começa a sair de “moda”, os pais se sentem numa posição de desprestígio, o que costuma gerar desconfortos e receios de estar expondo os filhos a métodos ultrapassados, vistos como retrógrados.



3 – Deste desconforto, começa a surgir os anseios dos pais por escolas mais modernas, “adaptadas” à realidade atual, etc.



4 – Aliado a tudo isto entra o componente de crise moral das famílias e crise da Igreja. Se referindo a esta crise, o Papa João Paulo II disse: “É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente ideias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no ‘relativismo’ intelectual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetivo” (L’Osservatore Romano, 7-2-81).



5 – Assim, tanto os pais quantos os responsáveis pela educação católica, padres e freiras, afetados por esta crise moral, não puderam avaliar pelo ângulo correto a questão das escolas mistas. Os problemas em relação à castidade, à ocasião próxima de pecado, foram deixadas de lado, decorrente do esquecimento destas verdades nos púlpitos, pregações e confissões.



6 – Neste sentido, no livro “História das ideias pedagógicas no Brasil” de Demerval Saviani, relata-se que houve uma abertura de membros do clero no Brasil para as novas ideias pedagógicas a partir da década de 50. Muitos padres aceitaram as teses dos chamados “nova-escolistas”, que defendiam um modelo de educação de viés socialista, baseado nos escritos marxistas e liberais sobre este tema.



7 – Portanto, quando o Ministério da Educação, em 1970, implanta as escolas mistas na educação pública, os pais e não pouco sacerdotes administrados de escolas apenas seguiram o exemplo, não levando em conta a doutrina da Igreja sobre a promiscuidade sexual nas escolas;



8 – Em outras escolas houve certa resistência dos pais, como no caso dos Maristas, que só admitiram a primeira menina em 1975. Há referências de que em algumas escolas administradas pelos Salesianos, as meninas também demoram a ser admitidas, sendo que numa delas isto só aconteceu em 1978.

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Enfim, como havia dito, não é possível encerrar o assunto, visto a complexidade do mesmo. Precisaríamos fazer um estudo num grande número de escolas católicas, assim como precisaríamos de mais bibliografia sobre o tema: o que, infelizmente, não é fácil de encontrar. Em geral, os estudos sobre educação citam o problema da co-educação (escolas mistas) muito por cima, ou por os estudiosos quererem calar sobre o tema, que lhes poderia ser incomodo, ou pelo fato de que talvez a resistência católica não tenha se mostrado realmente eficaz, dando a impressão ao historiador do tema de que este é um pormenor que não merece ser esmiuçado.



Espero ter respondido minimante à sua pergunta.



Em Jesus e Maria!

Fonte: As Chamas do Lar Católico

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